31 dezembro 2017

Dar corda

... E às duas por três está-se no fim do ano... Logo se estará no Carnaval, na Páscoa, nas férias e... no final do ano!... Quem será o(a) relojoeiro(a) que dará corda a este relógio?...

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30 dezembro 2017

Tômbola

Uma vez ou outra apostava na roleta das palavras. Hoje era um desses dias. Como era uma aposta cega, ficava com o que calhava. Mesmo assim, fez figas. De dentro de casa ainda lhe gritaram «Não te esqueças da pata do coelho!», mas já não foi a tempo. Para passar por baixo do escadote também não, uma vez que estava emprestado e não tinha lata para o pedir de volta. Só estava tranquilo quanto ao dia do mês e da semana. Entretanto, a roleta já andara. Tinha um palpite de que a coisa era capaz de sair, desta vez. Lá ficou à espera que a sms lhe desse sinal de entrada no telemóvel e fechou os olhos, continuando a fazer figas, o que fazia com alguma força e lhe começou a provocar uma pequena entorse num dos dedos, levando-o a abrandar. Mais a mais também já não era preciso continuar pois a sms entrara, fazendo o sinal característico de um bombardeiro que acabou de largar uma bombeca em qualquer lado (no novo ano talvez fosse melhor alterar este sinal, iria ver qual, mas tinha que o fazer, pois não tinham conta as vezes em que acabara com reuniões sérias e profundas, chatas também, em que os reunidos se atiravam para o chão e se metiam debaixo das mesas, embora muitos deles acabassem por lhe agradecer por ter liquidado a sessão em que os 'implementar', 'estratégia', 'objectivo' eram mais que muitos...).
Estava com algum receio do que aterrara, é certo, mas agora já não havia nada a fazer - já que apostara, teria que ver o que saíra. E o que saíra surpreendeu-o, obrigando a ter cuidado a descodificar o que lá estava dito e o que é que significava. A palavra que lhe saíra era das boas: «griô». E como é que sabia que era das boas? Fácil. Era só atentar no significado: «Relativo a ou pessoa que pertence a uma casta profissional de depositários da tradição oral africana, exercendo funções de poeta, cantor, contador de histórias e músico, a quem são frequentemente atribuídos poderes sobrenaturais». Como se via, tirando talvez a parte do «contador de histórias», era um significado que espelhava o que era, até parecia bruxedo! Ou, em linguagem de lotaria, a sorte grande e a terminação no mesmo bilhete.


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Os mercados de Natal estão sujeitos a rating?

Só se o Pai Natal quiser.

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10 dezembro 2017

Melros e santos, lda.

O melro de bico amarelo cruzou-se com o santo de pau carunchoso e ficou de asa atrás (de pé atrás, em linguagem de humano), assobiando baixinho para as penas: «O que é que este pássaro andará por aqui a fazer?!». Boa coisa não seria, talvez, mas dar-lhe-ia o benefício da dúvida... Via-o bater no peito (fraquinho, por sinal), mas ficava-se por uma muda expectativa. Talvez fosse melhor assim. Na dúvida, contudo, ia afiando o bico amarelo à sorrelfa, para o caso de ser preciso algum acerto.
Estava assim o melro cogitando, e ao mesmo tempo afiando o bico, e eis que na curva do caminho se começa a ver nova alma, manquitando com a pressa ou dos sapatos, a aproximar-se do sítio onde o santo do início se sentara, polido com o tabaqueiro e convidando ao descanso. Chegada um bocadinho a bufar (coisas do exercício), logo se recompôs e passou a mão pelo cabelo, dizendo como quem não quer nada, mas que agradece uma ajudinha: «Nem me apetecia sair»; recebendo em troca um «Fez bem. A mim também não. Mas já que aqui estamos...».
Aqui o melro aprumou-se, à laia de sentinela, pensando no que fazer. Iria ver no que paravam as modas, mas de bico amarelo caladinho. Mirou a distância, identificou a árvore que lhe interessava e efectuou um voo preciso (silencioso quanto bastasse para os ouvidos humanos) e pousou. Mesmo por cima da festa.
«E que festa!», dirá mais tarde aos melros netos, traquinas como sempre (coisas de crias), piando por cada vez mais histórias do avô, que muitas tinha e para todas as ocasiões. O que os continuava a intrigar, porém, era como o santo e a santa se tinham aguentado com tanto caruncho e sem se queixarem...





