31 maio 2018

Aforismo

Cultive-se! Na dúvida, cave.

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26 maio 2018

Sem bomba

O bloqueio criativo plantara-se à entrada do prédio e não deixava ninguém passar. Apesar das bocas e das cuspidelas, mantinha-se por lá. As pessoas tentavam tudo, mas acabavam por desistir. Como nada parecia resultar, começaram a conceber diversas alternativas. Umas mais radicais do que outras, é certo, outras mais sensatas ou exequíveis. De acordo só estavam num ponto: a bomba atómica só em último recurso! Os gozões, que nem eram a maioria, sugeriam a táctica do quadrado. Outros, mais sérios, o 4-4-2, desdobrado num 4-3-3, eventualmente um 4-5-1. Os radicais, estes sim a maioria, sugeriu o par de lambadas. Apenas as crianças pareciam interessar-se com o espectáculo, à primeira vista agradável, pois até tinha impedido a ida para as aulas. Destas, a mais tímida, sugeriu que se fizessem cócegas ao bloqueio... E resultou.

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20 maio 2018

Aposta

_ Aposto que as apostas estão baralhadas...
_ Quanto é que me dás?
_ Escolhe tu.
_ Passo.

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Aguadilha

A ausência do conflito deixara-o preocupado. Mais do que preocupado, perplexo. Quem está habituado com estas coisas sabe que isto é um passo em frente. Se é para o abismo ou contra uma parede não se sabe, mas quem tem esta experiência acaba por saber e sem ambiguidades. Mas, sendo assim, a coisa complica-se. O certo é que se estava a contar com ele, com o conflito. Não aparecer é um balde de água fria, logo agora que as coisas começavam a aquecer. Os termos do contrato eram claros: sem conflito não há história. Não é não ficar suspensa, nem nada parecido. Não há, ponto! Podem arranjar-se sucedâneos, mas não é a mesma coisa. Tudo porque o conflito resolveu não aparecer. Será por falta de dinheiro?  Por falta de tempero? De pachorra, talvez? Afinal, que água utilizar: da rede ou do poço?


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19 maio 2018

Fenómeno

Era conhecido pelas tretas. Não pelo nome, pela profissão ou pela fortuna, mas pelas tretas. Não que isso fosse problemático. Pelo contrário, tornara-se fenómeno de culto. E isso, o ser fenómeno de culto, deu-lhe uma ideia. Que amadureceu e foi colhida. Mas que acabou por se revelar funesta, tal a diarreia que provocou.

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Depende 3

_ «Depende», outra vez?
_ Depende.
_ Está a brincar, não está?
_ Não, estou «à séria».
_ E isso depende de quê?
_ De não estar a brincar, é lógico.
_ Acredita, pois, que com lógica vamos lá?
_ Depende.

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Depende 2

_ Qual é a margem de progressão?
_ Depende.
_ Vai durar muito?
_ Depende.
_ Podemos ficar descansados?
_ Depende.
_ Afinal, de que é que depende?!
_ De várias coisas.
_ Mas quais?..., Diga quais!
_ Sei lá!... Depende de várias coisas..., do risco..., da conjuntura. Está a ver?
_ Não, não estou a ver!
_ Quer uns óculos?
_ Depende.

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Depende

_ Qual é o preço a pagar?
_ Depende.
_ Tem iva?
_ Depende.
_ Oferece garantias?
_ Depende.
_ Não diz mais nada do que «depende»?
_ Depende.

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13 maio 2018

Bilhete

Não tinha dinheiro para viagens. Mesmo assim, iria fazê-las. Como? Clicando na hiperligação.

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Se for muito ao cinema, corro o risco de confundir a realidade com a ficção?

É pouco provável. Na realidade as cadeiras são em menor número.

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A Morte de Estaline

Há histórias em que o real, de tão absurdo, com a morte como pano de fundo, está mesmo a pedir um filme. Para rir, decerto, mas também para chorar. Quem diria?

