27 outubro 2019

Arbítrio

O homem atirou-se ao cão e mordeu-o. Desconhecidas as razões, uma coisa era certa: notícia obrigatória, segundo o jornalismo, crime público, seguindo-se a jurisprudência. Na dúvida, tribunal arbitral.

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26 outubro 2019

Na hora

A aguardar a mudança da hora, considerou que a data e o momento seriam um bom dia para um aforismo. Mas, não tendo a certeza sobre se estaria maduro, decidiu esperar por ocasião melhor... Que chegou logo depois, apanhado que fora o comboio das 11. Mas algo não batia certo, ressoando ainda na cabeça as 10 badaladas... Confuso, para não dizer atarantado, perguntou a quem passava no corredor que horas eram e se aquele era o comboio para tal parte. Que sim, que ficasse sossegado. E foi o que fez. O relógio, porém, abriu a janela e atirou-se...


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Aforismo

Há aforismos para tudo e para nada. Este fica no meio.

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20 outubro 2019

Inspir(ação)

Talvez influenciado por três ou quatro inalações do vapor de folhas de eucalipto em água a ferver, inchou o peito e decidiu-se a escrever um naco de escrita que orgulhasse a família e fizesse vista nas redondezas... Era o projecto. Nem chegou ao papel, contudo. De tão insuflado, o peito acabou a rebentar com os botões da camisa, provocando um desconfortável sinal de frio pelo corpo, propenso mais à procura de um agasalho do que à imortalidade literária. Fim.

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19 outubro 2019

Ando às voltas à procura de de uma desculpa, mas não me sai nada... Estarei a perder capacidades?

É óbvio que está. Mas não desista, pois há-de aparecer qualquer coisa... Olhe, diga que é da lua! Ou de Marte!

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Começo(s)

«Não tinha que ser assim». Foi a frase que lhe veio à cabeça, naquele momento, de forma estranha, pois a conhecia, mas que já não usava há muito. Como começo não era grande coisa. Mas, por outro lado, servia bem de desculpa, matéria em que éramos especialistas. Se havia matéria em que éramos bons, muito bons, mesmo, era a arranjar desculpas. Se as desculpas pudessem transformar-se em recursos, seríamos claramente excedentários, sem dívidas acumuladas e sem défices. Como não são, daí vem o problema. Não tinha de ser assim, pois não?

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13 outubro 2019

Tiro aos pratos

A fama precedia-o e começava a intimidar os concorrentes. A maioria duvidava que fosse possível vencê-lo. Os que o tentavam eram pouco mais do que dizimados, perdoe-se a linguagem forte, dizendo que nunca se tinha visto nada assim. Começava a ser falado por toda a parte, fossem quais fossem os pratos, mas com especial predilecção para os cozidos e as feijoadas, não restando no país tasca ou restaurante que lhe escapassem... O próprio governo teve que intervir e decretar uma moratória. Com efeitos imediatos.

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Caçador (de ideias)

Apontou a arma e disparou para o bando de ideias que passava. Não tinha muita fé na pontaria, mas lá foi dando ao gatilho. Com sorte podia abater uma ou duas, ainda que fracas ou só com ossos. Ao lado, porém, a fogachada era mais recompensada: melhores armas, melhores lugares, melhores pontarias… sempre qualquer coisa melhor. Os cães também não eram grande coisa, habituados que estavam à ingestão de comida em lata, longe de perdigueiros e de outras raças de caça, mais do tipo lulu, bons para ficarem em casa a ver novelas e uivarem às playstations. Assim como assim, estavam bem uns para os outros, o caçarreta e os cães.

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12 outubro 2019

À la pat(ine)

_ O que é que me traz aí?
_ Nem eu sei bem. Só me saiu isto... Nem sei que lhe diga...
_ Mostre lá!
_ «Levantou-se e fez meia dúzia de flexões. A praia ainda vinha longe, meia dúzia chegavam. Dirigiu-se à cozinha e preparou o pequeno-almoço. A indecisão atingia-o: iogurte ou taça de cereais?».
_ Só isso?
_  Só. Está mal?
_ Parece pouco... Está tudo bem?
_ Sim, tudo.
_ Quer que lhe dê uma volta, é isso?
_ Sim. Pode ser?
_ Para quando é que precisa?
_ Assim que puder.
_ Então, por volta das seis. Combinado?
_ Combinado.

