Era um dia de calor. Como o de hoje.
O homem ia pela rua, a coberto das sombras, com destino certo. Ao dar um passo, num relance viu a pequena moeda, de tom amarelado, que brilhava ao sol. O homem parou e apanhou-a: era uma moeda de 10 cêntimos. Após rápida análise, meteu-a na carteira e seguiu o seu caminho.
Curiosamente, antes de se deparar com a moeda, o homem avançava no seu caminho fazendo algumas contas à vida, daquelas em que se estimam os encargos futuros com as sementes dos encargos presentes.
A pequena moeda serviu-lhe para exercitar a sua capacidade de cálculo e fê-lo, num ápice, viajar no tempo, quando se apercebeu que a dita moeda, 10 cêntimos, por equivalência representava um valor do passado desse homem, vinte escudos, na sua roupagem de papel moeda, benzida e ungida por efígie de santo, de Lisboa casamenteiro: Santo António.
Estava explicado o mistério e desvendada a natureza da dádiva. Para além de casamenteiro, o Santo também é invocado nas horas difíceis em que, por mais voltas que se dêem, os objectos ou a sorte parecem esquivos às nossas preces ou precisões. E, como se comprovava, o Santo não desmerecia a sua fama, como o homem pudera verificar. «Sempre era uma ajuda» - pensou.
Para as suas contas, dez cêntimos era melhor que nada. Era muito? Era pouco? Vá-se lá saber! «Se calhar,» - matutou o homem - «é o que é possível, nos tempos que correm».
Será que a crise, diremos nós, também já chegou ao Céu?... Pelos vistos, chegou...
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