30 agosto 2011

Culpado

As conclusões dos profilers coincidiam: era um serial killer... de mosquitos!

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29 agosto 2011

Navegador

Já não era a primeira vez que lhe afiançavam a genealogia: «É certo e seguro» - diziam-lhe - «Estava confirmado e reconfirmado por manuais e crónicas insuspeitas» - rematavam, para o sossegar e incentivar. Convenceu-se, finalmente. Com uma linhagem tão respeitável, não seria por ele que essa consanguinidade ficaria envergonhada ou despeitada. Que diabo, se os seus ancestrais tinham andado na companhia do Gama e do Cabral!...
A água, aberta à sua frente, predispunha-se e convidava-o a aceitar esse chamamento, irresistível e encantório. Seria, pois. Afoitou-se! Embarcou. Pouco a pouco, lentamente, ciente e crente nos bons auspícios, deixou-se embalar e fez aquilo que dele se esperava... pedalar na gaivota!... Era um navegador!...

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Dois registos

 No jogo da Supertaça entre o Barcelona e o Porto, que o Barça ganhou bem, por 2-0, dois registos se destacam, de forma distinta: o histórico, que anota os dados do jogo (ano, local, estádio, equipas, resultado) e o emotivo, que é pessoal e irrepetível, no campo ou fora dele. E quanto a este, ficam as intervenções de Messi nos dois golos, quer no que marcou, quer no que deu a marcar. São momentos como esses que ajudam a estabelecer a distinção entre os dois registos de que se falou no início, um rotineiro e burocrático e outro imprevisível e mágico.

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25 agosto 2011

Surreal

«Surreal» é a palavra que me veio à cabeça, à hora do almoço, quando via as reportagens dos acontecimentos na Líbia, em Tripoli, mais concretamente. Estavam os repórteres portugueses a entrar nos telejornais, em directo, primeiro Cândida Pinto, da SIC, e posteriormente Paulo Dentinho, da RTP, quando se começam a ouvir disparos na direcção do hotel de onde estavam a emitir - do terraço, parecia-me - e compreensivelmente procuram uma posição mais resguardada, continuando a fazer a reportagem deitados trás de um muro que lhes fornecia alguma protecção. O desconforto e o receio eram constatáveis nos jornalistas e o ar atarantado dos pivots, em Lisboa, também, não sabendo muito bem que pose ou atitude deviam manter. Para além destes protagonistas, outros como eu, à espera do almoço ou já almoçados, a olhar para o que se via e apreendia no ecrã, resguardados na distância e nos assentos. A tensão era real para todos os envolvidos, mesmo para os dos assentos, que também se sentiam desconfortáveis, fosse pelo perigo que adivinhavam para os repórteres - os tiros e a cadência dos tiros ouviam-se bem e não eram encorajadores... - fosse pelo ar assarapantado dos colegas em Lisboa. Para compor mais o ramalhete, então, durante o directo de Paulo Dentinho, igualmente na posição deitado, continuando a ouvir-se os tiros, eis que passam umas pernas a andar, obviamente sinal de posição erecta, que recebe um comentário elucidativo do jornalista: «Alguém aqui a passar»... Por momentos, parecia uma cena extraída de um filme dos Monty Python... Real, mas surreal...

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24 agosto 2011

«Aumentar»

Haveremos sempre de nos lembrar das personagens ou dos protagonistas que se tornaram conhecidos pelas suas performances em «aumentar» os respectivos dons, merecimentos ou as (in)verosimilhanças dos factos ou descrições, que habitualmente eram mimoseados com um aviso, mais sério ou mais jocoso, que se exprimia assim: «Não aumentes!». Nesta acepção, «aumentar» aparece como sinónimo de falta de rigor ou de bazófia, recuperando um sentido para mim já não decifrável ou audível há muito tempo, encontrado na leitura de uma caixa num jornal (no i, se não me engano), dedicada, precisamente, às diversas significações do verbo «aumentar».

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22 agosto 2011

Real ou Barça?

Também em Portugal, os desafios entre o Barcelona e o Real Madrid são seguidos de forma especial, sobretudo desde que o treinador Mourinho e os jogadores portugueses, com Ronaldo à cabeça, passaram a integrar a equipa madrilena. Mais do que uma mera preferência quanto ao clube, semelhante a tantas outras, pelo menos nos campeonatos mais conhecidos, a «filiação» clubística dos portugueses pelo Barça ou pelo Real é assumida, parece-me, como uma extensão da nossa particular forma de estar e de ser, sempre contraditória, que na sua expressão mais elementar se reflecte pelas manifestações de «amor-ódio» em relação à prestação e protagonismo dos nossos concidadãos ligados ao pontapé na bola, sobretudo, transportando para outros espaços ou dimensões alguns dos entusiasmos com o futebol e as rivalidades nacionais, em que avultam, estou certo, as rivalidades entre o Benfica e o Porto, na sua maioria. Por isto, para os portugueses interessados qualquer jogo entre o Barça e o Real ultrapassa as situações do jogo e os lances de bola corrida ou de bola parada. Ser pró Madrid ou gostar do Barça pode abarcar posicionamentos diversos na relação que se estabelece com o nosso país ou com Espanha, acerca da forma como se apreciam ou valorizam os espectáculos futebolísticos ou, simplesmente, como se endeusam os craques ou os virtuosos da bola. Para mim, a opção é fácil e clara: Barça e Messi, sem ostracizar o Madrid, contudo, e muito menos os compatriotas que para lá andam, que são do melhor do que há. No entanto, o futebol deste Barcelona é mais a meu jeito e gosto. Se calhar, por os actuais jogadores do Barcelona o interpretarem de uma forma mais bela ou romântica, pelo menos naquilo que é a arte do passe e repasse e na magia de Messi. A bola e o futebol não precisam de mais nada.

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18 agosto 2011

Foi por pouco...

Planeara tudo com pormenor. A estadia, a logística e as ementas. Tudo pensado com detalhe para evitar sobressaltos. Apesar deste acautelar, algo parecia não estar bem. Sobressaltou-se. Pela primeira vez, sente abaladas as suas confiança e capacidade de previsão, agora que tinha confirmado a inexistência do documento (preciosíssimo!) que tinha elaborado com tanto cuidado. Vasculhou e vasculhou. Nada! Todo o projecto de uma estadia tranquila parecia colocada em causa. Respirou fundo e procurou acalmar-se. Buscou de novo, agora mais determinado do que nunca. Teve sorte e encontrou o documento que procurava. Felizmente! - reconhecia para si próprio. Contudo, o papel que procurava - e que encontrou - aparecia-lhe de uma forma que não estaria à espera, quase inviabilizando a sua utilidade: cortado e recortado, despejado num saco cujo destino próximo seria o caixote do lixo. Não desanimou, porém. Com cuidado, fazendo apelo aos ensinamentos que tinha visto nas séries e filmes de acção, juntou pacientemente os pedaços e pedacinhos, buscando a lógica da sua anterior agregação. Teve sorte. Com paciência e perseverança, conseguiu reconstrui-lo. Sorriu.
Olhou em volta e pôde anunciar:
- Hoje, o almoço vai ser o que estava previsto. Encontrei o papel com as ementas!



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08 agosto 2011

Gianni e as mulheres

Talvez o que me tenha motivado a ver o filme «Gianni e as Mulheres» tivesse sido uma memória e um desejo de reencontro com uma certa tendência de filme italiano, se calhar abusivamente generalizada,  que estabelece uma relação próxima com a comédia e o humor. Se era esta a intenção à partida, não sei qual terá sido o resultado à chegada.
Sendo um título sugestivo, é com a pronúncia do original, Gianni e le donne, naquela musicalidade própria do italiano, que melhor se apreende o cerne da sua história, aquele universo relacional de Gianni, o protagonista, e as diversas mulheres que com ele se cruzam, umas mais próximas e/ou familiares e outras mais distantes e/ou inalcançáveis, cenário complexo de relações onde perpassam o compromisso e o desejo, o querer e o dever ser, originando tensões muitas vezes inconciliáveis, dificilmente compatíveis com muitos padrões de referência que pontuaram a criação e a formação vivencial de Gianni e dos seus companheiros e camaradas do género masculino. Para Gianni, o seu dia-a-dia está a milhas de distância do que vê ou julga que outros como ele fazem, apesar dos esforços do seu amigo e conselheiro, levando-o não poucas vezes a questionar a sua maneira de ser e de sentir, que considera cada vez mais desajustada em relação ao mundo com que lida e se defronta, sobretudo o de repensar o papel do «macho» maduro pelos anos e por uma existência (julgada ou considerada) anódina...

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07 agosto 2011

Endojar

Duas mulheres, uma mais velha e outra mais mais nova, atentam no cozinhado, observadas por um homem, nem mais velho nem mais novo.
Diz a mais velha:
- Agora, «endoja-se» o molho.
- «Endoja-se»?!... - surpreende-se a mais nova.
Ao contrário da mulher mais nova, para o homem nem mais velho nem mais novo a palavra não era estranha, se bem que já não ouvida há muito tempo e, muito menos, por si sequer pronunciada. Foi como se um clarão se abrisse, fechado que estava na sua memória afectiva e lexical. Então, e só então, o significado de «endojar», i.e. «agitar um líquido dentro de um recipiente», se aclarou, inclusive acompanhado de uma reminiscência sonora (essa mesma, desse latejar num recipiente, de vidro ou de plástico, como um marejar de ondas). Curiosamente também, na pesquisa que fez (e que as hiperligações na Internet lhe possibilitam) ficou a saber que «endojar» talvez seja uma adaptação ou uma corruptela de um outro termo, «endejar», talvez uma outra forma de dizer ou querer exprimir o mesmo «endojar» das coisas...

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