29 junho 2006

Escrever

A letra "E" foi a letra que primeiro aprendi. E lembro-me bem do contentamento que isso me provocou. Marcou-me de tal maneira essa conquista que, passados todos estes anos, nunca mais me esqueci. A essa letra juntaram-se outras, todas elas buriladas com o carinho e o desvelo aplicados às coisas verdadeiramente importantes e preciosas. Pela escrita se conquistava um mundo, se exprimia um pensamento esclarecido ou inflamado, se entreteciam paixões. Escrever era um gesto nobre, respeitado e enriquecedor. E ainda é e continuará a ser, pelo menos para mim. Com o passar do tempo a nossa relação com a escrita vai esmorecendo, diluindo-se placidamente no acordar, trabalhar e dormir quotidianos. Tal como os amores platónicos de juventude que se foram aninhando na memória, os projectos, as ideias e as expectativas que se teciam à volta e sobre a escrita não são hoje, ao contrário de então, mais do que fugazes e puras recordações evanescentes, ausentes de quaisquer fundamentos sólidos ou sustentados que minimamente os suportassem, apenas mantidos por uma grande e enternecedora dose industrial de fantasia, lirismo e inocência.

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28 junho 2006

Clique, já está!

De uma penada, aquisição de selo do carro e adesão à caixa electrónica postal! Estou conquistado e maravilhado!
Quanto à caixa electrónica, tenho fundadas e optimistas expectativas e é bom sentirmo-nos como pioneiros. É mesmo gratificante.
Adeus papéis, facturas e extractos pelas gavetas, sacos, pastas e pastinhas! Os vossos dias estão contados, espero! Nunca fiando...
Para os Velhos do Restelo e os Pirrónicos a hora dos lamentos, das fúrias - e da impotência também - começa agora, com mais ou menos estardalhaço. Já não há paciência.
Para mim, estas funcionalidades representam inequívocas vantagens. É o que me interessa.

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25 junho 2006

Prognóstico

Portugal ganhou à Holanda e passou aos quartos de final. Há festa na rua e ouvem-se vivas e buzinadelas de carros. Também dei algumas. E gostei.
Portugal controlou o jogo na 1.ª parte, ocupando bem os espaços e fazendo um pressing alto eficaz. Maniche marcou um belo golo, fazendo mais uma boa exibição - mais uma. Com as expulsões a coisa complicou-se e tivemos a felicidade que também é necessário ter nestas situações. Como vão longe, os tempos das vitórias morais!
As más notícias foram as expulsões de Deco e Costinha, impossibilitados de jogar com o nosso adversário seguinte, a Inglaterra. A eventual ausência de Ronaldo, por lesão, é um risco menor, quando comparada com a dos dois jogadores expulsos: a equipa de Portugal está muito dependente da presença e organização ideal do meio campo (Deco, Costinha e Maniche). É um rombo muito grande! Se vai ter consequências funestas ou não, logo se verá no sábado.
As boas notícias são a capacidade de resistência e de sofrimento demonstradas, demonstrativas de um espírito de grupo muito forte: lá está a mãozinha do Scolari, não é verdade?... Pois é.
Se, no sábado, encararem o jogo como ele deve ser encarado nas fases a eliminar, isto é, com 50% para cada lado, sem tremideiras complexadas e sem peitaças desmesuradas e balofas, talvez a história possa acrescentar mais um capítulozito a esta pequenina saga, que também o é.
Venha, pois, a Inglaterra!

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Místico

Apanhei as ameixas. Subi à árvore. Encarrapitei-me pelos seus galhos e colhi os frutos: doces e abençoados. A árvore presenteia-me, num gesto de pura dádiva. Surpreso aceito, reconhecido. O corpo, dorido, pediu descanso e o sono acomodou-se a horário de trabalhador do campo, ainda que urbano.
É noite. Não se houve um som. Lá fora, caiem umas gotas de chuva mansa e suave. Breve, amanhecerá.

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22 junho 2006

Salteado

Em tempo de Mundial, é uma sensação estranha a de já não fazer o pleno das transmissões televisivas. Se calhar, já é um efeito da idade. Mas ainda bem. Embora goste muito de futebol, já não estou disposto a dar para muitos dos peditórios que, à volta dele, se organizam.
Cada vez mais, dou por mim a passar os olhos e a atenção pela RTPN. Não sendo um frequentador assíduo, gosto do tempo que dedica ao debate, qualquer que seja o tema. E as surpresas são agradáveis! Se não tiver complexos em relação à sua congénere SIC Notícias ou com o que se faz ou deixa de fazer em Lisboa, pode trilhar um caminho interessante. Também, alguns programas têm muito mérito e são inovadores. É uma boa alternativa aos pacotes e chouriços dos generalistas.
Por falar em Lisboa, uma notícia do Metro de hoje dá conta de uma recomendação que os deputados da comissão parlamentar de Assuntos Económicos irão fazer ao Governo, no sentido de "uma mais eficaz e mais eficiente intervenção do Estado na região de Trás-os-Montes e Alto Douro para superar os problemas da interioridade e desertificação". Cá estaremos, quer os da diáspora quer os que lá estão, para ver o que se segue.
E agora?... Agora, jogamos com a Holanda!

