31 março 2010

Movimento preciso

Estava habituado a este ritual, que cumpria com a atenção e a devoção de um iniciado. Mais uma vez, e por breves instantes, recordou-se do seu velho e sábio mestre: «A mente - dizia-lhe - pode libertar-te. Só depende de ti».
Respirou fundo.
-Kiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiii!
Por breves segundos, nada aconteceu. Apenas silêncio e serenidade. Depois, a casca abriu-se e pareceu desdobrar-se como um leque, revelando o interior. Como sempre, o golpe tinha sido desferido com uma precisão e num movimento único, pleno de graciosidade e concentração.
Recolheu os pedaços e mastigou-os, saboreando os momentos como se fossem eternos. As cascas jaziam, espalhadas e inertes, e o cinturão negro filosofou, para si mesmo: «Isto já não é maneira de partir as nozes...».

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30 março 2010

Cromos (actualização III)

...«Espaço 1999», «O gel para o cabelo» e «A lambada»...

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28 março 2010

À pala do You Tube IV - Burt Bacarach e Dionne Warwick

... «I say a little prayer», «Walk on by», «What the world needs now», «Alfie», «Do you know the way to San Jose»...

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Zézé Camarinha e o óleo para fritar - solução de futuro?...

«Nós», a revista do jornal i, publicada nas edições de sábado, dedicava o seu tema, desta vez, ao Portugal e aos portugueses infiéis. A coisa prometia e ganhou um picante adicional lá mais para o fim da revista, onde um título badalava o seguinte: «Isto é notícia, senhores! O gentleman do engate arrumou as botas. Cansado das estrangeiras da Praia da Rocha e arredores, Zézé Camarinha decidiu dar outro rumo à sua vida. Pelos vistos, até o engate cansa...».
«Ó diabo!... - saltei eu da cadeira - tu queres ver que as «instituições» já não são (mesmo) o que eram?!..». Fui ver. Neste caso, ler.
A peça lá explicava do que se tratava, com o apoio do próprio Zézé Camarinha - ilustre personagem a quem, a partir de agora, vou passar a designar por ZC («Zi, Si», na pronúncia inglesa que ele tão bem domina e adorna), sigla e nome artístico que me parecem mais adequados à promoção e publicitação internacionais, quase um nome de estrela de hip-hop ou assim, para além de facilitar a referência ao longo do texto, que não deve ser nada breve, mas que ZC merece.
Mas não, meus supostos leitores: não falaremos aqui das façanhas do lendário ZC, agora sem o afamado bigode, no campo e no domínio que o tornaram conhecido internacionalmente - mesmo sem a sigla....! Não, meus leitores, vamos mas é falar do contributo que ZC, com o artigo de ontem na revista, carreou para o debate e a solução de um problema candente nas sociedades contemporâneas desenvolvidas: o da reutilização do óleo de fritar!
Pois, é verdade: ZC, ao reutilizar o óleo de fritar como óleo bronzeador, por razões de economia e uma das técnicas de sedução habitualmente utilizadas, segundo o artigo, deve ter feito mais pela política e pelas medidas sustentáveis para lidar com o encaminhamento e a valorização dos óleos alimentares do que os responsáveis e ou investigadores alguma vez tenham sonhado! Mais: fazendo as contas aos anos em que a «receita» era aplicada, o homem estava adiantado alguns anos a uma política que, pelo menos no nosso País, só agora começa dar passos mais consistentes! E isto, só para nos ficarmos no domínio da valorização de «resíduos»! Do pé para mão, até eu vejo e perspectivo desenvolvimentos noutras áreas, como a da perfumaria e do turismo sexual!...
Com efeito, quem, no seu perfeito juízo, não equaciona já o reboliço que deve estar a ocorrer nas grandes marcas de perfumes com a descoberta de que, mais do que qualquer fragrância ainda inalcançável, o verdadeiro segredo na arte milenar e no ofício da sedução pode estar alojado nas sementes de amendoim, palma ou girassol! Diria que é uma verdadeira «revolução coperniciana»: como se transformar num «Don Juan» através da aplicação generosa de óleo para fritar!
Avançando um pouco mais, não me custa acreditar que, dentro de algum tempo, que se deseja breve, alguns dos títulos e/ou diálogos mais ousados, repetidos e visualizados no écran sejam, a partir de agora, do tipo:
«Frite um pastel de bacalhau e sinta-se um Casanova!»;
«Empresta-me o seu óleo das batatas?...»;
«Qual é o óleo (de bronzear) que usas: o com o sabor a enguia ou o com a fragrância de polvo?...»;
«Se um desconhecido lhe oferecer flores... isso é óleo de palma!».
Por isso, meus ilustres «casanovas ou donjuans» em potência, no activo ou já reformados: se querem ou esperam algum sucesso, façam como o ZC e ajudem a encaminhar e a reutilizar os óleos alimentares. Pelos vistos, é eficaz, é barato e ambientalmente sustentável.
Para os vindouros, fica um mítico slogan do ZC, que até pode ser usado como lema ou, talvez, para uma campanha de mercado: «You are very white. You need cream. I can put on you. I am massagist. Do you want to try? Is the best in the market.».

