25 junho 2016

O que está por vir

«O que está por vir», na tradução portuguesa, é um título curioso, remetendo simultaneamente para duas facetas do «que se espera»: curiosidade e imprevisibilidade. E não é fácil estar preparado para isto, sobretudo se julgarmos que esse que se espera não será mais (espera-se e deseja-se), do que um continuar ou um manter daquilo que se usufrui presentemente e se dá como mais ou menos adquirido... Quando isso não acontece, como vai descobrir a protagonista, as opções/tentações não serão muitas, mas são algumas. O segredo está na capacidade para as enfrentar e seleccionar, pois são diferentes. Se a filosofia pode ajudar ou não logo se verá e dependendo  do utilizador (como sempre, aliás). Um filme interessante e curioso, em que as emoções se manifestam de forma mais ou menos urbana, muito contidas, como num ensaio académico, sem grandes alaridos ou decibéis.


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Manias


Começou por brincadeira. Depois, a coisa foi-se tornando séria. Quando lhe perguntavam por elas, ria-se e dizia que tinha poucas. Riam-se também e não acreditavam. E assim se passavam os dias.

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Se (e quando) a bola é redonda II

Começa hoje a fase a eliminar, em jogo com a Croácia. Vendo as coisas depois do que aconteceu na fase de grupos, chegar aqui já foi um feito. Não adianta assobiar para o ar e mandar uns bitaites sobre as «selecções da II divisão europeia»... As coisas foram o que foram e as responsabilidades devem ser assacadas a todos. Mas nesta fase as coisas ganham uma expressão diferente, até porque única: perdes, vens embora; ganhas, ficas.
Sobre os jogos que se fizeram entretanto, empate com a Áustria (0-0) e com a Hungria (3-3), duas memórias: os pontapés aos postes e/ou à trave e as contas sobre a classificação mais conveniente no grupo.
Remates ao poste e/ou à trave - À primeira vista, parece que são golos. Mas não são, lamento. Nem meio ou um quarto de golo: os remates ao poste e/ou à trave não passam disso mesmo, nem devem ser contabilizados como oportunidades, pois será difícil explicar se as oportunidades são para marcar golos ou para atirar ao poste. Que eu saiba, os remates ao poste e/ou à trave são úteis para as apostas, nos treinos, mas não contam como golos. Nem meios, nem quartos. Logo, o remate ao poste e/ou à trave é do domínio da pontaria e não do golo.
Comentadores - as vantagens de um jogo como o de hoje, que é a eliminar, é a de evitar que aquelas almas se ponham a fazer exercícios sobre se é melhor ficar em 1.º, 2.º ou em 3.º. Até chegou a ser divertido, no jogo com a Hungria, a rábula deste exercício, quando toda a gente (pelo menos a que ia vendo o que se passava no ecrã) pedia a todos os santinhos que nos qualificássemos (apenas!), o que estava longe de se verificar, pelo menos até os húngaros terem tido alguma pena e deixarem de nos incomodar, faltavam ainda cerca de quinze minutos para acabar... Talvez seja por isto (quem sabe?), e independentemente dos domínios, que as piadas sobre o Excel e a calculadora costumam ter saída entre nós... Ou será fado?...


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18 junho 2016

Se (e quando) a bola é redonda

O Europeu 2016 de Futebol está a decorrer há uma semana. Como há hábitos que se criaram ao longo de anos e a propósito destas competições (europeu e mundial), umas notazitas para recordar e memória futura.
Portugal fez um primeiro jogo com a Islândia e empatou 1-1, criando um suspense e uma ansiedade inesperados para quem partiu do país «cheio de peito», coisa que costuma acontecer, sobretudo desde que começámos a frequentar mais assiduamente estas competições e os jogadores portugueses foram ganhando o seu espaço e importância nos campeonatos por esse mundo fora, com destaque para o Ronaldo e o seu estatuto incontestado neste universo. Mas, apesar do peito e do valor de muitos dos rapazes da bola, o futebol continua a ser aquele desporto de que se gosta muito mas onde o que costuma contar no final são as bolas que se enfiou ou sofreu nas balizas. E, no caso de Portugal, o saldo diz que metemos uma e sofremos uma, logo, empatámos. Dizer que foi com a Islândia não muda nada, até porque os golos da Islândia têm rigorosamente o mesmo valor do que os de outras selecções, todos jogam com 11 e a bola é redonda para todos, inclusive para nós, apesar de estarmos muitas vezes convencidos ou acreditarmos que ela é mais redonda para nós do que para os outros, designadamente se os outros forem mais ou menos do tipo da Islândia. E, infelizmente para nós, dizem-nos a evidência e os factos, costumamos ter este pensamento ou esta atitude muitas vezes e com os resultados que se (não) conhecem...
Mas nada está perdido. A não ser, talvez, que a próxima selecção que vamos defrontar, a Áustria, também seja daquelas que não jogam com 11 e com bolas redondas... Se for esse o caso, garanto-vos, então a coisa irá correr mal, mas continuaremos a ganhar nisto de que a bola só é redonda para nós... E iremos mostrá-lo no próximo campeonato.


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À mostra


Pôs tudo à mostra. Resistira durante bastante tempo, mas conformou-se à realidade dos tempos. Apesar de tudo, quis que fosse uma coisa discreta. De outra forma, recusava-se. Concordaram que assim fosse e lá chegou o dia. A discrição é que não se verificou, tal o corrupio e a excitação. Não era para menos, reconheça-se: a venda de garagem tinha sido um êxito!