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18 junho 2006

Deco

Portugal ganhou ao Irão e classificou-se para os oitavos de final. Jogámos melhor do que com Angola, mas ainda precisamos de encontrar uma selecção opositora forte para testarmos o nosso real valor. A passagem à fase seguinte era o mínimo que se pedia, num grupo que era constituído por selecções como Angola e o Irão. Fizemos o que tínhamos a fazer, não há margem para grande espanto. Por isso, ainda é cedo para embandeirar em arco. A seguir, com a Argentina ou a Holanda se verá. E em que o resultado até pode ser airoso, nunca se sabe...
A selecção jogou melhor do que com Angola. E, para que isso tivesse acontecido, lá tivemos o meio campo que, em condições normais, habitualmente joga e joga bem: Costinha, Maniche e Deco. A que se juntou Figo, numa forma técnica e física muito apreciável.
Deco introduz um toque muito especial na equipa. A sua ausência, mais do que qualquer um outro, faz-se notar. Deco ocupa um lugar à parte, qual pêndulo à volta do qual tudo se organiza: pausas, controlo de bola, lançamentos, pressão ao adversário, criação de espaços e, como cereja em cima do bolo, capacidade de remate. O golo que ontem marcou já ganhou, de certeza, o seu lugar nas memórias fotográficas e técnicas deste mundial, onde se têm visto golos espectaculares!
Ainda bem que Deco optou pela naturalização - com a mãozinha de Scolari, é certo - e, com isso, permitiu a sua utilização pela equipa nacional. A selecção ficou a ganhar, e muito, com o seu ingresso. Ou será que alguém ainda tem dúvidas?...

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16 junho 2006

AXN

O aparecimento dos canais privados, por um lado, e as emissões por cabo e por satélite, por outro, transformaram a nossa forma de ver televisão. Fugidos à programação exclusiva dos canais públicos, os telespectadores reorientaram a sua procura e atenção para os canais privados e temáticos. Se, numa primeira fase, a opção pelos canais privados generalistas constituía a opção mais óbvia, mais recentemente, porém, as escolhas dos canais temáticos começa a ser a escolha privilegiada de uma parte significativa de telespectadores. E isto não me surpreende, dada a natureza da programação passada nos canais generalistas, com excepção do Canal 2, que hipotecaram o horário nobre a um corropio de telenovelas, reality shows e uma generalizada pulsão noticiosa populista e tablóide. Tudo isto cimentado por uma torrente publicitária sem fim, de manhã à noite. Daí, a opção pelos canais temáticos.
Cansados da grelha de programação dos canais generalistas, do arrastar sem fim da publicidade, dos horários surrealistas dos bons programas - que também os há -, de tudo isto e mais alguma coisa, o que é certo é que os temáticos é que aproveitam com este estado de coisas. E ainda bem.
Dos canais temáticos actualmente disponíveis por cabo, versão pacote clássico, tornei-me particularmente entusiasta do AXN, especializado em séries e cinema. Séries excelentes e admiráveis (CSI, Os Homens do Presidente, Serviço de Urgência, por exemplo), horários adaptados à situação do comum dos mortais e períodos de publicidade com uma duração aceitável são, quanto a mim, os principais ingredientes que têm contribuído para o destaque que as pessoas lhe têm tributado. Eu sou uma delas. Oxalá se mantenha nesta linha.

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14 junho 2006

Chuva

Acordei com o bater pausado da chuva. Era um som familiar e reconfortante. Maio tinha sido seco como as palhas e já tinha saudades do cheiro a terra molhada. Que me perdoe quem estiver de férias, mas a chuva é, cada vez mais, um bem inestimável. Que seja bem-vinda.

