Se nem troveja, como é que me vou lembrar de Sta. Bárbara?

Faça um esforço, que consegue.

A(ficção)

_ Isto é ficção. Da pura!
_ Não é nada. De ficção não tem nada! Muito menos pura... É uma mistura pegada.
_ Não está convencido?
_ Não. Lamento.
_ Quer apostar?
_ Não, obrigado. Só aposto quando me interessa. Não é este o caso.
_ Faz mal. Ainda se vai arrepender...
_ Mesmo assim...
_ Vai ver...

Sótãos

Os sótãos não deveriam servir para isso. Deveriam servir para acolher trastes, teias de aranha, macaquinhos, cadeiras partidas, passeio de ratos ou de osgas, baús e bauzinhos, escritos velhos ou proibidos, jogos de lerpa de fantasmas, cagadelas de pombo ou de passarada, garrafas com líquidos e rótulos indefinidos, tralha vária e de várias épocas. Para teorias de conspiração não. Mais não fosse por causa das telhas, que poderiam ser de vidro.

Al(ternativa)

A parte mais fácil foi convidar os parentes, próximos ou distantes. Por edital, sms ou rede social, à hora aprazada compareceram, melhor ou pior ataviados. Havia uma grande expectativa e isso sentia-se. Nas primeiras filas, devido ao estatuto de convidados, era possível reconhecer, segundo o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, «pintar a bexiga», «pintar a macaca», acompanhada do esposo, «pintar o caneco», «pintar o caramujo», «pintar o diabo», com novo look na pera e nos cornos, «pintar o diabo a quatro», em pose aristocrática, «pintar o sete» e «pintar o burro», este desdobrando-se em entrevistas, prazenteiros pelo convite e pela participação na alternativa de «pintar a manta», que iria ocorrer nesse dia, mas que infelizmente não o(correu) por indisponibilidade do pincel.

Petiscos e condimentos

_ O que é que tem?
_ Ora deixe lá a ver: sandes, pica pau, pipis, moelas, pastéis, rissóis, pataniscas, enfim... muita coisa.
_ Não tem detalhes?
_ Detalhes!?... É pr'a comer?
_ Sim, às vezes... mas nem sempre!
_ Explique lá isso!
_ Agora não tenho muito tempo para pormenores... deixe lá.
_ Pormenores!?... Disse 'Pormenores'?
_ Sim, disse. Qu'é que tem?
_ É que pormenores tenho! Como é que quer: com alho ou sem alho?

Livro

Olhos de Caçador, de António Brito.

As barbas crescem se as puser de molho?

Só de um dia para o outro.

Sem escaldar

Quando soou o gongo, pelas sete da tarde, nem todos se conformaram. Uns porque queriam mais, outros porque achavam que era pouco. Feitas as contas, ganhou quem tinha que ganhar... No seu canto, com um olho espatifado e os beiços esborrachados, o lutador levantou a mão e pediu que a sopa não viesse muito quente...

Pega tudo

Tinha duas alternativas, nenhuma delas famosa. Uma, a escrita, por falta de jeito; outra, cavar, por sair-lhe do lombo. Não que a escrita não lhe saísse também, só que da pele. Que fazer? Sendo a pergunta do milhão de dólares, a parada era alta e não sabia se tinha fichas. Com um bocado de tino teria poupado alguma coisa, mas agora não estava para isso... Repetia: «Que fazer»? A pergunta começava a ser repetitiva, a vantagem era que agora já valia dois milhões de dólares, pagando ou não imposto (logo se veria). O problema é que continuava a não saber para onde cair. Não que a tentação fosse grande (as quedas não eram algo que se desejasse), mas tinha que se decidir de uma vez por todas... Uma sabedoria sem bilhete de identidade («ancestral», para os cultos) atazanava-lhe os ouvidos e a cabeça com a máxima «Em Outubro pega tudo!» e lá se convenceu, ganhando a poda e o transplante.

Estou certo ou estou errado?

Pergunte ao Sinhozinho Malta.

Profundar

A gralha olhava para o erro com a displicência dos irresponsáveis. Depois disto escrito, resolveu parar em vez de dar gás. Entusiasmara-se, é certo, mas não tinha bem a certeza de quê. Seria do som?... Da semântica?... Do dia de sol?... Da falta de chuva?... O certo é que não sabia. Já era alguma coisa, saber que não sabia... Não iria por aí, talvez mais por ali... Sobre a gralha diria que não era grave, o problema resolvia-se com uns fones. Quanto ao erro, corrigi-lo sempre que possível.

(Re)corte

_ Como é que vai ser?
_ Aparar nas pontas e tirar o volume.