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A criação de gambozinos é subsidiada?

É, mas só para crédulos.

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09 dezembro 2017

Trela(s)


Pegou na trela e decidiu passear o jornal. Desta vez não levaria o livro, apesar de se portar bem. Mesmo que quisesse também não tinha mais trelas. E esse facto fazia a diferença, pois nunca se sabia como é que o livro reagiria a essa liberdade. Iria o jornal, pois.
O jornal estava impaciente, ganindo baixinho. Bem tentava sossegá-lo, mas nada. A solução foi sair o mais rápido possível, não fosse mijar as letras pelas escadas abaixo. Felizmente não aconteceu. Isso já era um alívio, sabendo-se como se sabia que as letras sujavam tudo e eram ligeiramente tóxicas (parece). Nesse aspecto, os livros eram piores. Embora já tivessem inventado umas fraldas próprias o risco existia, pois também era sabido que os livros tinham uma bexiga maior e uma dieta menos controlada. Só ele sabia o que passava às vezes, com as pessoas a olhar de lado e a espreitar pelas páginas. Até apetecia meter num buraco. Mas nunca acontecera, até agora. E ainda bem. Se não, com quem é que ficavam?

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Eu é que sou o presidente

_ Quem é aquele?
_ É o presidente.
_ Ah sim, de quê?
_ De «porra nenhuma»!
_ «Porra nenhuma»?! E o que é isso?
_ É a porra nenhuma... Nunca ouviu falar?!
_ Que me lembre...
_ Não parece convencido... Quer falar doutra coisa?
_ Não estou a ver... Podemos fazer uma recapitulação?
_ Vamos lá.
_ O que é que faz um presidente?
_ Preside, é claro! Qual é a dúvida?!
_  Nenhuma, porra! Nenhuma. Que feitio!...


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08 dezembro 2017

Dúvidas

Muitas eram as dúvidas. Umas mais do que outras e com direito a ranking, destacando-se uma: como seria?
As desconfianças também eram grandes, mas com um ranking menor.
No momento crucial, a expectativa era grande.
Mas desapontaram-se com o resultado e com a panela.
Da próxima vez, o feijão seria cozido na de pressão.

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03 dezembro 2017

A minha linha avançada nos matrecos é muito goleadora. Posso pô-la no mercado?

Só em Janeiro.

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Sem assunto

Acontece com frequência. Com tanta frequência, aliás, que a maioria das pessoas não lhe liga importância nenhuma, numa sábia atitude de quem já viu ou sabe muito ou, pelo menos, alguma coisa. De que se trata? Simplesmente, de não ter assunto. Tal e qual como se descobre a falta de arroz ou de dinheiro, a falta de assunto também se mostra com esta roupagem, a da falta. Não moral mas física, daquela sujeita à realidade de um comprimento, largura e altura, por ténues que sejam. Apesar de ser assim, no seu caso, contudo, isso não deixa de lhe provocar alguma perplexidade, uma vez que desde sempre procurou proporcionar as melhores condições de habitabilidade aos assuntos que acolhe, muitos deles apanhados nas valetas ou vales deste mundo ou do outro, sempre com a garantia de um banho e de serventia de cozinha, excepto aos dias de semana. Com alguns chegam mesmo a estabelecer-se alguns laços de cumplicidade, com direito a troca de prendas no Natal e a bebida de uns copos por altura dos arraiais de verão. Num mundo ideal as coisas não serão assim, mas convenhamos que serão mais chatas. E a chateza é daqueles assuntos de que a gente não gosta, nem distraídos! Para esse não há banho nem serventia de cozinha, quer aos dias, quer ao fim de semana. Era o que faltava!
Mas não se infira das frases anteriores que o cenário é cinzento e frustrante. Pelo contrário, é até muito motivador! Em quê não se sabe, mas cai sempre bem uma referência à motivação e à capacidade de superação. E aqui começa a ver-se o assomar da cabeça de um assunto, pequenina ainda, mas a mostrar os dentes. Veremos se são de leite ou definitivos. Ainda não dá para ver se é menino ou menina, mas lá há-de aparecer o momento. Até lá, vamos dar uns retoques na divisão de acolhimento. Para começar, vamos pôr um anúncio: nas superfícies comerciais, nos placards, na via pública e nas redes sociais, aqui com a menção expressa de que não se aceitam indignações nem manifestações de polegares para cima ou para baixo. Muito menos dos cabeçudinhos dos smiles e afins, a arreganhar a bocarra ou a descair a imitação de sobrancelha.
O que for será, e nada melhor de que uma frase críptica para dar um tom de suspense, à laia de uma malagueta que se mete à sorrelfa num prato de estalar a vista, deixando-se à imaginação de cada um o entendimento do que se pretende, provavelmente nenhum, a fazer fé no exemplo.

