31 agosto 2021

Seinfeld(ianice)

_ Que tal correu o evento?
_ Menos mal. Pior foi a velha...
_ De facto, foi um desperdício...
_ E não havia alternativa...?
_ Sim, mas era mais cara...
_ Começamos, então...?
_ Vamos lá...
_ Não estou para isto!...
_ Arrependes-te, presumo...?
_ Pode ser...

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26 agosto 2021

Da competência

Era para não ligar, mas a coisa ficara a martelar-lhe a cabeça. «Questiona!», ouvia-se, «Interroga!», continuava. Farto do ressoar, decidiu agir. 

_ Porque me fazes isto!?...

Não recebeu resposta.

_  Vamos, responde!

Silêncio...

_ Ai é!?... Vou-me embora!

Todos os dias era o mesmo, reconheciam, mas já não ligavam. Falar para uma porta não era da sua competência...


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21 agosto 2021

Devo candidatar-me a crónica ou a conto?

 Tendo média, sugere-se a tanga ou a treta.

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À procura da paisagem interior - amostra 11

Chegadas as férias, PI encontrava-se num dilema: não fazer nada ou iniciar-se numa carreira literária. Passada a fase da pintura, de um rápido passeio pela escultura (com resultados nada promissores, aliás, mas com boas expectativas para manter acesa a chama da criatividade, como se constata, confrontados com a mais recente opção artística, assinalada na primeira linha), PI estava muito dependente da gestão de humores provocados por uma inconstante e frágil previsão acerca das movimentações climáticas e dos avanços e recuos sobre a magna questão sobre o sentido das coisas, quaisquer que sejam, matéria a aprofundar com o círculo mais próximo dedicado às questões existenciais e aparentadas, mas que provavelmente só seria retomada no Outono, estação do ano mais propícia a este tipo de matérias e ou preocupações...

Ainda não muito certa sobre se este início poderia estar na origem de uma obra de fôlego e verdadeiramente inovadora no panorama literário (a PI não costumava fazer a coisa por menos, mas isso já era um clássico, coisa que lhe vinha de berço, poucos sabiam, mas era um facto), mesmo assim sentia-se motivada para continuar o empreendimento, mas para já resolvia-se por uma pausa, acompanhada a café e meia dúzia de inspirações/expirações que lhe tinham sido ensinadas por um guru de proveniência incerta, mas previsivelmente de uma área geográfica especializada em gurus, que costumava funcionar e antecipava os períodos em que tinha que tomar uma decisão ou escolher um caminho.

A grande questão era esta: que fazer...?

Para as almas simples, que as há, a resposta a esta questão poderia constituir um problema (pequeno, é certo, tenhamos noção do que está implícito e da natureza das almas em questão), pois não era fácil dirimir entre caldo verde ou canja, calça de ganga ou shorts, praia ou campo, com possibilidade de montanha (mas isto para um pequeno estrato, atenção!), comida soft ou feijoada, coca-cola ou garrafão, mas que acabava por resolver-se, custasse muito ou pouco.

Para pessoas como a PI, contudo (e compreende-se!), a mesma questão era um quebra-cabeças e um martírio, daqueles para levar a sério e sem pôr em causa o grau de empenhamento, quer na abordagem, quer na tentativa de resolução, habitualmente condenado ao fracasso (hélas, triste sina, esta...), mas a que porfiadamente se dedicava, não fosse ela uma digna e emblemática representante da nobre estirpe dos «porfiantes», por via materna e paterna. E os resultados estavam à vista: por via das dúvidas, mas também por pirraça, seria caldo verde, shorts, feijoada e garrafão!


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Certificado

_ Você é uma fraude!

_ Sim, mas certificada.

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15 agosto 2021

Estou a pensar em iniciar-me numa carreira qualquer, mas que seja inspiradora. O que é que acham...?

Deixe-se estar sossegado.

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Área protegida de novelas de cavalaria

Olhou em volta e pareceu-lhe um sítio apropriado. Tinha-se uma vista desafogada e o ar era bom, puxado pelo vento. Mas tinha que manter-se alerta... Afagou o cavalo segredou-lhe qualquer coisa ao ouvido... Estava pronto! 

Preparava-se para investir à desfilada, de lança em riste, quando se apercebeu do sinal...Desiludido, para não dizer destroçado, refreou o cavalo e retrocedeu... Não seria hoje que defrontaria os gigantes: os moinhos estavam em zona protegida de Quixotes...

 


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14 agosto 2021

Banalidade (respeito, sim!?...)

_ Diga-me aí meia dúzia de banalidades!...

_ Não me apetece...

_ Vá lá, só meia dúzia!... Não lhe custa nada e a mim resolve-me um problema...

_ Problemas é o que há mais...

_ ?...

_ Gosta mais de melão ou de melancia...?

_ ?...

_ Está fresco, hoje!...

_ ?...

_ O animal é novo...

_ ?...

_ É a vida...

_ ?...

_  ?...

_ Então...?

_ Já fiz a minha parte...

_ Tem a certeza...?

_ Tenho. Faça as contas.

_ Só contei cinco...

_ Conte outra vez.

_ Está a contar com a primeira...? É que parece mais um desabafo do que uma banalidade...

_ É uma opinião.

_ Não quer repensar...?

_ Não.

_ E então porquê?...

_ Não me apetece.



 


(História) direito que o senhor tinha de constranger os súbditos a servirem-se do que lhe era banal («que, sendo pertence do senhor, estava à disposição do público mediante retribuição»), mediante pagamento.

2. Qualidade do que é banal.

3. Coisa banal ou trivial = Fatalidade, Trivialidade.

"banalidade", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/banalidade [consultado em 14-08-2021].

