Às compras

Depois de olhar pela janela, resolveu sair pela porta das traseiras. Colocou os óculos e dirigiu-se para o supermercado. Olhou em volta, à procura dos produtos matinais, e pegou num com a indicação diet. Hesitou e lembrou-se do que acontecera, tempos antes, naquela cidade de que bem se lembrava. Esqueceu o diet e dirigiu-se à secção da fruta. Olhou para os frutos expostos e desconfiou do brilho: «Quem sabe?...». Seguiu em frente, não sem os cuidados que a situação exigia, agora que passava pelos lacticínios e conhecia aquela informação que lhe tinham disponibilizado. No pão, a mesma coisa, depois lhe terem confirmado que as coisas não eram bem como se fazia crer. Num sobressalto crescente, olhou para as alfaces. Desistiu, pois ainda se recordava do que havia acontecido, tempos atrás. Colocou os óculos e saiu, certificando-se de que podia fazê-lo em segurança. Sentia-se confiante, agora. Na rua, alguém lhe acena e exclama, surpreendido: «Teoria da conspiração, por aqui?! Que surpresa, pá!...».

Avaliação

Disseram-lhe que não valia nada e logo pediu a insolvência.

Genealogia cromática

Red John chegou à cidade. Conheceu a Blue Mary. Tiveram uma Violet Jean.

A fotografia

Há várias maneiras de contar uma história e várias são, também, as formas de a perceber ou entender. Com mais ou menos arranjo, as histórias são feitas com a matéria da vida e costumam reproduzi-la ou ilustrá-la. Mas adiante, que o tempo urge e a paciência é pouca. Conte-se a história, pois...
Certo dia, num Portugal já não tão profundo, uma camponesa aproveita os primeiros sinais de verdadeiro sol de Primavera e dedica-se, com empenho, a cravar uma enxada num talhão de terra de que toma conta. Para quem pensar que se trata de uma cena de um passado distante e longínquo, quer no tempo quer na proximidade do urbano, parece um cenário de uma ruralidade antiga, mas não é.
Chegado de outra parte, um homem com uma máquina fotográfica aproxima-se, afina a objectiva  e dispara a máquina, uma e outra vez, resignado ao trabalho que lhe pediram para fazer mas feliz com o enquadramento que consegue da camponesa, uma daquelas imagens, pensa o fotógrafo, que servirá, julga ele, para embelezar o trabalho e dar-lhe uma nota  de colorido local. Mas estava enganado.
Teriam passado uns minutos após a sessão fotográfica, a nossa camponesa, sem largar a enxada, aproxima-se do homem, dá-lhe os bons-dias e pergunta-lhe por que razão a fotografara. Desconhece-se o que terão falado mais e só se viu o fotógrafo entregar a máquina à camponesa, na qual esta mexeu e lha devolveu, pouco depois. Como espectadora e ouvinte improvável da conversa, a enxada manteve-se firme na mão da camponesa e, diz quem viu, terá sido usada como argumento suplementar para convencer o fotógrafo, fosse lá o que fosse...
Para azar do fotógrafo, «a camponesa» não o era, apenas. Noutros tempos, conta-se, terá sido uma conhecida e bem-sucedida web designer, conhecedora, como poucas, das virtualidades e potencialidades dos programas de edição de imagem, incluindo fotografias. Nunca se soube porque terá abandonado essa vida e, aparentemente feliz, abraçou uma carreira de camponesa, responsável pelo acompanhamento de legumes e de leguminosas. Dizem que se serve da enxada como poucos... Segundo consta, parece que nunca mais houve fotografias sem autorização. Mas isso, se calhar, já é do domínio da lenda...

Trim, trim

Depois de o telemóvel tocar, o juiz multou-se a ele próprio.

(baseado em notícia do JN http://www.jn.pt/PaginaInicial/Mundo/MundoInsolito/Interior.aspx?content_id=3173607, de hoje ).

