31 dezembro 2014

Na feira VII

_ Quanto é que quer por ele?...
_ O preço justo.
_ T'á bem, mas quanto é isso, «o preço justo»?...
_ Nem mais, nem menos do que vale: isso é o preço justo.
_ Ok. Ainda está bom?...
_ À confiança! Olhe o pêlo, não é macio?...
_ Já me parece um bocadinho baço, na verdade... Não me faz um desconto?
_ Não posso. Mas dou-lhe as passas!
_ De Corinto?
_ Não, do Algarve.
_ E pinga, não há?...
_ Aqui não tenho. Mas na tenda, ali abaixo...
_ Não é isso! «Pinga», «vinho», «champanhe», «qualquer coisa com álcool», não oferece nada com o «bicho»?!...
_ Vá lá... champanhe... Mas é por ser p'ra si!...
_ Obrigado. O bicho tem nome?
_ Tem: 2014 e com o mesmo peso dos outros - 365 dias.

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Cruzamentos

Filhos dos mesmos pais e concebidos para o mesmo fim, levavam uma vida separada e autónoma. Sobrepostos ou paralelos, tinham como destino nunca se cruzarem, disparando cada um para seu lado. Parecia estranho, às vezes mesmo injusto, mas era o que era. Aos pais doía mais nas épocas festivas, sobretudo no Natal, e aos filhos pensa-se que também, mesmo que o não demonstrassem. Aparentemente, pelo menos. Alguém que conhecia a família (eu, na qualidade de narrador), resolvera arranjar solução, custasse o que custasse. E custava alguma coisa, diga-se já: mais caro com o Espírito de Natal do que com o Espírito dos Desenhos Animados, ambos com IVA a 23%. Dada a época e a solicitação, o Espírito de Natal já tinha acabado. Restava, pois, o Espírito dos Desenhos Animados, que tinha o inconveniente de ser mais imprevisível. Mas tinha que ser.
Apanhado o espírito, foi relativamente fácil arrematar a solução e o serviço. Para quem a esteja a prever, era isso mesmo: cruzá-los. E foi o que se fez: cruzaram-se os canos, sobrepostos ou paralelos, não interessa para o caso, e toda a gente ficou feliz. Desde que não disparassem os gatilhos, está bem de ver...

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28 dezembro 2014

Interstellar

O cinema é, por definição, uma arte do artifício e do tecnológico, instrumentos potenciadores de ilusório e ficção (muita ou pouca), ainda que baseada em factos ou situações reais. Por maioria de razão, no cinema estas características são exploradas, com propriedade, no género da ficção científica ou com ela aparentado, independentemente do rótulo ou da designação de que se revista, pormenor de somenos, parece-me, pois os frequentadores e gostadores de cinema facilmente identificam e entendem de que tipo de filme se está a falar. Neste género de filmes, muitos dos temas ou questões que afloram remetem para uma dimensão do conhecimento habitualmente não compreendida pelo cidadão sem formação nessa área, tornando-se surpreendente (ou talvez não) a adesão que, mesmo assim, os espectadores sentem por esses filmes. Foi esta a sensação que senti ao ver Interstellar, confuso pela complexidade sobre a qual se falava (antecipava?...) como solução procurada ou desejada, mas permanentemente fascinado pela cornucópia de efeitos especiais que se abria nos ecrãs, com ligações a outros filmes, memórias ou anseios, próximos ou distantes. Também por isso (ou se calhar por isso?...), as pessoas gostam de filmes e de cinema.

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Romance 3

Ela levantou-lhe a mão. Ele levantou a jarra. Ela pôs flores na jarra e ele fez-lhe uma festa.

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Romance 2

_ Desliga tu.
_ Não, desliga tu.
_ Desligamos os dois.
_ Está bem. Já desligaste?
_ Não. Desliga tu.

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Romance

_ Queres?
_ Quero.
_ Mas queres, mesmo?
_ Sim, já te disse.
_ Na tua casa ou na minha?
_ Onde quiseres.
_ Amanhã?
_ Não, hoje.

