31 outubro 2010

Para a vida

No jogo de ontem, entre a Académica e o Porto, vi um dos golos mais bonitos de toda a minha vida. É um golo que vale pela dimensão estética e também pela dimensão simbólica, obtido num jogo e num campo em que as condições eram tudo menos propícias ao «momento» protagonizado por Varela, que acabou por «beneficiar» de uma escorregadela involuntária que contribuiu para uma execução mais perfeita do movimento e da preparação do remate. Um golo destes recorda-se para a vida.

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Penico do Céu

Sexta-feira e sábado foram dias de chuva intensa. No sábado, sobretudo, a quantidade de água foi propícia à utilização da designação «penico do Céu», que é uma expressão popular que me habituei a ouvir em ocasiões em que ocorre uma precipitação invulgar. Como praticamente em toda a expressão popular, concilia-se nela uma força semântica sui generis, em que se combinam um objecto cuja função é das mais explícitas e telúricas possível, remetendo para as funções biológicas primárias, isto é, as mais próximas e as que identificam a nossa componente «animal», o 'penico', e a referência ao espiritual e ao sagrado, com 'Céu', aparentemente o oposto de toda a referência aquele tipo de 'materialidade'. Em 'penico do Céu', por conseguinte, faz-se a simbiose entre a dimensão terrena e a celeste, com o seu laivo de irreverência, note-se, buscando um sentido e uma explicação para um fenómeno invulgar, condimentado por uma pitada de humor, reflectindo e reproduzindo uma mundividência própria, inclusive com os seus «locais de culto», que são aquelas zonas ou regiões do País mais susceptíveis a estes fenómenos de precipitação, se não maciça pelo menos continuada. Decerto, todos conhecemos ou já ouvimos falar de uma ou outra destas terras, zonas ou regiões a que o epíteto de «penico do Céu» «assentará como uma luva». Desconfio, contudo, que por influência das alterações climáticas esse epíteto possa vir a ser aplicado e alargado a áreas mais vastas do território. A ver pelos indícios, se calhar já vamos a caminho de que isso já esteja a acontecer.

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29 outubro 2010

O controlador financeiro

Hoje, num debate na televisão, alguém trouxe à colação a irrelevância do papel desempenhado pelos «controladores financeiros» nos ministérios, que tinham sido nomeados para acompanhar e melhorar o controlo da execução orçamental. Com o que se vai conhecendo no domínio da execução financeira, o papel dos controladores deve ter sido um «sucesso»! Pelos vistos, de «controlador» tiveram pouco ou nada, muito menos financeira, facilmente se chegando à conclusão que tudo não terá passado de mais uma medida para «encher o olho», com resultados nulos ou irrelevantes, candidatos óbvios a um processo anunciado de extinção, parece que já assumido pelas instâncias próprias. Paz às suas almas!

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28 outubro 2010

Passa? Não passa?

O Orçamento passa? O Orçamento não passa? Não é bem uma versão do 'bem me quer, mal me quer', mas parece. A maior parte das coisas o comum dos mortais não percebe, mas é quem, em última instância, lhe sofre e aguenta os efeitos. Neste processo, a relutância da maioria das pessoas para com os políticos e os partidos é pouco abonatório para eles, não poupando ninguém, incluindo o Presidente da República, que habitualmente era uma figura mais consensual e protegida desta impressão menos favorável para com os actores e protagonistas políticos.
Apesar do que Cavaco Silva diga e apregoe, muitas das almas deste País interrogam-se e interrogam-no sobre os efeitos da «cooperação estratégica e do poder da palavra» que ele louvou como os baluartes do «estado» a que chegámos, que é «famoso», como se constata. O homem diz que se não fosse ele, estaríamos pior. Alguém acredita ou é retórica?...
O que não é retórica é a preocupação das pessoas: olham, vêem e lidam com um mundo outro, procurando adivinhar o que as espera e com o que podem contar, mais movidas pela resignação do que pela esperança. É caso para se dizer: se são assim assim tão bons, os protagonistas e as receitas, porque raio é que nunca saímos da «cepa torta»?

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27 outubro 2010

Gastronomite

Também na cidade, a preparação de uma refeição pode assumir aspectos bucólicos: o lume, os alimentos, as panelas, os aromas e... as borradas de pássaros, directamente pela chaminé! Os gauleses, segundo Goscinny e Uderzo, tinham receio que o «céu lhes caísse em cima da cabeça». Por cá, pelo menos nas urbes, temos mais medo dos rabinhos dos pombos, dos pardais ou de passaradas afins... Se calhar, é por não sermos gauleses...

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22 outubro 2010

Momento zen(e) 10

Como todo o bom momento «zen(e)», a sua fugacidade é, muitas vezes, a sua mais-valia. Como a de anteontem, na TV, ao ver o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, aos saltos junto da estudantada, na Covilhã. Seria do frio ou era da animação?...

