31 dezembro 2018

A chegar

_ Aproxima-se o Ano Novo...
_ Vem de que lado?
_ Não se sabe... Ainda é cedo.

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30 dezembro 2018

Comemorações

_ Está tudo pronto?
_ Tudo. Sem problemas.
_ Traz alguém?
_ Só a mulher, penso. Vou confirmar.
_ Pediu alguma coisa?
_ Migas e descanso. Só.

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29 dezembro 2018

Disse um palavrão e estou arrependido. O que é que faço?

Diga outro, para ver como é que se sente. Se não melhorar, pense em marcar uma consulta.

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Preço

_ Vamos directos à acção!
_ Assim, sem mais nem menos?
_ Sim. Directos.
_ Não era melhor fazer uma introdução, uma explicação, qualquer coisa?
_ Não, directos. Sempre em frente, sem desvios.
_ Tens dinheiro?
_ Dinheiro!?
_ Sim, dinheiro.
_ Porquê?
_ É que a acção custa dinheiro. E subiu de preço.

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28 dezembro 2018

Assim nasce uma estrela

O mundo do espectáculo é duro. É a realidade, apesar da imagem que passa e dos sonhos que projecta. Sendo assim, porque é que cativa e motiva tanta gente...? Pois é. Um mea culpa: até ao visionamento do filme, tinha de Lady Gaga uma imagem que se destacava pelas notícias sobre as indumentárias. Nem a música me dizia grande coisa. Depois do filme, fica outra: olá, princesa! Temos Óscar à vista?

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26 dezembro 2018

Aforismo

Se não queres que te doam os calos, escolhe o calçado com que andas.

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En(cante)

_ O que é que este cliente vai querer?
_ Dióspiros. Mas dos moles!
_ Ó diabo!... Há espaço no trenó?
_ Não há muito... Talvez com um tupperware, quer experimentar?
_ E se aparece a brigada?
_ Não sei... Cante-lhes o «Howhow, howhow!». Pode ser que passe.

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24 dezembro 2018

Bordado para a venda



As coisas são o que são. Parece (e é) uma frase feita, comprada a preço de saldo ou nas promoções. Que as há, não haja dúvidas. Como em tudo nas compras, há quem compre melhor e quem compre pior, quem conhece os locais onde se compra melhor e sítios onde não se volta a pôr os pés. Para além dos barretes e dos monos, chegam a encontrar-se pechinchas. O segredo está nisso. E em saber ler, claro! Nem que seja os preços.
A princípio, a caneta não pega. Mas também podia ser um lápis, só que aqui o combustível é diferente do da caneta. Mas lá acabam por pegar, nem que seja de empurrão. O começo é sempre às tossidelas, já se sabe. Depois, à medida que aquece, a coisa começa a ser mais fácil. Não tendo feito medição, anda à volta das ‘X’ palavras por período. A descer é mais, mas em reta é o que está padronizado: sujeito, predicado, complemento, com mais ou menos caracteres. Às vezes, faltam os travões. Quando isso acontece, é mandar-se para o lado e enrolar. No cascalho.
Para quem tenha treinador, o início já se encontra estipulado: tanto de palavras, tanto de frases, parágrafos que bastem. No fim, alongamentos de desbaste. Depois, banho e secar. Ao sol, de preferência.
Não sabia o que lhe deu, mas pegou numa agulha e num dedal e começou a fazer uma cerzidura fininha, ponto por ponto. Não sabia nada de ponto de cruz ou de qualquer terminologia do bordado, da renda ou do tricot. Mesmo assim, continuava a enfiar a agulha e a linha pelos interstícios das frases e dos parágrafos. Animava-se com a perspectiva de fazer qualquer coisita que pudesse oferecer para a venda de Natal. Tinha-se comprometido e não queria faltar à promessa. Ainda sugerira fazer uns frascos de compota, mas simpaticamente disseram-lhe que era melhor não, pois já havia muitas. Foi então que a parte do bordado se colocou. Não querendo desiludir quem convidava, disse que sim.
Quando lhe faltava o jeito ou o entusiasmo, olhava para o lado e socorria-se da velhinha que o instruía, com bonomia (outra frase feita), e lhe dizia, a sorrir, que as linhas estavam mais tortas do que direitas, mas que não desistisse, pois era para uma boa causa, para os necessitados do bairro, que da literatura só conheciam o cheiro, mas de longe. Ao contrário dos bordados, que sempre tinham uns desenhos e umas cores, tudo simples. Teria que continuar. Era a vida (outra frase feita, é claro).