(...)

_ Está pronto?
_ Claro!
_ Mostre lá, então. Estou curioso...
_ «Levantou-se e fez meia dúzia de flexões. A praia ainda vinha longe, meia dúzia chegavam. Dirigiu-se à cozinha e preparou o pequeno-almoço. A indecisão atingia-o: yogurte ou taça de cereais?».
- Mas..., mas..., está na mesma!?
_ Não, meu amigo, não está. Para os olhos do vulgo, talvez. Mas, para os entendidos...
_ Qual é a diferença, então?
_ O itálico.
_ E qual é a vantagem?
_ A patine!, A patine!...

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3 minutos

Ligou o cronómetro, que começou a contar: tic, tic, tic… A imagem de uma mulher deitada na paragem, com pessoas à volta, apareceu-lhe fugazmente: tic, tic, tic, tic, tic… Por fim, o momento ansiado. Com jeito, muito jeito, meteu a colher no líquido borbulhante. Faltava sal. Tic.

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06 outubro 2019

Programa(s)

_ Leu o programa?
_ Não.
_ ...
_ ... Mas gosto da música.

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Literalidade


Duas pessoas encontram-se para tomar um café e começam a debater temas caros. Uma era mais contundente do que a outra, ficando aqui o desafio para adivinhar quem… Às tantas, no calor do debate, a contundente faz uma afirmação ousada, colocando a outra em cheque. Esta, depois do impacto, reage intempestivamente e parte-lhe uma bilha na cabeça, ali colocada pelo dono para os puristas da água fresca tradicional. A bilha parte-se, como é óbvio, e a pessoa contundente continua a argumentar contra a literalidade, que no caso presente se relacionava com a inexistência de fonte, apesar da existência do cântaro…

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05 outubro 2019

Aniversário

Arranjem-se o melhor que puderem:
Com roupas ricas ou como vieram ao mundo;
Em sentido ou esparramados;
Em missão ou nem por isso;
Em coro ou a uma só voz.
Pequenos, médios e grandes,
Dos sisudos aos folgazões,
Não esquecendo cães, gatos e passarada,
Sopremos um sonoro Parabéns!
À Monthy Python rapaziada!


(No 50.º aniversário dos Monthy Python, em cuecas, «always look(ing) on the bright side of life»)



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Momento(s)

_ Quem é você?
_ Sou o momento do jogo.
_ O momento do jogo!?... O que é isso?
_ Tem que perguntar aos especialistas. Eu só sei que o sou.
_ Não consegue dar-me um exemplo, uma pista...?
_ Não.
_ Assim, estamos num impasse... Que vida!...
_ O que é que disse!?
_ «Que vida!». É isto?
_ Sim, é isso. Também a vida é um momento.
_ Isso é profundo... Também um momento do jogo, talvez?
_ É isso, é isso... E, acredite, não precisa de especialistas para lho dizer...

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Avaliador

«Não se aguenta», dizia-lhes. E era a frase que não queriam ouvir. Logo eles, os autores... Ainda tentavam argumentar, mas sem resultado. Era um avaliador de títulos. De livros, propriamente. Muitos consultavam-no acerca dele, mais do que do conteúdo. Também, mesmo que tentassem isso, não os poderia ajudar. Que batessem a outra porta. Não à dele. A dele era a dos títulos. Aos quais atribuía pontos: 1 para esqueça; 2 para vamos a ver e três para aguenta-se. Não passava disto. O certo é que não se enganava. Havia quem dissesse que era feeling e outros que era bruxedo. A todos dizia que era trabalho e o resultado da vara... Quando lhe perguntavam se era literal, dizia que sim. Para os cépticos, dava uma demonstração. Muitos não aguentavam, dizendo-lhe que era uma selvajaria. Ele concordava que sim, mas concluía que não era para o título, mas sim para a vara.

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