20 novembro 2021

Empate

Dois artistas, mas também poderiam ser duas, encontram-se e trocam galhardetes sobre as suas (respectivas) artes. Como não saíam disso, da troca de galhardetes, os não artistas começaram a apitar e a fazer manguitos (só alguns, note-se, a maioria apitava), jurando pelas mães, deles, dos não-artistas, mas também das dos artistas, em nome da inclusão, começava a recear-se o pior... Chamada a autoridade, tudo se compôs: os artistas para um lado, a trocar galhardetes, e os não artistas para outro, com direito a prioridade e a celebração do apito. Feitas as contas, deu empate.

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Passo a passo

_ Cada vez percebo menos de futebol...

_ É normal. É a evolução.

_ Não, não é normal: devia saber mais e não saber menos!

_ Não é grave. Sabes mais de outras coisas.

_ Por exemplo?

_ Agora não me lembro...

_ «Não te lembras!?»... E isso é normal?

_ Claro! É o declínio.

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13 novembro 2021

Armad(ilhada)

Todos os dias fazia a contabilidade das visualizações e todos os dias suspirava que não havia remédio... Nunca vira nenhuma das visualizações, mas calculava que tivessem algum interesse, eventualmente alguma preparação para se dignarem a aparecer, admitindo que pudessem diferenciar-se ou exprimir por meios distintos. Mas era debalde. Por isso, tentaria uma abordagem diferente. Quando conseguiu o que queria, uma armadilha, montou-a com um toque de guerrilheiro e um jeito de perito em organização de espaços, mas rapidamente se desmoralizou, quando viu que tinha apanhado um cuco em vez de uma visualização.

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Saladinha

_ Qual é o budget?

_ Duas entremeadas e um pedacinho pequeno de entrecosto.

_ Com acompanhamento...?

_ À capela. Só.

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11 novembro 2021

Três andares

Um filme de Nanni Moretti que foge ao tom que à partida se poderia estar à espera, mas belo e inquietante, gerido com sensibilidade, questionando e questionando-nos sobre a complexidade e a diversidade que se acolhe num edifício, tendo como epicentro o espaço e os protagonistas das famílias que o habitam, com encontros, desencontros, anseios, ambições e expectativas que se interpenetram e muitas vezes conflituam, por boas ou más razões, numa tentativa, às vezes frustrada, de entender e compreender o outro.

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06 novembro 2021

Formigada

Amainado o tempo de chuva e de vento, pelo menos parecia, havia que fazer o levantamento dos estragos causados no formigueiro, visíveis mesmo para o olho humano, habitualmente pouco treinado para estas coisas. Encontrada uma formiga amiga, a quem cumprimentou nos termos e de acordo com o protocolo vigente, isto é, um encostar da antena ou uma pernada de mansinho, com a nostalgia subsequente de uma patada ou de um ou dois beijinhos na cabeça, perguntou-lhe se vira o que tinha acontecido ao formigueiro. Olhando com um olhos de espanto, perguntou-lhe se não tinha mais nada que fazer, se não estaria melhor internada ou, pelo menos, sossegada no formigueiro a fazer qualquer coisa de útil... A formiga preocupada levou o comentário a peito e virou-lhe o ferrão, à falta de melhor, como quem diz: o que tu precisas é...

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É a vida...

Poucas pessoas aguardam a abertura da loja. É cedo e faz um vento frio. Trocam-se palavras de ocasião, relativas ao trivial e ao comum das pessoas que se encontram, reconhecendo-se ou não, e esperam que uma porta se abra, qualquer que ela seja. Da conversa, a passagem pelas idades, dos seus efeitos ou consequências, enfim, «é a vida!», conclui-se... Finalmente, a porta abre-se e as pessoas precipitam-se para dentro da loja, não se sabe se para se abrigarem do frio, fazerem as compras ou fugirem da frase que ouviram à entrada, momentos antes...


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