26 fevereiro 2007

O Bom Pastor

Já vi O Bom Pastor, de Robert De Niro. A primeira coisa que me intriga, é a sua não nomeação para os Óscares. Na sala, ouviram-se palmas no final da projecção. Entusiasmo descabido?... Não me pareceu.
Como realizador, De Niro vai a caminho de uma carreira de referência, à semelhança da que tem como actor - no filme, a sua participação enche o écran. Duas cenas são suficientes para mostrar o actor fora-de-série.
O filme é fascinante e perturbante. Fascinante, pelo desenvolvimento de um tema, a espionagem, esse mundo de sombras e de dissimulação, um palco privilegiado para o conhecimento e a exploração da natureza humana. Perturbante, pela atmosfera que cria e que entranha no próprio espectador, num misto de atracção e repulsa.
O filme dura três horas. Mas, julgo, será daqueles que se reverá sempre com gosto, uma, duas ou mais vezes. Com ou sem Óscares.

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Heróis

Talvez o meu interesse pelos temas da II Guerra tenha tido origem nas bandas desenhadas a que tive acesso, quando era mais novo. Falo de duas em particular, Major Alvega e ENE3, publicadas na colecção «Falcão». Quem, mais ou menos da minha idade, não se deliciou com as aventuras do Major Eduardo de Cook e Alvega, o intrépido aviador luso-britânico, ou do hábil agente secreto ENE3, nos cenários da Europa ocupada? Quantas horas, dias e emoções não partilhámos com e por causa destes - e doutros - heróis? Será que ainda os há?...

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22 fevereiro 2007

Cartas de Iwo Jima

«Uma obra-prima»! Foi nestes termos que a crítica alertou para o mais recente filme de Clint Eastwood, Cartas de Iwo Jima. Se é uma obra-prima ou não é não sei, por me faltarem conhecimentos e grelha de análise fundamentada para o afirmar ou contestar. Para justificar o meu agrado pelo filme e pelo realizador que o fez, tenho que me ficar por coisas mais simples e mais acessíveis.
Em primeiro lugar, uma história bem contada, com ritmo e sensibilidade, dando a conhecer uma perspectiva e um "outro" raramente mostrados ou conhecidos.
Em segundo lugar, um contexto histórico e temático, a II Guerra, que me é particularmente grato.
Em terceiro lugar, o desempenho dos actores, que criam e desenvolvem personagens, pelas quais se sente empatia ou antipatia.
Em quarto lugar, o valor simbólico do filme e a sua visão do factor guerra, que são sintetizados nesta frase do realizador:«Tem de haver melhor maneira de conduzir as nossas vidas do que mandar miúdos para morrer algures».
Em quinto lugar, a banda sonora, um elemento que, cada vez mais, me parece uma das marcas mais originais da forma de filmar de Eastwood.
Em sexto e último lugar, a constatação de que este realizador nos surpreende em cada filme que faz, criando uma predisposição favorável e expectante para o próximo filme.
Como disse no início, não sei avaliar se Cartas de Iwo Jima é ou não é uma obra-prima. Agora, sei uma coisa a respeito desse filme. Quando se fizer a história e a biografia cinematográfica do realizador, Clint Eastwood, esse filme, e o seu irmão gémeo, As Bandeiras dos Nossos Pais, vão lá estar e em lugar de destaque.

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Justo

Foi um resultado final justo, 1-1, o do Porto-Chelsea. Um Porto esforçado perante um Chelsea que é melhor equipa, com outros jogadores e andamento. Na retina, fica um remate de Quaresma à trave, daqueles que, se entram, levantam um estádio. Não entrou... Quem gosta de bola vai lembrar-se sempre.

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19 fevereiro 2007

A senhora presidente

Na altura do seu aparecimento por cá, confesso que fiquei na expectativa e desconfiado sobre o que é que Segolène Royal podia dar e valer. O cenário parecia-me demasiado perfeito e, para mim, mais um sintoma da pacovice lusa perante a luz francesa. Se calhar, era preconceito meu... «Segolène para aqui», «Segolène para ali», parece que muita da nossa rapaziada não via outra coisa e estava encontrada a futura presidente de França, usufruindo de um estatuto de quase superstar. Como é hábito por cá, rejubilou-se com o advento de uma "nova" era: fresca, pura, inovadora. Só faltava mesmo, assinar o termo de posse...
O pior é o que se passou a conhecer nos últimos dias, relacionados com episódios da pré-campanha da senhora, ilustrativos, no mínimo, de um grande e impensável amadorismo, o que não deixa de surpreender. Para quem parecia ter tanto cuidado e investia tanto na imagem, não deixa de ser irónico. Coitada da Segolène!