One trick pony

Miguel Esteves Cardoso, o 'MEC', deu uma entrevista ao jornal i que é publicada na edição de hoje. Às duas por três, já no final, a frase «Sou o one trick pony». Num ápice, dois resultados: a curiosidade sobre o que é que isto significa  (expressão coloquial americana que significa aquele que possui apenas um único talento ou habilidade, sei-o agora, graças à Wikipedia e outros sites online) e, com ele imediatamente correlacionado, uma canção http://youtu.be/sfv3kBzJZgU de Paul Simon, também título do álbum. Quando andamos há procura de vantagens de novas tecnologias e de tempos novos, mesmo que mesclados com memórias de outros, eis aqui um pequenino exemplo, mesmo que se seja um «one trick pony».

Entrevista rápida

Abordaram-no na rua sobre a situação política. Quando lhe pediram para manifestar a sua preferência, afirmou: «Tinto».

Projecto

A sua vida era fragmentária, feita de pedaços. Quis dar-lhe um arranjo diferente, mais estruturado e articulado. Quando a pretendeu colar, não encontrou cola adequada.

Previdente

Para quem não sabia pregar um prego e claramente desconhecia o jeito e a ciência certos para dominar a arte do arranjo e da montagem de mobílias e de equipamentos de toda a ordem, impressionava a quantidade de ferramentas, de toda a qualidade e feitio, que guardava na «oficina barra atelier», que assim baptizara e da qual se orgulhava. E quando alguém lhe tornava evidente essa aparente contradição, testando o desconforto e o provável embaraço do personagem, não ficava sem uma resposta enigmática, mas repetida sempre que necessário, e que era: «Nunca se sabe...»

Guiness

Levantou a tenda e bateu um novo recorde.

1, 2, 3

A varinha mágica passou a sopa e desapareceu.

Rifão

Cão sem pêlo também gosta de festas.

Sed lex

Bateu no peito e ele moveu-lhe um processo.

Pexote 3

Atirou um primeiro tiro e a mão encravou no segundo.

Pauta

No concurso, o sábado ficou à frente do domingo.

Descarga

O poste de alta tensão teve um choque.

Vício

O céptico viu-se ao espelho e duvidou.

Reacção

O livro vermelho foi à máquina e desbotou.

Procura-se

Perdeu o pé e pôs um anúncio no jornal.

Slogan

Abaixo o acima!

Pum

A tensão não se aguentou.

Manifesto

Os párias de todo o mundo uniram-se.

Sputnik

O lançamento do livro foi um êxito e entrou em órbita como o previsto.

Incerteza

Crescera ou a roupa encolhera.

Acudam!

O significado perdeu os sentidos.

Emprego

Folha de cálculo com experiência procura emprego compatível. Dão-se referências.

Sinal dos tempos

Era uma família tradicional e conservadora. O negócio familiar passava de geração em geração e, também agora, isso se verificaria. Impõs apenas uma condição, que foi aceite: quando fosse cortar uma árvore, iniciaria a hidratação com um cremezinho hidratante e não com o tradicional cuspir para as mãos, imagem de marca dos ancestrais. Também aqui, no universo dos lenhadores, o sinal dos tempos se anunciava.

Uma questão de buracos

Com a decisão do Tribunal Constitucional sobre o Orçamento para 2013, a expressão «passar pelo buraco da agulha» ganha um novo significado, que é o de «passar pelo buraco do défice».

Justiça

A vítima foi condenada porque se pôs a jeito.

Penteado

A mãe árvore deu dinheiro à filha para ir ao podador aparar, pentear e fazer madeixas nas ramagens.

Vai água!

Na falta de melhor explicação ou por ser a mais cómoda, nada como pegar na expressão «alterações climáticas» para referenciar e sinalizar um fenómeno, para ele invulgar e, até hoje, nunca experienciado, em que se viu envolvido na tarde desse dia, caminhando na rua: um metro e um segundo antes nada, um despejar de chuva no metro e segundo seguintes, depois! Foi como se a nuvem se abrisse, num momento determinado, à espera de um incauto (à semelhança dos despejos pela janela, típicos de outras eras) e imediatamente se fechasse, cumprido o objectivo.

Máxima

Surpreendemo-nos não com o que sabemos mas com o que não sabemos.