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27 março 2010

À pala do You Tube III - Aguaviva

... E a «culpa» continua. Desta vez, Aguaviva! E foi um fartote: Poetas Andaluces, Cantaré, La canción del hombre libre, Creemos el hombre nuevo, Me queda la palabra, Pon tu cuerpo a tierra... Foi como carregar num botão de memórias...

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À pala do You Tube II - Chuck Mangione

... E a «culpa» é do You Tube: Chuck Mangione - Feels so Good, com uma versão vocal (que desconhecia) lindíssima e Children of Sanchez...

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Tarde em Itapuã

Nunca lá estive e não sei se alguma vez lá irei. Contudo, ao ouvir Tarde em Itapuã, de Vinicius de Moraes e Toquinho, é como se lá estivesse. Mais um bónus do You Tube. Para quem conhece a música e gosta de praia em ambiente e cenário idílicos, estou certo que esta música é um hino de referência para isso... Saravá, Vinicius!

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24 março 2010

O país do «quase»

Deve ser uma das expressões que melhor nos caracteriza, esta, a do «quase». Na forma de estar, nos anseios ou nas desgraças, seguramente no quotidiano, é a manifestação visível de uma certa forma de ver, sentir e, por contraditório que pareça, decidir, que nos é ou está associada intrinsecamente: o «estar ou o ser quase», na vida ou na morte, no estudo ou na impreparação, no amor ou no ódio, na riqueza ou na pobreza, no futuro ou sobre o passado, o «quase» está lá, explícita ou veladamente, manuseado por novos e velhos, sem restrição de género.
Não sei qual é a natureza da impossibilidade, se matemática, física ou metafísica, mas fio condutor desta nossa «quase» existência e desta nossa «quase» capacidade de manutenção à superfície, neste «quase» país à beira-mar plantado. Definitivamente, não saímos nem passamos da «quasididade»...

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21 março 2010

A minha ameixeira

Está bonita, a minha ameixeira. É uma beleza discreta, sem a exuberância de outras, mas digna e agradável ao olhar. Começou a aparecer subtilmente, quando outras tinham já ultrapassado esta fase, a da floração, talvez baralhadas pelas condições climatéricas. A minha teve sorte: esperou mais um pouco e vai-se abrindo, suavemente.

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20 março 2010

«O guardião de estações de comboios»

Já lhe admirava as fotografias, agora invejo-lhe a escrita, que atribui a «feitiço da terra». O texto que vou transcrever é, para mim, admirável. Mesmo não lhe dizendo o nome, aqui fica o registo para quem o quiser ler e apreciar.
Minhas senhoras e meus senhores, apresento-vos um belo texto: «O guardião de estações de comboios»!

«Disse-me ele, o guardião de estações de comboios, que há muito que não passam comboios, naquela e nas outras estações, que eles vão guardando, à vez. Por ali passava o carvão, para a Beira, mas só até 76, 77…depois, nada. O abandono instalou-se. Olhei os carris, os novos, reluzentes, à espera de novas rodas de ferro. Ao lado, os carris velhos, resistentes mas inúteis, testemunho das histórias deste guardião de estações de comboios. Depois olhei o balcão de madeira, lá atrás, e invejei-lhe a memória dos braços e mãos que nele pousaram e suaram, e dos corpos que a ele se encostaram, contando histórias, indagando horários...há-de vir! Há-de vir o dia em que os comboios voltarão a passar, a caminho da Beira, e o guardião de estações de comboios vai levantar-se da cadeira e empunhar a sua bandeirinha – onde estará o seu chapéu? -, soprar o seu apito e reparar que o abandono caminha por entre o mato, em direcção a sítio nenhum.».

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19 março 2010

Cromos (actualização II)

... Desta vez, em directo, logo pela manhã: «O Walkman» e, em diferido, «Os Kispos», «Rambo», «O Slow», «TV Rural», «O Totobola», «A TV Pirata», «Paródia com os Parodiantes», «Roupa Interior», «Os Trabalhos Manuais» e «Os Jovens Heróis de Shaolin!...

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Anestesiar

Na dúvida, consultar o dicionário. Não me tenho dado mal com este princípio, que ainda agora pus em prática.
Depois de uma consulta pela imprensa e de olhar para a realidade da rua, das pessoas e do quotidiano, situações e factos que se repetem de dia para dia, com poucas ou nenhumas nuances, ressaltou aquela palavra, «anestesiar», e a premência de (re)conhecer o seu significado: «privação mais ou menos completa da sensibilidade geral, ou da sensibilidade de um órgão em particular, produzida quer por uma doença, quer por um agente anestésico».
Até quando?...

