31 dezembro 2016

Sentença

Não era extraordinário, mas usual. Não era fantástico, mas comum. Em suma, era vulgar. De lineu.

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Outra vida, vida outra

Noutra vida esventrara porcos e agora esventrava ruas. Estava mais feliz e apaziguado com a sua costela ambientalista, mas em conflito permanente com ciclistas e automobilistas, que persistiam nos conflitos e nas imprecações, respondendo-lhes com manguitos.

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Dar horas

Dar as horas não era para todos os relógios. A maioria recusava-se, com medo de perder o mostrador e ou a corda. No seu caso, que era um «mãos largas», isso não se verificava. Para além das horas, chegava a dar os minutos e os segundos, não com muita frequência, é certo, mas as suficientes para que o tivessem já comparado a um S. Martinho dos relógios, mesmo fora do período das castanhas. Apesar de não ser ambicioso, mantinha uma secreta esperança de vir conhecer o Big Ben e com ele trocar umas badaladas a propósito do Brexit e da Commonwealth. Até lá, daria as horas para a vidinha deste lado do Atlântico, pautadas pelo estômago, a hora do ó-ó e as de sol, as quais, parecia-lhe, iriam agora entrar em período de férias...

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30 dezembro 2016

Agremiação

Desencantara-se com o desporto mas não perdera a fé do adepto. Agora, para manter o fervor, era ferrinho das frases bombásticas, com as quotas em dia e lugar coberto na central. Por isso, todos os intervalos dava uma vista de olhos pelo ranking e pela classificação. Só não pactuava com insultos, pois isso contrariava a alma da agremiação, que era pura, fina e educada. Das mais finas tripas.

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Modo de vida

_ Que é que faz, na vida?
_ Sou chantagista.
_ Não tem vergonha?
_ Não. Tenho provas.

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Palavrário (letra l)

Lama, lamúria: longe!
Lúdico, logo lúcido: lindo!

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29 dezembro 2016

Passado tanto tempo, a minha geringonça não se define, vogando entre a coisa malfeita e a construção complexa. O que posso fazer?

Medir a temperatura, primeiro; depois, cautela e caldos de galinha.

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Croniqueta

A irrelevância estava na moda e era atraente. Mas teria que ter cuidado, não fosse tornar-se relevante e com isso perder a linha, para já não falar do colesterol!... Na dúvida, era melhor manter-se como estava e não fazer ondas, o que aliás seria difícil, diga-se, pois não tinha corpo para isso... Talvez para o ano conseguisse, mas só com ginásio e uns sumos detox. Ou será ao contrário?

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28 dezembro 2016

Troço cronometrado

A taxa de juro entrou empandeirada e aos esses, desgovernada pela velocidade e pelos copos. Na berma, a agência de rating bem acenava a pedir calmura e contenção, safando-se por pouco de ser colhida, com o aplauso dos entusiastas, que garantiam que tinha sido o troço mais rápido do rally das cotações e que para o ano cá estariam!

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Palavrário (letra k)

_ Karaoke?
_ Kilt?
_ Kefir?
_ Kosher?
_ Kung Fu?
_ Kitsh?
_ Kuduro?
_ Kaiser?
_ Kamikase?
_ Krill?
_ Kierkegaardiano?
_ Kitesurf?
_ Kart?
_ Képi?
_ Km!
_ Kit!
_ Kispo!
_ Kafkiano!
_ Kilo!
_ Kitchnette!
_ Keinnesiano?!
_ KO...!...?



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Livro

A menina é filha de quem?, de Rita Ferro.

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26 dezembro 2016

Quente e frio

Não tinha calor. Nos bolsos tinha um corta-unhas, umas moedas, dois figos, mas calor não. Pensava que tinha, mas se calhar estava enganado. Em contrapartida tinha frio, muito frio, e não era nos bolsos: era pelo corpo todo.
Tentara comprar um aquecedor e dar as moedas como entrada mas não lhas aceitaram. Contudo, o mesmo não se verificava com o corta-unhas, valorizado no mercado - era uma relíquia! - dissera-lhe o vendedor, um nostálgico, está-se a ver, característica evidenciada pela unha do dedo mindinho, pontiaguda e talhada como se fosse a ponta de uma lança.
Apreçado o preço e as condições do contrato, tomou posse do aquecedor e carregou-o às costas, pois não cabia no bolso. Curiosamente, deixou de ter frio. Pelo contrário, ficou com dor nas costas.

