30 novembro 2011

Habemus filme!

Fui ver «Habemus Papam», de Nanni Moretti, com um misto de curiosidade e de malícia. No fim do filme, a curiosidade passou a surpresa e a malícia transformou-se em admiração. E ambas, a surpresa e a admiração, plenamente justificadas no filme, um interessante ensaio sobre a escolha e a renúncia, tendo a eleição de um novo Papa como tema de fundo, talvez se encontrando aqui, no tema central e na forma como ele iria ser tratado, a razão das minhas expectativas iniciais.
A admiração pelo filme resulta, em primeiro lugar, da sensibilidade com que Moretti aborda o tema, pontuando-o, aqui e ali, com episódios de humor ou de drama, sempre contidos e equilibrados, fornecendo-nos ou procurando-nos transmitir uma perspectiva vincadamente humana e terrena aos factos, instituições e rituais que têm vindo a enformar e enformam a Igreja Católica; e, por outro lado, à interpretação de Michel Piccoli, no papel de Papa eleito, num desempenho notável de emoção e de fragilidade, características básicas de um qualquer ser humano, ainda que Papa.
Numa entrevista ao «Ípsilon», do Público, publicada a 25 de Novembro, Nanni Moretti afirma que se «permite oferecer este presente, imerecido!, à Igreja Católica», recusando «estar em conflito com a religião católica, no sentido de estar muito distanciado dela». 
Apesar de Moretti considerar que «Habemus Papam» é uma «prenda imerecida» para a religião católica, é bem provável que a reacção da hierarquia de Roma e dos próprios católicos venha a ser a de quem fica profundamente grato ao filme e ao realizador italiano. «Desígnios do Senhor!» - responderá um crente; talvez outra coisa, responderá quem quiser. Para o que me interessa, Habemus filme!

Etiquetas:

26 novembro 2011

Perfiladas

Muitos por lá passam e por lá continuarão a passar sem que o pormenor lhes desperte a atenção. Também nisto tive sorte, reconheço, e fico a devê-la à conjugação de dois factores essenciais: ao itinerário e ao meio de transporte, o autocarro, que altera a perspectiva e a própria disponibilidade para ver e ou apreciar o que nos rodeia. Trata-se de uma zona arborizada, perto do estádio Pina Manique, integrada no parque de Monsanto, e que apresenta uma singular característica, a da inclinação do tronco das suas árvores, feita de forma harmoniosa e equidistante, como se estivessem perfiladas numa parada e tivessem que obedecer a uma poderosa voz de comando, a da sobrevivência, levando-as a inclinarem-se na procura e na direcção da luz. Fabuloso!

Etiquetas:

25 novembro 2011

Nos Idos de Março

Quero crer que será mais do que isto, mas olhemos para a política como uma «tentação», como um «apetite ou desejo violento», fundamento suficiente para ajudar a justificar comportamentos não plausíveis ou a defesa de princípios criticáveis, procurando, com este artifício de interpretação, lidar com o desconforto, consequência do pudor ou da ingenuidade, com aquilo que se propõe ou subentende no filme de George Clooney, Nos Idos de Março, apesar do fascínio do espectador pelo que vê desenrolar-se à sua frente, como num thriller, justificando-se plenamente um olhar atento sobre a sua história, mesmo que se seja compelido, como é o meu caso, a sossegar a consciência na almofada de que a realidade de que nos falam é, por maioria de razão, só pensável e enquadrável no contexto político e institucional dos Estados Unidos da América (EUA). Se é só aí, nos EUA, ou também  noutros sítios, é coisa que nos pode levar longe, muito longe, em todo caso não sendo tranquilizadora essa perspectiva, pelo que encerra e potencia, atendendo aos contornos do filme.
Nos Idos de Março, apesar de centrado num contexto específico, perspectiva-se como um ensaio sobre a política, o poder e os seus protagonistas, muitos deles na sombra, nem por isso menos poderosos ou temíveis, ou se calhar por essa mesma característica, a da permanência na sombra, embora muitas vezes tentados pela atracção do palco e das luzes, como parece depreender-se do filme, num permanente e complexo jogo de xadrez, com lances ousados ou hesitantes, eficazes nas vitórias e confrangedores nas derrotas. O universo da política que o filme nos mostra é o de um jogo duro e implacável, pouco ou nada dado a contemplações ou desfalecimentos, selvagem, mesmo, ainda que sob uma capa de urbanidade e deferência cínicas. Trata-se de ficção ou, pensamos nós, retrata uma realidade específica, por mais incómoda que se nos afigure?...
Há muitas e variadas razões para ver Nos Idos de Março, um curioso título que ilustra todo um mundo, como fiquei a saber, ainda que desagradável. Para se lhe juntar, e talvez complementarmente, vou tentar recordar-me da cena inicial, também ela todo um programa de intenções, só plenamente desveladas no final do filme. Mas que nós não sabemos.

