Apurada...?

_ Qual é o principal defeito da escrita?

_ Não é crua!...

_ E a maior virtude?

_ Tem pouco sal.

Às três pancadas IV

Acabou-se!... e Portugal regressa a casa, derrotado pela Bélgica (1-0) nos oitavos do Europeu. Fica uma sensação clássica de vencido, mas não convencido, mas o resultado é o que é, ponto. Mais do que carpir as mágoas, fica a constatação de que somos pouco assertivos quando o podemos e devíamos ser, pecha antiga, que se julgava ultrapassada... E, quando damos por isso, já não vamos a tempo...

Grave(idade)

O juízo saiu-lhes preciso e lapidar, daqueles que se podem colocar na lapela: era um grave! Conhecedor da terminologia e do léxico geracional, o epíteto não era propriamente abonatório... Se pudesse ter escolhido, obviamente que teria preferido um agudo, mesmo correndo o risco de partir alguns vidros ou janelas, se era aceitável a sua proposta...? Era claro que não, retorquiram, só havendo uma decisão face a isso: em vez de grave, passava a duplo grave!!! Em termos de escala de gravidade, rebentara-a! E sem recorrer ao agudo...

Copyright

Apercebera-se de que algo não estava bem quando se levantou do selim e tentou dar uma sprintadela estrada fora, o que não conseguiu... Tendo que parar, constatou que o pneu da imaginação estava em baixo, possivelmente por um furo. Logo por azar, tinha-se esquecido da bomba... Olhou em redor e procurou uma oficina. Teve sorte, dessa vez, e encontrou uma perto do sítio onde parara. Iria ver se lhe resolviam o problema, fazendo o trajecto que o separava a empurrar a bicla.

_ Boa tarde.

_ 'Tarde.

_ Tenho um pneu em baixo. Pode ver do que se trata?

_ Mostre lá!... Tem o pneu em baixo.

_ Sim... isso já tinha visto... Não sei é porquê...

_ Pode ser da «cambra» ou do pipo. Duma ou doutra. Já fez o teste? 

_ Não. Como é se faz?

_ É fácil: enche-se a «cambra» e mergulha-se num alguidar. Se fizer bolhas, está furado ou a vazar. Deixe cá ver... Do pipo não é... É da «cambra»! Quer que lhe ponha um remendo...?

_ Pode ser, sim. Mas não vai afectar a imaginação...?

_ Ná! Nem nota. São 250 euros!

_ 250 euros!?... Mas isso custa mais do que a bicicleta nova!!!

_ O que é que quer?!... Não vê que o remendo é de autor!?...

 

Epígrafe

Olhou para a epígrafe com um olhar curioso e disponível. Quanto mais olhava, mais desconfortável ficava, desconhecendo se seria do torcicolo se da interpretação… Talvez se a mudasse de sítio e de contexto… Voltou a olhar: desta vez, parecia satisfeito… Olhou para casota e sorriu, agradado com a nova localização e significado: Cuidado com a epígrafe!

Quinar

Fizeram-lhe uma proposta para quinar. Prometeu que iria analisar, mas que agora não tinha tempo. Perguntou qual era a validade da proposta e se tinha vantagens caso decidisse dentro do prazo. O vendedor disse que sim, mas ia confirmar com o supervisor, que aguardasse um pouco e não desligasse. Quando chegou a resposta é que se apercebeu de que a hipótese de bingo não estava contemplada, apenas a quinadela. Em contrapartida, o caixão era oferta.

Às três pancadas III

E ao terceiro jogo, com a França (2-2), fez-se luz, a dos oitavos de final, tendo-se corrido o risco de escangalhar o interruptor, de tanto abrir e fechar, ora estávamos eliminados, ora em primeiro, em segundo ou em terceiro... Para não desmerecer a fé, nada como ficar no mesmo lugar na fase de grupos que nos deu o título em 2016, nunca se sabe se isto não é importante, como se verá no jogo seguinte... Até lá, um treino de figas ajuda a desentorpecer...

(Leve)dando

_ Quantas carcaças deseja?

_ Carcaças!?... Não tem bola(s)...?

_ Só às 16 horas, mas as mesas já estão reservadas...

_ Não, pão, bolas: de mistura, centeio, milho, trigo, malte, beterraba, sementes, etc... Bolas, mas de pão.

_ Desculpe... Percebi mal. Inteiras ou fatiadas?

_ Fatiadas!?... Não. Inteiras, claro! Tratam-se de bolas. De pão, claro. Inteiras, pois claro! Até porque secam menos...

_ Já experimentou o gota a gota...?

Às três pancadas II

E ao segundo jogo, o aparecimento de uma velha conhecida: a calculadora! Então, as amigas e os amigos pensavam que a tradição já não era o que era...? Claro que não pensavam, estamos a brincar com coisas sérias ou quê...!? 

Para as estatísticas, Alemanha 4 - Portugal 2. Sobre a pergunta que preocupa os conterrâneos pátrios, adaptada à época que agora se inicia, a dos exames nacionais, não se duvida de que o seleccionador tenha estudado a Alemanha, mas que se suspeita de que o estudo não tenha sido bem feito, hipótese 1, ou que a matéria não saiu no exame, hipótese 2...

Ticket

Todos os dias, o homem aparecia naquela terra com duas casas (uma terceira construía-se, entretanto) e uma igreja. Ninguém sabia quem era e porque aparecia, oscilando as razões entre o ser uma promessa ou o gosto (inexplicável) pelo lugar ou a localização... Perguntado, referiu que era pelo bilhete: só dava até ali.

Às três pancadas

Não nos deixemos iludir pelo título, que pode ter como significados «atabalhoadamente» e «estravagantemente». Faz-se já um alerta quanto ao significado, que privilegiará, se possível, o de «estravagantemente», por ter mais patine, e estará mais de acordo com o que se verificou na estreia de Portugal no Europeu 2020, vencendo a Hungria por 3-0. E, agora, a explicação: toda a actuação e prestação da selecção neste jogo foi o corolário  de uma forma de ser muito nossa, que é a de complicar uma coisa que é fácil, mas em que não acreditamos ou resolvemos enfeitar, por via das coisas, não vão acusar-nos de não termos feito tudo e mais alguma coisa (excepto o necessário, às vezes), mas dando a ideia de que está tudo mais ou menos controlado, não vai haver azar, é só esperarmos mais um pedaço e etc. e tal, só mais um toque aqui e outro ali... Até ao momento em que as sirenes começam a tocar e as arritmias começam a aparecer, ai Jesus!... ai Nossa Senhora!... Tira este, põe aquele... Não, espera, só mais um bocadinho... Como é que estamos de profundidade e de sistema táctico...? Calma!... Calma!... E porque não o bilhar, às carambolas, uma duas, três, aqui vai tudo o que temos... Já está!... Como se viu, era fácil.

Minuto 43

Por volta do minuto 43, o jogador cai. Inanimado. O que aconteceu...? A câmara faz o relato das emoções nos rostos e nos corpos: a incredulidade, o espanto, a impotência, o receio, a angústia, o incerto, o medo... O relógio continua, tic, tic, tic... Passaram-se cerca de 15 minutos... Pesados... Longos...tic, tic, tic...

Sem brasa

Hoje, não há nada. De escrita, note-se, mas não aplicável à feira nem ao supermercado, onde as promoções continuam, ou talvez não. Já experimentou as sardinhas...? E os pêssegos...?

Coreografia

A frase saiu-lhe da boca com a convicção dos crentes: «Matar, nem uma formiga!». E logo o demonstrando, executando uma coreografia arriscada para evitar pisar o que se percebia ser uma formiga na sua lufa-lufa em prol do formigueiro... Concluída a performance de bailarina, muito apreciada pelas companheiras e transeuntes anónimos, foi audível o berro que deu, agarrada à cintura, perra de anos, acompanhada por 'ais' e 'uis', sinalizando aquilo que um olho clínico encaixava na gaveta das distensões e afins... A formiga não se apercebera.

Impasse(iu)

Após muitas horas, acordaram sobre a necessidade de um código. Menos jovem, ela sugeriu o morse. Mais miúdo, ele contrapôs o sms. Pesados os traços, pontos e a amputação de palavras, ainda não chegaram a consenso.

No limite

A chamada do cirurgião impusera-se. Vendo que a infecção alastrara, pediu um agrafador. Da próxima, seria decisivo garantir a compatibilidade entre pontos...

Tele(a)grama ortográfico

!... (suspirara)

?... (interrogara)

. (terminara)

Aforismo

Aponte ao infinito e dispare, pode ser que acerte... Mas não se esqueça de piscar o olho.

Caçarreta

Olhando para trás, a atribuição do prémio fora justa e merecida. Não deixava de ser irónico que a consagração fosse contrária a todas as normas e preceitos da pontaria, habitual e desejavelmente para a frente, e tornasse lendário quem não era capaz de o fazer, mesmo que com boas armas e conselhos avisados, mas um caso perdido no que a essa competência dizia respeito... Talvez por isso, a única hipótese foi a de se ter que recorrer a um estratagema clássico, complementado por uma genuína amizade e ao coração mole e gozão de companheiros de jornada, colocando a peça, já morta, no local em que ainda seria suposto dar pinotes ou ziguezagues pelo mato fora... Para a cereja em cima do bolo, o comentário do caçarreta, um clássico: «Nem se mexeu!». Pudera!...

Se der corda aos sapatos, o que é que posso esperar?...

...Que não se atrasa e que as meias-solas ainda estão boas.

Desconcertadamente

Era de dia e não adiantava procurar uma luz. Sendo uma evidência, o consolo era pouco... O inquérito espontâneo, solução de recurso sempre recomendável, sobretudo estando-se na rua, parecia-lhe inexequível, no entanto, avaliando a indumentária e a expressão facial dos transeuntes, claramente formatadas para uma ida à praia ou uma reflexão numa esplanada ou restaurante. Pensando bem, a dúvida que o assolava nesse dia, de matriz existencial, mas a apontar claramente noutra direcção, algures entre a zona da parvoeira e o beco da racionalidade, dizia-lhe que nesse dia não, que experimentasse mas era as sardinhas...

É mais caro

_ Visto assim, o que é que me diz...?

_ À vista desarmada, pouco. Com os óculos, receio que seja pior...

_ É tão mau, assim...?

_ Sem conserto, parece-me... Tem garantia?

_ Não sei... Talvez. Não me lembro...

_ Se aceita o meu conselho, deite tudo fora!

_ Mas, mas... Trata-se da minha vida!

_ Compreendo... Mas é o melhor, acredite...

_ E não se aproveita nada...? Nem um pedacito...!?

_ Podia dizer-lhe que sim, mas era escusado... Com o tempo, as infiltrações, a falta de peças..., estava a enganá-lo... Vá por mim, deite tudo fora e arranje uma nova (ou, pelo menos, mais actual, com outro encaixe). Quer experimentar uma que tenho ali, na arrecadação?

_ Não sei... Tem valores...?

_ Tem, mas é mais caro!...