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27 dezembro 2014

O golpe

Frequentador esporádico, tinha-se apercebido de que as livrarias procuravam cativar os seus leitores (potenciais) investindo no conforto, algumas das vezes criando um espaço de cafetaria e, mais frequentemente, disponibilizando cadeiras ou sofás, funcionais e confortáveis, convidando a pausa e a leitura acompanhada de um café ou de um refrigerante. Escolhera o local para o seu próximo golpe.
Fez um reconhecimento do lugar: zonas mais ou menos iluminadas, várias prateleiras, muitos livros, algumas pessoas, três, quatro espaços para sentar, confortáveis (pelo que lhe parecia) e, aparentemente, sem segurança. Deu uma volta e esperou mais uns minutos, certificando-se de que não era seguido ou que alguém se tinha apercebido das suas intenções. Memorizou as rotas de fuga, embora indeciso sobre qual delas utilizaria. Logo se veria, consoante as circunstâncias e a resistência que aparecesse. Um movimento inesperado, com origem em duas pessoas maduras, num dos acessos ao corredor, alertou-o para o perigo e fê-lo levantar os olhos para o que as motivava: um lugar só, disponível para quem o quisesse apanhar! Decidiu-se, pois não havia tempo a perder. Num ápice, desatou a correr e fez disparar os alarmes das pessoas maduras, surpreendidas e, apesar de tudo, mais lentas do que ele... Não tinham hipóteses, concluíram, mais tarde, os investigadores: a cadeira vazia sumira-se! Tinha sido mais um golpe do usurpador de cadeiras nas livrarias! Só mais tarde se soube alguns pormenores sobre o caso, graças às câmaras de filmar. Não se conseguiu identificar (convenientemente) o ladrão, mas apurou-se que utilizou o sofá para ler um fascículo da série Astérix, o Gaulês, que depois de lido guardou na prateleira dos Grandes Mestres. Apurou-se também que tomou café, tendo pago mais do que o que lhe pediram pelo serviço, deixando uma generosa e merecida gorjeta, por ser Natal. A moça que o atendeu nunca mais foi vista, suspeitando-se que era cúmplice do ladrão ou, quem sabe?..., ela própria uma ficção.


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Dissimulação

Especializara-se em camuflagem. E era bom nessa arte. Ninguém dava por ele, mesmo passando-lhe resvés. O que também se lhe aplicava, sobretudo quando camuflava a cabeça.

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26 dezembro 2014

Intrepidez

Ainda hoje, quase não acredita do que fez nesse dia: descer a avenida no separador central! Não a avenida toda, bem-entendido, mas apenas o trajecto em que o separador central tem 2 metros de largura para cada lado. Não deixava de ser um grande feito, «De uma enorme coragem!», vangloriava-se, chegando mesmo a tentar-se pela parte em que o separador se estreitava para 1,95 metros, mas recuou a tempo, para não abusar da sorte. Para todos os que o acusavam de falta de coragem, aí estava a prova que os refutava: descer a avenida pelo separador central, num sentido como mandavam as regras de trânsito, pelo lado contrário, mas no outro arriscando desdenhosamente a vida, pois ia de costas para os carros. Se isto não era digno de condecoração e elogio pelo destemor, então não sabia o que o seria...

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Sou produtor de pirolitos. Posso pertencer à confraria do champanhe?

Se não tiver o traje, não.

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Continho (negro) de Natal IV

Um carro está parado na estrada. Quem passa, vê o sinal de avaria. Do condutor ou condutora, nem vestígios. Faz frio, mas está sol. Há pássaros a voar em direcção às árvores. Muitas delas, pinheiros. Mansos, parecem. E são. Toca um telefone e alguém atende. Dizem-lhe que estão a roubá-lo. Desliga. Mete-se no carro. Confere se a caçadeira está carregada. Estava. Mas o telemóvel não. Pára o carro. «É aí!» - dissera-lhe a voz ao telefone. E era. Apontou a arma. Ouve-se uma voz: «É Natal!...». Soa um tiro, depois outro. A pinha jaz, esfacelada, mas ainda viva. Durou pouco.

Moral da história: No Natal, não atenda o telemóvel.