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18 março 2010

Momento zen(e) 8

Merecidamente e por direito próprio: a entrevista de Octávio Machado por Octávio Machado, na Sábado on-line.

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10 março 2010

Reflectir e estruturar

No rescaldo do descalabro de ontem do Porto em Londres, goleado com uns sonoros 5 a 0, é bom e desejável que os responsáveis do clube e da SAD reflictam e aproveitem o afastamento, mais do que certo, da Liga dos Campeões para a próxima época para estruturar e pensar solidamente uma nova equipa, com motivação e ousadia, com novo treinador. Aproveitem também para repensar procedimentos e lideranças. No futebol actual, isto já não se compadece com determinados comportamentos e atitudes. Na maior parte das vezes, o excesso de dinheiro a circular, fruto de vendas de jogadores que correm bem, não é suficiente para estruturar um plantel. O que aconteceu ontem vinha a adivinhar-se, ganhando uma expressão bem real num confronto com uma equipa «a sério». Não tenhamos ilusões: a realidade não mente e está lá para quem a souber e quiser interpretar.

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04 março 2010

Dilema ético

Não estava muita gente no supermercado. Era um final de tarde de um dia de semana. O supermercado estava bem localizado, mas não era dos que tinha preços mais em conta. Esta questão dos preços era importante, devido à época por que se passava, daí talvez o número reduzido de pessoas que se verificava nesse dia. Talvez para combater essa escassez de clientes, apesar da boa localização e da variedade de produtos, a referida cadeia de supermercados (pois de uma cadeia se tratava) passou a utilizar um chamariz, potencialmente apelativo para consumidores avisados e preocupados com a conjuntura, que mais não era do que um vale de desconto, de determinado valor, aparentemente pequeno, quase irrelevante (mas um «bónus», apesar de tudo...), para descontar numa próxima compra.
Na caixa registadora, o número de pessoas era ainda menor: três clientes e a operadora. De forma ordeira, sem pressas, a fila estava constituída e a operadora passava os produtos, um por um, numa cadência pautada pelo som emitido pelo scanner.
Enquanto esperava pela sua vez, algo lhe chamou a atenção e fez accionar um pequeno turbilhão de sentimentos contraditórios, provocando-lhe um pequeno, mas evidente, desconforto.
Os seus olhos fixavam-se, teimosamente, no papelinho branco, papel onde sobressaíam, como pequenos fogachos de luz, os sinais impressos de letras e de números, marcas de água dos característicos talõezinhos de desconto, de valor praticamente insignificante, como se salientou, que o cliente anterior, fosse por despeito ou distracção, tinha, olimpicamente, ignorado. Mas que não era o caso do nosso outro cliente, posicionado, logo a seguir, na fila, e que se via acometido por uma daquelas pequenas «tentações» colocadas como teste às convicções e aos pergaminhos das pessoas consideradas e tidas como de bem, insuspeitas, mesmo, mas sujeitas, como se constatava, a verem-se confrontadas com uma situação, para elas, inimaginável, mas real. Por isso, potencialmente perigosa.
«- 57 cêntimos!» pediu a operadora e, com o ressoar da voz, o nosso homem acordou do seu transe, poder-se-ia dizê-lo, em que, por breves mas impagáveis momentos, a tentação de apropriação do «alheio», o talãozinho, pertença, de facto e de direito, do anterior cliente pagante,
tomou literalmente conta da mente e do espírito do «ladrão», que de facto se julgava, pelo menos em tese.
Era uma fracção de segundo tornada numa eternidade, uma tensão insuportável para lidar com a dicotomia entre «o que se pode» e «o que se deve» fazer, um verdadeiro e genuíno dilema ético, ainda que embrulhado numa forma e num contexto quotidianos, aparentemente desfasados destas preocupações tão sérias e, para alguns, perfeitamente esotéricas, para não dizer inenarráveis.
Mas o bom senso prevaleceu. Aliviado, libertado de um peso que, por instantes, se tornara difícil de carregar, o nosso protagonista prosseguiu o seu caminho, pagando o valor que lhe era pedido e foi-se embora. Curiosamente (seria coincidência?... Esquecimento?...), não levava consigo o seu talão, que legitimamente adquirira... Ao olhar para trás, de relance, reparou que a pessoa que lhe sucedeu na fila, subrepticiamente, o apanhou e guardou, aparentemente sem remorso. E o nosso homem sorriu. Mas, mais do que ele, o Diabo também...

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02 março 2010

Dois ou só um?

Tendo mostrado, até agora, menos consistência do que os seus adversários, depois da derrota do Porto frente ao Sporting parece-me que já ninguém terá dúvidas (se é que elas ainda existiam ) quanto à discussão a dois, Benfica e Braga, para o campeão deste ano. Em rigor, talvez apenas um (o Benfica) em vez de dois, dado que não acredito que o Braga consiga levar o desafio até ao final.

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