30 dezembro 2013

Sorteio

_ Parece-te perigoso?
_ Não me parece. Mas não deve bater bem da bola...
_ Achas?...
_ É a única explicação. Está ali desde as 9h00 e diz que quer falar com o responsável. Só pode ser maluco.
_ Bem, vamos lá a ver.
_ Boa-tarde. Deseja alguma coisa?
_ Boa tarde. Gostava de falar com o responsável.
_ Sou eu. Passa-se alguma coisa?
_ Nada de grave, fique descansado. Vão fazer um sorteio, não vão?
_ Sim, dumas rifas. É para os Reis. É organizado pela associação de moradores, para ajudar aqui no bairro. Como é que sabia?
_ Eu sou o representante do Governo Civil. Aquele dos sorteios, lembra-se?
 _ Do Governo Civil?! Mas isso não está extinto?!...
_ O Governo Civil sim, o representante nos sorteios não.
_ Mas não era só para os jogos da Santa Casa?
_ Era, mas agora já não é.
_ O que é que aconteceu?
_ Fui reclassificado.
_ E fez formação?
_ Não. Saíu-me na rifa.


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25 dezembro 2013

A última

Terminada a volta, o Pai Natal disse às renas que podiam descansar e retirar cabrestos e arreios, que iriam comemorar já a seguir. Foi o que fizeram.
Depois de várias rodadas de cevada, o Pai Natal pediu a palavra e disse:
_ Meninas, mais um ano passou. Não foi melhor nem pior do que os outros, mas foi diferente. Para a volta do próximo ano, vamos ver se a rena do azimute não troca o Pólo Norte pelo Pólo Sul. Tirando isso, todas se portaram muito bem. Agora, para terminar, só mais uma de cevada, que é a da abaladiça. Oferta do Menino Jesus.

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24 dezembro 2013

Ho, ho, ho

Boas-Festas e bom vinho.

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22 dezembro 2013

Lá se foi

Arrastou-lhe a asa até mais não. Quando se decidiu, ela levantou voo.

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No bolso

Meteu a mão na algibeira e não encontrou a pergunta.

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21 dezembro 2013

Esclarecimentos

_ Como pediu, cá estou.
_ Desculpe, mas não estou a ver... Não se importa de me explicar?
_ Sou o Esclarecimento. Cheguei no mail das 10h.
_ Ah, o Esclarecimento! Tinha-o pedido há três meses e já começava a acreditar que não vinha. Estava enganado, pois cá está. E seco, hem?! Está de dieta?
_ Não. A política para os esclarecimentos é que mudou e a banda também está mais estreita. Daí a secura.
_ Pois bem. Vamos lá ver, então, o que é que me diz.
_ Esteja à vontade. É para isso que vim.
_ Ó diabo!...
_ Algum problema?...
_ Pelo que vejo, sim: você não é o Esclarecimento que pedi. Desculpe, mas tenho que o devolver.
_ Não tem problema. Posso pedir-lhe um favor?
_ Pode.
_ Mande-me no mail das 11h30, que hoje há festa de Natal na repartição dos esclarecimentos.
_ Está bem. E devolvo-o a dizer o quê?
_ Que o Esclarecimento que lhe mandaram não é o que queria e se lhe podiam mandar outro. Mas, prepare-se, que a expedição dos esclarecimentos anda atrasada e só lá para o Páscoa é que o novo Esclarecimento lhe chega. Interessa-lhe?
_ Vou ver. Assim... Talvez vá lá pessoalmente. O que é que devo fazer?
_ Se fosse a si, pedia um esclarecimento

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Variedades

_ Que faz?
_ Sou corista.
_ Canta num coro?
_ Não. Faço strip-tease.

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Idiomático 28

Não era grande espingarda e converteu-se às pistolas.

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15 dezembro 2013

Faço previsões, mas saem furadas. Devo mudar de tecido?

Não. É melhor mudar de ramo.

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Já não me desembaraço. Será que preciso de ajuda?

Não. Tem é que evitar o contacto com linhas, guitas ou cordas.

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O arroz não me fica malandrinho. Tenho que pôr mais água?

Se estiver a poupá-la, não. O arroz malandro também não é mau, custa é mais a comer.

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O peru não costuma sair-me bem. Será do tempero?

Depende. Se for perua, pode ser dos copos.

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Será que chove?

Essa é uma das eternas questões. Na dúvida,  pergunte aos serviços meteorológicos.

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Fico deprimido(a) com o Natal. O que devo fazer?

Vista uns calções de banho, pegue na toalha, ponha os óculos de sol, vá para a praia e pense que o Verão é quando o homem ou a mulher quiserem.

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Estou-me nas tintas. Estou a proceder bem?

Você é que sabe. Se quiser, quando chegar o tempo quente pode «estar-se a borrifar», pois fica mais fresco.

