30 novembro 2012

Ida ao pão

A cena passa-se nos arredores da capital, numa manhã de Outono com uma temperatura agradável.
Estugando o passo para o pão, uma transeunte depara-se com uma cena edificante, se bem que pautada com expressões do mais puro vernáculo, que os ouvidos castos da transeunte ouvem mas não guardam, muito menos se aventurando a reproduzir.
E que cena edificante seria? – pergunta o leitor, se o houvesse - mas vamos admitir que sim: uma outra pessoa, de estaleca e preocupação cidadãs, limpando o que outros sujaram, acobertados na pouca consideração pelo espaço público e nas necessidades fisiológicas dos canídeos. «Que vergonha!», ouviu-se (noutros termos e com outra contundência) pela boca da cidadã que limpou, arregaçando os braços e invocando juras ameaçadoras. «Sem dúvida!», respondeu a nossa transeunte, também ela indignada pelo comportamento incivilizado dos seus concidadãos, quem sabe se vizinhos e bem-postos… E enquanto assim pensava, eis que a nossa limpadora cidadã, talvez furiosa pelo agravo, culmina o seu trabalho e arremessa, com pontaria e destreza, há que dizê-lo, a embalagem do produto lixiviante, esgotado o seu uso, no espaço vedado de uma capela, espaço, também ele, sagrado, mas público na sua consideração ambiental, pese embora o profano da preocupação, que fica anotada.
Mas voltemos à nossa transeunte que ia ao pão, espectadora privilegiada e insuspeita de tal espectáculo, expressivo na dramatização e contraditório nos seus efeitos. Sem saber muito bem o que fazer ou concluir, virou-se para os seus botões e murmurou, como numa prece:
-Amanhã, como papas!

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25 novembro 2012

As voltas da Vida

Se nunca a usámos, pelo menos já devemos ter ouvido a frase «A vida é um jogo». Também é provável que o mesmo se verifique com uma outra, «O jogo é a vida», ainda que possa ter uma utilização mais restrita. Usar o jogo, o basebol, neste caso, como uma alegoria da vida não é um processo invulgar nas histórias de ficção em geral e do cinema em particular, sobretudo se centradas na cultura e no imaginário norte-americanos. Para a generalidade dos europeus, por exemplo, o basebol continuará a ser um jogo que parece de uma outra dimensão, raramente o percebendo ou o querendo entender para além do folclore de uns artistas vestidos com fardetas bizarras, dando stickadas com um bastão e correndo voltas ao campo em jeito de peddypaper. Nos «States», no entanto, a coisa «pia mais fino» do que para os «gozões» dos europeus. E é aqui que entra o filme, Trouble with the curve, «As voltas da Vida», em português, com Clint Eastwod como protagonista, uma daquelas boas notícias para quem, como eu, pensava que os seus papéis se teriam culminado no Gran Torino.
Admitida a ignorância acerca do jogo, a perspectiva de ele poder ser lido como uma alegoria da vida é, então, uma chave para o poder apreciar e fruir. E aí as coisas tornam-se mais próximas de nós.

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24 novembro 2012

Momento zen(e) 15

Nos peixes, as espinhas costumam ser um embaraço para os gastrónomos ou têm como destinatários os gatos ou o caixote do lixo. Na sequência da investigação de cientistas portugueses, leio-o no site do Público http://publico.pt/ciencia/noticia/das-espinhas-de-bacalhau-cientistas-portugueses-querem-fazer-proteses-1574717, este estado de coisas é natural que se altere e os habituais destinos das espinhas passarão a ser outros e mais interessantes. A partir de agora, aquando de uma bacalhoada, é conveniente respeitarmos reverentemente as respectivas espinhas, pois não saberemos se não estaremos a roer ou a desperdiçar a nossa futura dentadura ou prótese da anca...

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22 novembro 2012

Provérbio

Aquele que agradaria a todos morreu antes de nascer.

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18 novembro 2012

Triste sina

Foi num dia de chuva que a revi: suja, espalmada, prestes a ser enxotada pelo rodado de um autocarro. Pobre criatura!
Do fulgor da juventude pouco ou nada se notava, quando se passeava, garbosa, pelas festas e convívios de gente de toda a condição, jovens ou menos jovens, crente na manutenção de um estatuto que se julgava risonho e confiante. Pobre criatura!
Um outro rodado selou o destino que se adivinhava. Não pude deixar de notar o seu lento escorregar, já sem força ou aderência ao asfalto. Aos poucos, cada vez mais próximo, o bueiro esperou por ela e acolheu-a, abrindo-se para a sepultar. Deixei de a ver. Triste sina, ser-se beata...

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17 novembro 2012

Argo

Muitas das histórias de cinema não passam de isso mesmo: histórias que só poderiam ou podem acontecer no cinema. Tanto nos habituámos a que o cinema ficcionasse a vida real que desconfiamos quando é esta que parece ficcionar o cinema. E é esta a sensação com que se fica depois de se visionar o filme Argo, baseado numa história real, só reconhecida oficialmente há relativamente pouco tempo, relacionada com um episódio, dramático e rocambolesco, da fuga de alguns dos funcionários da embaixada dos EUA no Irão, aquando da crise dos reféns e da mudança de poder naquele país. É toda uma história, mais ou menos ficcionada ou dramatizada que seja, que nos faz pensar em muitas das histórias que se ouvem ou se contam nos dias de hoje, conspiratórias ou talvez nem isso. Afinal, onde começa o filme e começa o real? Ou será ao contrário?...

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10 novembro 2012

Agazulado

Quando pronunciei a palavra, «agazulado», quem estava à minha volta ficou com aquela expressão de surpresa típica do confronto com coisa nova ou desconhecida. De não a usar há tanto tempo e por causa da expressão dos interlocutores eu próprio fiquei na dúvida se não estaria a fazer a confusão, apesar da persistência da memória fonética que lhe estava associada. Fiado na fonética, fiz uma consulta primeira com a grafia 's', que se revelou infrutífera, mas coroada de êxito ao trocar o 's' por 'z': «agazular - (Beira e Trás-os-Montes) catrafiar/catrafilar; agarrar pela gola da véstia». Fiquei mais descansado e, claramente, mais confortável, pois deixara de estar «agazulado».


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08 novembro 2012

Provérbio

Três burros e um ignorante são quatro animais.

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04 novembro 2012

Terapia a Dois

«Partilhar a vida e o tecto» é uma definição de casamento que pode ser adoptada como algumas outras. Nesta definição, «a partilha do tecto» não é tanto um artifício literário ou semântico mas antes um dado a ter em conta, e não dos menos importantes. Para o cinema e no cinema, as histórias à volta dos «casamentos» continuam - e provavelmente continuarão - a ser matéria e assunto a explorar. «Terapia a Dois», com Merryl Streep e Tommy Lee Jones, é um filme que se inscreve nesta sequência temática e narrativa, visto com agrado e proporcionando uma oportunidade de apreciar a representação de dois artistas de respeito e aos quais se devota uma admiração genuína, muitas das vezes a garantia de que se vai ao cinema sobretudo por eles. Afinal, ainda há alguém que duvida que as «estrelas» existem e persistem?

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01 novembro 2012

Provérbio

Abre o poço antes que tenhas sede.

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Viva o pão!

Alguém que saberá como se faz colocou-o em zona de passagem onde dificilmente deixa de se notar, sobretudo pelos apreciadores. Num expositor de madeira pintada de branco, com divisões na parte superior em acrílico, dispõem-se à vista e à gula: grandes, redondos e tostados, com frutos ou sem frutos, de milho, trigo e centeio. Pães, pois claro!

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