Escolhera aquele lugar por ser sossegado. Os bancos eram poucos mas confortáveis, propícios para o descanso, a leitura e a conversa, esta menos do que os outros dois, que se repartiam metade-metade, uma consequência do tempo de que dispunha e os outros nem por isso, excepto para passear os cães. Que corriam, todos contentes (mais os cães do que as pessoas, note-se).
Trouxera guarda-chuva, não fosse dar-se o caso, e um livro, que esperava ler no banco do costume ou noutro qualquer, pois desconfiava que o dia seria mais de leitura do que de «passar pelas brasas». Mas estava enganado e o leitor também... E de quê? pergunta o leitor (se por acaso o houver...), incomodado por alguém ter posto em causa a lógica da interpretação, que afirmava que o dia seria de leitura ou de soneca, e afinal parece que não seria assim, pois doutra forma não se diria que tinha sido enganado... Mas fora e de propósito, pois tapara-se-lhe, mais ou menos, a terceira hipótese, a conversa.
Tudo começara por um pedido, formal, para a partilha do banco, rapidamente anuído. A seguir, à pergunta sobre o nome seguiu-se uma outra - que provocou algum embaraço, a princípio, e uma risada franca, depois - confirmando o (re) conhecimento mútuo de duas pessoas, um homem e uma mulher, que não se viam há anos e que se reencontravam, refazendo o fio da memória. E assim ficaram, ela e ele, no banco que o acaso escolhera. Os cães continuavam a correr e não chovera.
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