A taxonomia é uma disciplina científica e como tal deve ser tratada. Mesmo que às vezes seja difícil aplicá-la, como se verá.
A cena passa-se numa rua de Lisboa, no horário matinal de um dia de trabalho. Protagonistas: dois cidadãos apeados, um com dificuldades de locomoção, e um automobilista no seu popó. O «palco», chamemos-lhe assim, é uma passadeira para peões, aquelas zonas de prioridade dos pedestres segundo os cânones, científicos ou não.
O cidadão com dificuldades de locomoção inicia a sua travessia, auxiliado por uma daquelas espécies de bengala metálicas, com base de tripé, um pouco aflito pela contradição entre o seu ritmo e o da carrada - receoso, diria eu.
Como o dono do popó avançou sem ter em conta as dificuldades próprias do cidadão com dificuldades motoras, julgo que por estar preocupado com a prioridade que vinha do passeio, tal a forma como virou a cara para esse lado, numa manifestação inequívoca de domínio da máquina, o outro cidadão, também ele avançando pela passadeira, felizmente sem dificuldades locomotórias ou de língua, lançou um vibrante e sonoro «Urso!», a que o outro cidadão, com dificuldades motoras, é certo, mas desembaraçado de língua, deu continuidade com um não menos sonoro «Boi!». O dono do popó, como não ouviu - talvez devido a outras preocupações, direi eu - continuou em velocidade de cruzeiro, assobiando para o lado. Ah, «cavalgadura»!...
E aqui começa a função da taxonomia: «urso», «boi» ou «cavalgadura»?...
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