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Representação

A história foi real. Os protagonistas andaram por lá.

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Sorte grande

Fizeram um sorteio para saber quem era a pessoa mais sortuda do mundo. O sorteio foi fictício, mas o primeiro prémio não lhe fugiu.

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25 dezembro 2014

A lista

Era uma pessoa normal. Como todas as pessoas normais, tinha as suas bizarrias. A lista de contactos do telemóvel era uma delas. Não a lista, mas o número e a manutenção dos contactos, fixado religiosa e intransigentemente nos 365, para coincidir com o número de dias do ano, excepto nos bissextos, uma originalidade para a qual se encontrou solução e, se não a tivesse encontrado, facilmente a pariria (parirá?...) sob a forma de uma outra etiqueta. Mas isso é outra história, como um dia se verá...
Como normal que era, usava o telemóvel para resolver as crises internacionais, o itinerário das visitas papais e os puzzles de figuras e bolinhas, abstendo-se, por pudor, de discutir o campeonato de futebol. Só de tempos a tempos (sempre certos) costumava telefonar aos seus 365 contactos, procurando fazê-lo no Natal, consoante as folgas, o estado do tempo e a saúde dos pés, como se verá também.
Comecemos pelas folgas: «Resolvido!»; o estado do tempo: «Frio, mas com sol.»; acabemos nos pés «Que já não era sem tempo!...», e que é parte nobre do relato, pese embora a disposição anatómica e a mal disfarçada consideração de que sofrem tais membros...
Na cabeça de uma pessoa normal, como era o seu caso relativamente às duas, o modelo funcionava como um relógio, normal também, sujeito a pequenos ajustes com a operadora da rede, mais ou menos pródiga com os clientes que tinham uma lista de 365 contactos, todos eles do peito. E que funcionava assim: andava e telefonava, correndo alfabeticamente a lista e detendo-se sempre que um sinal de trânsito fechava, como é usual nas cidades modernas e nos passeios por ela fora. Para quem desconfiar, não há razão para isso e, se a houver, é porque não se está habituado a lidar com as situações de normalidade, que são de todos. Quando abria o sinal, continuava. Excepto nos anos bissextos, tudo se processava assim. Mas naquele ano, que não era bissexto, algo aconteceu de diferente, dando um pequeno retoque em tanta normalidade, que custa a manter, é certo, mas também provoca o seu desgaste e habituação excessiva, logo, não aconselhável.
E o poste tinha sido colocado no seu trajecto por uma razão sábia, reconheceu-o posteriormente, pois era a forma mais airosa de sair do buraco escrito e criativo em que se tinha metido, por causa de um número, o 365, um aparelho, o telemóvel, e uma casca de banana deixada por alguém imprevidente e pouco amigo do ambiente e da higiene urbanas. Tudo junto se resumiu num galo na testa, cantando um fio de sangue que escorria pela cara abaixo, a desviar-se sinuosamente do nariz, pois não o queria incomodar... E nem incomodado ficou a nossa pessoa normal quando quis ligar ao 115 e pedir ajuda pelo telemóvel - com que raio é que havia de ser?!... - e uma voz melodiosa o recebeu com a frase: «Saldo não disponível. Por favor contacte o ####». Normal.


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Nascimento

Acabou de nascer a Normal, filho da mãe do costume e do pai que foi tomar café. Estão todos bem, mas o pai achou que a torrada tinha pouca manteiga. Para efeitos de registo, a data de nascimento ocorreu às 10h42.

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O Pai Natal deu-me uma prenda fora do prazo de validade. Como e a quem é que posso queixar-me?

Escreva-lhe uma carta e peça que lhe disponibilize o livro de reclamações.

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23 dezembro 2014

Fogareiro

Tirou do bolso um pedaço amarrotado de tempo e usou-o para pensar. Custava-lhe fazê-lo, mas tinha que ser. Deixou-se ir devagar, como se metesse a primeira. Depois, correu a caixa toda e, num ápice, meteu as mudanças que se impunham: segunda, terceira, quarta e quinta, acelerando sempre. Resolveu parar o pensamento e encostou à berma, não fazendo o pisca. Estava a puxar o travão de mão, quando o bater no vidro o fez regressar da pensada viagem.
_ Está livre?
_ Não.
_ Não quer fazer o serviço?
_ Não.
_ Porquê?
_ Estou na minha pausa para pensar.