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Aí, nessa secção, as orientações são uma treta, não são?

Confere. Mas só quando estamos distraídos.

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01 dezembro 2017

Tarefas do dia

À falta de papel, reviu a lista de tarefas mentalmente. Iria ter um dia intenso, pelo menos da parte da manhã. Recapitulava: passear o cão, dar umas voltas ao quarteirão, compor um ou dois contos, passar os olhos e a paciência pelos problemas do mundo, respirar fundo, fazer um caldo verde. O cozido ficaria para depois, se tivesse ainda tempo. Mas continuava com dúvidas acerca do caldo verde. Se calhar inclinava-se mais para um creme de cenoura, mas seria melhor não se inclinar muito, por causa das quedas. Na dúvida, ficava apenas o cozido. O resto podia manter-se e era melhor apressar-se, por causa do cão, que ameaçava verter-se pelas patas abaixo (e logo em cima da carpete, que era nova), não sendo já suficientes os apelos à quietude e ao sit!, que o bicho não compreendia por (ainda) não saber inglês, mas que lá chegaria, estava certo. Teria que ir, estava visto.
Já na rua, apercebeu-se que o quarteirão estava num rebuliço, com polícia a controlar, e uma equipa de filmagem a ensaiar uma cena das que acabam por se ver nos filmes, mas sem os adereços. Afinal, era isto o cinema! Gostava, é certo, mas as filmagens punham em causa as suas voltas ao quarteirão, que faziam parte da rotina mas não tinham a autorização que o filme dispunha e isso era um problema. Sorte que o cão alçara a perna junto de um dos actores, que fazia de árvore, e abanava os galhos a imitar o vento, isso percebia-se, e até conferia um toque de realismo, a imitar a humidade, pois sem isso não há árvore que se aguente. Esqueceria as voltas e ficar-se ia pelos sprints a acompanhar a deslocação da máquina das filmagens nos carris, que também serviam para o cão dar umas corridas agarrado à trela, e isso não era mau em termos de metodologia de treino. Feitas as contas, saía a ganhar.
Mas o tempo para os contos (um ou dois, comprometera-se), começava a ser curto, à semelhança daquelas camisolas que já não servem nas mangas, porque encolheram ou os utilizadores mingaram, hipótese não desprezível, e cada vez mais actual por causa do tempo, o meteorológico e o outro, qual deles o melhor. Teria que se contentar com um mix, à laia de compensação mas muito actual, contribuindo com isso para o desenvolvimento de conteúdos para as diversas plataformas, quaisquer que elas fossem, mas sempre boas, era uma questão de princípio da qual não abdicava. E com isto concretizava esta parte da lista. Com sorte (muita, mesmo!), ainda receberia uma menção no passeio dos Escritores Fantasma, em inglês Ghost Writhers, e em espanhol Escritores Fantasma, já agora, devemos ter visão global e empresarial, cai sempre bem, e nunca se sabe o que o mundo nos reserva. Apostar na tripla, sempre!
E a imagem da tripla vinha mesmo a calhar, coisas do caraças! Queria-se melhor coisa para lidar com os problemas do mundo? Nem por sombras! Era tripla e era porque não havia mais! Como sopa no mel!
Por uma coincidência feliz, com a sopa no mel fechara-se o círculo. Não como as malhas que o império tece (não era de têxteis que se tratava), mas de um final feliz para uma história atamancada, que também as há, também as há... ainda que se acredite que poucas.
A vantagem desta, que se agradece nos dias como o de hoje, a dar para o frescote, é a de servir de aconchego ao estômago, esse bandulho eternamente insatisfeito, e com um toque gourmet.

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