27 julho 2006

Historieta

Esta é a história do hortelão urbano de meia-idade a quem os passáros comeram as uvas.
Era uma vez um hortelão urbano de meia-idade. Este hortelão tinha um pedacito de terra, comummente conhecido como quintal, embora os papéis da lei lhe chamassem logradouro. Neste pedacito de terra, plantadas por outros mãos, o hortelão herdara e usufruía de duas árvores: uma ameixeira e um limoeiro. Mas o nosso hortelão urbano de meia idade queria mais. Tinha um sonho: plantar ele também a sua árvore, para fazer cumprir o ditado.
A oportunidade chegou com a compra, por atacado, de umas outras espécies frutíferas, entre as quais uma videira. E o nosso hortelão urbano de meia-idade concretizou o seu sonho.
E era vê-lo, de contente, fazendo planos para saborear a sua colheita. Mais uns pózitos de sol e tudo ficaria perfeito para as suas uvas. O nosso hortelão de meia-idade mal cabia em si de contente, antevendo os deliciosos momento em que, bago atrás de bago, daria satisfação a um dos seus momentos de glória enquanto hortelão.
Mas o nosso hortelão de meia-idade era jovem - muito jovem! - nas nuances e voltas redondas das vivências agrícolas, em concreto das relacionadas com as videiras. E as suas uvas sofreram na pele, literalmente, o custo desta inexperiência. Pardais, melros, pardalitos e pardalões derrubaram o sonho do nosso hortelão urbano de meia-idade: bago atrás de bago - pequenos oásis para a sobrevivência das aves - era vê-los secos, exauridos, ocos. Tinha acabado o sonho! Pelo menos, numa versão menos emotiva, confirmava-se perante amigos, vizinhos e conhecidos que estava acabada a "colheita 2006"! Coitada, sem sequer ser provada...
Para o nosso hortelão urbano de meia-idade, contudo, o ânimo não esmorece. E quis prová-lo com actos concretos, não fossem desconfiar da sua vontade. Na última vez que o vi, abalançava-se a fazer um espantalho e a consultar os entendidos nos truques e manhas de espanta-pássaros e passarões. E à cautela, não fosse a coisa não pegar, começou a preparar-se para a pesca... E pôs-se a construir um tanque!

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25 julho 2006

Dissuasão?

"A falência da dissuasão" é o título de um artigo de opinião de Adriano Moreira, publicado no DN de hoje. Muito actual, pleno de lucidez e suficientemente perturbador, o texto reflecte e revela a perspectiva do autor sobre o momento internacional, centrando-se num tema muito, mas mesmo muito, sensível: a posse de armas nucleares.
É para ler, ler e reler.

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23 julho 2006

Será?...

Há 10-12 dias que as realidades mediática e informativa se consomem pela mais recente e impiedosa frente de batalha no Médio Oriente, essa realidade geo-política tão distante - mas simultaneamente tão próxima - do quotidiano do comum dos mortais dos países europeus, entre os quais Portugal.
Muito comentário, muita posição extremada, muita explicação, muito calculismo, muita projecção, muita diplomacia, muitas consultas, resoluções, tomadas de posição, fúrias, révanches e indignações várias, mortos, feridos, estropiados, desalojados, têm tido, como resultado, uma mão cheia de nada para os pontos quentes da região.
Será que aquelas e outras almas conseguirão entender-se alguma vez na vida ou a coisa continuará a descambar até um dia?... Será?...

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20 julho 2006

O Nívea

Mais do que alguma vez julgaríamos, a publicidade marca o nosso quotidiano e as nossas vidas de forma indelével. Há alguns anos atrás, passava na televisão um simpático slogan, "- Que não te falte o Nívea! Que não te falte! Que não te falte!", destinado a realçar as virtudes e as benfeitorias do creme balsâmico sobre as maleitas e as agruras sofridas pela nossa pele. O anúncio fez o seu caminho e deixou lastro na memória, que o fez ressuscitar durante uma caminhada a pé. Desfio puxa desfio, num ápice se estabelecem, como numa sequência de clarões, factos, pessoas, lugares, tempos, vivências. E todos estes elementos, cantando a uma só voz, se faziam mais uma vez ouvir, afinados e bem dispostos: "- Que não te falte o Nívea! Que não te falte! Que não te falte!..."

