22 abril 2017

Pára, arranca

_ Ficamos por aqui.
_ Já!? Falta tão pouco... Não quer reconsiderar?
_ Se o fizesse estava a contradizer-me... É melhor não.
_ E «ficamos por aqui» onde: na caminhada ou na conversa?
_ Nas duas, talvez... Pensando bem, contudo, só na caminhada. Continuemos a conversa.
_ Muito bem. E sobre quê?
_ Não sei bem... Diga lá você.
_ Bem... é difícil.
_ Falta tema?
_ Se calhar... Vamos andar?
_ É melhor.

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02 abril 2017

Des(encoberto)

Maldita a hora, pensou, em que deixara o guarda-chuva numa parte qualquer... Esquecera-se e agora precisava dele, apesar da chuva não ser muita. Olhou para o céu à espera de um milagre, sob a forma de uma aberta, mas não teve muita sorte. Resolveu arriscar e colocou uma capa pela cabeça, talvez se safasse... Começou a andar com a ligeireza possível e cruzou-se com uma alma deste mundo, assustadiça, por sinal, que num ápice se lhe cai aos pés e que por pouco não pisava, pois a visibilidade era pouca, o que não surpreendia, mais não sendo do que um nariz a espreitar no meio de uma capa do que olhos atentos a encontros deste ou doutros mundos... Voltou a maldizer a hora e o esquecimento, agora que se via numa situação em que, não lhe bastando o incómodo provocado pela chuva, ainda teria que lidar com uma semi-desfalecida, a balbuciar que «ainda não estava pronta, mas que mesmo assim se arrependia»...
A chuva aumentava, entretanto, e a alma aos seus pés não se calava, o que o deixava num dilema: ficar com ela e molhar-se completamente ou pôr-se a andar e molhar-se na mesma, mas menos. Teve sorte, desta vez, e não teve que escolher nenhuma, se bem que estivesse tentado pela segunda... Não foi preciso, pois a chuva fora-se e o sol começou a raiar. Como já não precisava dela, retirou a capa e deu-a à alma a seus pés, que se restabelecia, pouco a pouco, recomendando-lhe que a pusesse na cabeça, por via do sol, que começava a ser forte, para evitar camoeca semelhante à que tivera, desta vez provocada por uma possível insolação e não por uma visão do além, sob a forma de nariz a espreitar. Com pernas e sem cavalo real...






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01 abril 2017

Playtime

Um homem e uma mulher corriam para apanhar o metro, determinados e confiantes que o apanhariam. Eram também preocupados, como se confirmou, parando para apanhar os respectivos telemóveis, que haviam decidido saltar dos bolsos e estatelar-se no cais, fragmentados em caixa e bateria. No cais  fez-se o suspense dos grandes momentos, com cada um dos espectadores a fazer figas, supõe-se, e o casal a ter que esmerar-se na corrida mas apanhando a carruagem por uma unha negra, presume-se que uma do pé, e sendo brindados por uma salva de palmas apoteótica dos passageiros e de assobios por parte dos outros... Lá dentro foram brindados pela mensagem de boas-vindas do condutor, e todos, sem excepção, colocaram o vídeo no Facebook. No avião e nos barcos começaram a fazer likes. Nas escolas e nas instituições também.

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