30 março 2014

Efeito borboleta

A borboleta bateu as asas e o pólen voou. Entrou pela janela do balneário e fez espirrar o defesa. O avançado assustou-se e deu um pontapé na bola, que acertou em cheio no fiscal-de-linha. Foi chamada a polícia e apresentada queixa. O avançado levou o amarelo e amuou. Abandonou o balneário e foi-se embora. Arrebitou e foi tratar das videiras. Ia sulfatar, já agora. Viu a borboleta e apontou. A borboleta deixou de bater.

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Idiomático 31

Foi directo ao assunto, pois era o mais fácil. As portas travessas estavam fechadas.

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Rejeitado

Fez-se à bola, mas ela rejeitou-o. Foi substituído.

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29 março 2014

Emprego

Respondeu ao anúncio com expectativa. No dia da entrevista, ansioso, persignou-se antes de entrar. Foi entrevistado. Recusou o trabalho, quando soube do que se tratava. Aos amigos, explicou-se: «O trabalho era impossível!». Perguntaram-lhe porquê. «O cenário era de caos!», confessou-se. Pediram-lhe mais pormenores e a localização do sítio. A princípio recusou, mas depois lá o disse, num murmúrio: «Na mala de uma mulher!».

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Hora de verão

O texto foi escrito amanhã, à uma. Foi lido às duas, pois mudou a hora.

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A prova

Era um optimista. Nada o demovia. Para o provar, fez um teste infalível: pôr uma raposa a guardar o galinheiro. Perdeu a raposa.

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Enxertei uma macieira e nasceram-me azeitonas. O que é que faço?

Azeite.

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Tenho um pó de perlimpimpim de 1983. Ainda estará bom?

Depende do público.

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Bolsa de valores

O pó de perlimpimpim era uma mercadoria rara. Por isso, foi com prudência que os mercados evoluíram e a análise dos comentadores também. Quando chegou a confirmação definitiva (oficial, por via das dúvidas), as ordens de compra foram imediatas, num frenesim já há muito não visto. Mas, nem todos ficaram contentes: a ordem dos mágicos e ilusionistas barafustou, ameaçando com formas de luta, recusando-se a sair da cartola.

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Mágico

Era um brincalhão: tão depressa fazia aparecer um balão, como uma agulha.

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Sentido do jogo

O campo era o orgulho da terra. Foi construído a pulso e com o contributo de muitos. No dia da inauguração, verificou-se que não era a direito: subia para a baliza Norte e descia para a baliza Sul. Consultou-se o árbitro, o delegado, os comandantes das tropas e dos bombeiros e o presidente. O jogo fazia-se, mas só com uma baliza: na primeira parte de Sul para Norte, pois estavam mais frescos; na segunda parte de Norte para Sul, pois já estavam cansados. Não houve prolongamento.

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Barrado

_ Posso entrar?
_ É cardíaco?
_ Sou.
_ Então, não pode.
_ Porquê?
_ O jogo é impróprio para cardíacos.

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28 março 2014

Não esquecer

Aconteceu à terceira, à sexta e à nona. Manteve-se imperturbável, pois o seu espírito científico detectara um padrão. Mediu o que tinha que medir e meteu a preta. Às três tabelas. Desta vez, não se esqueceu do giz.

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Trocou-se

Às duas por três, enganou-se nas horas. Eram quatro.

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Confraternização

Na repartição, o dia nascera auspicioso. Sorrisos abriam-se nos rostos e as conversas eram soltas e fluentes. Foi sem surpresa que se acolheu mais um, passando-lhe o papel, a caneta e o álcool. Na instalação sonora, a mensagem soou, convidando: «O próximo dador!».

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27 março 2014

Contrato

O pião era para ser lançado, mas recusou-se. Só o demoveram, quando lhe pagaram.

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23 março 2014

Corrida

Correu como sabia: ao pé-coxinho. Foi desclassificado.