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16 julho 2006

Calor

Comentário típico de Verão: está muito calor e só se está bem à sombra, de preferência correndo uma aragem, ou no litoral, enfiado na água do mar ou de uma qualquer piscina. Quem puder fazê-lo, está bem de ver! Quem não puder, ou não quiser, contenta-se com a ideia ou a miragem.
O calor tem destas coisas: a profundidade e as coisas sérias, se existem, evaporam-se. Para se condensarem noutro lado. Onde, com um bocado de sorte, refrescarão quem necessitar.

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13 julho 2006

Orgânicas

Em todas as situações de mudanças iminentes ou efectivas na Administração Pública se verifica o mesmo cenário: novas orgânicas, novos dirigentes, um sobressalto mais ou menos acentuado nos funcionários e nas estruturas, um corropio de "diz que disse, diz que ouviu e diz que sabe". Este ano, por efeitos do PRACE, estes comportamentos assumem uma dimensão mais emotiva e tendencialmente melodramática. Assim que saírem as orgânicas - cujo parto parece difícil -, prevê-se um Verão animado e um ainda mais animado Outono.

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10 julho 2006

Campeã

A Itália venceu a França na final do Mundial. Decidido nos penalties, o jogo pareceu um filme de Hitchcock, pelo suspense que ia criando: Quem ganhará, quem perderá?... Quem festejará, quem remoerá?....
Zidane marcou um golo, de penalti, que irá ser recordado. Mas também a marrada com que pôs um jogador italiano no chão, Materazzi, ele próprio o marcador do golo do empate italiano. Tal como em muitos filmes, saber quem é ou foi o vilão é outra história. O que ficará é a vitória da Itália e a derrota da França. Ainda há finais felizes! Tal como nos filmes.

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09 julho 2006

Pauleta

A Alemanha venceu Portugal no jogo para atribuição dos 3.º e 4.º lugares do Campeonato do Mundo 2006. O resultado, 3-1, está desfasado da realidade do jogo, mas é o que vai ficar para a história. Sendo um jogo de consolação, acabou por ser interessante. Ao contrário do que estava à espera, as equipas, desconsoladas por não estarem na final, proporcionaram um jogo interessante. E que podia ter virado para Portugal, mas não virou: a Alemanha foi eficaz, nós não.
Para a história também, vai ficar Pauleta. Queira-se ou não, goste-se ou não, o avançado açoriano é o jogador português com mais golos marcados, até agora. E este recorde vai manter-se por muitos anos, é a minha previsão. Apesar de ser um jogador mal-amado, pelo que se tem visto, ainda vamos sentir saudadades dele, agora que se despediu da selecção. Ou será que abundam por aí pontas-de-lança?... Devem estar bem escondidos, pois pouco se vêem! E o Pauleta, é bom recordar, fez a sua carreira nos campeonatos estrangeiros, bem mais competitivos que o português. E isto, não é de somenos. Passamos a vida a dizer que não temos pontas-de-lança. Quando aparece um (o Pauleta, neste caso), dizemos que só marca e se mostra com as equipas de menor dimensão. E esta, hem!?... O Fernando Pessa não o diria melhor.

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06 julho 2006

Zidane

Portugal perdeu com a França. Disputar a final de um campeonato do Mundo ficou para uma outra ocasião.
Zidane foi o jogador em destaque. Também aqui se presta homenagem a um dos melhores jogadores que vi jogar, com um estilo único e inconfundível, e que parece querer despedir-se em grande. Para mal dos nossos pecados, Zidane voltou a mostrar-se hoje como o grande jogador que é, batendo sem apelo nem agravo Deco - que não esteve bem.
Apesar de desagradável, a sensação com que se ficou deste jogo foi a de que a equipa francesa foi mais consistente, sólida e matreira do que a portuguesa. Defendeu com brio e eficácia, atacou com mais perigo e acutilância, geriu melhor a bola, a ocupação do terreno e o ritmo do jogo. E teve Zidane. E nós não tivemos Deco. E fez valer o seu peso no ranking mediático e de bastidores, quase que aposto, provocando quiçá um suspiro de alívio nas altas esferas da FIFA. A importância das equipas também se joga muito nestes palcos... É a vida.
Oxalá, a Itália seja campeã!

