29 maio 2016

Pernosticismo

Começou por estranhar o som, que associou vagamente às aves. Podia ter ficado por aqui, mas a curiosidade era mais forte. Para ter a certeza de que não se enganava, coisa que era frequente, resolveu jogar pelo seguro e perguntar a quem lhe podia dar a resposta, neste caso o dicionário, pois era de um significado que se tratava. Fez bem, como se comprovava, e ficava contente por, desta vez, o embaraço não ter acontecido, e isso já era uma vitória. Contrariando a tese da aproximação às aves, que lhe chegava pelo «pernalta», o significado de «pernóstico» tornava-o era integrante de outra espécie, a humana, coisa que se suspeitava... E aqui, como quem não a quer a coisa, metia mais uma lança por aí fora, sempre com a ajuda do dicionário, e descobria-se «circuncisfláutico»... De perna curta.

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26 maio 2016

A direito (e em directo)


Estamos no Oeste. Não o ponto cardeal, mas o mítico. Para os conhecedores, «esse mesmo». Não há muitas descrições, apenas a cena principal, invariavelmente ao sol. É costume ouvir-se o bater das badaladas de um relógio. Dois homens enfrentam-se, braços ao longo do corpo. Um é mais rápido do que o outro e dispara, um, dois, três tiros, se for bom. Um deles cai e o outro sopra o cano da pistola. Aparece um cangalheiro. Começa a ouvir-se um piano e o que ficou em pé dirige-se para o saloon. Pede um uísque. «Duplo!», impõe. A corista principal aproxima-se, dengosa e com voz rouca. A fita quebra-se...

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22 maio 2016

Os jogos de futebol pela manhã mexem-me com os horários das refeições, sobre os quais sou muito cioso. Aconselham-me alguma coisa?

Talvez um brunch.

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Com bolinha

Abrasados, caíram em si. Era difícil ver qual deles estava mais, se ele se ela. Juntaram os dedos e uniram-se numa mão só. Raiava o dia e a hora fora escolhida, não sabiam se certa. Só se deram conta quando se ouviu o apito e o árbitro deu início ao jogo. O relógio marcava 7h30. Noutras partes do mundo, já passava do almoço.

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21 maio 2016

Charada

_ Tenho aqui uma coisa. Quer ver?
_ Mostre lá.
_ Tem que fechar os olhos, primeiro.
_ Não me vai enganar, pois não?
_ Não. Pode abrir.
_ Só vejo uma mão, mas não tem nada.
_ Certo. Feche os olhos outra vez... Agora abra.
_ Vejo a outra mão... Mas também não tem nada! O que se passa?
_ É simples: «uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma». Como vê, é fácil.
_ Está a gozar, não?
_ Talvez sim... ou talvez não. Quem o sabe?




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A rua


A rua daquelas pessoas era curiosa. Não uma curiosidade como a das pessoas, mas como a que as ruas podem ter, e só as ruas. Descobri-las, a das ruas e a das pessoas, costuma ser um trabalho curioso, digno de uma curiosidade que se orgulha do nome. Fica o desafio. E a curiosidade é isso.

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07 maio 2016

Pena

Os remorsos eram muitos e o diagnóstico foi fácil: consciência pesada. Foi-lhe prescrito um tratamento inicial, visando a passagem do plural ao singular, com controlo cíclico da situação.
Felizmente, não se tratava de uma situação de remordimento, devido à ausência de dentes, mas de uma situação comum, característica de vistas largas e de critérios abrangentes. No entanto, de acordo com os especialistas, a mão a meio campo continuava a ser livre e nunca penalty.


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01 maio 2016

Dia(s)

Chama-se a isto ironia: no Dia do Trabalhador (e, neste ano, também da Mãe), o que o afligiu foi o queimar das maçãs. Não estava preparado.

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