28 julho 2010

Onde fica?...

Há contextos, regionais ou pessoais, em que a utilização e o uso do palavrão, longe de serem ofensivos, podem assumir, pelo contrário, uma dimensão afectuosa ou mesmo carinhosa. Para além disso, a utilização de um palavrão, solto ou combinado numa frase, veiculam uma força expressiva e uma singularidade semântica dificilmente atingíveis por muitas das palavras «suaves», como hoje pude constatar, completada por uma barrigada de riso - que ainda perdura... - ao ouvir a expressão «santa c. do assobio», aplicada a preceito por pessoa amiga e com parecenças óbvias a uma que já conhecia, com o mesmo significado, e que é a «santa c. de ovelha» - para já não falar da versão internacional «c. main street» - qualquer uma delas servindo para ilustrar e identificar lugares distantes ou dificilmente localizáveis. Convenhamos: «santa c. do assobio» tem graça, é expressiva e faz desopilar. Se existir algum sítio com estes atributos, quem não gostaria, afinal, de ir para lá?...

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25 julho 2010

O lastro que se perde...

Muitas vezes - frequentes vezes?... - me surpreendo com a perda de funcionalidades básicas (escrever à mão, por exemplo), esquecimentos, inabilidades ou coisas que tais, do domínio do artesanal, sobretudo, com que nos confrontamos no dia-a-dia. Sinais dos tempos ou de degradação de hábitos ou de saberes julgados interiorizados ou adquiridos, o que é um facto é que não deixa de perpassar um certo desconforto, quando não alguma nostalgia triste. Num momento tudo à vista, disponível e acessível, noutro esquecido, estranho ou afastado. Podem ser pequenas grandes coisas como o pegar numa caneta ou numa esferográfica, a escrita de uma palavra, a estrutura de uma frase, a recordação de um nome ou situação, a receita mágica e funcional para os pequenos contratempos ou disfunções, uma cantilena papagueada ou alguma mezinha. Dizem-me que é normal ou fruto do tipo e do ritmo de vida que se não compadecem com estas «arqueologias». Pode ser que sim, mas satisfaz-me pouco a explicação. Nestes processos, é como se tratasse da perda progressiva de uma espécie de lastro, pessoal e irrecuperável. E isso preocupa-me.

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24 julho 2010

Um manifesto, porque não?

Em tempos, ouvi um médico dizer dele: «É dos poucos alimentos que não costuma ter contra-indicações e que se recomenda, mas dos quais raramente alguém gosta». Numa época, como a nossa, em que as preocupações com o corpo, a alimentação e a saúde às vezes assumem foros de uma espécie de religiosidade, rejeitar ou menosprezar esse dito alimento parece ser do domínio do bizarro ou do inexplicável. Talvez sim ou talvez pelo que ele costuma simbolizar, pelo menos associado ao imaginário mais informal, e onde é sinónimo de inábil ou de incapaz, numa versão eufemística, para não dizer estúpido, na sua versão mais forte, ainda que referido num contexto familiar ou de proximidade.
Falo do nabo, essa raiz tão familiar mas tantas vezes desconsiderada - pese embora o conselho médico -, conhecida e reconhecida por toda e qualquer alma comedora, que nos acompanha desde pequenos até adultos, nas sopas e pratos de confecção variada.
Fazem-se tantos movimentos, apelos, petições, abaixo-assinados, «flash mobs» e páginas no Facebook sobre os méritos, deméritos, as virtudes e os defeitos de tudo e mais alguma coisa que também se podia fazer coisa semelhante acerca do nabo, que também merece e não é menos do que outros. Ou um «manifesto», porque não?... Forneço o lema: «Nabos e amigos do nabo, uni-vos!».

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12 julho 2010

Campeones!

A Espanha ganhou o Campeonato do Mundo 2010. Vitória merecida e reconhecida. Para quem se foi desabituando de ver jogar da forma como a Espanha joga - posse de bola, passe, passe, mais passe, até ao golo - é um estilo que parece remeter para e recordar outras épocas de bola, em que o passe e o repasse eram o «santo e a senha» das equipas vitoriosas, alicerçadas em meios campos virtuosos, por onde tudo fluía e se articulava, fosse a defender ou a atacar. Para quem gosta de ver uma equipa a trabalhar e a comportar-se como um relógio, a Espanha, com Xavi e Iniesta, é um exemplo de excelência.

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04 julho 2010

Também pagam

Não sei se o aparecimento dos jornais gratuitos seria já (ou não) uma antevisão dos tempos de crise. Aparentemente, toda a gente ficava contente: os leitores, entusiastas ou não, a quem colocavam na mão um jornal maneirinho, supostamente adequado e adaptado às exigências e à mobilidade nas grandes cidades; as empresas editoras, porque permitia recolher e canalizar receitas publicitárias; e os anunciantes, arrebatados pelas tiragens e pelo previsível número de destinatários para os seus produtos, que se desejava rapidamente fossem contabilizados como consumidores.
Aliás, em relação aos diários gratuitos, houve uma época em que os ardinas modernos quase se atropelavam para entregar o seu jornal aos passeantes, pedestres ou motorizados, à guisa de um campeonato, com marcação estratégica de ruas ou pontos de passagem, algumas vezes pontuadas com acções de campanha promocional, nomeadamente com o recurso a bandeiras, estandartes, amostras, etc., que contribuíam para dar um colorido próprio às manhãs e às idas para o trabalho.
Mas isso terá sido no bom tempo, coisa que não se verifica agora. Como muitas coisas nos tempos recentes, não sei se a maioria das pessoas pensaria que isto seria para continuar e manter. Goradas que começam a ser as expectativas, pelos menos das editoras e dos anunciantes, a crua realidade, a das «vacas magras», começa a traçar o seu caminho e, neste cenário, também os gratuitos pagam, é claro.

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03 julho 2010

Momento

Provavelmente, cairiam no próximo jogo. Ou não. Ficará sempre esta dúvida, depois do jogo de ontem no Mundial, entre o Uruguai e o Gana, e estou a referir-me ao Gana. E haverá um jogador que se penalizará mais do que outros, e viverá, enquanto cá andar, com um peso insuportável em cima dos ombros: o de não ter marcado um penalti no último lance do prolongamento. Se o tivesse marcado, a sua equipa classificar-se-ia e não seria eliminada nos penaltis que se seguiram. Pelo seu simbolismo e dramatismo, digno de um enredo de suspense, ficará como um dos momentos deste Mundial.

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