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05 julho 2006

Um mero jogo?...

Eduardo Lourenço escreve e reflecte sobre futebol, numa crónica do Público de hoje. Para guardar e meditar, extraio este excerto:"Num mero jogo de futebol é tudo aquilo que somos sem saber que o somos que toma voz e fica, literalmente falando, fora de si. Um fora de si que é ao mesmo tempo paranóia redentora e alienação absoluta. Por definição, como todos os êxtases, esgota-se no momento da sua plenitude. Mas recuperada pela memória e sem cessar reciclada é a origem de todos os mitos. Dos meramente lúdicos aos culturais.".

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03 julho 2006

DR

Ora aqui está uma útil e desejada medida política: o acesso livre e universal ao Diário da República electrónico! Seja por dever de ofício, necessidade de informação ou simples curiosidade, esta é uma medida que se saúda, num país habituado a escaganitar legislação atrás de legislação. Por uma vez, salve o crâneo, legislador ou outro que tal que permitiu a concretização desta maravilha: nós, os utilizadores e mártires do império legislativo e regulamentar te saudamos!
Só quem nunca se confrontou com a consulta de diplomas legais é que não se sentirá aliviado e agradecido com esta melhoria, proporcionada pela utilização das novas tecnologias. Na maioria dos diplomas, era corrente a referência a outros diplomas e destes para outros, numa espiral sem fim. Cada concurso ou procedimento podia medir-se pela consulta complementar de uma ou duas Leis, 3 ou 4 Decretos-Leis, 5 ou 6 Portarias ou 7 ou 8 Despachos, etapas de uma verdadeira empreitada legislativa! Agora imaginemos isto feito "à unha", em espaços físicos cada vez mais soterrados ao peso da ciência e produção legislativas. Era obra!
É evidente que a consulta múltipla e relacional se irá manter, mas que a diferença vai ser grande não há dúvida. A leitura do DR ainda se vai tornar um "must" e rivalizar com os "best sellers" do momento...

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02 julho 2006

Ricardo

Ganhámos à Inglaterra e passámos às meias-finais. O jogo não foi famoso - "muito táctico", em linguagem de futebolês - e não ficará na memória pelas jogadas brilhantes ou golos fantásticos. Foi um jogo de cautelas e mastigado, com os jogadores já muito causticados pelo cansaço. Arrastar o desfecho até aos penalties foi uma fatalidade, dado que nós, a jogar com mais um jogador durante 60 minutos, 30 na segunda parte e 30 no prolongamento, não fomos capazes - falta de pernas ou de ambição?... - de acabar com o jogo. O "instinct killer" é um dos atributos das grandes equipas, é bom lembrarmo-nos disso. Também se notou muito a falta de Deco - não há, neste momento, solução para este problema.
Ricardo, o guarda-redes, foi o herói do dia e do jogo. Numa fase do jogo, os penalties, e da competição, uma eliminatória, em que as balizas ganham dimensões minúsculas para quem tenta marcá-los e dimensões gigantescas para quem tem que defendê-los, conseguir o que Ricardo fez não deixa de ser uma proeza. E grande! Para além disso, que foi muito, esteve sempre bem ao longo do jogo, mostrando muita competência e transmitindo segurança. Também deu uma bofetada de luva branca aos detractores, que não têm sido muito complacentes com ele e que tradicionalmente fazem estágio pelas bancadas e palanques diversos. Coitados, a maioria deles nunca usou nem saberia distinguir a luva direita da luva esquerda.
A França, a seguir. 50% para cada lado, mantenho-me fiel ao meu princípio. Mas gostaria que os 50% verde e vermelho seguissem em frente, em vez dos 50% azul. É um desejo muito particular, mas que me saberia pela vitória no campeonato. Seria um gozo imenso, até porque há pequenos ódios de estimação que nunca se esquecem. E eu gabo-me de ter boa memória.

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