É uma frase feita, mas sempre actual: «todos os pormenores contam!», com aspas e tudo, para pôr em prática o que se advoga e não se correrem riscos, «cruzes, canhoto!», mais uma vez com aspas, que a questão das autorias anda brava e quente, escolha-se o adjectivo que se quiser... E era esse o preceito que lhe assomou à cabeça, fazendo pisca e invocando prioridade. Sinal ou aviso, era para seguir. Certo e sabido, não fazê-lo era o caminho para que a coisa não corresse bem, para não dizer mal. Mas não quis saber ou dar atenção...
Pegou na tuba e começou a descer as escadas, com muito cuidado, é certo, que o instrumento, apesar do peso e do tamanho, tinha valor estimativo e necessitava de cuidados maternais, e, por aí, a coisa estava assegurada, mas deixava no ar uma dúvida, nada despicienda: não tinha o mínimo conhecimento de música, notas, pautas, escalas, afinação, jeito, nada!... Mesmo assim, não lhe estando na massa do sangue desistir (que ideia!...), confiava na sua boa estrela e mundividência, habitualmente juntas, e numas instruções que tinha visto no Youtube, num vídeo chinês, aí sim, com conhecimento aprofundado da língua e cultura, sob a forma de aprender a tocar tuba, pelo menos nalgum happening ou soirée, soava-lhe melhor, técnica que aprimoraria com a frequência de ensaios dedicados, iria pesquisar e seleccionar algum perto de casa, ia ser fácil, constatou rapidamente, e para lá se dirigia, agora, para o primeiro ensaio.
Chegada ao local, uma placa (mal colocada, falha tipicamente local, estava visto), apontava, consoante a perspectiva, para uma churrasqueira, olhada do Norte, ou para um cabeleiro, vista do Sul... «Que fazer...?», interrogava-se PI, dando voltas sobre si própria, procurando o melhor azimute de abordagem, descurando o Este, que apontava para uma barbearia, e o Oeste, que assinalava uma grande superfície, com promoções de 50% em enlatados e fraldas descartáveis, restando-lhe a churrasqueira ou o cabeleireiro... «E agora, PI...?», verbalizava ela, audível o suficiente para que alguns dos passeantes, abanando a cabeça, murmurassem, entre dentes «Estes artistas...!?...», mas nenhum se abeirando ou oferendo ajuda, coitada da nossa PI, que o raio da tuba começava a pesar-lhe nas costas...
A primeira tentação da PI foi ligar-me, a ver se podia ajudar ou desenrascá-la, era um clássico, mas desta vez não poderia contar comigo, ocupado que estava em acompanhar o Senupe a um workshop, duas ruas abaixo da nossa, sobre Física Quântica, matéria que o entusiasmava há algum tempo, constituindo uma pausa programada para o desfastio da tese sobre literatura licenciosa do século XVIII, que se encontrava num impasse. «Que me desculpasse», disse-lhe, mas desta vez não podia, mas, assim como assim, lhe sugeria a churrasqueira, sobretudo o piano de entrecosto...
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