Etiquetas:

24 novembro 2011

Greve geral

Em dia de greve geral, o que mais me chamou a atenção, num breve passeio pelas ruas e avenidas, tradicionalmente animadas pelo barulho e o bulício do trânsito, era a sensação de quase silêncio, quietude, diria, na deslocação do tráfego. De tão pouco audível, embora visível aos olhos, parecia quase irreal.

Etiquetas:

20 novembro 2011

Ao jeito de Pavlov

A indústria cinematográfica é uma máquina em movimento permanente. Estreias, reposições, festivais, vedetas, contratos, polémicas, amores, desgostos, sonhos, ambições, frustrações, notícias, publicidade, vida, morte, são algumas das palavras que contribuem para definir os contornos e o universo do cinema. Que é um universo fascinante penso que ninguém tem dúvidas, mesmo para aqueles que o queiram ou possam rejeitar ou olimpicamente ignorar. Sendo uma indústria voraz, são permanentes os anúncios de novos filmes e a solicitação do público e dos espectadores para o seu consumo, socorrendo-se profissionalmente de todos os meios e mais alguns para que isso funcione assim e surta efeito, numa lógica imparável. Um dos mecanismos mais comuns e eficazes é-nos servido, a nós frequentadores amadores de cinema, pela projecção e antevisão dos próximos filmes a estrear, «num cinema perto de si», naquele período que antecede o filme que vamos, nesse momento, ver. Umas vezes curto, outras mais longo, sempre esse período acaba por se nos impor a sua presença, cabendo a cada um lidar com isso, com mais ou menos paciência, com menos ou mais interesse, também dependendo dos humores que na altura se manifestam, uns mais propensos ao visionamento, outros nem tanto. Seja como for, e a razão de ser destas linhas, o que é um facto é que nunca, como hoje, tinha devidamente equacionado a importância e a eficácia deste mecanismo publicitário, quando dou por mim a querer visionar, de imediato, se isso fosse possível, mais do que um filme que me era servido em forma de trailer, e aos quais a minha costela pavloviana ia respondendo... Não perderá pela demora...

Etiquetas:

19 novembro 2011

Momento zen(e) 12

É, na minha opinião, uma das pérolas publicitárias do ano, para não dizer «a» pérola, susceptível de agradar e obter a unanimidade etária, de estilos e de gostos musicais: «Duetos improváveis», da Optimus, tendo como base a música dos Beatles, All together now!
No meu caso, a descoberta e a adesão começou com um desses duetos, o do Avô Cantigas com o Mind da Gap http://youtu.be/8Bw9z-HjTa4, que abriram a porta para a descoberta de outros, como os de Rui Reininho com Quim Barreiros http://youtu.be/O4oaXgOlCu4, Manuel João Vieira com Mónica Ferraz http://youtu.be/8J7lW78y3VQ e Moonspell com Carminho http://youtu.be/mzWYWgulxGM.

Etiquetas:

16 novembro 2011

Final feliz

Portugal classificou-se ontem para o Europeu, na sequência da vitória sobre a Bósnia (6-2) no play-off. Foi o corolário de uma superioridade já manifestada no jogo da 1.ª mão, na Bósnia, em que as equipas empataram (0-0). Não nos podemos queixar quanto a isto, fechando com final feliz uma campanha que teve que contar, é bom não esquecer e, também por isso, susceptível de arrefecer os ânimos dos mais entusiastas, que os houve logo ontem, a pensar em voz alta e a fazer contas de cabeça à carreira futura no Europeu, utilizando por termo de comparação os resultados alcançados em edições anteriores... Não há volta a dar nesta nossa atitude e forma de estar no mundo na bola, onde facilmente saltitamos de besta para bestial...
Quanto ao jogo de ontem, com um desempenho global da equipa muito bom, duas notas significativas de maior realce: o brilho dos lances dos golos portugueses, qualquer deles, com destaque para o golaço de Nani, que faz levantar um estádio, e uma exibição (finalmente!) muito conseguida de Ronaldo na selecção, não só pelos golos que marcou, mas, e sobretudo, pela maturidade (finalmente, de novo!) que evidenciou. 