Direito que o senhor tinha de constranger os súbditos a servirem-se do que lhe era banal, mediante pagamento.

"banalidade", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/banalidade [consultado em 14-08-2021].
Direito que o senhor tinha de constranger os súbditos a servirem-se do que lhe era banal, mediante pagamento.

"banalidade", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/banalidade [consultado em 14-08-2021].

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08 agosto 2021

Farelório

_ Não aguento!... Falas tu ou falo eu...?

_ Fala tu.

_ Só uma palavrinha, por favor... Porque é que está tudo tão mal...!?

_ Sim...? 

_ Porque é que está tudo tão mal...!?

_ Mal, como...!?

_ Tudo!

_ Pode precisar, por favor...?

_ Mau!... Precisar!?... Falas tu ou falo eu...?

_ Fala tu. 

_ Assim não se pode!... É demais!

_ Demais, o quê...?

_ Tudo!

_ Temos que avançar...

_ Que lata!... Só visto!... Falas tu ou falo eu...?

_ Falo eu. Quando é que nos pagam...?!

_ Desculpe...!?

_ Faz-se desentendido...! Já disse: quando é que nos pagam!?...

_ Isso é com a organização... O amigo é...?

_ O ventríloquo!...

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07 agosto 2021

Irresistível

A lambarice tentava-a... Por mais que se esforçasse, não lhe saía da cabeça... Em desespero, mandou uma mensagem: «agarrem-me, senão como-a!».

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Contrato

O telefone tocou. Era um frete. Chegado ao local, perguntou o que tinha de fazer. Disseram-lhe para aguardar um pouco, logo o encarregado lhe diria o que era. Assinados os papéis, começou a carregar. Tratava-se de uma encomenda preciosa: conhecimento acumulado. Na dúvida, municiou a pistola...

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D'stâncias

_ Donde é qu'é isto...?

_ D'algures...

_ D'cima ou d'baixo...?

_ Nenhures.

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04 agosto 2021

Quiproquó(s)

_ Identifique-se, por favor.

_ Benvindo.

_ Está a brincar comigo...!?

_ Não, que ideia!... Apenas fiz o que me pediu...

_ Mau... Quer identificar-se ou não...?

_ Benvindo... Faça o favor de entrar...


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01 agosto 2021

Man(são)

Talvez sugestionado pelos media e pelo ambiente, meteu na cabeça que, também ele, obteria uma medalha... Se bem o pensou, melhor o fez. O problema era decidir qual a modalidade, pois nem todas se adequavam ao seu estado, que não era recomendável, nem à perícia, que não era de confiança... Mas havia uma, uma só, em que a memória e o desempenho coincidiam no juízo de que tinha sido razoável, mais ou menos, com tendência para menos - tiro aos pratos!.. 

Tocando à campainha, pediu ao mordomo que preparasse a máquina e que a abastecesse com o melhor serviço de loiça que existisse na casa, sem olhar a despesas, é claro, que o seu objectivo era o ouro... E o mordomo assim fez, comunicando-lhe que tudo estava em conformidade, que poderia começar quando quisesse, mas que apontasse e disparasse para os pratos através da janela aberta, e não para os que estavam dispostos nas paredes da sala, que eram para as refeições...



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Não percebo isto da bazuca!... Não posso ficar só com a pressão de ar...?

Pode, mas tem que preencher o formulário próprio...

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Em jeito de desfile...

A idosa deslocava-se com dificuldade, mas ainda pelo próprio pé. Todos os dias, ou quase todos, cumpria uma espécie de ritual: dar de comer a gatos, uns à frente e outros na traseira do prédio, de manhã e à tarde, sem desfalecimento, com uma ou outra recriminação, à laia de zeladora do bem-estar da gataria, uns mais do que outros, note-se, mas aos eleitos proporcionando aquilo que de melhor lhes poderia proporcionar a estadia numa espécie de «paraíso» - comida, acolhimento e liberdade... Para os outros, os não-eleitos ou encarados como invasores (quem os poderia censurar...!?), uma cartilha diferente, feita de ameaças e de «castigos» à base de voz alteada e de «penas» inimagináveis para os prevaricadores, que se pusessem a pau, ai deles!... E a cena repetia-se, dia após dia...

Como se repetia também um outro cerimonial, à laia de espectáculo para conhecedores e passeantes de ocasião, ao longo da rua por onde a velhota se movimentava, devagar, devagarinho, mas sempre andando em frente, à direcção que lhe servia de destino, e acompanhada pelo seu fiel escudeiro, um gato, pois claro, que a acompanhava, como um cão, doseando o passo e a cadência pelos do da senhora, como num desfile, «Vejam, senhoras, senhores, só visto! Só visto!», com direito a reprise e percurso inverso, nunca se vira uma coisa assim!...


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Compreensões...

_ Não podemos ir a todas...

_ Compreendo... Compreendo...

_ É humanamente impossível...

_ Compreensível... Compreensível...

_ Não há milagres...

_ Só vendo!... Só vendo!...

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Hã...?

_ É mais forte do que eu...

_ Olhe que não!... Olhe que não!...

_ Hã?... Desculpe, mas não percebi.

_ Sou mais fraco do que você... É um facto! Quer medir forças...?

_ Hã...? Não ligue!... Estava a referir-me aos meus fantasmas...

_ É mais do que um!?... Como usou o singular... pensei...

_ Hã...? Deixe para lá... Coisas minhas... Mas sim, são vários...

_ E um deles é o chefe, é isso...?

_ Hã...? É uma força de expressão. Tem um valor simbólico e funciona como uma espécie de bordão... Às vezes, dá jeito...

_ Hã...?

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