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18 fevereiro 2007

Jornais de referência

Não está fácil a vida para os jornais de referência. Sujeitos a uma pressão constante, tentam sobreviver como podem. Em Portugal, vários factores contribuem para a situação que se verifica: o nível da literacia, a crise económica e a concorrência de outros meios, gratuitos e não gratuitos, são alguns deles.
Dois desses jornais, o Diário de Notícias e o Público, foram notícia nos últimos dias, consequência directa dessa situação de crise. Mais do que um traço os liga, para além da característica de jornais de referência. Em relação ao alinhamento e ao tratamento da actualidade, ambos podem ser considerados como típicos da forma de estar e de ser de jornais "de Lisboa", por oposição aos que reflectem uma visão mais à moda "do Porto", como é o caso, por exemplo, do Jornal de Notícias. Se quisesse sintetizar, estabeleceria o seguinte quadro: predomínio da opinião, da análise, do urbano e do cosmopolita nos jornais "de Lisboa"; relevo à notícia de proximidade, da visão regional, do predomínio do sensível e da exploração do sentimento, nos "do Porto". Desde que leio jornais que é esta a minha sensação e experiência.
Ambos são propriedade de empresários com uma imagem de sucesso, ainda que construída fora do mundo dos jornais. E isto não me parece que seja apenas um pormenor sem importância. Bem pelo contrário.
Cada vez mais, os jornais são olhados pelos seus proprietários como negócios, sujeitos a regras específicas, é certo, mas encarados pela lógica implacável do lucro ou do prejuízo. Pode esta lógica ser mais ou menos disfarçada, ou, inclusive, diferida no tempo, mas é ela que, efectivamente, traça o destino ou define o rumo actual da imprensa escrita e de toda a comunicação social. E é isto, em suma, que deve procurar-se nas mais recentes transformações ocorridas no DN, a demissão da sua equipa dirigente, e, no Público, a alteração gráfica do modelo.
Sobre estas alterações, sobressai uma certeza e uma dúvida: é uma incógnita a sua eficácia e, provavelmente, anteciparão o "canto do cisne" da imprensa escrita de referência.

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16 fevereiro 2007

Matraquilhos

As minhas memórias dos matraquilhos são mais boas do que más. Li, na imprensa, que se tinha constituído uma federação portuguesa de matraquilhos e que se iria realizar, em Famalicão, se não me engano, um open durante este fim de semana. Salve! É com notícias destas que também se rejubila! Como entretenimento, os matraquilhos são uma instituição genuinamente popular, acarinhada por novos e velhos, rurais ou urbanos, sem distinção de sexo, embora maioritariamente masculina, e com uma grande projecção na estudantada (escola secundária ou universidade que se prezem têm que ter uma mesa à disposição...). Ainda hoje, quando desafiado ou havendo ensejo, não costumo perder a oportunidade para ensaiar uns remates, fazer umas roletas ou tentar sacar umas fintas, seja a "careca", a "gancheta" ou a "cagadinha". Muitas e felizes horas passei a jogar ou a ver jogar isto! Então, nos dias de inverno ou de invernia (como o de hoje) ... era garantido, até as mãos ferverem pela entrega e pelo entusiasmo e se gritar e festejar, como nos estádios, aquele som seco e sonoro do golo na baliza dos adversários. Venha o próximo!

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15 fevereiro 2007

Morte anunciada

Tratou-se de uma triste e amarga coincidência. Horas antes, à conversa com colegas, tinha feito um pequeno rememorar de uma viagem na linha ferroviária do Tua, há anos atrás, para fazer a ligação Moncorvo-Bragança. Digo triste e amarga pois, como se veio a saber ao final da tarde desse dia, um acidente com a automotora matou três pessoas, na sequência de um desabamento de terra e da queda do veículo nas águas do Tua. É lamentável o que aconteceu, é certo, mas já nada pode devolver a vida a essas pessoas. Não tivesse acontecido o que aconteceu e, provavelmente, essa minha recordação teria um outro sabor. Assim, o que fica é este travo amargo e triste, sinal de um estado de coisas que se verifica, cada vez mais, em relação ao Interior.
Essa minha viagem durou cerca de 7 h, iniciando-se, em Moncorvo, por volta das 17 h e terminando, em Bragança, à volta da meia-noite. Já então, embora sem o desenlace desta, felizmente, era também uma «certa» imagem do Interior, do Portugal não litoral, que se evidenciava nesse roteiro e opção. A ligação rodoviária, para uma distância de mais ou menos 100 km, era de duas horas (falamos da fase pré-IPs). De comboio, que foi o que eu fiz, a ligação durou as tais 7 horas, implicando a utilização de três linhas ferroviárias: a do Sabor - já desactivada -, a do Douro e a do Tua. Havia locomotivas a vapor e a diesel, carruagens com bancos de madeira ou de napa. Começavam a soprar os ventos favoráveis à rodovia e os investimentos na ferrovia eram inexistentes, pelo menos para aquelas bandas e com os resultados que se conhecem: os de então e os de agora. À sua maneira, também eles eram um dos símbolos de uma morte cada dia mais anunciada - a do Interior.

