30 novembro 2013

Instalado

Depois de muito procurar, o cotão alojou-se no umbigo.

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Diálogo

_ Hã?
_ Hum.
_ Hum...
_ Hã?

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17 novembro 2013

Espera

_ É o karma?
_ Sou. Muito prazer.
_ Igualmente. Vem um pouco atrasado e já estava a ficar preocupado...
_ Não aconteceu nada de grave, felizmente. Foi apenas um atraso na ligação do metro.
_ Teve de mudar de linha?
_ Uma vez, só. Depois vim a pé.
_ Vamos lá, então?
_ Quando quiser.
_ Quer telefonar ao destino a dizer que já chegou?...
_ Talvez mais tarde. Agora, se não se importa, queria descansar um pouco.
_ Não me importa nada. Vai uma «fresquinha»?
_ Só se for sem álcool... Conselho médico.
_ Cai-lhe mal, é?
_ Mais ou menos... É o meu fado.

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Regras

_ Isto é um assalto!
_ Agora não pode ser. Volte amanhã.
_ Tenho uma pistola!...
_ E depois?... Tem senha ou chegou a horas?... Logo vi... Cuidado com o pé, que vamos fechar. Amanhã também é dia.
_ Passam-me uma declaração?
_ Para hoje, não. Tem que vir mais cedo.
_ Aí por que horas?
_ Nunca depois das sete. E traga o BI!
_ Cartão de Cidadão serve?
_ Serve, mas não pode entrar com o boné e os óculos.
_ Depois reconhecem-me...
_ Lamento, mas são as regras.



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Olho para a garrafa e vejo tudo turvo. É normal?

Depende do vidro. Com o branco não costuma acontecer. Na dúvida, escolha latas ou cartão.

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16 novembro 2013

Hino

_ Venho cantar o hino.
_ Hoje já não é possível. Talvez terça.
_ Não me arranja nada, até lá?
_ Depende. Tem o curso de cantador?
_ Prática, só. Fiz-me por mim.
_ Tem feito formação?
_ Pouca. O mercado está mau e as selecções não ajudam.
_ Há uma vaga no surf das ondas gigantes. Serve-lhe?
- Não é bem a minha onda, mas seja... É preciso cantar alto?
_ Nem por isso. Precisa é de fato. Borracha, de preferência.

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Candidato

_ Venho responder ao anúncio.
_ Tem habilitações?
_ Trinta anos de prática e formação específica.
_ E nesses trinta anos, quer destacar algum acontecimento em particular?
_ Sim, vários: jogos, manifestações e em momentos em que me emociono.
_ E esses momentos são quando?
_ Nas touradas, sobretudo.
_ Nas touradas?!...
_ Sim, nas touradas. Há problema?
_ Não, não há. Nunca tinha avaliado alguém com essa alínea no currículo, mas tudo bem. Tem disponibilidade para deslocações?
_ Sim, se não coincidirem com as touradas. Aí, não posso.
_ Isso coloca-nos um problema, pois exigimos disponibilidade total ...
_ Posso tentar, mas será difícil.
_ Não vejo em quê, mas diga lá.
_ É que eu sou o Olé.


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10 novembro 2013

Blue Jasmine

Imaginemos uma pessoa habituada aos confortos e às oportunidades das vidas muito boas que, de um momento para o outro, mais pausado ou mais acelerado, se vêem confrontadas com uma realidade outra, essa mesma que as fazia olhar de soslaio e enfado (cruzes, que horror!)... Pois é, às vezes acontece e Woody Allen lá nos faz lembrá-lo contando uma história protagonizada por Cate Blanchet (num desempenho para recordar), dando umas pinceladas na sensibilidade e na inteligência dos espectadores e contribuindo para a catarse de alguns (poucos, muitos?...) se «congratularem» com a reposição de uma «certa justiça» das coisas, mesmo que seja através do cinema...


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09 novembro 2013

Western post-moderno

Once upon a time, no wild, wild west, um jovem pistoleiro desafiou um velho pistoleiro e ele recusou. Fazendo beicinho, o jovem pistoleiro recorreu para o Júri dos Duelos e este pronunciou-se contra, por falta de cumprimento quanto aos mínimos de mortes, atestados pelas marcas nas coronhas dos revólveres. Enquanto o velho pistoleiro bebia tequila no saloon e a corista cantava para o pianista, o jovem pistoleiro, vencido pela vergonha, semicerrava os olhos e premia o gatilho.

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Património

_ Tenho umas agonias...
_ Quer vendê-las?...
_ Não. São de família.

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06 novembro 2013

Idênticos

O teimoso acusou o casmurro de que ele é que era.