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23 dezembro 2018

Choque e magia de … (Natal, esse mesmo)


Era para ser um típico dia de vésperas de Natal, pelo menos naquela parte do mundo. Despejar alegremente a carteira e vir a fazer equilibrismo com os embrulhos era o mote. Na dobrar da rua, um choque insólito agitava o momento, tendo por protagonistas um meio-fundista (parecia) e um vulgar peão (parecia também), caminhando a exercitar as pernas e, talvez, para aliviar a cabeça. Na ausência de sinal ou de espelho, o choque tornara-se inevitável, quiçá por acaso ou por pirraça do destino, tal e qual, também se podendo chamar-lhe fado, não hilário, mas coincidência. Palavra puxava palavra, mais do peão, note-se, do que do fundista, que preferia os alongamentos, a coisa ameaçava complicar-se, prevendo-se distúrbio em potência, mesmo que sem colete. Urgia, pois, chamar as autoridades. Que apareceram e ouviram os intervenientes, que argumentavam e defendiam os seus argumentos, um sobre a prioridade e outro sobre a segurança no passeio, mas onde, pelos vistos, não seria necessário desenhar o croquis de acidente, antes puxar pela fita do bom senso, mais não fosse pela época, que se fez representar pelo Pai Natal, o próprio, estacionando o trenó e as renas em cima do passeio, rindo-se e dizendo «Howow, howow!» e oferecendo uma fatia de bolo-rei. Ou seria rainha…?

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22 dezembro 2018

Sit!

_ Treinam relógios?
_ Refere-se a consertar?
_ Não, não. Treinar.
_ Lamento, mas não. Só animais. Não será melhor procurar um relojoeiro, antes?
_ Não me parece. Pelo menos, para aquilo que eu quero...
_ E é o quê, pode saber-se?
_ Parar o tempo.

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Pó a pó


Qualquer dia, deixava de fazer a limpeza do pó. Para além da bicharada, apanhava-se sempre mais qualquer coisa. Umas vezes interessante, outras nem por isso, e algumas curiosas, poucas. Encontrava-se de tudo: roscas, parafusos, botões, bilhetes, listas, talões, palavras soltas, restos de vírgulas e partes de expressões. Uma vez ou outra, uma moedita. Se tivesse feitio para isso, recolhia tudo e fazia um museu. Como não o tinha, fazia o curial: deitar para o lixo. Talvez um dia, isto viesse a ser valorizado. Ou vir a ser reciclado (quem sabe?) e dar-lhe uma nova vida.

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16 dezembro 2018

À procura

_ Ao que vens?
_ P'las batatas.
_ Não é pela Sabedoria? Pela Virtude? Pela Justiça? Pela Felicidade?
_ Não. Só p'las batatas. E por um raminho de cheiros, também.

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15 dezembro 2018

Comprei calçado impermeável mas, como não chove, sinto-me defraudado. A quem é que me queixo?

À primeira vista, ao S. Pedro. Se souber o endereço, tente também as alterações climáticas.

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Tudo a Nu na Normandia

Mesmo que assobiemos para o ar e façamos de conta de que estamos imunes, mais cedo ou mais tarde o impacto da globalização vem ter connosco. E isso acaba por nos surpreender, a maioria das vezes pelas piores razões. Saber como é que se lida com isto é que é o segredo ou a pergunta do milhão de dólares. Apesar de se focar na realidade da Bretanha francesa, não é difícil encontrar pontos de contacto com outras paisagens, sobretudo nas regiões do interior. E é neste contexto que as coisas assumem outras cores, umas melhores do que outras, com algumas visões idílicas a serem postas em causa, quer em relação aos que por lá vivem quer aos que por lá passam. Apesar das gargalhadas ou dos sorrisos provocados pelo enredo, a realidade que ali se retrata não é, seguramente, para nos deixar indiferentes ou tranquilos. Mas esse é um dos preços que se paga quando se colocam (ou querem colocar) as coisas «a nu».