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14 dezembro 2013

Espelho meu

 _ Não posso ver-me ao espelho!
_ Tenha calma, não desespere.
_ Não desespere?!... Então não vê que não posso ver-me ao espelho?!...
_ Acredito que esteja preocupado, mas veja lá se não haverá forma de resolver as coisas, talvez com recurso ao psicólogo, quem sabe?... Se não tiver, posso indicar-lhe um.
_ Então, agora os psicólogos também são especialistas em espelhos?!... Não sabia, mas deve ser defeito meu... E conseguem fazer-me ver ao espelho?...
- Com paciência e terapia, sim. Mas leva tempo.
- Leva tempo?!... Não tenho tempo e precisava de fazer a barba. Agora.
- Fazer a barba?!... Então não disse que não conseguia ver-se ao espelho?!...
_ Não é o que eu lhe tenho estado a dizer?!... Não consigo ver-me ao espelho: vejo outra pessoa e não sou eu!
_ Ah!, já percebi. Faça-me um favor e olhe para a moldura do espelho: o que é que lá diz?
_ Na moldura? «Made in China».
_ Não é isso. Mais abaixo.
_ «Este espelho é mágico».

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Imaginação 2

Tinha a imaginação fria e resolveu aquecê-la. Escolheu uns gravetos secos, pôs-lhe lume e ficou à espera dos efeitos. Ao princípio, a imaginação começou a tossir e não gostou. Depois, sentiu-se confortada e cada vez mais confortável. Passado tempo, escolheu uma alheira e regalou-se.

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Idiomático 27

Passou o Cabo das Tormentas mas chegou a bom porto.

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Imaginação 1

A imaginação estava perra e pôs-lhe um bocadinho de óleo.

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08 dezembro 2013

Carreiras

No bairro vivia um mafioso e toda a gente lhe tinha medo. Toda não: alguém, presumivelmente do sexo masculino, gostava de mostrar a sua destemidez (ou inconsciência, quem sabe?) fazendo uma mijadela nas paredes da vivenda. Esta ousadia (ou inconsciência, não se sabe) ocorreu uma e outra vez, até ao dia em que o capo, farto do gozo e da falta de respeito, resolveu contratar um sniper e lhe fez a seguinte recomendação: «Gostas de ópera?... Não interessa. Já ouviste falar dos castrati?... Parece que já não existem... Se calhar vamos fazer com que retomem ao palco, capice?...
Os anos passaram e o sniper reformou-se. Um dia, resolveu ir à Ópera. No final do 1.º acto, estava comovido e pensou: «Quem diria que contribui para uma  carreira...».

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07 dezembro 2013

Manual da etiqueta

_ Minha senhora, V. Vernáculo. Muito prazer.
_ Não posso dizer o mesmo, c******!
_ Não tive intenção de ofender. Em todo o caso, as minhas desculpas. Em que posso ser útil?
_ Deixa-te de m***** e dá-me a chave do apartamento, mas é, que me quero ir deitar.
_ Como decerto compreenderá, primeiro terá que se identificar...
_ Identificar?!... Não me conheces, seu c**** da m**?!...
_ Não estou a ver, minha senhora. Mas se quiser fazer o favor de me dizer, agradeço.
_ Sou a condessa Púdica. Diz-te alguma coisa... ou é necessário fazer-te um desenho, ó meu pacóvio?
_ Não vai ser necessário, obrigado. Já a reconheci. Dos Púdicos, do Norte, se não me engano?
_ Do Norte?!... Tu não lês as revistas, meu atrasado mental?!
_ De facto, não. Mas, a partir de agora, vou procurar corrigir isso.
_ Pois vê se te despachas, que eu não estou p'ra estas m*****!
_ Vou tentar, minha senhora. Prometo. Mas sabe uma coisa?
_ Diz lá, ó palhaço!
_ Com todo o respeito: Vá-se f****!

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Registo

_ Nome Próprio. Muito prazer.
_ Apelidos. Igualmente.
_ E agora, que se segue?
_ Depende dos pais, do contexto e do estatuto.
_ Há alguma norma?
_ Duas, pelo menos: a civil e a militar. Mas pode haver mais.
_ E a ordem, como é?
_ Nome próprio mais apelidos, dois ou mais.
_ Na tropa também?
_ Não, aí é ao contrário.

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Argumento para filme

Os óculos de massa, estiloWoody Allen, rebelam-se contra os seus utilizadores e criam uma sociedade libertária, sem lentes de contacto e adepta do amor livre. O guru vive em concubinato com dois pares de óculos fêmeas, uma de estilo Yoko Ono, e outra de estilo Janis Joplin, tentando procriar um novo ser de óculos, tipo intelectual mais para a frente. Um dia, os óculos do guru apercebem-se de que a vida não faz sentido e constrói uma máquina do tempo, indo parar ao convento de O Nome da Rosa, de Umberto Eco, onde se torna amigo das lunetas usadas por Sean Connery nesse filme. A máquina do tempo descontrola-se e os óculos de massa e as lunetas do Connery são projectados para um futuro de realidade 3D, dominado por um vilão com uns óculos estilo Pedro Abrunhosa. Os óculos de massa estabelecem uma aliança com os seus arqui-inimigos, as lentes de contacto, e derrotam o vilão, numa cena final apoteótica e feérica, tipo foguetes de noite de S. João.

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Vozes

Invejavam-lhe a criatividade. A quem o interrogava, respondia: «Ouço vozes e são elas a minha matéria-prima». Um dia, deixou de criar. Passados anos, alguns anos, perguntaram-lhe porquê e respondeu: «Fiquei surdo».

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Concordância

_ Não gosto de períodos longos.
_ Também eu.
_ Gosto de frases breves.
_ Eu também.
_ É jornalista?
_ Não. Sou aluno.

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01 dezembro 2013

Autor

Escrevia como um realizador de cinema, pois começava com «Acção!» e terminava com «Corta!».

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