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25 dezembro 2016

Só para uma bucha

Depois da volta, o Pai e a Mãe Natal apareceram-lhe em casa para beber um copo, tal como tinha sido combinado. Não iriam demorar, disseram-lhe, apenas o suficiente para descansar as pernas e as costas e permitir que as renas pastassem um bocadinho... Mas que aceitavam um pastelinho de bacalhau e uma tacinha de vinho, depois se veria se também um cálice de Porto...


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Recebi, no sapatinho electrónico, duas notícias falsas requentadas e sem o talão para troca. O que é que devo fazer?

Devolvê-las e assinar o livro de reclamações.

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24 dezembro 2016

Tempos

O garoto não parava sossegado, inquieto que estava.
Ao ver o avô, perguntou-lhe:
_ Avô, avô! já são horas do Natal?
O velho sorriu e disse-lhe que ainda era cedo... E que só quando os ponteiros do relógio apontassem para o doze é que seria Natal. Que esperasse mais um bocadinho...
Então o garoto olhou para o relógio, foi buscar uma cadeira, subiu-lhe para cima, abriu o mostrador e adiantou os ponteiros.

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23 dezembro 2016

Tolerância

_ E como é que vai conduzir o diálogo?
_ Pela mão, de preferência.
_ Admite, mesmo assim, alguma transgressão?
_ Só nas ultrapassagens.

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18 dezembro 2016

I(legal)

_ E disse o quê?
_ Que era a lei.
_ A sério!?
_ Sim.
_ E onde é que isso está escrito?
_ Não está.
_ Não pode.
_ Porquê?
_ É de lei.

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17 dezembro 2016

Patine

Quem viu ficou com os olhos arregalados e assim ficou. Demoraram algum tempo a acostumar-se mas acabaram por se habituar. Nos dias com mais claridade passaram a usar óculos escuros e diziam-lhes que ficavam com pátina, embora patine soasse melhor, pois dava um certo toque francês. Tornou-se moda.

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04 dezembro 2016

Mensagens

Todos os dias as mensagens lhe entravam no telemóvel com grande impunidade, sugerindo promoções a torto e a direito. Começava a estar farto e, mais do que isso, desesperado. Pediu conselho e sugeriram-lhe os cães. Que acabou por lhes largar, não sem receio. Para não destoar, acompanhou-os com mensagem também, dizendo que era de borla, e que desculpassem pelas canelas.


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03 dezembro 2016

Eu, Daniel Blake

O que é e como deveria ser o sistema da Segurança Social é um dos temas mais controversos que se colocam às sociedades modernas. Há visões e receitas para todos os gostos, obtendo-se como resultado uma cada vez maior confusão na cabeça das pessoas, e um resultado de consequências imprevisíveis para presentes e futuros.
Eu, Daniel Blake é um filme onde essa realidade se nos coloca, vincando-se um posicionamento, que será defendido por uns e criticado por outros. Debater o como e o porquê da Segurança Social é um debate que se vai manter e manterá. E que afecta todos, ninguém se iluda.

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02 dezembro 2016

Aforismo

Em tempos incertos tenha-se cuidado com a meteorologia.

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01 dezembro 2016

Três vozes

_ O que é que me aconselha?
_ Aquilo que lhe disse.
_ Mesmo que as condições não estejam todas reunidas?
_ Terá que avaliar melhor, nesse caso.
_ O que é que faria, então?
_ Pesava os prós e os contras. Decidiria em face disso.
_ Não é arriscado?
_ O risco está sempre presente. O risco nulo não existe e temos que lidar com isso. O difícil é essa parte, mas consegue-se.
_ E se for amanhã?
_ Não aconselharia... Já viu o tempo?
_ Desculpe, estão a falar quê?
_ Ora, de coisas... Dilemas, está a perceber?
_ Ah, sim... tipo política e coisas assim, não é?
_ Não, que ideia!... Estávamos era a falar de podas.
_ Podas!? Não compreendo... podas? E aquele com quem tem estado a falar, quem é? É podador?
_ Podador!? Não, é a voz.
_ Voz!?
_ Sim. Da razão.

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Vontade(s)

«Nas raízes não!», pediu a planta ao cavador. E o cavador, com bom coração, pegou na foice e fez-lhe a vontade, cortando-lhe a corola.

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