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Trocos

Quando comprou a casa, no alto da montanha, sabia o que estava a fazer. A vista era esplendorosa e o ar era puro, pleno. Gostava daquela sensação. De uma vez por todas, libertara-se das filas e do pára-arranca.
Deu uma vista de olhos à asa delta e pensou que hoje era dia para um passeio. Parecia que estava bom tempo e as condições do vento não eram más. Também tinha moedas suficientes para o estacionamento e agora era só pôr-se a caminho.
Só não contou com a águia, que picou ao vê-lo. E isso foi-lhe fatal. Ainda tentou oferecer-lhe as moedas, mas ela não se contentava com trocos.


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Ratoeira

Começava o dia a espreitar para a ratoeira. Como havia sempre algo, avaliava o que lá caía: peso, cor, ânimo. Era o que dava. Com mais ou menos cuidados, puxava-a para fora. Umas mordiam mais do que outras, mas aguentava-se, dando-se-lhe desconto por causa da queda na ratoeira. Que não devia ser agradável, reconhecia. Mas nunca o era.
Podia ser qualquer coisa: uma palavra, uma expressão, um som, uma memória, uma música, um cheiro, um ambiente. Pintada ou a preto e branco. Real ou imaginária. Efémera ou persistente. O objectivo era sempre o mesmo: escrever histórias lineares. Sem atalhos. Nas vezes em que não o fizera, metera-se em trabalhos. Afirmava o ditado e podia confirmá-lo. Por isso, aprendera.


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Costela

Nascidas dos mesmos pais, tudo diferenciava a utopia da distopia. Mas onde se notava mais era nas costelas: uma de natureza optimista, pessimista a outra. Ainda hoje era um mistério, aquela da paternidade comum e esta das costelas diferentes, tão diferentes. Se calhar era da genética ou da alimentação durante a gravidez. Ou da lua, quem sabe. Parece que também tinha importância.

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12 maio 2018

Esfrega

Apesar de tudo, escrever até era fácil: mais do que inspiração, treino; mais do que perfume, suor. No fim, banho. Para os génios e para os esforçados.

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Mistura

Numa mão a tesoura, noutra a pena. Havendo pouco tempo, a escolha impunha-se. A época também contava, note-se, e o sincretismo podia dar um ajuda. Por isso, não surpreendeu o resultado: uma poda em estilo de artista e assinada por baixo.

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08 maio 2018

Ensinamento

O auditório estava composto e as pessoas entusiasmadas com o que iriam ouvir. A prelecção, que se aguardava ansiosamente, começou por uma afirmação:
_ Quem nunca pecou, que atire a primeira pedra!
Não se ouviu nada durante uns segundos. De súbito, o quebrar de um vidro. O desconforto tornava-se evidente e as pessoas não sabiam o que fazer.
O orador, então, sossegou-as, dizendo:
_ ...Mas não o faça em locais com vidros.

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01 maio 2018

Conflito

_ Tem que haver conflito.
_ E se não houver?
_ A coisa não fica bem. O conflito é necessário.
_ Mas admitamos que não há. Como é que faz?
_ Arranjo um.
_ E mete-o onde?
_ Onde calhar.
_ Isso não é perigoso?
_ Não. Faz parte.
_ Do conflito? Ou de ser perigoso...?
_ Dos dois. Por isso é que é conflito.
_ Não há conflitos sem perigo?
_ Haver, há. Mas não são bons para o que se pretende.
_ E o que se pretende é...?
_ Criar uma história.
_ Boa ou má?
_ Depende do conflito.

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Desafio

Convenceu-se de que cinco minutos seriam suficientes. Diziam-lhe que não, que era impossível. Quando perguntava porquê, argumentavam-lhe com a impossibilidade física e a falta de senso. Mantinha-se irredutível. Que apostassem! Mas desistiram, resignados. Por isso, à hora aprazada, foram testemunhas do que não queriam e recusavam ver: encontrar a agulha no palheiro.

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Entorse

Sendo Dia do Trabalhador, resolvera cruzar a perna. Merecia, sem dúvida. Mas apanhou uma entorse. Logo hoje, onde é que encontraria um fisioterapeuta?

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