Alguém lhe explicara que a visualização daquilo que se queria rememorar era a melhor solução... Forneceu-lhe as dicas para que isso fosse concretizado e aconselhou a prática continuada do processo. Como ia na rua, começou a projectar as memórias no céu azul. A princípio, a coisa não correu mal. Começara com a lista de compras: leite, fruta e pão, o que o levava a ciclicamente olhar para o céu, à laia de ecrã, a ver se as imagens do que queria comprar lá apareciam, procurando fazer isso longe dos locais onde as travessias pedestres eram mais arriscadas. Não se preocupava com os pormenores, por exemplo, qual a marca do leite, o tipo de fruta, mais calórica ou menos, a especificidade do pão, se branco ou escuro, logo se veria no local. Aproximando-se do supermercado, accionou de novo o processo só para ter a certeza de que funcionava: leite, fruta, pão... e vinho!...
«Vinho!?...». Intrigado, estancou. Voltou a experimentar, por via das dúvidas. Olhou para o céu e projectou: leite, fruta, pão... e vinho!... E queijo!...
A coisa complicava-se, assumindo contornos bizarros... Pegou no telemóvel e perguntou a quem lhe tinha ensinado o processo de visualização se o que estava a acontecer era normal... Do outro lado, ouviu-se uma gargalhada, replicada uma e outra vez, garantindo que sim, que era normal, hábito de pícaro a treinar para hacker...
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