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10% e 15%

O dia era de festa e as pessoas aderiram. Desde cedo, as claques tinham-se posicionado ao longo dos principais acessos. Os transeuntes eram aliciados por ofertas e músicas diversas, algumas delas bem-vindas. À hora aprazada, o rebuliço aumentou. Muitas e muitos não aguentaram, sucumbindo de emoção ao desconto geral de 10% apregoado por uma, imediatamente contrariado pelos 15% em cartão da outra. Foi um corrupio para as apregoações, promoções e consumições.

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Comida caseira

A vingança foi servida fria. Atendendo ao calor, foi a escolha mais acertada.



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Censo

_ Naturalidade?
_ Província, freguesia e concelho.
_ Residência?
_ Cidade.
_ Estado Civil?
_ Junto, casado, separado, junto.
_ Filhos?
_ Jovens, adultos, pais.
_ Habilitações?
_ Equivalência a licenciatura, mestrado, doutoramento e pós-doutoramento.
_ Habitação?
_ Do banco, mas esquecido.



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Natalidade

_Tive uma intuição.
_ Parabéns! Quantos quilos?
_ 3,150 kg.
_ Boa! Parto normal?
_ Não. Cesariana.
_ E a mãe, está bem?
_ Já está em casa.
_  Primeira intuição...?
_ Intuição, sim. Pressentimentos já tinha. Doutra ligação.
_ Boa-sorte, então.
_ Obrigado.



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22 março 2014

Toque

A música tocava as pessoas. Mas nem todas gostavam.

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15 março 2014

Publique-se!

Escrevia aos sábados e domingos. Era um escritor de fins-de-semana.

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Normal

O ano era normal e publicou o tricentésimo sexagéssimo quinto.

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Autuado

O fora-de- jogo foi autuado. Recusou-se a pagar a multa.

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Requerimento

Era um requerimento diferente. Fora-o, desde sempre. Devotara a sua vida de requerimento a um único fim: acabar com os requerimentos. Quando acabou, fizeram um requerimento a propor a sua conservação em formol, para investigação. Foi deferido.

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Prateleira

Ao princípio, ficava ao nível dos olhos. Com o tempo, porém, foi descendo. Muita coisa tinha ocorrido, desde então. Vira aumentar e crescer a família e apercebera-se das mudanças, constatando que as escolhas também sofriam as vicissitudes do tempo e da idade. Resignara-se, mas continuava a acreditar. E o dia que esperava, chegou. Nesse dia, há pouco tempo, o livro de aventuras voltou a subir a prateleira e posicionou-se, de novo, ao nível dos olhos, desafiando: «Saca, se fores um homem!».

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Atracar

Atracara-se a mim. Quando lhe pedi a autorização, fugiu.

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Extracto

_ Bom dia. Faz favor de dizer.
_ Venho fazer uma queixa.
_ Muito bem. O motivo?
_ Sou funcionário e estou morto.
_ Vou ver. O número de morto é?
_ Isso não sei. Não pode ver o de vivo?
_ Dá mais trabalho, pois ainda não está informatizado. Quando morreu?
_ Há nove meses.
_ Não saiu no Diário da República?
_ Isso já não sei. Compreende, não é verdade?...
_ Pois... Onde é que trabalhava?
_ No instituto, naquele dos IP.
_ Ah, estou a ver! Têm morrido muitos, ultimamente... Vou fazer a pesquisa.
_ Encontrou alguma coisa?...
_ Só mais um bocadinho, pois isto está lento... Pronto, encontrei! - Diário da República, 2.ª série, de 9 de Março «(...) o trabalhador F. cessou funções, com efeito a 2 de Outubro de 2013, no Instituto IP em (...) por motivo de falecimento». Suponho que já não queira fazer queixa, agora que tudo se esclareceu?...
_ Está enganado.
_ ?!...
_ O extracto está errado, pois morri a 15 de Junho. Têm que fazer uma rectificação.
_ Vou já tratar disso. Mando a cópia para onde?



