29 outubro 2009

«Funcionário» de gabinete

É comum e normal que haja funcionários do quadro da Administração Pública (AP) na constituição dos gabinetes ministeriais. Não me interessam agora as razões que podem justificar a permanência destes funcionários nos gabinetes, mas apenas a constatação desta sua existência e permanência.
Com a designação dos secretários de Estado, conhecida hoje, é provável que venha a verificar-se um fenómeno curioso em relação aos funcionários da AP que integravam essas equipas - o da sua manutenção.
Ao contrário de outras situações neste domínio, é bem provável que uma maioria significativa de assessores e de adjuntos de ministros e de secretários de Estado, bem como de pessoal do apoio administrativo, se mantenham e permaneçam nos seus cargos ou funções, uma vez que a permanência em funções dos responsáveis pelas diversas tutelas foi a regra e não a excepção. Sendo assim, não me surpreenderia que o movimento recente de funcionários que regressavam às suas casas de origem na AP, em virtude da mudança de Governo, afinal venham a fazer um movimento de sentido inverso, precisamente em direcção ao lugar ou às funções que tinham deixado, poucos dias antes. Ou seja, é como se a ocupação do lugar nos gabinetes fosse uma espécie de degrau numa carreira que não existe: a de «funcionário» de gabinete ministerial ou de secretário de Estado. Para alguns destes funcionários da AP, por conseguinte, o regresso às respectiva «casas-mãe» pode representar, apenas, uma visita esporádica à «família», à laia de fim-de-semana, pois o regresso já será feito, de novo, para os novos/velhos gabinetes... que devem manter-se!...

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28 outubro 2009

Variado

Uma pequena reflexão levou-me a olhar, com outros olhos, para o significado da palavra 'variado', sobretudo quando é utilizada como sinónimo de «perturbado, doido, inconstante, desequilibrado». Ao princípio, no contexto popular em que eu a ouvia ser empregue, julgava que se tratava de uma corruptela do emissor, que quereria dizer - julgava eu - «avariado» e saía-lhe «variado». Após a reflexão de hoje, pelo contrário, o seu significado como que se aclarou e perspectivou sobre uma outra hipótese semântica, a de que a sua utilização quer é valorizar o aspecto e o significado do elemento «inconstante», mais do que qualquer um dos outros. E, sendo assim, então a nossa utilização de «variado», no contexto em que a costumava ouvir, ganha uma nova luz - diria mesmo, uma invulgar dimensão - que é a de, mais do que realçar a faceta mais sombria do «desequilíbrio, do louco», ela talvez queira evidenciar os momentos de lucidez, «normais», por conseguinte, contrastantes e emergentes de uma situação de partida menos favorável ou deprimente, como que a dar um sinal de que, mesmo nessas situações, pode haver uma espécie de janela de oportunidade ou de esperança para que se possa entender melhor ou compreender melhor o outro. E isto é uma forma de respeito, não de zombaria.

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27 outubro 2009

Levar ao colo

No noticiário da Antena 1, hoje de manhã, os destaques eram os seguintes: a vitória do Benfica, por 6-1; a detenção de um padre por causa de umas armas e uma outra notícia de que já me não lembro, mas que era também do domínio do sensacionalista. Sinal dos tempos, opção editorial, o que quer que seja, foi isso que se lançou para o ar. Só poderá talvez surpreender os crédulos ou os incautos, como eu e outros, suponho. Adiante.
O caso do Benfica é paradigmático, porque generalizado a outros órgãos de informação. Que estão a jogar e a produzir espectáculo, com muitos golos, uma raridade para aquelas bandas há uns anos, é um facto e saúda-se, independentemente de razões clubísticas. Que o clube possa ter a maior massa adepta do País - os «tais 6 milhões»... - não me incomoda e até acho graça, dado o óbvio (e inócuo) exagero. Que essa «febre» se extrapole para os órgãos de comunicação, na sua generalidade, é que já não aceito, dado o carácter tendencioso do comportamento. Que a equipa está a fazer uma boa época, mais uma vez é um facto. Que já tenha ganho alguma coisa - e não ganhou -, é outro. Querer levá-los ao colo, como se isso fosse o desejo ou a vontade da maioria das pessoas, silenciosas ou opinativas, é que é questionável. Pinto da Costa tem aqui matéria para cavar uma guerrazita, ai tem, tem... E, ao contrário de outras, com razão, desta vez.

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23 outubro 2009

Habemus Governo!

É sempre curiosa, a reacção das pessoas à constituição de um novo Governo. Para além de curiosa, costuma ser, também, reveladora: do posicionamento partidário, ideológico ou corporativo e do estado de espírito das pessoas, ele próprio, note-se, condicionado também por qualquer um dos indicadores que se apontou.
Com a constituição do novo Governo, ontem anunciada, essa situação verificou-se, tal como já era expectável. Dos partidários ou entusiastas da área político-ideológica do Governo, as loas habituais; dos contrários a essa tendência ou inclinação, as farpas ou as críticas habituais, mais ou menos sustentadas ou ansiadas.
No entanto, parece-me, talvez as coisas não possam ser vistas tão a preto e branco. Há ou haverá nuances, de certo, que introduzem (ou podem introduzir) alguma novidade, a começar pelos nomes e a acabar na estrutura.
Quanto aos nomes, sobretudo os novos, Sócrates terá surpreendido mais uma vez. Pode ser pouco e valer o que vale, mas foi um facto, mesmo que o venha a ser pela via da desilusão.
Quanto à estrutura, se calhar também alguma coisa, mesmo que o risco também possa ser semelhante ao que que se verifica em relação aos nomes, isto é, o da desilusão. É cedo, contudo, e desonesto intelectualmente, considero, caso não lhe seja dada hipótese de poder mostrar (ou não) o que vale.
Sosseguemos, entretanto, as «passarinhas»: Habemus Governo!

