29 março 2023

À pressão

_ Tire-me aí um paragrafinho!

_ Com espuma ou sem...?

_ A espuma é de hoje?

_ Acabadinha de carregar!

_ Pode ser. Tem vírgulas?

_ Hoje não... Não quer uns hífenes...?

_ De antes ou depois do Acordo...?


Etiquetas:

25 março 2023

Impactante

_ Temos de clarificar as coisas...

_ E porquê, pode saber-se...?

_ Não se vêem... 

_ É de propósito... Espelha um estado de espírito...

_ Mesmo assim... ou se calhar por isso...

_ Não percebo... Quer clarificar?...

_ Posso abrir as cortinas...?

_ Ajuda...?

_ Mal não faz. 

_ Tem muita luz...

_ Claro. Estava à espera de quê...?

_ Que não fosse tão agressivo para o estado de espírito...

Etiquetas:

Ensolarado

O sol entrava pela casa dentro e, talvez por isso, decidiu dar um passeio... Também para se queixar, é certo, porque o sol entrara sem pedir licença e, sem licença, era chato. E, se assim o pensou, melhor o verbalizou, escolhendo a primeira pessoa com se cruzou, fazendo-lhe a pergunta sacramental: «Não acha que o sol deve pedir licença para entrar em casa...?». A pessoa que abordou, a princípio não se apercebeu que estava a ser questionada, julgando ter percebido mal. Mas ele insistiu: «Não acha que o sol deve pedir licença para entrar em casa...?», e aí percebeu que era ela a visada. Com calma, paciência e sangue-frio olhou nos olhos quem assim a interpelara e recomendou: «Volte para casa, que o sol vai-se embora e fica triste se lá não estiver...». Fim.

Etiquetas:

19 março 2023

Querise

_ Estou preocupado...

_ Coisa grave...?

_ Não sei... talvez... Desconfio que estou erudito...

_ Há muito tempo...?

_ Dois, três dias, penso...

_ Fizeste análises...

_ Ainda não...

_ Tenho receio de que dê positivo...

_ Assim como?...

_ Recusar-me a carregar telhas...

_ Mas é o que tu fazes!?...

_ Por isso mesmo: achas que vão compreender...?

_ O capataz... não sei, mas eu, sim!...

_ Porquê?

_ Trata-se de uma crise telhal, de telha, do latim tegula. Mas tem cura!

_ A sério!?... Qual é?

_ Migas e descanso!

latim tegula, -ae, telha

"telha", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/telha [consultado em 19-03-2023].
latim tegula, -ae, telha

"telha", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/telha [consultado em 19-03-2023].

 


Etiquetas:

18 março 2023

Fiz figas e só me saiu isto... E agora?

Troque por figos e aguarde...

Etiquetas:

Soletr(agem)

Desconfiava que tudo se devera à ausência do papel. Mais concretamente, do caderno. Era a explicação que conseguia encontrar, assim do pé para a mão. Olhando melhor, admitia a possibilidade de ser talvez um problema de memória, daqueles que aparecem, às vezes, quando se está um tudo ou nada cansado, eventualmente confuso ou desconcentrado. Tentaria, de novo. «Um pê e um à, pá! Um t e um à, tá! Patareco!». Talvez fosse antes da ortografia...

Etiquetas:

Fogacho

Levantou-se com vontade de dar gás a um texto que lhe daria a independência, financeira ou artística, não sabia, mas a independência!... Rapidamente parou quando se apercebeu do disparo do contador, que fugia com os ponteiros a dar voltas como doidos, num descabelado consumo insustentável... A solução foi a de parar a vontade, aconselhando-a a ir pregar para outra freguesia... menos poluente!

Etiquetas:

17 março 2023

Esfumaçadela

_ Vou ali e já venho...

_ Vais comprar tabaco...?

_ Não, que ideia!... Não te lembras de que que deixei de fumar?

_ Sim, lembro. Mas isso não te impediu...

_ Não percebo... Impediu de quê...?

_ De teres desaparecido...

_ Para ir comprar tabaco!?... Porquê, se deixara de fumar!?...

_ Por ser para outra pessoa, talvez...

Etiquetas:

12 março 2023

Armar(só um bocadinho, é fim-de-semana...)

_ O que é que julga que está a fazer!?...

_ Eu!?...

_ Sim, você. Estava a armar-se aos cucos!

_ Não era aos cágados...?