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09 dezembro 2018

Ripar


Ripou de um papel e fez de conta que estava tudo bem. Ainda não era o momento das interrogações, mas elas chegariam. Como de facto e à hora aprazada. Umas eram mais exuberantes do que outras, mas mesmo estas não eram de somenos, quiçá até mais pertinentes. Para evitar o granel havia que começar por discipliná-las, o que seria difícil dada a sua natureza. Talvez o exemplo fosse mais eficaz, nunca se saberia, mas era aquilo de que se poderia dispor, assim do pé para a mão. Por isso, ao pigarrear a voz deu-lhe para exortar os modelos que conhecia e a que estava habituado, desde sempre ou pelo menos na maior parte do tempo. Começou por um simples, de tempos já idos, mas ainda com aplicação ao presente, com mais ou menos actualizações, consoante os gostos. E o seu até nem era dos mais esquisitos, veríamos qual seria o da audiência... Porquê questionarmo-nos, pensou, se o ripanço era o que era, uma libertação? E a isto as interrogações não responderam, presumindo ele que por concordância ou, quem sabe?, por se encontrarem no dito cujo.

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08 dezembro 2018

Perdi-me no mundo das ideias e agora não encontro o caminho para casa. O que é que faço?

Respire fundo e sossegue. Depois, ligue o GPS.

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Fazer de conta


O conselho do médico fora peremptório: fazer de conta duas vezes por dia, depois do pequeno-almoço e do lanche. Nem procurou objectar. Mesmo que o fizesse, o médico não era de modas e perguntava-lhe: «Quem é que aqui é o médico?...». Perante isto, o assunto ficava mais ou menos encerrado, pelo menos até à próxima consulta. Não adiantava. Lá teria que arranjar maneira de aviar a receita, persistindo a dúvida se seria ou não um placebo. Mas tinha algum receio. Das anteriores vezes que seguira a prescrição de fazer de conta não se tinha dado bem, antes pelo contrário. Em privado continuava a achar que o médico tinha exagerado na dose de fazer de conta depois das quatro refeições: pequeno-almoço, almoço, lanche e jantar. A família também concordava que era exagerado e não adequado à idade e à constituição. Mas esbarravam sempre no mesmo muro, esse mesmo, aquele que se erguia da pergunta anterior. Mas as coisas estavam a mudar. Só que ainda não sabiam.
Recentemente, um guru da vida farta e plena tinha-se instalado no bairro. A casa era igual às outras, com a diferença de que lhe batiam mais vezes à porta e as filas estavam sempre a perder de vista. Os maldizentes e as respectivas diziam que era um bruxo ou um curandeiro e não um guru igual aos que apareciam nas revistas e nos anúncios. Era uma diferença de opiniões que se tinha que aceitar, pois estava-se num país democrático. Como não tinha nada a perder e já estava farto de aturar a família que o incentivava a ir lá, marcou uma consulta, que ali se chamava visão.
Entrou à hora e foi encaminhado para a sala. Não havia nada parecido com um consultório ou reservado. Só a sala. Uma vez lá dentro, deu as boas-tardes ao guru, que estava sentado num banco de madeira, por causa das costas. E este perguntou-lhe logo:
_ Está disponível para a visão?
_ Bem… Não sei…
_ É natural… Não se preocupe. O que é que o traz cá?
_ Tenho que fazer de conta duas vezes por dia…
_ Receita médica, suponho?
_ Sim. Como adivinhou?
_ Tenho um dom. Sabe que eu sou guru, não sabe?
_ É o que dizem. Mas de quê?
_ Ora, de quê!... Da vida farta e plena, claro! A única! A verdadeira!
_ Mas só há essa?
Aqui o guru ficou abananado, caindo do banco. Começou aos berros e aos urros, parecia que lhe estava a dar uma coisa má, e o paciente começou a ficar preocupado e a pensar se devia chamar a emergência médica. Ia ver. Mas o guru lá se foi acalmando e voltou a sentar-se no banco. Olhou para o paciente e disse:
_ Tive a visão e já não sou guru. Agora és tu.
Depois levantou-se, pôs o chapéu e foi-se embora.

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