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18 outubro 2009

E o nome é...

É uma coisa cíclica na Administração Pública (AP), dependente dos ciclos eleitorais ou das alterações na composição do Governo: o vaticínio/prognóstico - muitas vezes, desejo (in)consciente... - sobre como é que vão ser a estrutura do Governo, a designação do ministério ou das secretarias de estado, o ministro, o secretário de estado ou os directores-gerais.
É um campeonato praticado em toda a estrutura da AP, talvez com maior ênfase nos serviços centrais do que nos desconcentrados, nas grandes cidades em comparação com as pequenas, no litoral mais do que no interior. É uma situação, no entanto, curiosa e sui generis, digna de uma abordagem psico-sociológica interessante, demonstradora de muito do que é ou do que sente a grande massa dos funcionários e/ou trabalhadores: as expectativas, os anseios, os «ódios» e os medos, fundados ou infundados. Inclusive é um espaço para o humor e a brincadeira, se bem que aqui tenha que se fazer uma destrinça entre o que é do domínio do lúdico puro, para não dizer delirante, e aquilo que pode obedecer a uma lógica mais tortuosa, porque não tão «divertida», como é o caso do boato puro e simples, quantas vezes desestabilizador, para nos ficarmos apenas pela versão mais soft.
Como era de prever, conhecidos que foram os resultados das eleições, o campeonato está florescente nos dias que correm, numa verdadeira lotaria de palpites e de «diz que disse», tiros de pólvora seca, na maior parte dos casos. Seja como for, não deixa de ser uma actividade animada, propícia a interpretações diversas ou diversificadas e palco para os intérpretes ou hermeneutas «consagrados», sempre atentos e disponíveis, verdadeiros «oráculos» na interpretação desta ciência oculta e enigmática chamada AP.

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11 outubro 2009

Nova chance

«Alguém», «lá em cima», deve gostar da equipa de futebol de Portugal, dados os resultados de ontem. Num ápice, tal como num «passe de mágica», a qualificação volta a ficar ao alcance próprio, sem arranjos, cálculos ou contas com terceiros ou quartos. Se não «embandeirarmos em arco»...

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08 outubro 2009

Ses e mais ses

Não sei se é do domínio da fé ou do delírio, mas as nossas contas para uma possível qualificação para o Mundial de futebol estão demasiadamente (só?...) dependentes de «ses»: «Se ganharmos...», «Se os outros não pontuarem...», «Se o jogador tal ou tal jogarem ou marcarem...», «Se passarmos no play-off»... «Se e só se...»...
Mesmo que seja esta forma de estar e de ser que nos particulariza, não é ela que nos sossega ou nos credibiliza. Sabe sempre a pouco e, sobretudo, desgasta, seja na bola ou em qualquer outra coisa. Em vez da ida a direito, é a ida aos ésses e às contravoltas, um fazer que vai mas não anda. Há um nome para isto: estamos sempre enrodillhados!

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05 outubro 2009

Entrevista

Hoje, no jornal i, li uma entrevista muito interessante, feita por Laurinda Alves ao arquitecto Eduardo Souto Moura. Muito interessante, mesmo, de uma sensatez e de uma clarividência notáveis. Depois de a ler, apeteceu-me transcrever alguns excertos, como estes:
«Neste momento há uma postura em que um arquitecto tem um poder tal que decide a seu bel-prazer. O problema é que a arquitectura não pode ser assim, não pode ser uma decisão pessoal porque é uma arte colectiva, coisa que a pintura não é. Um tipo vai para um sótão e pinta o que quiser ou vai para um café e escreve o que quiser e ninguém tem nada a ver com isso. A arquitectura é diferente.».
«A arquitectura é sempre uma intrusão física e para mim é impossível um arquitecto não ter em conta que vai mexer na vida das pessoas. Não posso fazer um quarto dentro de casa e a casa de banho atrás do jardim porque sei que as pessoas de dia e de noite vão ter que atravessar o jardim para irem à casa de banho. Enquanto o Saramago se quiser tira as vírgulas todas e o Lobo Antunes não faz capítulos, eu não posso pôr as pessoas a apanhar uma pneumonia porque querem ir à casa de banho de noite e estão menos dois graus. Faz-me impressão que algum tipo de arquitectura seja uma decisão exclusivamente pessoal do tipo: gosto, quero, apetece-me!».

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01 outubro 2009

Notas europeias

O Porto jogou melhor em Chelsea e perdeu. Ontem, teve a sorte do jogo pelo seu lado e o Falcão e o seu calcanhar.
O Sporting ganhou, vai isolado e, pelos vistos, saiu do campo assobiado. Lá apareceu mais uma vez o Paulo Bento, coitado, a dar o peito às balas!
O Benfica perdeu e, amanhã, de certeza lá aparecerá um «velho do Restelo» a falar de que, apesar do bom momento, da quantidade de golos e dos bons jogos, ainda nada foi ganho de concreto...

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Fragilizado

O Presidente da República ficou irremediavelmente fragilizado com esta história das escutas, nomeadamente com a comunicação que fez ao País. Numa altura em que era importante manter a sua boa imagem, duvido que ela possa existir neste momento. Na melhor das hipóteses para o Presidente, o cidadão comum (que é o que mais me interessa) deve estar perplexo, para não dizer baralhado. Na pior das hipóteses, a possibilidade de reeleição já era e, pormenor importante, Cavaco Silva deve ter perdido aquela espécie de aura que, para o bem ou para o mal - mais para o bem, convenhamos - gostava de subscrever para si quando comparado com outros actores políticos.

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