Etiquetas:

13 novembro 2011

Castanhas

Quero acreditar que a chegada das castanhas corresponde a um período de fartura, ainda que breve. Nas pessoas nota-se alguma descompressão e a disposição altera-se, pelo menos enquanto as degustam. Algo nas castanhas (assadas ou cozidas, mais ou menos carnudas) tem um poder viciante, todas excelentes para quem gosta, pequenos ou graúdos, novos ou velhos, mas genuinamente satisfeitas com o resultado.
Tempos houve em que terão sido prato de salvação e remedeio. Hoje, pode dizer-se, são encaradas quase como um menu gourmet e pagam-se como tal... Que se lixe, valem pelo que sabem!

Etiquetas:

12 novembro 2011

Moscambilha e tranquibérnia

Bastava a pronúncia, para «moscambilha» e «tranquibérnia» serem palavras para me chamar e deleitar a atenção. Conhecido o significado então, pois não o conhecia, a volúpia que se experimenta é enorme. Se quisermos, até na fonética se sente: 'Muxxxcambilha' e 'Tran...-Quibérnia'!... Fico a dever estas preciosidades ao escritor Mário de Carvalho e à sua entrevista ao jornal i de hoje, ao afirmar: «Não suporto o Portugal da moscambilha e da tranquibérnia». Para memória, que é o que fica, e se o contexto em que foram utilizadas pelo escritor não forem suficientes para deixar antevê-los, transcrevo os significados, com a presumível autorização da Priberam e do seu dicionário on-line:
«Moscambilha (Portugal, Beira) o mesmo que «mescambilha»: tramóia, trapaça, intriga»;
«Tranquibérnia: mixórdia feita aos líquidos para lhes aumentar a quantidade; negócio de má-fé; trapalhada; trampolinice; falcatrua; fraude; burla».

Etiquetas:

08 novembro 2011

Padeirão

O jogo de futebol estava a ser desconfortável e a equipa, acabada de fazer o empate, a custo, praticamente na jogada a seguir sofreu novo golo, o definitivo e conclusivo para a derrota. «Padeirões!» - exclamei - num misto de fúria e de impotência, mas resignado à evidência. «Padeirões!» - voltei a repetir - agora já mais sossegado pela lembrança de uma palavra familiar, mas longínqua do convívio mais recente. «Padeirão», é a explicação que encontro, sempre foi utilizado num contexto pouco abonatório, quiçá depreciativo, mesmo que usado num tom mais condescendente ou, mesmo, afectuoso, como só acontece em círculos próximos ou de confiança acentuada. A única aproximação lógica que faço ao seu sentido é-me dada por um significado informal de «padeiro», o de «indivíduo desajeitado, canhestro», hiperbolizando-se com «padeirão» esta característica de pouco jeito ou habilidade, à semelhança do que fiz com a equipa. Que «padeirões»!

Etiquetas: ,

06 novembro 2011

E se falássemos nos mercados?...

Ontem, o Porto empatou em casa do Olhanense (0-0). Não é o resultado que está em causa, mas a exibição e o comportamento da equipa, cada vez mais ansiosa e intranquila, comportamento esse que me parece uma consequência daquilo que está a verificar-se em relação ao treinador, Vítor Pereira, ele próprio um poço de intranquilidade e de ansiedade, a ver pelas imagens no banco e pelas suas recentes aparições em público, que não enganam e, pior do que isso, mais ajudam a desestabilizar a equipa e a ele próprio. Como não tenho competências - já nem interesse, diga-se - para apontar quais possam ser os «defeitos» ou as «virtudes» técnicos ou tácticos do actual treinador do Porto - assim como de outros treinadores ou equipas -, tenho que me resumir ao que transparece dos movimentos da equipa e das expressões dos jogadores, quantas vezes melhores indicadores do que verdadeiramente se está a passar, e que não me parece bom: demasiada pressa, passes errados, sensação de bola «a queimar nos pés», pontapés a torto e a direito, muitas das vezes para a bancada, num corrrupio de aflitos. Estas situações, em que de um estado «imaculado», por êxitos consecutivos, se passa para um estado «pecaminoso», de «vacas magras», não seria grave nem novidade para todas as equipas que costumam andar no topo - acontece a todas -, mas sim pelos antecendentes que podem prenunciar esse estado menos up, aqui residindo o que pode fazer a diferença. E aqui, neste antecipar, poderá estar uma das razões do actual momento vivido pelo Porto. Se a saída de Villas-Boas foi inesperada (seria, dado o percurso que vinha a fazer?...), já a ausência de um lote de jogadores sul-americanos, envolvidos na Copa América 2011, talvez não tenha sido devidamente acautelado o seu impacto na preparação da nova época, a que poderá acrescer-se alguma «euforia inebriante» motivada pelos títulos da época futebolística passada, se calhar propiciadores de alguma subestimação dos adversários internos, à semelhança do que parece ter acontecido, há dois anos, ao Benfica...Quanto à escolha da equipa técnica, pareceu-me (e parece-me) a única decisão com lógica, dado o timing em que teve que ocorrer. Depois, a saída de Falcão (na minha opinião, o melhor ponta de lança de há muitos anos a esta parte, incluindo melhor do que Jardel, pois se trata de um jogador completo, sem as limitações de Jardel), a substituição (que seria difícil) não foi devidamente equacionada, como se tem comprovado à saciedade. E aqui, sim, as responsabilidades poderão ter protagonistas..., se quiserem os tais «mercados» de que tanto se fala, mas pouco se conhece..., e onde se pode meter, no mesmo saco, a vitória e o desempenho de uma equipa de Chipre, o Apoel, que ainda há não muitos anos eram brindados, o país e o clube, com «abadas» de 5, 6 ou mais golos, e agora se qualificam para a Champions League (com o contributo de portugueses, note-se...), o jogo de hoje do Real Madrid, ao meio dia, por «conveniência» do mercado asiático, a dinâmica e os vencimentos nas SAD e em outros palcos, a turbulência grega e a a crise do euro... Mas isto são «outros» futebóis e, até ver, o que começámos a falar foi do empate do Porto, ontem, em Olhão...