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20 dezembro 2014

Visual

_ O costume?
_ Sim, mas hoje quero que me corte mais nas dívidas e um bocadinho mais de volume na alma.
_ Máquina?
_ Não, tesoura.
_ Festa?...
_ Entrevista.
_ Pomos brilhantina?

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19 dezembro 2014

In/out

_ Talvez um input, não acha?
_ Vou processar. Serve-lhe, um output?

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14 dezembro 2014

Há mundos perfeitos?

Há. Nas cabeças. Mas nem todas funcionam.

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Ensinamento

_ Fazemos assim.
_ Assim, como?
_ Desta maneira.
_ Assim?
_ Não, assim.
_ Está bem?
_ Não, está mal.

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13 dezembro 2014

Viva a liberdade

A ligação ou o afastamento das pessoas à política costuma ser analisada, a maioria das vezes, sob o prisma dos perfis dos políticos em cena, facilmente sujeitos a generalizações acríticas ou emotivas, restando a dúvida, no final desse exercício, se «a recusa» do comportamento e da forma de estar dos protagonistas políticos é, por si só, «a recusa» da política como a forma de pensar e escolher as opções para as comunidades humanas. Este é um debate que se tem mantido e, de certo, se irá continuar a manter, susceptível de tratamento e expressão diversificada, por exemplo no cinema, que tem sido um palco habitual. Uma coisa, porém, é clara: sendo uma actividade feita por e tendo como destinatários pessoas, torna-se óbvio que, em política, o ser e o estar dos líderes dos partidos é uma parte não despicienda do êxito ou do fracasso para mobilizar outras pessoas, provocando a adesão ou a rejeição. Uns conseguirão, outros não. Saber como ou porquê, é o segredo ou a pergunta fundamental. Algumas das pistas, não todas, estarão no filme Viva a liberdade, a que não escapará um sorriso, também, mais a mais por se tratar de um filme italiano, com toda a história que lhe está associada, quer de filmes, quer de política.

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12 dezembro 2014

Pontuais

As únicas coisas à tabela naquela estação eram os avisos a dar conta dos atrasos.

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11 dezembro 2014

Costela

_ Esotérico?
_ Por parte do pai.

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Descuido

Perdeu a face e nunca mais a encontrou.

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Defesa pessoal

Foi assaltado por uma reminiscência. Não se acobardou, acabou por manietá-la e deu-lhe um pontapé no rabo, mandando-a assaltar outra memória. Desvaneceu-se.
(em dívida para Miguel Esteves Cardoso)

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08 dezembro 2014

Sinto-me com muita energia. O que é que devo fazer?

Construir um ramal e ligar-se à rede.

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O meu coração chora com aquilo que vejo. O que é que posso fazer?

Comece por arranjar um lenço. Depois, logo se vê.

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E agora?

Respire fundo ou beba um copo de água.

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07 dezembro 2014

Anónimo/anónima

_ Quem é o/a «trêsvezesnovevintessete» que costuma estar pegado/a com o/a «noves-fora-nada»?
_ Sou eu.
_ Ah, é você!?... não estava à espera... E o/a inimigo/a, não está presente?
_ Sou eu, também.
_ Também!?... isto promete... Bem, por onde é que começamos o comentário?
_ Temos que moralizar a sociedade; denunciar os ladrões, os bandidos e as injustiças!
_ E quem o diz: o/a «trêsvezesnovevintessete» ou o/a «noves-fora-nada»?
_ Nem um, nem outro: é o/a «diga trinta e três».
_ Mau! E esse/essa quem é?
_ Também sou eu.
_ Também é você... Então, e o que é o/a distingue dos outros/outras?
_ A denúncia dos ladrões, dos bandidos e das injustiças e o moralizar da sociedade.
_ Mas... isso não é a mesma coisa que os/as outros/outras?
_ Não tem nada a ver! A denúncia dele/dela é que é a autêntica e a moralização a genuína! Os outros/outras são uns aldrabões/nas e uns vendidos/as! Fuja deles/delas! Não são de confiança!
_  Estou a ver... uns/umas são bons e os/as outros/as são maus, não é assim?
_ Não!
_ Não?!...
_ Não. Os/as maus e vigaristas vêem-se logo. Os/as bons também. Só temos é que estar atentos/as e denunciar na net as situações.
_ E se não se tiver tempo ou paciência?
_ Mau sinal!... Só se não se for contra os ladrões, os bandidos, as injustiças e a imoralidade da sociedade é que se adopta este comportamento... Muito mau sinal, mesmo! A propósito, qual é a sua opinião?
_ Não comento.