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09 março 2014

Pastéis

Depois de mais uma noite, o noctívago entra na pastelaria e compra uns pastéis. Dirige-se com eles para casa e oferece-os à mãe, que os rejeita, e o desanca por chegar tarde. Pelos vistos, não gostou deles.


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Cotovelos

A característica era congénita. Estava controlada e vivia bem com ela. Quando se excitava era mais constrangedor, mas lá se safava a contento. Falar mais pelo cotovelo direito do que pelo esquerdo não era algo de que tivesse que ter vergonha, mas tinha que ter cuidado quando o tema era fracturante. Estava medicado com chá de erva do suporte e, nas crises, com concentrado de ideologia e afins, sempre com garantia laboratorial de que não tinha sido testado em animais. Às vezes tinha umas recaídas e impunha-se um tratamento de silêncio. Estava a experimentar falar mais pelo cotovelo esquerdo do que pelo direito, mas ainda não se sentia confortável. O ideal seria falar pelos cotovelos por igual, sendo um dos objectivos que estabeleceu para o corrente ano.




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Campeã

O boxeur era duro. Certo dia deu um murro e rompeu a luva, obrigando a interromper o combate. Foi para o seu canto e chamaram a costureira que lhe deu uns pontos, atribuindo-lhe a vitória por KO.


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08 março 2014

Seteiro

Já há algum tempo que o Cupido tinha problemas de vista. Avisaram-no várias vezes, mas não ligava. Se nunca tinha falhado até agora, porque razão é que se devia preocupar, ainda para mais sendo um deus?!... Deixou arrastar a coisa. Um célebre dia, porém, fazendo pontaria ao coração de uma mortal acertou numa bruxa, que calhava estar a passar por ali. E foi o bom e o bonito, que a bruxa era das tesas e de pêlo na venta!... Foi remédio santo. Amassado pela vassoura e enxovalhado pelo remorso, correu para o oftalmologista e pediu que lhe passasse uma baixa e uns óculos (de marca, de preferência). Deixou de se ouvir falar dele. Mais tarde, uma reportagem de uma revista cor-de-rosa descobriu-o num cruzeiro, rodeado de balzaquianas. Afirmou que estava feliz e que continuava a atirar setas, com o êxito que se podia testemunhar, sempre com uns óculos à moda. Sobre o episódio da bruxa recusava-se a falar, pedindo desculpa e invocando os pedidos das damas, que insistentemente lhe pediam para lhes atirar uma setinha...


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Aplainar

Há muito que a língua de pau se sentia incomodada, mas continuava a não dar parte de fraca. Um dia, porém, não aguentou e lá teve que ir ao marceneiro. Lá chegada, bateu à porta e tirou uma senha. Apesar de haver pouca gente, só foi atendida por volta do meio dia. O marceneiro olhou para ela e disse:
_ Só com cola não vamos lá...

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Colibri

Andava de paixão em paixão e um dia desequilibrou-se.

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Bocadito

_ Bom dia. O que deseja?
_ Um bocadinho do seu tempo.
_ Não se importa de ser mais preciso?
_ Cinco minutos, se puder ser.
_ Com atenção ou sem?
_ Com. É melhor.
_ Cinco minutos não tenho. Pode ser meio?
_ Se calhar não chega. Não podem ser - sei lá!... três e meio?...
_ Três e meio é muito. É fim do mês... O melhor que lhe arranjo é um. Serve?
_ Lá tem que ser...
- Força, sou todo ouvidos.
_ Então lá vai: nasci com o Big Bang...