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16 outubro 2010

PRACE - 2.º acto

Desconhecia vários dos organismos que constam na lista das extinções ou fusões que irão ocorrer na Administração Pública, na sequência do Orçamento de Estado para 2011. Talvez não seja só comigo, mas há sempre algo de surpreendente no confronto com estas listas, mais não seja pela conclusão sobre a sua imensa e diversa natureza. Quanto ao impacto em termos de redução de despesas, tem que se ver e confirmar o que é que isso representa. Estamos numa fase, parece-me, em que as medidas para «alegrar os olhos» e fazer «encher o peito», apesar do seu simbolismo, já não bastam. É preciso algo mais.

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15 outubro 2010

Encristados

Começam as primeiras opiniões e os primeiros «bitaites» sobre o Orçamento de Estado 2011. Os dois maiores partidos, PS e PSD, parecem dois galos encristados, aparentemente sem qualquer preocupação pelo «zé-pagante». A continuar assim, o descrédito e a descredibilização dos actores e dos partidos envolvidos acentua-se. O País não agradece.

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10 outubro 2010

Bluff?...

Para um observador leigo, a sensação que fica acerca das movimentações e das posições sobre o Orçamento de Estado para 2011 é a de uma parecença com uma partida de póquer, com muitas e variadas manifestações de bluff. Será?...

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09 outubro 2010

Com tranquilidade

Depois da tragicomédia que caracterizou os últimos tempos da selecção nacional, a escolha do novo seleccionador, Paulo Bento, deve ter contribuído para um clima de maior respeito e de seriedade nesta matéria, e isso já é um indicador extremamente positivo. Contudo, que não haja ilusões: correndo as coisas mal, ninguém vai ter isso em consideração e ele irá ser julgado pelos resultados, nomeadamente se forem maus.
Para sorte dele - e de nós, diria eu - as coisas começaram bem, com a vitória sobre a Dinamarca (3-1), a afirmação de alguns jogadores que se vêm a destacar nos seus clubes e a (re)conquista da confiança, que é o pormenor mais importante, convém não esquecer, e que se adquire ou mantém com bons resultados. Com «tranquilidade», talvez...

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05 outubro 2010

O Segredo dos Seus Olhos

Dado o enredo, «O Segredo dos Seus Olhos» (El Secreto de Sus Ojos) é o filme ideal para fazer esta pequena experiência: revisitá-lo com as memórias e os sentimentos que perduram após esse visionamento. E a explicação é simples: tem tudo a ver com a história e a reconstituição dos factos e de vidas que nele ocorre. Para quem não o viu, o mistério e a surpresa em relação ao filme e a este pequeno exercício vão permanecer, se calhar funcionando como um incentivo a um visionamento futuro. Para quem viu, fica a oportunidade de o (re)visitar ou de o (re)experienciar, mesmo que à custa de um terceiro interveniente.
A primeira emoção que resulta do filme é a da sonoridade e da força expressiva, pícara, por vezes, do Espanhol, complemento importante para o desenrolar da acção e da construção das personagens. Mesmo que não houvesse imagens, essa capacidade expressiva seria suficiente e haveria momentos inolvidáveis e plenos de sentido, ainda que só ouvidos. Uma palavra também para os momentos de humor - que os há - mesmo em situações em que a carga dramática, institucional ou histórica parecem soterrar essas manifestações de independência intelectual, cívica e/ou de sanidade mental, de cariz surrealista, por vezes - diria antes e insisto, pícara - característica mais comummente associada, parece-me, a uma vivência integrada nos espaços sócio-culturais de matriz espanhola, pelo menos se comparada com a nossa.
Diria, também, que «O Segredo dos Seus Olhos» é um filme sobre as «paixões», palavra com uma carga semântica e simbólica fortíssimas, como se vai descobrindo e meditando ao longo do filme, com diversas cambiantes, funestas, quantas das vezes, mas também altruístas ou redentoras, noutras. Em todas elas, o retrato do humano.
Por último, uma pequena digressão pelo título. Depois de ter visto «O Segredo dos Seus Olhos» não pude deixar de fazer uma associação imediata - instintiva e intuitiva, diria - para uma incisiva e conhecida expressão popular: «Os olhos são o espelho da alma», afirmação fundada (ou pelo menos aceite) com base numa sobrevalorização do sentido da vista, como meio para e canal de comunicação entre esses dois mundos, o material e o espiritual, sem esquecer as conotações, ao nível do conhecimento e da moral, entre estes «dois mundos», humanos, «ambos». «O Segredo dos Seus Olhos» também é um filme que nos ensina (ou relembra) isto.

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