31 julho 2016

Conclusões

O apelo já não chegou a tempo e as conclusões foram precipitadas. Algumas das hipóteses eram mais severas, mas no fim reinou o consenso acerca da altura do penhasco. Acabou por imperar a ordem e foram empurradas com delicadeza, perguntando-lhes se tinham algum problema com a altura. Disseram que não e a coisa avançou, finalmente. Na base, fez-se o balanço: conclusões optimistas com fracturas várias, as pessimistas apenas com escoriações e as absurdas, curiosamente, a não se importarem de mais um tombo.

Etiquetas:

30 julho 2016

A hora do crime

A hora do crime fora marcada com antecedência. Agora que pensava nisso, concluía que devia ser essa a razão porque a requisitavam. Não era fácil a vida, neste mundo do crime. Mais a mais, sendo mulher, a concorrência era mais forte, não por um qualquer complexo sexista, mas devido ao número das profissionais em actividade, fruto de um longo e árduo trabalho reivindicativo, é certo, mas também de persuasão aturada na arte da sedução, aplicando o conhecido princípio de que «ou há moralidade ou comem todos». Mas ainda subsistiam algumas bolsas de conflito, como o pagamento de horas extraordinárias e a conciliação do horário de trabalho com o apoio à família, matéria sempre sensível, mais a mais quando se faziam esforços para o aumento da natalidade. Fosse como fosse, chegara onde chegara por mérito e esforço próprios, pese embora a importância da formação académica e curricular prévias, que foram devidamente tidas em conta nos processos de recrutamento a que se candidatara. Mas chegava de divagações e era chegado o momento de ultimar os preparativos, pois a hora do crime aproximava-se. Olhou-se ao espelho e pôs um bocadinho mais de batom, ajustando a mira ligeiramente. Os segundos passavam, tensos. Mas, na hora aprazada (marcada com antecedência, aproveitando uma folga na agenda), nada aconteceu. Furiosa, telefonou à vítima. Esta mostrou-se compreensiva e pediu muitas desculpas, mas a explicação era simples: esquecera-se.

Etiquetas:

23 julho 2016

(A)certo

Estava escrito. Mas com erros.

Etiquetas:

O homem que viu o infinito

A Matemática é uma das disciplinas fundamentais do currículo de aprendizagem, independentemente das áreas de estudo. Muitas histórias e dramas se contam e continuarão a contar à volta dela, mas também as há com final feliz. O mesmo se aplica a quem tem o dom da genialidade, surpreendente, na maioria das vezes. Este filme é uma história de ligação entre a disciplina e um génio e o seu percurso para o reconhecimento.

Etiquetas:

16 julho 2016

Desencontros

_ Está mais branca do que preta...
_ Quem, a pele?
_ Não, a barba.
_ Não estou a perceber a quem ou a que é que se refere... Não quer explicar-me?
_ Não me interessa. Não leve a mal, mas não o conheço...
_ Tem razão, não me conhece. Mas foi você que me pediu ajuda, parece-me...
_ Pedi-lhe ajuda!?
_ Sim, há pouco. Aquela frase é a frase de quem está confundida, aparentemente... Não tenho razão?
_ A conclusão é sua... Pensava em voz alta e verbalizei. Só isso.
_ Concordará, decerto, que não é muito normal... Imagine se toda a gente fizesse isso! Seria bizarro, não acha?
_ Podia ser... Mas não é o meu caso.
_ Não?
_ Não, pode crer.
_ Será difícil...
_ Sim, e porquê?
_ Já não creio em nada...
_ Em nada, mesmo?
_ Pouca coisa, de facto.
_ Está a ver, afinal parece que acredita em qualquer coisa!?
_ É capaz de ter razão... Começamos de novo?
_ É melhor não. Acabei de me lembrar do que queria.
_ E o que era, pode saber-se?
_ Uma tinta. Para a barba! Tem?
_ O quê, barba?
_ Não, a tinta.

Etiquetas:

12 julho 2016

Se (e quando) a bola é redonda V

Aviso: isto não é ficção.

Portugal ganhou o Europeu 2016!
Acabado o jogo com a França e a vitória por 1-0 no prolongamento, termina um período de 50 anos de vitórias ou derrotas amargas, meias-vitórias e frustrações contidas ou iludidas em competições de futebol com a participação da selecção sénior de Portugal. Acabou-se! Ganhámos uma grande competição, finalmente.
No jogo da final, só visto: um argumentista de filme não teria feito melhor! Actualizámos a história do patinho feio e a dos heróis improváveis, alguns deles muito, mesmo muito improváveis. Soube melhor.


Etiquetas:

10 julho 2016

(A)toldar

Bebia com avidez as palavras que ouvia. À semelhança do que acontecera em outras ocasiões, acabaria por se toldar. Por sorte, encontrava-se por perto alguém que era apreciador de bebidas intelectuais, da casta conversa, que aconselhou moderação e estilo na forma de degustar o que se ouve. A temperatura ambiente continuava a ser importante, sobretudo em clima de festa ou de euforia. Na dúvida, não havendo um bocadinho de pão, água na fervura ajudava.

