_ Tem heterónimos?
_ Já não. Esgotaram-se. Quantos é que estava a pensar?
_ Não sei. Meia dúzia, talvez...
_ Acabaram-se-lhe, foi?
_ Não. Tive curiosidade, só isso. Achei que aqui pudesse encontrar. Nada mais do que isto.
_ Em tempos, tive para aí alguns... Não eram fáceis de aturar, confesso. Depois, com a crise, acabaram por se pôr a andar... Ainda aparece por aí um ou outro, mas fica pouco. Acho que não batem bem da tola, percebe?... Mas há para aí casas em que é capaz de os encontrar... Não sei bem, mas é capaz.
_ Muito bem, vou seguir o seu conselho. Pevides não tem, não?
_ Infelizmente... Porque é que não tenta ali em baixo, naquela casinha com a porta amarela?
_ Onde? Na drogaria!?
_ Claro, porque não? Já imaginou que podem ter lá dentro uma secção de frutos secos e afins, como pevides? Eu mesmo era capaz de lá ir comprar uns tremoços ou uns amendoins. Quer que vá consigo?
_ E deixa a loja assim, sem ninguém a tomar a conta?...
_ Sem tomar conta, que ideia?!... Então, não reparou que tenho aqui um ajudante?
_ Onde?
_ Aqui na cabeça, não vê?
_ Para dizer a verdade, não...
_ Pois é! É o mal desta terra: muita conversa, muita bola, mas poucas ou nenhumas soluções... Enfim, é o que temos. Afinal, vamos ou não vamos?
_ Se arranjar quem me fique com este que trouxe comigo, pode ser.
_ Onde, que não estou a ver nada?
_Ah, não se surpreenda. Acontece com muita gente. Para dizer a verdade, anda sempre atrás de mim, até parece um cão. Mas, note-se, não é. Já o enxotei muitas vezes, mas volta sempre. Não conhece ninguém a quem o possa dar?
_ Ladra muito?
_ Não.
_ E comer, come?
_ Pouco, mas sem muita gordura.
_ Deixe-o ficar para aí, logo se vê. Quanto é que quer por ele?
_ É de borla.
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