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Curso de água

Era um mar de gente. Vendo melhor, «mar» talvez fosse um exagero. «Rio» seria mais apropriado, pois se viam clareiras, umas maiores, outras mais pequenas - tínhamos que considerar a largura da rua. Contudo, o rio minguava se o fizéssemos. De que tipo de rio estaríamos a falar: de um caudaloso ou de um mais tranquilo, daqueles que correm no tempo quente?... Era ainda Inverno e o Verão estava longe. Não servia. Começava-se de novo: «Era um riacho de gente». Porque não, uma «ribeira«?... Não passou na televisão. Secou.

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Laboralidades

Atirou-se ao trabalho e não conseguiu. Tentou outra vez e foi acusado de assédio.

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02 março 2014

Passageiro

Não conseguia esconder o incómodo. Experimentou os bolsos e estavam rotos. Tentou o casaco e era curto. Pôs-se à frente e a largura não dava. Passou um balão e pediu-lhe boleia. Safou-se. O incómodo não.


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Filomena

Filomena é um filme que pode ser analisado segundo perspectivas diferentes, consoante a sensibilidade e o interesse de quem vê. Baseado numa história real, mas com contornos dignos do cinema, reúne um conjunto de ingredientes que podem dar azo a debates acalorados, pois está-se a lidar com matérias delicadas, como são as da maternidade e as da convicção e prática religiosas. Conhecer a história e acompanhar os seus desenvolvimentos não deixa de nos surpreender, às vezes de forma imprevisível, num registo sóbrio mas cativante, a que não é estranho o mérito dos protagonistas, Judi Dench e Steve Coogan, no retrato de pessoas que, à partida, reuniam as condições para dificilmente se virem a entender e/ou aproximar, tais as diferenças.

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01 março 2014

Despachado

Aconselhou-se com o capitão e despachou para canto. O treinador chegou e revogou o despacho, dizendo-lhe: «A partir de agora, e com efeitos imediatos, despachas para a frente!». Foi o que fez e meteu golo... na própria baliza!

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Juro aplicável

_ Devia-vos um pedido de desculpas. Aqui está ele: inteiro. Estamos quites.
_ Peço desculpa, mas não estamos quites. Faltam os juros.
_ Os juros?!... Está a brincar comigo, não?
_ Pode parecer que sim, mas não. Não leu o contrato?
_ Mas o pedido de desculpas tem contrato?!...
_ Normas de Bruxelas. Quer que lhe mostre?
_ Mostre lá, então.
_ Está a ver aqui, na subalínea vii, da alínea p) do n.º 25 do Artigo 88.º?...
_ Não trouxe os óculos. Não se importa de me ler?
_ Com certeza. Diz assim: «os pedidos de desculpas são emprestados a três meses, a uma taxa de juro de 50%, pagável numa única prestação (...)». O resto do texto não interessa, mas diz qualquer coisa sobre o endividamento excessivo em pedidos de desculpa. Não ligue. Para o que interessa, as contas são fáceis de fazer: tem que devolver um pedido de desculpas e meio. Lamento, mas é o que tem que ser. E como assinou...
_ Pois... não estava a contar... Aqui no bolso, só tenho um quarto de pedido de desculpas. Posso entregá-lo e depois dou o resto, a seguir ao feriado?
_ Por mim, podia. Mas o gerente... Mas olhe que eram mais 25%!
_ Mais 25%!!... Mas isso é legal?
_ É. Artigo 99º, considerando 23. Não aconselho, a sério. Tente pagar o pedido de desculpas e meio dentro do prazo.
_ Tem que ser, não é?...Mas diga-me lá: como é que vou arranjar meio pedido de desculpas, agora que está tudo fechado?...
_ Você é crente?
_ Sou.
_ Então, porque é que não experimenta lá?...
_ Não sou praticante há muito tempo. Não sei com quem falar.
_ Bata à porta, mesmo assim. Pode ser que resolva. E aqui para nós: o que lhe vão pedir lá não é nada, comparado com o que lhe pedem aqui...
_ Obrigado. Só uma última coisa: acha que posso usar esta conversa como desculpa para aparecer por lá?...

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