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13 junho 2006

Livros

Ainda não tinha ido à Feira do Livro. Fosse da crise, do Mundial, do horário ou do que vi, o panorama não era animador. Poucas pessoas, menos dinheiro, os "eternos" livros do dia - muitos, vejo-os lá todos os anos!... - a disposição dos livros e dos livreiros, o desinteresse dos leitores, tudo me cheirava a requentado, baço, sem alma e espírito. E os livros estão caros, mesmo com descontos! E estes, os descontos, já não compensam as subidas e descidas do Parque Eduardo VII, incapazes de se bater com as várias promoções e afins, feitas com sentido comercial e profissionalismo, pelas FNAC's e similares, ao longo do ano.
A ida à Feira do Livro transformou-se numa espécie de ritual, com o seu quê de religioso, que urge cumprir de ano para ano, mesmo que os "crentes", de tão desencantados, já pouco acreditem na mirífica salvação e redenção... pelos livros, é claro.

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12 junho 2006

Figo

Portugal começou o Mundial a ganhar. O resultado foi melhor que a exibição. Portugal precisa de defrontar uma selecção mais forte, matreira e ambiciosa do que Angola, para se perceber qual é o nosso valor real como equipa. Se for apenas o que mostrou ontem, a passagem aos oitavos finais já será um bom resultado.
O melhor jogador em campo foi Figo. Entrega, determinação, talento e liderança são atributos deste jogador, o que melhor personifica, desde Eusébio, o perfil do jogador que se idealiza para representar uma selecção nacional.
Vai ficar-me gravada na memória uma fotografia de Figo, na capa do Público de hoje: olhos fixos e concentrados na bola à sua frente, o rosto e o corpo tensos, preparando-se ou já em pleno movimento, a cor e o emblema da camisola, a braçadeira de capitão no braço.
Para mim, a imagem já é um ícone.

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05 junho 2006

Esperanças

Acabou ontem o Europeu de Sub-21, realizado em Portugal. A Holanda ganhou a final, batendo a Croácia por 3-0. Para mais tarde recordar, algumas notas soltas:
1.ª - Chamar a uma competição "Sub-21" não é uma ideia muito apelativa. Prefiro a de "Esperanças", usada anteriormente. Tem uma carga afectiva diferente, mais condizente com uma competição como o futebol.
2.ª - A Holanda foi uma justa vencedora. Despachou os favoritos Itália e França, de forma limpa e competente. A escola da "Laranja Mecânica" está boa e recomenda-se: velocidade e certeza no passe, controlo da bola e do adversário, avançados rápidos e eficazes, disponibilidade física e emocional.
3.ª - Portugal não esteve bem. Admito que o peso da responsabilidade tenha provocado a tradicional ansiedade e tremideira. Mas não foi só isto: nos jogos que fizemos com a França e a Sérvia - Montenegro, sobretudo nestes, as diferenças foram demasiado grandes. Qualquer uma delas parecia de outro campeonato!
4.ª - Há diferenças acentuadas no aproveitamento que fazemos dos jogadores das classes mais jovens, quando comparado com o que fazem outros países. Na maior parte dos casos, ou não sabemos ou não queremos. Se não for isto, como é que se justifica a diferença de rendimento e de competividade?
5.ª - Para além da tradicional prosápia nacional, a verdade é que ninguém liga muito à rapaziada mais jovem. Em matéria de futebol, pelo menos, ninguém quer saber dos resultados, sobretudo se forem maus, das selecções "sub-qualquer coisa". Se se disser o contrário, deve desconfiar-se. Queremos é saber dos clubes e da selecção "Sénior"! O resto, não passa de "putos"... Embora não sejam "meninos de coro"!
Venha de lá esse Mundial!

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02 junho 2006

Disponíveis

Já se conhecem os principais elementos do regime de mobilidade na Função Pública, embora ainda sujeito a um processo de ratificação posterior e definitivo. A proposta provoca-me sentimentos contraditórios. Está muita coisa em jogo e por isso é necessário que o processo corresponda a uma intenção séria, fundamentada e preocupada com o interesse público. Não tenho ilusões de que alguma coisa tem que ser feita, sob pena de tudo ficar na mesma. O tempo não corre a nosso favor e aguardo com expectativa a versão passada a letra de lei. O que é que aí virá?...
Para ser minimamente eficaz e corresponder aos objectivos iniciais - diminuir despesas fixas, racionalizar a máquina do Estado e obter ganhos de eficiência - pelo quadro de disponíveis teriam que passar e teríamos que falar de um número de funcionários que a maioria das pessoas nem sequer imagina ou faz ideia: milhares!! Se não for assim, se for apenas para meia dúzia de "gatos pingados" (como se verifica actualmente), então isto não passará de um "flop" e de uma mistificação!! Será que o Governo e os dirigentes (sim, os dirigentes!) dos serviços estão preparados para isto?... E os funcionários, será que também estarão preparados para propostas que, apesar de tudo, se assumem como razoavelmente tentadoras e muito, muito enformadas de proteccionismo?...

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