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Concerto

Simon and Garfunkel, live in Central Park, 1981.

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Pexote 15

Tirou o ás da manga e ele fugiu-lhe.

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Milagreiro

Plantou alhos e colheu batatas.

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Pexote 14

Sacou a rolha e estragou o vinho.

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Pexote 13

Serviu a feijoada e esqueceu-se dos feijões.

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06 dezembro 2014

O Juiz

Todas as famílias têm a sua história. Conhecê-la, é um bom caminho para tentar perceber as relações que se estabelecem no seu seio. Este pode ser um bom ponto de partida para tentar perceber a trama do filme O Juiz, polarizada na relação tensa entre um pai, juiz de uma terra de província, e um filho mais ou menos rebelde, advogado de sucesso na grande cidade, para onde se deslocou determinado a cortar radicalmente com os vínculos e as referências do local e da comunidade de onde proveio, quer profissionais, quer emocionais. Apesar do nome e das profissões dos protagonistas, sendo um filme que decorre num cenário e numa ambiência relacionadas com o funcionamento do sistema de justiça americano, o Juiz é, sobretudo, um filme sobre a construção dos afectos e da vivência entre membros da família, que é um fenómeno complexo, mesmo nas situações em que tudo parece correr e/ou acabar bem. No filme, conte-se com uma certeza: um extraordinário Robert Duval, no papel de juiz.


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Tenho uma dúvida: legisla-se muito?

Faça o teste no boletim* oficial.


 *Não conta nos dias em que não é publicado.

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Promessa

_ Promete?
_ Prometo.
_ Mas... promete mesmo?
_ Sim.
_ Não me está a enganar?
_ Não.
_ Como é que sei?
_ Não sabe.
_ Está-me a mentir?
_ Não.
_ Garante?
_ Vou ver.
_ Vai demorar muito?
_ Talvez.

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Amanteigar

Como todas as desavenças, a discórdia começa por uma coisa pequena. E a desavença ente o corpo e a alma teve origem numa coisa pequena, na escolha do pacote de cereais para o pequeno-almoço, mais precisamente, com isso cumprindo o que se tinha vaticinado no início do texto. Por causa da percentagem de gordura, no caso da alma, e da quantidade de fibra, desejo do corpo, deu-se cabo de uma relação que tinha tudo para ser perfeita, pese embora os agoiros («azangos», floreia e devaneia o narrador, contente e satisfeito pela nova conquista vocabular, de que muito se orgulha e embevece, com isso se distraindo do que devia fazer e, neste caso, contar, não vá dar-se o caso de alguém estar por ali a querer saber como é que a história acaba e, como se faz tarde...) de alguns e mais umas tantas, filhos e filhas de credos e filosofias várias. «Comessem pão, como no tempo dos avós», diziam os nostálgicos; «Água, chá e fruta», contrapõem os modernos, cada um se chegando à sua receita (que as não há, alguém já o escreveu algures - o malandro do narrador, talvez?... - parece-me que neste espaço, se não falha a memória). Mas a história, como é que acaba? Não se sabe. Amanhã, pelo pequeno-almoço, pense nisto e reflicta consigo: será que a minha alma gosta de torradas?...


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05 dezembro 2014

Aforismo

Dê vida às personagens. Mas não as ature nem lhes pague almoços.

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Sorte

Nasceu por azango. Mas teve que fazer figas.

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