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03 novembro 2013

Arranjado

Andara sempre com as voltas trocadas: levantava-se com vontade de se deitar e deitava-se com vontade de se levantar. Tinha dificuldade em distinguir o diurno e o o nocturno e foi ao relojoeiro para que lhe tratasse do relógio. Quando este o viu, a coisa resolveu-se: mudou-lhe o sentido dos ponteiros. Nunca mais foi o mesmo.

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Alerta

O sentinela fugiu.

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Pintura

Pintou o quadro na cor que lhe pediram. Como não gostou, borrou-o.

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Tapete

_ Viva! O que deseja?
_ Sou o corte brutal.
_ Ainda? Pensei que já não existisse...
_ Existo, como vê. Posso avançar?
_ Espere um bocadinho, que tem que me explicar uma coisa: «brutal» porquê?... Não poderia ser «grave», ou «grande»?...
_ Pensou-se nisso, mas durou pouco. Avançou o «brutal».
_ E ninguém se queixou?
_ Quase ninguém. Também para nós, os cortes, as coisas não estão fáceis. É a crise...
_ Pronto, vá lá... mas limpe os pés!

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02 novembro 2013

Ardores

_ É assim, como eu digo.
_ Desculpe, mas não é. Lamento.
_ Estamos a desconversar, é?...
_ Não, não estamos. Tenha paciência.
_ Paciência tenho eu!
_ Não mais do que eu.
_ Irra, que é de mais!
_ As coisa são como são. Não adianta exaltar-se.
_ Exaltar-me, eu?!... Deve estar a confundir-me consigo...
_ Confundir-me consigo?!... Deve estar a ver mal...
_ Por acaso, até vejo bem. Ao contrário de outros...
_ Assim, não vamos lá.... Pensava que era uma pessoa responsável, mas enganei-me.
_ Irresponsável?!... E você é o quê, seu teimoso?!...
_ Como você, nada que se pareça!... Um pouco casmurro, talvez. Mas você é mais!

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Lealdades

Metia as mãos no fogo por aquela pessoa. Quando isso se tornou necessário, foi o que fez. Quando começou a cheirar a queimado, retirou-as.


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Misantropo

Fechou-se ao mundo e deitou a chave fora.

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Falar com

_ Queria falar com Fulano.
_ Fulano não está. Deseja falar com outra pessoa?
_ Cicrano, talvez. Está?
_ Cicrano também não está. Mais alguém?
_ Bem... Beltrano pode ser, se estiver.
_ Lamento, mas Beltrano também não pode. Está em reunião. Posso sugerir-lhe uma coisa?
_ Claro que pode. Diga.
_ Telefone amanhã.
_ E peço para falar com quem?
_ Fulana, Cicrana ou Beltrana.

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Patrão

_ Olá... Quem é você?!...
_ Sou um espião.
_ Não devia estar escondido, a espiar-me?...
_ Devia, mas descuidei-me. Você descobriu-me.
_ Explique lá, como é que foi possível que eu o descobrisse?... Como sabe, eu não tenho o treino que você tem...
_ Pois... tem razão. Não sei explicar. Talvez por ser novo...
_ Novo?!... Parece-me mais velho do que eu... Tem quê, 63?...
_ 64.
_ Era o que eu pensava. Vi logo. Mas continuo sem perceber: se tem 64 e é mais velho do que eu, como é que diz que é novo?
_ Novo na arte de espiar. Acabei o curso há pouco tempo e esta foi a primeira missão.
_ Pois é, tem de melhorar... Posso dar-lhe um conselho?
_ Claro.
_ Talvez seja melhor espiar outra pessoa, mais fácil.
_ Não posso. Não me deixam. São as ordens que tenho.
_ Faça o que eu lhe digo: espie outra pessoa.
_ Já lhe disse que não posso. Não depende de mim.
_ Agora já pode. Está autorizado.
_ Autorizado?! Mas quem é que julga que é?!...
_ Sou o chefe dos espiões.


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Repentista

_ Como é que se define?
_ Penso que sou um repentista.
_ Pensa que é?!... Não tem a certeza?!...
_ Assim de repente...
_ Mas, definindo-se como um repentista,  não era suposto saber?...
_ Talvez, não sei...
_ Quer pensar melhor?
_ Já pensei.
_ Já?!... Foi rápido.
_ Não lhe dizia?
_ Não acreditava, depois do que ouvi. E então?
_ Sou um repentista.
_ Pensa ou é?
_ Sou. Pelo menos, penso que sim.

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Peito feito

A motosserra entrou na loja de ferragens e pediu que lhe afiassem os dentes. Quando saíu, comentou: «Quero ver se algum galho se atreve, agora».

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