27 janeiro 2018

Esta(o)fado

Era um cadeirão avantajado, pouco ágil de pernas. Inventara uma nova forma de dançar o tango, só com uma perna, reservando as outras. Aos surpreendidos apontava para os estofos, dizendo: «Tenho que me poupar».

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21 janeiro 2018

Mixordice

A primeira tentativa de história não dera resultado, ficando em pousio. Mas o problema mantinha-se: e agora? «O agora já era», pensou filosoficamente. «E daí?...», respondeu-lhe a vozinha da consciência. Entre um agora que já fora e um daí «que interessava isso?» permanecia um impasse, melhor dizendo uma história em formato de nada. Talvez fosse melhor ir deitando qualquer coisa lá para dentro, para o caldeirão das histórias ou lá como é que isso se chama... E depois de tudo misturado, como é que era: cozido, frito ou assim-assim? A realidade era que nem as metáforas culinárias estavam a ajudar grande coisa, melhor seria apostar noutras. Mas quais...?
Tentara-se a abordagem clássica, a neoclássica, a liberal ou a revolucionária, sem valorização do que quer que fosse (depois de se veria), mas o resultado era sempre o mesmo: nada de história. Melhor seria a via simples, aquela da vivência oriental ou que para lá caminha: não lhe dês peixe, ensina antes a pescar. Mas como? Com que cana? E onde?

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20 janeiro 2018

Traçar

Tinha como destino a valeta, na melhor das hipóteses. Mas o azar foi mais forte e caiu num poço. Sem fundo. Não saiu de lá.

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14 janeiro 2018

Alterabilidade

Amaciara com o tempo, diziam. Outros, porém, duvidavam. Não estava provado, não havia garantias que assim fosse, esperavam para ver... E não foi preciso esperarem muito. Logo que o tempo mudou, os disparates e os desvarios regressaram. No tribunal, falaram nas alterações. «Climáticas?», perguntaram os curiosos. «Mais da lua», responderam os doutos. 

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FIFO

Descobrira uma palavra nova (um acrónimo, mais precisamente): FIFO (first in, first out), primeiro a entrar, primeiro a sair, da área das contabilidade, logística e informática, querendo dizer genericamente que um artigo mais antigo tem prioridade sobre um recente, informações simpáticas disponibilizadas no menu do dia do Priberam online. Como todas as palavras, aliás, também esta é susceptível de uma atribuição de sentidos mais ampla do que aquela que, à partida, lhe está configurada: mudando o contexto, lá muda o significado. E não é difícil perceber qual será um deles...

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13 janeiro 2018

Estava a pensar montar um resort, tipo «Aldeia Gaulesa». Faço bem?

Aconselhe-se com o Astérix.

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Folga

A escapatória metera folga. Não contara com isso, mas compreendia. Chegara a prevê-lo, mas não fez caso. Ou, se fez, fê-lo mal... Pouco havia a fazer, agora.  Resignado, fechou as portas. Por consideração, colocou um cartaz. «Acabaram-se os queques», lia-se.

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Desconheço o porquê. Devo apresentar-me?

Só se a etiqueta o permitir.

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Cresçam (mas não apareçam...)!

Envergonhava-se das suas histórias: cruas, raquíticas, sem cor. Resolveu mudar. Meteu a mão no bolso e tirou algumas notas. Decidira investir. Entrou no ginásio, preencheu os papéis e exclamou para as histórias: «Façam-se gente!». Saiu porta fora. Não olhou p'ra trás.

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Extinção

Olhou para os edifícios e espantou-se pela extinção das antenas (e não, não foram os jactos...). Sem um grito, um ai, uma revolta. Nada, apenas o vazio e o silêncio. Faz anos eram às centenas, aos milhares!... Restam poucas, talvez. Com sorte, acabarão numa reserva... Em horário certo e com bilhete gratuito aos fins-de-semana.

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Lancei as cartas e ainda não voltaram. Continuo à espera?

Continue. Até lá, lance os dados.

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Trilogia

Mão Direita do Diabo, Requiem Para  D. Quixote, Mulher e Arma Com Guitarra Espanhola, todos de Dennis Mcshade.

Que diz Machado...?
«Pois».

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07 janeiro 2018

A escrita e a culinária são compatíveis?

Depende da qualidade do estrugido.

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Tiro e queda

Vagueava ao acaso, sem destino. Ainda tentara introduzir as coordenadas no GPS mas, por manifesta falta de jeito e por uma precoce inabilidade na destrinça do norte e do sul, desistiu. Começara a chover e isso não estava previsto. Mesmo assim, saudou o imprevisto (nunca se sabia...) e entrou num espaço abrigado, a que por simpatia vamos chamar «centro comercial». Sentou-se num sofá e procurou algo para ler, mesmo sem óculos. Teve sorte e deu-lhe a vontade de apostar. Como um sinal, pegou numa revista disponível que se chamava Lua de Mel e olhou em volta. Ao fazê-lo, chocou com a cara da femme fatale, cuja nacionalidade era evidente e conhecida. Ficou por lá.

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06 janeiro 2018

The end

_ Não há volta a dar...
_ Como assim?
_ Está feito. Acabado. Finito.
_ Isso não é italiano?
_ O quê, o finito?
_ Sim, esse mesmo.
_ Por acaso é. Gostou?
_ Sim, de facto. Soa bem.
_ Também acho. Noutras línguas seria pior, não acha?
_ Talvez sim, talvez não. Não sabemos, talvez... Vamos embora?
_ É melhor, sim. Finito?
_ Porque não?

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Aforismo

Se descer, escolha a ladeira.

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Significád(i)os

Esticou as mangas da camisola e mirou-se ao espelho. Era estranho, mas as mangas continuavam pequenas, mesmo que puxadas. Ao contrário do cabelo, que estava maior. Pensou que houvesse alguma correlação, nem que fosse das estapafúrdias, que também se podiam dizer «estrambólicas», «esquisitas» ou «excêntricas». Ao contrário das mangas e do cabelo, a mania dos significados mantinha-se igual. Podia ser um sinal de que as coisas permaneciam. Se calhar podia formular uma lei, pelo menos por enquanto: mingam as mangas, cresce o cabelo, mas os significados ficam. Ou não?

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