Subtileza

_ Trago-lhe aqui uma subtileza.
_ Aqui, onde?
_ Tenha calma... Muita calma... Se não for assim, ela assusta-se.
_ É espantadiça, talvez...?
_ Está a ver...? Eu não lhe dizia...?
_ Podemos fazer-lhe festas?
_ Só com luvas... Só com luvas...

A Favorita

Mais não fosse por isso, o filme é um espectáculo e um festival de representação das três personagens principais: a rainha, a favorita e a que aspira a sê-lo. A juntar a isso, os ingredientes dos bastidores do poder (de todos os tempos e cenários) e a implacabilidade de alguns (muitas vezes mulheres, ninguém se iluda) quando ambicionam e o fazem de forma veemente. Mesmo que a história lhe possa parecer familiar, a não perder.

Chover a potes

_ Chove a potes!
_ Chove a potes!?... Não haverá aí um exagero..., típico de uma linguagem pouco rigorosa...?
_ Não me parece... Trata-se de uma força de expressão, usada para dar colorido à linguagem. Não há falta de rigor nenhum. Só uma expressividade mais acentuada. Nada mais.
_ Pois sim... Ai, porra!... Esta doeu!
_ O que foi...?
_ Caiu-me uma pinga na orelha e doeu-me. Está a chover bastante, como vê. Deve ter sido uma pinga mais pesada...
_ Talvez uma das asas do pote, não...?

Bolsos

_ Vejo que mantém as mãos nos bolsos. Está com frio…? Ou a guardar algum segredo…?
_ Não é bem um segredo, pois é de Polichinelo…
_ Muito bem. E pode saber-se qual é?
_ Vou dar-lhe duas pistas.
_ Diga lá.
_ Primeira: só está num dos bolsos. Segunda: exprime uma vontade maioritária.
_ Não é fácil… Não me quer dar mais pistas?
_ Não. Vai ter que se virar.
_ E se eu não quiser…?
_ Problema seu. As pistas estão aí. Puxe pela cabeça e tire as conclusões. Não é difícil…
_ Já que é assim… Será uma maioria…? E no bolso esquerdo…?
_ Como vê, não era difícil… Quando é que posso assinar?
_ Tenha calma. O procedimento não costuma ser esse… Já reparou que também estou com as mãos nos bolsos…?
_ Agora que o diz… sim, por acaso tinha reparado. Não dei grande importância, devo dizê-lo. Será que é você que está com frio…!? Ou está a guardar um segredo…!? Não leve a mal, é apenas uma piada…
_ Não tem problema… Uma boa piada dá sempre jeito… Olhe, não quer também adivinhar porque é que estou com as mãos nos bolsos…?
_ Porque não!?... Dê-me lá umas pistas!
_ Aí vão, já que não se importa… Primeira: num bolso está uma coisa e noutro outra. Segunda: de qualquer delas, não gosta.
_ Oh, diabo!... Assim é difícil… Não dá mais nada?
_ Parece que não… Vai ter que se virar… Estava a brincar consigo! Como vê, também sei fazer piadas…
_ Que maçada!... Logo agora, que tudo parecia correr tão bem… Por acaso não tem um lenço…?
_ Como é que adivinhou!?
_ Sei lá. Saíu-me…. Mas diga-me: o lenço é tabaqueiro?
_ Não: é de despedida.

Pesos

A ambição era tornar-se peso-pesado. Até que fosse possível, muitos murros teria que levar... E modificar a dieta. Era o preço a pagar por ser um peso-leve. Não esmorecia, contudo. Se fosse peso-mosca, seria pior.

A unha

Meticuloso como era, ficou desagradavelmente surpreendido com o tamanho da unha, que apresentava uma ligeira tonalidade escura. Ficou na expectativa, mas preocupado. Alguém - não se sabe quem - sugeriu uma tesoura e, talvez, um bocadinho de sabão. Achou pouco. Pensava mais num cutelo, pois a honra devia ser lavada com sangue… Acalmou-se, passado o ímpeto. Alguém comentou que se salvara. Por uma unha… negra.