Etiquetas:

09 julho 2016

Um rei na passadeira

Os dois bairros ligavam-se por uma passadeira aérea. Como em todas as vizinhanças, umas aproximavam enquanto outras afastavam. Paciência e ou escaramuças pautavam as relações de uns com os outros, umas vezes mais, outras vezes menos. Um dia, porém, alguma coisa se perdeu neste equilíbrio instável. A raiva e o ódio falaram mais alto e na passadeira tombou um corpo. Chamavam-lhe «Rei» e para lá ficou, caído na passadeira.

Etiquetas:

Calimero

Calimero suspirou, abstendo-se de choramingar. Era uma vitória, mas não foi reconhecida.

Etiquetas:

Cinzentão

Numa sala, reunia-se uma multidão de cinzentos (de fatos, note-se). Numa das mesas, um de fato branco e um de fato preto. Iam a votos. No final, receberam o prémio: um fato cinzento.

Etiquetas:

Tampa(s)

Saltara-lhe a tampa. Não mais seria a mesma e teve o pressentimento do que lhe iria acontecer: ser lançada para a sanita. No frigorífico, outra estaria pronta para a substituir. E com tampa.


Etiquetas:

Se (e quando) a bola é redonda IV

Portugal está na final do Europeu, depois de vencer o País de Gales (2-0) na meia-final. Vai disputá-la com a França, que derrotou a Alemanha, igualmente por 2-0.
Chegamos à final como «o patinho feio» (não sem razão, é certo), mas também com a certeza (espero) de que os jogos se ganham no campo, não havendo, à partida, vencedores nem vencidos. E a propósito de certeza, ainda que sob a forma de fé, quem já ganhou foi Fernando Santos, que só regressa no dia 11...

Etiquetas:

03 julho 2016

Disseram que o meu trabalho valia tanto como um olival. Devo acreditar?

Se não der azeitonas, não.

Etiquetas:

02 julho 2016

Se (e quando) a bola é redonda III

Já se conhece o adversário de Portugal nas meias-finais do Euro: o País de Gales. Para quem não esteja a acompanhar a competição, poderá pensar que é um exercício académico, daqueles que se devem fazer nas escolas ou cursos de formação de treinadores. Mas não é, é real. E deve ser por isto que o futebol tem aquele encanto de que tanta gente gosta.
Para termos chegado aqui fizemos um percurso muito sofrido, com jogos com a Croácia, nos oitavos, e com a Polónia, nos quartos. Qualquer jogo foi resolvido depois dos 90 minutos, com a Croácia no prolongamento, com a Polónia nos penaltis, os dois vencidos com mais suor e capacidade de defesa do que com outras características, também com aquela pontinha de sorte que dá sempre jeito nestas coisas, pois às vezes não aparece.
E vem ao de cima uma evidência deste tipo de competições: entrando-se na fase a eliminar, esqueça-se o que pode ter acontecido antes, pois cada jogo vale única e exclusivamente por si. E isso também se aplica aos adversários.

Etiquetas:

Heterónimo(s)

_ Tem heterónimos?
_ Já não. Esgotaram-se. Quantos é que estava a pensar?
_ Não sei. Meia dúzia, talvez...
_ Acabaram-se-lhe, foi?
_ Não. Tive curiosidade, só isso. Achei que aqui pudesse encontrar. Nada mais do que isto.
_ Em tempos, tive para aí alguns... Não eram fáceis de aturar, confesso. Depois, com a crise, acabaram por se pôr a andar... Ainda aparece por aí um ou outro, mas fica pouco. Acho que não batem bem da tola, percebe?... Mas há para aí casas em que é capaz de os encontrar... Não sei bem, mas é capaz.
_ Muito bem, vou seguir o seu conselho. Pevides não tem, não?
_ Infelizmente... Porque é que não tenta ali em baixo, naquela casinha com a porta amarela?
_ Onde? Na drogaria!?
_ Claro, porque não? Já imaginou que podem ter lá dentro uma secção de frutos secos e afins, como pevides? Eu mesmo era capaz de lá ir comprar uns tremoços ou uns amendoins. Quer que vá consigo?
_ E deixa a loja assim, sem ninguém a tomar a conta?...
_ Sem tomar conta, que ideia?!... Então, não reparou que tenho aqui um ajudante?
_ Onde?
_ Aqui na cabeça, não vê?
_ Para dizer a verdade, não...
_ Pois é! É o mal desta terra: muita conversa, muita bola, mas poucas ou nenhumas soluções... Enfim, é o que temos. Afinal, vamos ou não vamos?
_ Se arranjar quem me fique com este que trouxe comigo, pode ser.
_ Onde, que não estou a ver nada?
_Ah, não se surpreenda. Acontece com muita gente. Para dizer a verdade, anda sempre atrás de mim, até parece um cão. Mas, note-se, não é. Já o enxotei muitas vezes, mas volta sempre. Não conhece ninguém a quem o possa dar?
_ Ladra muito?
_ Não.
_ E comer, come?
_ Pouco, mas sem muita gordura.
_ Deixe-o ficar para aí, logo se vê. Quanto é que quer por ele?
_ É de borla.


Etiquetas: