_ Venho por causa do concurso.
_ Muito bem. E quais são as habilitações?
_ Duas licenciaturas e dois MBA.
_ E a barba...?
_ A barba?!...
_ Sim, a barba. É condição específica. E de exclusão!
_ Tem mesmo que ser?...
_ Tem. Lamento, mas tem.
_ Desculpe, mas isso é discriminatório. Não aceito. Chame lá o responsável, por favor.
_ Tenho que perguntar aos jurídicos. Só um momento, que vou ver se está algum.
_ Quantos são, nos jurídicos?
_ Três. Mas todos com sensibilidade e conhecimento. Só um momento.
_ Homens...?
_ Sim.
_ Então e a paridade?...
_ Desculpe, mas não estou a perceber... A paridade?... Não sei. O que é que sugere?...
_ Têm que rever isso... E que tal, começar por fazer uma distribuição equitativa dos lugares...?
_ Talvez dê... Mas se o número de lugares for ímpar (como é o caso), como é que se faz?
_ É fácil. Transforma-se em par!
_ Pode ser... pode ser. Vamos ver o que o patrão pensa... Olhe, chegou um dos juristas. Exponha lá o seu caso. Até logo.
_ Quero apresentar uma queixa!
_ Faz favor. E com o fundamento de que...?
_ Tratamento discriminatório!
_ Tratamento discriminatório?!... Explique lá.
_ Essa condição da barba!... Rija, ainda por cima!...Isto até me parece inconstitucional!...
_ Inconstitucional?!... Vai-me desculpar, mas parece-me que não. A publicitação foi feita segundo as normas e de acordo com os trâmites desses processos. Não vejo onde está o problema.
_ A barba! A barba!... Não é justo!
_ A cláusula de exclusão é clara: «só para homens de barba rija». Sendo uma senhora, não está convencida?...
_ Não!
_ Não?!...
_ Não posso vir a ter barba?... E rija?...
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