_ Devia-vos um pedido de desculpas. Aqui está ele: inteiro. Estamos quites.
_ Peço desculpa, mas não estamos quites. Faltam os juros.
_ Os juros?!... Está a brincar comigo, não?
_ Pode parecer que sim, mas não. Não leu o contrato?
_ Mas o pedido de desculpas tem contrato?!...
_ Normas de Bruxelas. Quer que lhe mostre?
_ Mostre lá, então.
_ Está a ver aqui, na subalínea vii, da alínea p) do n.º 25 do Artigo 88.º?...
_ Não trouxe os óculos. Não se importa de me ler?
_ Com certeza. Diz assim: «os pedidos de desculpas são emprestados a três meses, a uma taxa de juro de 50%, pagável numa única prestação (...)». O resto do texto não interessa, mas diz qualquer coisa sobre o endividamento excessivo em pedidos de desculpa. Não ligue. Para o que interessa, as contas são fáceis de fazer: tem que devolver um pedido de desculpas e meio. Lamento, mas é o que tem que ser. E como assinou...
_ Pois... não estava a contar... Aqui no bolso, só tenho um quarto de pedido de desculpas. Posso entregá-lo e depois dou o resto, a seguir ao feriado?
_ Por mim, podia. Mas o gerente... Mas olhe que eram mais 25%!
_ Mais 25%!!... Mas isso é legal?
_ É. Artigo 99º, considerando 23. Não aconselho, a sério. Tente pagar o pedido de desculpas e meio dentro do prazo.
_ Tem que ser, não é?...Mas diga-me lá: como é que vou arranjar meio pedido de desculpas, agora que está tudo fechado?...
_ Você é crente?
_ Sou.
_ Então, porque é que não experimenta lá?...
_ Não sou praticante há muito tempo. Não sei com quem falar.
_ Bata à porta, mesmo assim. Pode ser que resolva. E aqui para nós: o que lhe vão pedir lá não é nada, comparado com o que lhe pedem aqui...
_ Obrigado. Só uma última coisa: acha que posso usar esta conversa como desculpa para aparecer por lá?...
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