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13 fevereiro 2007

O feijão

É árdua a vida dos cientistas. Que o diga C., jovem aspirante a cientista, de 9 anos, quando confrontada com os estragos que A., de três anos, provocou no seu objecto de investigação - um feijão colocado para germinar. A. resolveu experimentar um novo método dando uma valente dentada no objecto de estudo, possivelmente contribuindo para o fracasso da experimentação ou - quem sabe?! - abrindo caminhos insuspeitos para um novo ramo de investigação...
É árdua a vida dos cientistas...

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Fama

Ontem, a propósito do terramoto que se sentiu, a minha vizinha teve os seus segundinhos de fama, ao aparecer na televisão, apanhada numa entrevista de rua. Muito se riu e divertiu a velhota, ao alertar-nos para o facto. Para que o ramalhete tivesse ficado composto, só faltou mesmo a invocação de uma sua expressão favorita, que já apadrinhei para meu uso: - Mãe Santíssima!

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10 fevereiro 2007

Vinhos

Apreciar um vinho tornou-se uma experiência sensorial e intelectual. Está distante o tempo em que a ingestão de vinho se fazia sem critério ou medida, comportamento boçal típico do bebedor de outros tempos. Hoje em dia, cada vez mais, os apreciadores refinam o seu gosto e opções, alicerçados ambos em conhecimento, experiência e bom gosto. Apreciar vinho tornou-se num must, sinal de requinte e de estatuto. E isso também se verifica em relação à literatura especializada sobre esta matéria, responsável pela criação de um universo de conhecedores ou curiosos interessados. Muitas vezes, por agradável que possa vir a ser a degustação de um certo ou determinado vinho, é o que se diz e escreve (sobretudo) dele que, quantas vezes, desencadeia fenómenos de devaneio, evasão ou de prazer, independentemente da sua prova. Até por não ser possível, muitas das vezes, por variadas razões, sobretudo de ordem financeira. Quando isso acontece, fica pelo menos esse momento e essa experiência de leitura, pairando e perdurando como um enigma. Quem sabe?... Talvez um dia... o enigma e o ciclo se fechem. Quem sabe?...

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08 fevereiro 2007

Referendo

Já estive mais convencido acerca das potencialidades da figura do referendo do que estou agora. E é pena. O referendo é uma das formas de participação e intervenção cívicas que melhor pode apelar à participação dos cidadãos. Em tese, é um instrumento ideal para ultrapassar os espartilhos de intervenção cívica exclusivamente em torno dos partidos políticos, permitindo alargar o espectro de temas ou causas pelas quais vale a pena não se ficar quieto ou acomodado. Mas é precisamente esta dimensão, a do acomodado, que mais perigos comporta para a figura do referendo. E isto porquê?
Por natureza, confiança ou desilusão, costumamos ser um país de acomodados: acomodados na reivindicação ou no usufruto, nos anseios ou nas contrariedades, temos tendência a delegar ou a subverter o papel que devíamos, cada um de nós, assumir e assegurar. E isto aplica-se, obviamente, à figura do referendo, situação em que, muitas das vezes, é mais cómodo não participar, seja por ausência de estímulo, seja por receio ou falta de traquejo nas coisas mais complexas e exigentes para o dever-ser cidadão. Como será, parece-me, o que poderá verificar-se no domingo, 11 de Fevereiro, data do referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez.
Na verdade, a 11 de Fevereiro não será só a resposta sobre a despenalização do aborto que estará em cima da mesa. Ainda que de forma não explícita, mas de significado e alcance muito concretos, é também a figura do referendo que, enquanto instrumento de consulta e intervenção cívicas, irá estar em análise.
Não sei se a participação no referendo vai ser grande ou se, pelo contrário, vai prevalecer a abstenção. Se for este o caso, é legítimo que se coloquem dúvidas sobre o que é que os portugueses pensam acerca deste instrumento e para que é que ele serve. Mesmo que se admita que o tema, pela sua natureza, tenha fomentado esse resultado. No Domingo, veremos.

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07 fevereiro 2007

Vitória

Portugal venceu o Brasil, em Londres, por 2 a 0. Foi uma vitória saborosa - que conforta e dá prestígio -, apesar de ser um jogo-treino. Mais um ponto para Scolari, que vai construindo e renovando a estrutura da selecção. Quaresma, finalmente, começa a mostrar, no campo, que merece ser convocado e posto a jogar. Cristiano Ronaldo está, cada dia que passa, mais jogador e, parece-me, um sucessor para Figo. Muito bem também, Simão Sabrosa.