Etiquetas:

05 novembro 2011

Trocadilho

O homem entrou no supermercado à procura de bananas. Ia com a ideia de comprar bananas de determinada qualidade e para isso deslocou-se ao sítio onde julgava poder ser bem sucedido. Ao chegar lá, contudo, surpreendeu-se com a publicitação de um outro tipo de banana, apregoada como «banana da crica». Sorriu ao de leve, gozando com o casamento semântico das duas palavras, «banana» e «crica», exercício alicerçado num conhecimento elementar do calão e que facilmente deixava antever um rasto nada inocente ao arranjo frásico... Talvez por graça ou por opção comercial - vá-se lá saber - o homem apanhou algumas «bananas da crica» e dirigiu-se à caixa para pagar. Nesta, a rapariga que o atende começa por pegar na tabela de preços e pergunta-lhe:
- É da banana importada? - pergunta-lhe ela, procurando na tabela.
- Sim, «da crica». O preço por kilo é 'x'. - responde o homem.
- Afinal, a «crica» sempre custa alguma coisa... É 'x' - rematou a funcionária.
O homem, surpreendido e ligeiramente ruborizado, sorriu de novo, deu as boas-tardes e pagou a quantia que lhe pediam...

Etiquetas:

04 novembro 2011

Peanuts

Sempre gostei da série Peanuts, «Charlie Brown», em português. Leio, na Pública de 30 de Outubro, um artigo, da autoria de Mário Lopes, sobre esta série e a propósito da homenagem que o Festival da Amadora de BD 2011 prestou ao seu criador, Charles M. Schulz, na pessoa da sua viúva, Jean Schulz. Do artigo, muito interessante, extraio duas citações do próprio Charles Schulz, que me parecem sintetizar admiravelmente a «essência» da série, e que são estas:
«Não se pode criar humor a partir da felicidade» e «Nas tiras (sobre os Peanuts), todos os amores são não correspondidos, todos os jogos de basebol são perdidos, todos os resultados de testes (da escola) são negativos, e a bola de futebol (americana) é sempre tirada do caminho».

Etiquetas:

01 novembro 2011

Feriados

A avaliar pela diminuição de trânsito e de pessoas nos dias anteriores, este feriado terá sido utilizado para fazer uma «ponte», maior ou menor (suspeito que menor), um hábito que terá tendência a rarear no futuro, se se confirmarem as previsões e os cálculos que apontam para uma diminuição destas oportunidades. E a ser assim, este e outros feriados, civis ou religiosos, terão que se conformar com as novas regras, extinguindo-se uns e deslocando-se outros para fora do seu calendário usual. Neste processo, e se avançar, vai ser curioso aperceber quais serão as tendências dominantes, profanas ou sagradas, civis ou militares, com mais ou menos ideologia. E disto, deste crivo, nem um feriado como o de hoje, denominado de «todos-os-santos», escapará. Até lá, boa «ponte»!

Etiquetas: