28 dezembro 2008

Multa

Era a Noite de Natal. Na rua, não se via movimento quase nenhum. As casas estavam iluminadas e ouviam-se as vozes dos seus ocupantes. Nalgumas delas, poucas, cantavam-se canções de Natal. Nevava.
O Pai Natal chegou, montado no seu trenó de competição: era o que ele mais gostava e o que lhe dava mais garantias, atendendo ao que lhe era exigido naquela noite. Aquietado, respirou fundo e olhou para as chaminés em redor: avaliou, sopesou e concluiu. Iniciou o seu trabalho, começando pela chaminé do início da rua. Esperava-o uma longa noite...
Felizmente, o seu trabalho tinha chegado ao fim. «Estou a ficar velho» - disse de si para si, procurando com o olhar o seu trenó.
«Que estranho?!...» - perguntou-se a si próprio - «Ia jurar que tinha estacionado o trenó ali, no meio daquele Volvo e daquele Toyota... Se calhar, enganei-me.».
A princípio, não deu muita importância a isto - «É o que eu digo: estou a ficar velho!» - confortava-se o Pai Natal. Mas a situação não melhorava e o trenó não aparecia. Desiludido, o Pai Natal contactou os seus duendes e o trenó de substituição foi enviado em seu socorro.
Passados dias, no Pólo Norte, os serviços de apoio ao Pai Natal receberam um ofício, com carimbo oficial, que rezava assim:
«Fica V. Ex.ª notificado de que, pelo prazo de dez dias úteis contados a partir da data de recepção do presente ofício, deverá proceder ao levantamento do veículo, marca Trenó, modelo XPTO, com 6 renas incluídas, no parque da EMEL, mediante pagamento da multa de 250 €, referente a estacionamento em lugar indevido...».

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Que tristeza!

Foi um Natal triste, num país triste, habitado por gente triste. Que tristeza!

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20 dezembro 2008

A Dupla Face da Lei

Robert De Niro e Al Pacino são actores que, por si só, chegam e sobejam para atrair espectadores às salas de cinema. Pude constatá-lo mais uma vez, após ter visto A Dupla Face da Lei.
Depois de ver A Dupla Face da Lei, um policial, género de que gosto bastante, não pude deixar de sentir algum desconsolo, dada a presença dos dois actores: deles espera-se sempre mais e mais e o que se viu foi apenas razoável, quase que mecânico. Para estes rapazes é pouco, digo eu, que sou um fã.
Apesar de tudo, para quem gosta do género o filme vê-se com algum agrado e com benevolência para os «monstros» De Niro e Pacino. Afinal, também disto se faz o gosto pelo cinema e, há que reconhecê-lo, estes «rapazes» já lhe deram muito e bom do que já faz parte da sua história.

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Quer?... Não quer?...

A sua história, o percurso, os livros e a voz - fabulosa, sem dúvida - costumam colocar Manuel Alegre num lugar diferenciado e destacado em relação a muitos dos protagonistas pré e pós 25 de Abril. Mesmo que se goste ou simpatize com Manuel Alegre, duvido que haja muita gente que consiga perceber o que é que ele afinal pretende actualmente: ficar no PS?... Sair do PS?... Criar um novo partido?... Não criar um novo partido?... Liderar a esquerda?... Não liderar a esquerda? Federar a esquerda?... Não federar a esquerda?... Constituir um movimento?... Não constituir um movimento?... Candidatar-se à Presidência? Não se candidatar à Presidência?... É do Benfica?... É da Académica?... É dos dois e mais algum?... Ufa!
Já não é a primeira, segunda ou terceira vez que ouço o homem e ainda não consegui perceber o que é que quer. Recomecemos, então: Quer?... Não quer?...

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19 dezembro 2008

Deu-lhe p'ra isto!

Imaginemos que conseguia escrever um livro. Tantos o fazem, era mais um... Mesmo que não ganhasse nenhum prémio - seria difícil... - sempre dava para prendas. Então agora, nesta época do Natal, era um ver se te avias: dava algum sainete, não era «comprado nos chineses» e ainda tinha um «toque de autor», com assinatura, dedicatória e votos de boas-festas!
Escrever um livro, porque não?... Tantos o fazem, era mais um... Provavelmente em «edição singela de autor», isto é, com fotocópias e capa de cartolina, de tiragem limitada, a dar lustro à imagem do autor «maldito», «incompreendido», ou «anti-sistema»... Se calhar, acabava por ganhar o «tal» prémio, quem sabe?...
Vou começar a contar os trocos.

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18 dezembro 2008

Até amanhã

Vou-me deitar.

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16 dezembro 2008

A mulher de César

Obama ainda não tomou posse, mas já deve estar a pensar com os seus botões se o caso do Governador do Illinois lhe poderá vir a causar alguns (pequenos ou grandes) problemas. Algumas das notícias que saíram, não sei se fundadas ou infundadas, referenciavam o futuro chefe do gabinete de Obama, sendo suficientes, no entanto, para fazer franzir o sobrolho dos espectadores interessados, dado o capital político e de confiança que o novo presidente eleito dos Estados Unidos julgo que capitalizou.
E é em nome desse capital acumulado que Barack Obama terá todo o interesse em esclarecer o que houver para esclarecer, sob pena de vir a sofrer com isso. Mais uma vez, estamos perante uma daquelas situações sobre «a mulher de César».

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Somos todos «gregos»?

No caminho para casa, chamou-me a atenção uma pichagem na parede de um edifício com alusões à situação social que se vive actualmente na Grécia. À primeira vista, poderá pensar-se que isto não passa de uma imitação sem consequências, mais fruto da brincadeira do que de outra coisa qualquer, a que não falta a tradicional assinatura, real ou simulada, dos «anarcas» O pior é se isso não é assim, correspondendo a um indício larvar de que algo pode vir a acontecer de parecido aqui, em Portugal. Aliás, Mário Soares parece aludir a isso hoje, no artigo que publica no Diário de Notícias. Se o «faro» de Mário Soares estiver certo, cuidado com o que pode estar a fermentar, que pode vir a ser bastante complicado, dados os ingredientes que se vão acumulando, acumulando...

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08 dezembro 2008

Quando 'bieste'?

O homem nunca me tinha visto. Apesar disso, cumprimentou-me com um sonoro e entusiasmado:
- Estás bom, «doutor»?! Quando «bieste»?...
Como não estava preparado para este tratamento «deferente», a primeira reacção foi de viva surpresa. Depois da surpresa, a custo contive uma gargalhada - e seriam muitas, nessa noite... - e resolvi não dar parte de fraco na representação que se perspectivava, respondendo ao cumprimento do meu interlocutor:
- Estou bem, Augusto, obrigado. E tu, como vais?
Acabara de conhecer uma personagem mítica de Bragança: o «Verbo», de seu nome Cipriano Augusto!
À semelhança de tantos outros antes e depois de mim, tinha acabado de cumprir um dos rituais obrigatórios para quem passava ou estava em Bragança - conhecer in loco o «Verbo» e a sua tasca. E a experiência era divertidíssima e verdadeiramente memorável.
Para quem não estivesse prevenido, as histórias contadas e protagonizadas pelo «Verbo» poderiam ser mal interpretadas, fantásticas e absurdas que eram. Os episódios, os cenários e os co-protagonistas das efabulações de o «Verbo» eram quase delirantes, tal a sucessão e encadeamento, pontuadas sempre por uma graça e um sentido de humor inexcedíveis. Então, se estivesse presente alguém que o conhecesse bem e estivesse disposto a servir de «ponto» para as «deixas» e as «histórias»... era um fartote de riso desbragado!...
Penso que o «Verbo» já morreu há alguns anos. Dele fica a memória e o divertimento incomparável que proporcionou a algumas gerações. Ainda hoje, é um facto, essa influência (nostalgia, talvez...) ainda se vislumbra em muitos dos que o conheceram e passaram pela sua tasca: «Então, doutor: quando 'bieste'?!»... Palavras de Cipriano Augusto, o «Verbo».

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Mamma Mia

Apetece dizer: peguem na família e vão ver Mamma Mia, o musical feito com as músicas dos Abba! É agradável e dá para bater o pé ou abanar a cabeça.
As idas ao cinema também se fazem de momentos destes, sem preocupações existenciais por aí além e procura de mensagens ou interpretações esotéricas.
Ala para o cinema, pois! Meryl Streep é um espanto e tem uma voz muito boa. Uma agradável surpresa.

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05 dezembro 2008

Migas de alho

As crises, dizem os entendidos, também representam uma oportunidade: para mudar, adaptar, recuperar ou inovar. E isto também se aplica à gastronomia. Acabei de o comprovar.
A receita é muito simples. Por exemplo, esta: pão duro, água fervida, azeite, alhos, sal, salsa, um ovo escalfado - eis as «migas de alho»! Sim, por que é de «alho» que se trata - cru e muito. Outros chamar-lhe-ão açorda ou qualquer coisa parecida, para mim serão sempre «migas de alho», um pequeno tributo à infância e à família. Como disse, cru e muito. Como remate, acrescentem-se uns pedaços de queixo curado e acompanhe e brinde com um tinto, sem olhar a regiões demarcadas.
Ficou de «lamber os beiços», expressão que me parece bastante própria e a condizer com o petisco.
Feitas as contas, abençoada crise!

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04 dezembro 2008

Alguém sabe?...

Para acabar com as dúvidas acerca dos números, que é usual verificar-se numa greve, a adesão dos professores à greve de ontem foi muito significativa, pois até o Governo teve que o reconhecer.
E agora, o que é que se faz?... Alguém sabe?...

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(Anti)ciclone

Algumas notas sobre a polémica à volta do «Estatuto dos Açores»:
1.ª - Não acredito que Cavaco Silva esteja a medir forças com José Sócrates, mas acredito que José Sócrates o esteja o fazer com Cavaco Silva.
2.ª - Mesmo que Cavaco tenha razão do ponto de vista institucional e constitucional - e parece-me que tem -, o que prevalece é a fria e racional lógica da política e dos interesses partidários.
3.ª - Duvido que a maioria dos portugueses perceba ou esteja interessada na polémica, apesar de ser potencialmente importante. Alguém faz o esforço de lhes explicar como e porquê?...
4.ª - Cavaco Silva iludiu-se - fantasiado, talvez... - sobre o alcance e a eficácia da sua «cooperação estratégica». Nalgumas vezes por sua responsabilidade, noutras por responsabilidade alheia.
5.ª - O fosso entre as preocupações e as realidades do cidadão comum e o dos actores políticos continua a distanciar-se. Alguém ouviu falar da «dita crise»?...

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03 dezembro 2008

Destruir Depois de Ler

É curiosa a influência que os outros podem exercer sobre nós. Real ou imaginada, mas sempre presente. É a primeira coisa que me apetece escrever sobre o filme de Joel e Ethan Coen, os irmãos Coen, Destruir Depois de Ler.
Ao princípio - lá está, a influência ... -, pessoa conhecida tinha-me dissuadido de o ver. Ainda bem que não fui na conversa, pois gostei e achei o filme bastante interessante.
É uma história de enganos, equívocos, desencontros e desamores. Uma história humana, portanto, e praticamente universal, mesmo que retratando e centrando-se na América. É uma história americana, sem dúvida, mas também reprodutível noutros países, mais ou menos ocidentalizados.
Muitas das fobias e psicoses actuais (o culto do corpo e da imagem, a paranóia securitária, o poder do dinheiro e a crise das instituições, quaisquer que elas sejam) se plasmam neste filme. É um cenário quase irreal, de tão absurdo e vazio, frequentado por almas perdidas na sua insignificância ou irrelevância, mesmo que não aceites ou negadas.
Talvez a melhor síntese do verdadeiro significado do filme, suficientemente negro e cómico, seja uma frase da personagem interpretada por John Malkovich, a do analista da CIA, quando diz que passou toda a sua vida na Agência a evitar que «os idiotas» fizessem ou não fizessem algo errado.
Parece-me uma boa caracterização esta, a de atribuir culpas de tudo aos «idiotas» (quaisquer que eles sejam), atendendo à definição que o dicionário lhes dedica: «faltos de inteligência; parvos, estúpidos; ignorantes; imbecis». Que, note-se, existem e se reproduzem nos mais variados sectores, lugares ou actividades.
Depois de ver o filme, acho que os irmãos Coen têm razão. Será que é só uma história americana?...

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Frederick Forsyth

Já há alguns anos que não lia nada de Frederick Forsyth. Mas o agrado na sua leitura não se perdeu, como comprovei com a recente leitura de O Afegão.
Tarimbado pela escrita e pelo método jornalistícos, por um lado, e por uma vida cheia, por outro, Forsyth constrói livros e histórias plenas de interesse, sempre actuais, como é o caso de O Afegão.
Editado em Portugal em Agosto deste ano, mas escrito em 2006, é um livro de uma actualidade espantosa, quase premonitório de alguns desenvolvimentos recentes, como o que se verificou na semana passada em Bombaim, na Índia. As considerações que faz sobre o que se passa no Paquistão, sobretudo nalgumas áreas geográficas e ou estratos populacionais, não deixa de ser perigosamente inquietante e, nalguns casos ou situações, verdadeiramente surpreendente. Tal como a referência a outras partes do globo, mais para Oriente.
Este género de livro, que se move pelos caminhos da acção, do suspense e da espionagem internacionais, tem muitos adeptos e Frederick Forsyth como um dos seus melhores cultores. Lê-se num sopro, aprecia-se o estilo e o conhecimento acumulado e sobre ele se fica a pensar. Muito ou bastante. E se...

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Cântaro que vai à fonte

Para um curioso - como é, nitidamente, o meu caso - são surpreendentes as repercussões e as acções relacionadas com o caso do Banco Privado Português (BPP), que envolveram o Estado e as instituições bancárias «salvadoras». Sendo surpreendentes, o mais certo é tornarem-se incompreensíveis (ou não...) para a maioria dos cidadãos curiosos. Sendo incompreensíveis, podem transformar-se num problema maior e, porventura, nefasto - o de contribuírem para o declínio da imagem e do desempenho de quem gere e tutela a(s) causa(s) pública(s). É o velho problema do «cântaro que vai à fonte...»...

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Aconselha-se tripla...

Vem aí polémica pública das antigas, parece-me, a que vai opor Baptista-Bastos (BB) e Vasco Pulido Valente (VPV).
Depois da crónica de hoje do BB, no Diário de Notícias, intitulada «A intriga e a velhacaria», enganar-me-ia muito, dadas as personagens em confronto, que isto fique por aqui. Haverá vários aspectos que os afastam, suponho, mas a causa próxima do atiçanço é a opinião que cada um deles tem sobre a personalidade e a obra de Augusto Abelaira.
Sobre o resultado da polémica entre VPV e BB..., aconselha-se tripla...

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