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06 fevereiro 2007

Administraç(ões)

Que me lembre, na Administração Pública portuguesa a prática comum é a da não partilha: de informação, de recursos, de uma visão homogénea e articulada. É uma prática que, inclusive, se pode verificar dentro de um mesmo organismo - em espaços contíguos e organicamente interrelacionados, muitas vezes! - não sendo, por conseguinte, um exclusivo das relações entre entidades distintas, pertencentes ou não ao mesmo ministério. É uma prática absurda e nefasta: para os cidadãos, em particular, e para o País, em geral. Muitos dos mal-entendidos e das situações denegridoras da imagem dos funcionários e dos serviços públicos a ela se devem.
Para explicar este estado de coisas, a tese mais comum costuma apontar a sede de poder e o protagonismo da administração e dos funcionários, qualquer que seja o seu lugar na hierarquia, como o verdadeiro móbil para que isto aconteça. Em linguagem mais chã: quem for detentor da informação comanda e estabelece as regras do jogo. É um clássico e tem seguidores. Muitos... Mas que tem imperiosamente de ser alterado. É uma exigência de cidadania e um gesto de sobriedade e bom-senso.
Na verdade, nos dias que correm, é já politica e organicamente insustentável, parece-me - sobretudo por causa das funcionalidades proporcionadas pelas novas tecnologias - não serem feitos avanços significativos no sentido de se acabar com esta prática instituída, consciente ou inconscientemente. E, é bom dizê-lo, estão a ser dados passos nesse sentido.
Apesar de não terem a visibilidade dos grandes eventos e dos estardalhaços mediáticos, estes passos podem fazer muito mais pela reforma da Administração Pública do que outros, supostamente mais apelativos. Mas que vão provocar muita resistência, ninguém duvide! Seja como for, é o único caminho.
É inadmissível que um cidadão - e os funcionários também são e devem ser cidadãos - tenha que se submeter ao calvário a que muitas vezes se submete quando lida com a Administração Pública, duplicando, triplicando ou quadriplicando documentação e factos já conhecidos e possuídos por essa mesma Administração... só que na porta ao lado!
Constatar isto e tentar modificá-lo é uma obrigação para os «verdadeiros» funcionários públicos, isto é, para aqueles funcionários para quem a noção de «serviço público» não é uma expressão balofa e sem sentido, mas sim um compromisso ético e responsável.

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05 fevereiro 2007

De volta

Woody Allen está de volta e em forma. Scoop mostra-nos isso e é agradável rever os tiques e o humor típicos do realizador. A sua presença como actor também ajuda a este revivalismo e algumas cenas ou planos remetem para outros filmes seus. Gosto de filmes com histórias e personagens divertidas e onde me posso rir, com gosto, de piadas conseguidas. E isto, Woody Allen sabe fazê-lo bem e há muito tempo. Para mim é suficiente.

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Campeonato

Temos campeonato! Muito por responsabilidade do Porto, o campeonato relançou-se. E ainda bem!
Algumas coisas óbvias sobre a jornada e os três grandes:
  1. Os jogos (e os campeonatos) ganham-se no final.
  2. O estatuto e as camisolas (Porto) já não ganham jogos: é preciso correr, jogar melhor, marcar golos e... não os sofrer!
  3. Há jogos (Benfica) em que, por mais que se tente, a bola não entra: umas vezes por falta de jeito dos avançados; outras, por mérito de quem defende (defesas e guarda-redes); algumas, por falta de sorte, o que quer que isso seja. O futebol continua a ser um jogo e, como tal, sujeito ao aleatório. Há outros jogos (Sporting), todavia, em que qualquer pontapé, cabeceamento ou cruzamento dão origem a golos, numa cadência irresistível e imparável. E, quando isso acontece, não há equipa que resista.
  4. É por isto, e muito mais, que o futebol é um jogo apaixonante e vibrante, como poucos!

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04 fevereiro 2007

Gato Sonolento

Fazem-me sono. Pensava que fosse circunstancial, mas não é: o programa dos Gato Fedorento faz-me sono! Não foi só hoje. Já aconteceu mais do que uma vez. A excepção foi no domingo passado, por causa do «boneco» do Marcelo. Tirando esse episódio, tudo o resto só já me faz bocejar. Vá lá, às vezes faço um sorriso amarelo. Para programa de humor - e relembrando o que já fizeram - é pouco, muito pouco. Os rapazes estão a «cozer em lume brando» e ainda não se aperceberam, talvez esquecendo-se de que a fama é efémera. Cuidado, rapazes!

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