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A ideia


As ideias malucas ou estapafúrdias aparecem-lhe na rua. É um facto. Compreender porquê é que é mais difícil, embora tenha algumas suspeitas. A primeira delas tem a ver com o local onde se apresentam, a rua, espaço habitual para a toleira, mesmo que se possa pensar o contrário. Em casa costuma ser menos usual, por habitualmente ser definida como «castelo», logo mais protegida e mais imune à intrusão, por causa das ameias e dos fossos, inexpugnáveis, por isso. Quando aparecem, mesmo assim e apesar dos fossos e ameias, é porque algo não foi bem feito, sobretudo ao nível da construção…
Mas há outra razão, mais grave, para o aparecimento na rua: a ausência de carta ou de título de aparecimento, validado e creditado, homologado e com garantia. E aqui é que reside o problema, que é grande.
Imagine-se num dia como o de hoje, a puxar para o bom tempo. É um cenário que lhe agradará, provavelmente, justificando-se aqui o condicional da hipótese, pois haverá quem possa não ficar entusiasmado com essa perspectiva. Imagine-se, pois, nesse grupo dos que ficarão entusiasmados com a eventualidade e as possibilidades, que se adivinham imensas e radiosas.
Agora, imagine também que uma ideia, das tais malucas e estapafúrdias, lhe vem bater à cabeça, ao ombro ou ao pé, pouco importa a parte do corpo. A princípio e por causa do bom tempo, pensa que foi um qualquer moscardo ou besouro que lhe acertou, o que às vezes acontece. Quando se apercebe que não, a coisa «fia mais fino», mesmo que nunca lhe tenha passado pela cabeça (ou pelas mãos, sequer) o contacto com a nobre e intrincada arte da tecelagem, que é também uma zona de brincadeira para os amantes e as amantes dos textos…
Deixando-se das literatices da última frase, centra-se na questão do aparecimento da «tal» ideia, constatando, com surpresa, que a velocidade e o domínio do volante por ela revelado é do domínio do efabulatório e do delírio, mais que sujeita a multa e contraordenações várias, mesmo sem precisar de soprar num qualquer balão… E aí, assusta-se!
À primeira oportunidade, está visto, irá refugiar-se em casa, no tal «castelo». Lá chegado, calçará umas pantufas ou uns chinelos, preparará uma sandes e beberá uma cerveja, pois está calor, ou beberá um branquinho, se for mais dado à degustação enófila (à temperatura aconselhável, nunca se esqueça!). E então, mas só então, pegará no pires de moelas, nuns tremoços e numa travessinha de pão, sentando-se em frente da televisão. E, como é dia de bola, pode também convidar uma dessas ideias - essa mesmo, a maluca ou estapafúrdia de grau sete, numa escala de um a cinco - mas avise-a e relembre-lhe de que ali, no castelo, só se entra por convite…

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13 junho 2016

Separação das águas

Chegara da cidade e muitos se riram do seu rigor. Havia quem achasse exagerado e quem não ligasse muita importância, dada como desconto à laia de excentricidade ou de falta de experiência. Um dia, porém, alarmaram-se com a notícia, que recusaram a princípio, mas que quiseram verificar com os próprios olhos. E ela confirmava-se. Quando os interrogaram, continuavam a afirmar-se incrédulos com o que acontecera, há muito tempo não visto. Por outro lado, todos coincidiam num pormenor: só com régua e esquadro se conseguiria tal resultado!
Foi o que concluiu o médico legista quando analisou a cabeça: a sacholada tinha sido ao meio. Rigorosamente.

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10 junho 2016

Não estar bem a ver

Os tempos não estavam bons para a escrita. Ainda pensou em consultar o boletim meteorológico, mas rapidamente desistiu, pois receava que não lhe servisse de muito, dada a sua natural confusão entre as frentes frias e os anticiclones. Resignou-se e pensou que isso adviesse do síndrome do «não estás bem a ver», que às vezes lhe lançavam em cara, pese embora ainda se considerasse com boa vista. É certo que isso só acontecia quando a luz natural se impunha, pois quando a luz artificial era rainha as letras faziam por se entrecruzar, conferindo um certo efeito estético, é certo, mas pouco propício à leitura e ao entendimento das mensagens, razão de ser da escrita. Começava a ser boa ideia a hipótese dos óculos, mais a mais porque qualquer dia estávamos outra vez no Inverno e, já se sabe, a luz natural começava a escassear... Mas até lá ainda se julgava com folga, muita ou pouca logo se veria...
Ao contrário da escrita e da vista, cada uma delas já não completamente incólumes à usura e à luz, a memória ainda dava um ar da sua graça (excesso de optimismo, está visto, pois às vezes de graça tinha pouco...), mas que persistia em dar sinal de presença, agora que uma grande competição de futebol estava prestes a iniciar-se, desta vez em França e como Campeonato Europeu. Por uns dias, mais propriamente um mês, lá voltaria a conversa sobre jogos, jogadores e os árbitros, misturados com os golos que foram e os que poderiam ter sido, com uma profusão de «ses» por frases e comentários, ao som dos hinos, dos cantos e das cervejas. Por mais voltas que se dêem, não estava bem a ver que as coisas não fossem assim.

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04 junho 2016

Posições

Esperou sentado. Mesmo assim, cansou-se. Experimentou de pé e também se cansou. Deitou-se e adormeceu.

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