_ Não sei... Era?

_ Era a minha intenção, de facto... Ou seria em carapau de corrida...?

_ Parece confuso... Não seria ao pingarelho, talvez...? 

_ Vamos ao dicionário, tirar as dúvidas...?

_ E promete que não se arma...?

_ Um bocadinho, só... Por causa do efeito, está a perceber?


Etiquetas:

11 março 2023

Era para comprar croissants...

A ideia pareceu-lhe boa e de fácil execução... Chegado ao local, que estava já com a porta aberta, estranhou não ver clientes e, muito menos, qualquer movimento... Coibindo-se de entrar, espreitou melhor para o interior e descobriu, como que por milagre, uma funcionária a varrer... Receoso, mas cavalheiro, procurou chamar a atenção da funcionária com um simpático «Bons-dias!», mas a reacção não foi a que estaria à espera, tal o salto que a rapariga dera, exclamando um sonoro e aflitivo «Ai, meu Deus, que susto!», com uma mão no peito e uma cara de angustiada, mas logo se recompondo com um informativo «Abrimos daqui a 10 minutos...». Pedindo desculpa pelo susto, decidiu retirar-se e dar tempo a que a moça acabasse de se recompor de tamanha emoção. Fosse como fosse, teria de se ir embora... Chegar atrasado à reunião anual das avantesmas estava fora de questão!...

Etiquetas:

09 março 2023

Azia(de)

_ Trago-lhe aqui uma máscara...

_ Está doente...?

_ Quem, eu...?

_ Não. A máscara.

_ Está aziada, parece...

_ Alguma coisa que comeu...?

_ Não sei... Parece mais do domínio do ânimo...

_ Também está doente...?

_ Quem?

_ O ânimo.

_ Não sei... Pode fazer alguma coisa...?

_ Não, lamento. 

_ Então, porquê?

_ Não tenho sais de fruto...



Etiquetas:

Queria adquirir um par de jarras mas tenho receio de as confundir... O que posso fazer?

Numa ponha água e na outra carregue com vinho.

Etiquetas:

05 março 2023

Contas certas

Talvez da manhã, não sabia, mas era uma probabilidade... O chão mostrava os sinais de alguma chuva miudinha, mas persistente, pelo menos terá sido durante a noite, parecia, pois eram inequívocos os efeitos: na rua, nos carros, nas áreas jardinadas e, sobretudo, na cautela das pessoas, que tinham saído das casas com guardas-chuva e impermeáveis, olhando também para onde e como colocavam os pés na calçada, devido ao risco de escorregamento. Na rua, poucas pessoas. No supermercado, também. Feitas as compras, um gesto de controlo de conta paga, nem sempre concretizado, note-se, mas nesse dia aplicado, mais não fosse por descargo de consciência ou desfastio, quem sabe?... Estranhamente, uma parcela duplicada... Vista com mais detalhe, uma explicação simples mas irrefutável: sim, de facto, um artigo duplicado, e pago como tal, era estranho... As contas não batiam certo, concluiu.Que fazer...? 

Lembrou-se de um tema recorrente aqui, pelo rectângulo pátrio, independentemente da época e do contexto, se bem que mais carregado quando as coisas apertam: o acerto das contas, o rigor da contabilidade no deve e haver, o bem conhecido «contas certas!»... E, neste caso, o do comum quotidiano, à escala micro, muito micro, lá se nos aparecia também o dito cujo tema, que fazer agora, mais a mais detectado, se não com pompa, mas com alguma circunstância...? 

A primeira reacção foi a da fuga e o atirar para trás das costas... Anos e anos de políticas de acantonamento dos direitos, individuais e colectivos, bem como alguma displicência e, também, um aguilhoar menos doloroso da necessidade talvez explicassem esta atitude. Porém, desta vez, por recusa desse estado de coisas ou tentativa de uma espécie de «libertação», decida quem quiser, o facto é que a vontade lá orientou o sentido de deslocação das pernas, não para onde era suposto estarem a dirigir-se, mas retrocedendo até ao local de onde acabara de se sair e reivindicar os seus direitos, uma novidade!... Para abreviar, tudo correu bem, com urbanidade e simpatia, reconheça-se, uma espécie de final feliz. Lá fora, na rua, uma nesga de sol começava a rasgar o céu de nuvens. Aparentemente, as contas iam batendo certas...

Etiquetas: