30 agosto 2015

Hipótese(s)

_ Tem hipóteses?
_ Vou ver. Talvez tenha alguma coisa, mas tenho que procurar. Está com pressa?
_ Nem por isso... posso esperar. E amendoins?...
_ Amendoins não tenho. Tremoços servem?...
_  Servem, mas só se tiver cerveja. Tem?...
_ Tenho. Nacional ou estrangeira?
_ Não sei... Olhe, traga as duas!
_ E as hipóteses, como é que as quer?
_ Estão geladas?... Se estiverem muito, não quero.
_ Não, estão boas. Sirvo já ou acaba as cervejas?
_ Talvez depois... São académicas?
_ Claro! Com selo de origem e tudo. Comprei-as ao vendedor que por aqui passou, fez ontem quinze dias.
_ E ainda estão boas?...
_ Isso, sabe... é como os melões: tem que as abrir! A mim parecem-me bem... mas é como em tudo, nesta vida...
_ Parece que não está muito confiante...
_ É uma hipótese.

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27 agosto 2015

Livro

Crónica dos Bons Malandros, de Mário Zambujal.

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Cantoria

A cantiga dizia-lhe para atirar o pau ao gato. Como se julgava com boa voz e pontaria fê-lo, mas falhou. Mesmo assim, foi preso e levado a tribunal. Quando lhe disseram para apresentar alguma coisa em sua defesa, desafinou.

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24 agosto 2015

Culturas

Gostava de avançar para as coisas com um mínimo de organização. Reconhecia que isso lhe dava mais garantias e tranquilidade, mesmo que demorasse mais tempo e tivesse que gastar mais recursos. Mas sem exageros, isso também era certo. Não se surpreendeu, por isso, quando decidiu mandar analisar o imaginário e verificar se ele era fértil e, se o fosse, quais seriam as espécies, autóctones ou exóticas, que melhor se lhe adaptariam. Quando chegaram os resultados já suspeitava, mais ou menos, quais seriam as conclusões, normais na maioria dos parâmetros, talvez com uma pequena distorção no colesterol ou no sal, nada de preocupante, contudo, e sempre susceptíveis de correcção. Foi o que se verificou, mas com a agradável surpresa de que, afinal, o colesterol e o sal estavam dentro dos valores normais e de que poderia fazer uma mistura de autóctones e exóticas, com predomínio das primeiras, no entanto.
Iniciou-se com umas alfazemas e umas sardinheiras, fazendo também uma incursão pelo mundo das aromáticas. As exóticas ficariam para mais tarde, como já estava planeado, e dariam um toque mais cosmopolita ao imaginário, que bem precisava.
Eram estes os planos iniciais, rapidamente transformados noutros, que a realidade é sempre mais fértil e complexa do que o imaginário. Perguntar-se-á por que é isto acontece, mas a resposta é sempre a mesma: não se sabe. Talvez daqui a algum tempo se venha saber mais alguma coisa, queiram as empresas investir e as universidades investigar, mais as primeiras do que as segundas, tradicionalmente mais conservadoras e sempre a tinir.
Apesar de absorto nesta reflexão não se encontrava alheado do mundo, tendo ouvido chamar pelo seu nome. Apurou o ouvido e confirmou se era mesmo o seu (não fosse o diabo tecê-las, e ele costumava tecê-las bem…), pois se não fosse daria origem a uma situação confrangedora, porque as pessoas não gostam nada de abdicar do seu nome ou de que ele seja apropriado, mesmo que inadvertidamente. Havia que ter cuidado e muito. E isto para não falar dos gestos ou das cores, matérias que também exigiam um tacto e cuidado enormes, muitas das vezes não dando o gesto com a cor ou vice-versa. E em matéria de cuidado já estávamos no segundo aviso, que também podia ser colorido como os da protecção civil.
Para não perder o norte, coisa que acontece com frequência a quem não tenha a bússola calibrada, havia que fazer um ponto de ordem nesta fase do texto, artifício aprendido nas assembleias de toda a ordem, com predomínio para as de condomínio, mas onde se podem inscrever, por mérito próprio, as reuniões gerais de alunos (RGA), as das associações sindicais (versão sindicato ou versão confederação), as de clubes de futebol e as de partidos políticos. Saber em qual delas se aprende melhor o uso e a eficácia do ponto de ordem é uma das perguntas que, por moto-próprio, se deve inscrever no universo das «de um milhão de dólares», fazendo-se a conversão para euro e proporcionando um exercício prático para melhorar a nossa relação com a matemática, esperemos que ainda a tempo e nesta ou noutra vida…
Feito o ponto de ordem (tipo crochet, segundo uns, de cruz, segundo outros), os dados estavam lançados e saíra o seis, popularmente conhecido por meia-dúzia. Para a dúzia teríamos que esperar um bocadinho mais, mas isso só iria acontecer mais tarde, no supermercado e com os ovos. Até lá, ficaríamos pela meia-dúzia e pelo chamar do seu nome, que se confirmara ser o seu. Não havia dúvidas.

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23 agosto 2015

Agridoce

Apanharam-na a fazer marmelada e acusaram-na de atentado ao pudor. Não se agachou e defendeu-se, atirando-lhes com uns frasquinhos de geleia. Quanto ao marmelo, porém, nem vê-lo.

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Fui ao Norte e ao Sul e estou a pensar avançar até ao Centro. Posso considerar-me um explorador?

Se não colocou marcos, não.

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22 agosto 2015

Dar a volta

Deu a volta ao problema. Não foi fácil, ao princípio, pois tinha o cordão de problema enrolado à volta do respectivo pescoço. E a dificuldade residia precisamente aí, no «respectivo pescoço», expressão que estava impregnada de subjectividade e duplicidade de sentido, características que tornam difíceis quaisquer manobras de dar a volta ao problema, a maioria das vezes só resolúveis com cesariana. Dessa vez não foi necessário, bastando e tendo sido suficiente a administração de soro. Apenas. Nasceu com 3,5 kg e 45 cm de altura. Os pais encontram-se bem.

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Longe dos Homens

Numa paisagem árida, agreste e omnipresente, seres humanos enfrentam-na e enfrentam-se: cenário e enredo típicos de um western. Desta vez, transposto para a realidade da colonização francesa da Argélia. Mas continuamos a falar e a reflectir sobre os eternos problemas e dilemas do ser humano: a tradição e o moderno, a lei e a justiça, o certo e o errado.

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Jackpot

Foi às nuvens e não pagou nada.

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11 agosto 2015

Mr Holmes

E se, para além do que se sabe, leu ou ouviu, Sherloch Holmes fosse uma pessoa concreta, sujeita ao uso e ao desgaste do tempo, perdendo, progressivamente, as suas capacidades e brilhantismo? Em suma, alguém concreto, com perda de memória e artroses nos ossos, remoído pelo remorso e pela nostalgia? Parece impossível, não é? Mas real, pelo menos no filme, com um papelão para o protagonista e aquela sobriedade característica nos filmes ingleses de época. A ver? Elementar.


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10 agosto 2015

O nadador


Quando lhe disseram que teria que nadar contra a corrente, ficou um pouco preocupado. Não seria um grande nadador, mas ainda se desenrascava. Sobretudo em bruços, onde quase tinha batido um recorde de meia piscina de 25 metros feita em menos de 2 minutos. Em crol também não ia mal, desde que não batesse muito com os pés. Já de costas e em mariposa é que as coisas eram mais complicadas, pois continuava a não conseguir diferenciar os estilos. Subsistia uma dúvida, no entanto, ocasionada por uma constatação que lhe parecia óbvia: naquele emprego não conseguia localizar onde é que ficava a piscina para se nadar contra a corrente, tendo procurado no manual de acolhimento se essa informação lá constava, mas, até agora, nada, embora também só tivesse lido até à página 5 e o manual tivesse 472. Talvez perguntando aos colegas lhe pudessem dizer, mas primeiro teria que estabelecer alguma relação de cumplicidade para que não desconfiassem que, em matéria de nadar contra a corrente, só se sentia razoavelmente confortável em bruços e crol.
Suspeitava que a existência de piscinas no emprego para se nadar contra a corrente devia ser uma invenção dos americanos, tendo em conta o número de medalhas que ganhavam nos campeonatos. Não deixava de ser surpreendente, contudo, pois se a invenção tivesse sido nossa a piscina seria, obviamente, a favor da corrente, de preferência só num sentido e a descer. Chegados ao fim, haveria um mecanismo qualquer, tipo bóia, que nos elevaria e manteria a flutuar até que alguém nos fosse lá buscar para outra descida. Eram formas distintas de conceber as piscinas, está visto, mas ninguém o conseguia convencer de que a nossa forma não fosse a mais adequada. Se calhar teria a ver com o fuso e com o tipo de organização, pois toda a gente sabia que nós éramos mais pelo modelo micro e os americanos pelo macro, embora os americanos aparentassem ganhar mais medalhas, devido à globalização e ao facto de o inglês estar mais disseminado.
Mas ainda havia tempo, agora que estava na página 10. Decidiu arriscar, mesmo assim, e resolveu perguntar se já era conveniente começar a nadar contra a corrente, pois (pelas suas contas) já tinha feito a digestão. Disseram-lhe para não se preocupar (don’t worry, em americano). Foi o que fez e deu mais um mergulho. A favor da corrente. Mas só desta vez.

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As dúvidas assaltam-me muito. Devo apresentar queixa?

Só se forem metódicas.

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09 agosto 2015

Não incomodar

O filme não será, provavelmente, um ganhador de prémios e de memórias apaixonadas. Já a situação que retrata, um pequeno momento de sossego e privacidade para usufruto de um pequeno prazer, neste caso do protagonista (mas que pode ser qualquer um de nós), aí sim, a coisa pode levar-nos a recordações ou desejos mais entusiasmados. Mesmo que possa ser contra a corrente, o certo é que a vontade de usufruir esse pequenino prazer em sossego, qualquer que seja, mas importante para quem o escolhe, é um dos direitos a que se costuma dar pouco valor, sobretudo se ele se caracterizar por alguma ou bastante tranquilidade, em ambiente de recolhimento. E isso colide, frequentemente, com o modelo de fruição que passou a dominar, que é o da agitação e da movimentação permanentes, num saltitar permanente de festas e festinhas, de voltas e voltinhas, de amizades e amizadezinhas. Não me incomodem! E, já agora, levem as pipocas convosco.

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08 agosto 2015

O imaginário


Não era muito dado às compras. Nesse dia, porém, a publicitação de uma hasta pública de imaginários chamou-lhe a atenção. Já há muito tempo que andava com vontade de comprar um, desde que fosse em conta e estivesse bem localizado, sem precisar de muitas obras. O que tinha já era um bocadinho pequeno para as suas necessidades e um imaginário de férias caía sempre bem e podia ser um objectivo para a reforma.
Como o jogo de dominó tinha sido desmarcado, por causa de um dos habituais parceiros ter sido escalado para intervir numa conferência sobre o estado do mundo, que ocorria de quinze em quinze dias, habitualmente (excepto em agosto, por via das férias, e na 2.ª quinzena de setembro, por causa das vindimas), achou que a oportunidade podia vir a calhar e sempre o ajudava a passar o tempo. Por isso, lá foi assistir à hasta pública.
Quando lá chegou, ficou um bocadinho assustado quando se viu rodeado por muita gente, de todas as cores e feitios, o que previa que a sessão viria a ser animada, concluindo ele que, das duas uma: ou o mercado dos imaginários andava muito concorrido ou esta multidão não tinha mais nada que fazer, aterrando ali como podiam ter aterrado noutro sítio qualquer. Teria que ver como as coisas correriam. Se não lhe agradasse, ia mas é aos saldos de verão das grandes superfícies, que estavam a bom preço e ainda lha permitiam comprar meia dúzia de melões, que lhe fariam chegar a casa, acondicionados e prontos para marcharem com umas tirinhas de presunto.
Ia preparado para fazer uma licitação ou outra, dependia do preço e das condições de pagamento, mas tinham-no avisado que só a dinheiro ou por multibanco, dependendo esta forma de pagamento, contudo, de se conseguir fazer ou não a ligação. Quanto a cartões de crédito, nem pensar! Mesmo assim (e já que ali estava) dispôs-se a ver o que se mostrava e ouvir o que se mandava por aquela gente, que sumariamente dividiu em dois grandes grupos: o dos imaginários sérios e o dos imaginários pândegos.
Para sua surpresa, o grupo dos imaginários sérios era mais numeroso do que o dos pândegos, o que o levou a concluir (uma mania que tinha) que a realidade do imaginário sério estava não só muito bem representada como era florescente, atendendo ao número de placas de licitação que diziam, a letras redondas, «escritor», «romancista», «novelista», «poeta», «crítico», «intelectual», rapaziada da pesada, portanto, com quem era avisado não nos metermos a licitar, por manifesta incapacidade de cabedais, pilim ou graveto, isto para não entrarmos em considerações no âmbito do tipo de imóvel e do número de assoalhadas, negócio que para ele não era atractivo pois, como se dissera no início, o que lhe interessava era um imaginário mais com características de T1 do que de mansão ancestral, tradicionalmente localizadas no campo, ainda para mais, o que contrariava um pouco o seu sonho de poder abrir uma porta, andar dois passos e dar um mergulho no mar, voltando depois para casa. Era assim que imaginava as coisas, pelo menos no Verão. Nas outras estações logo veria como seria, mas a parte do mergulho no mar era capaz de ser difícil de concretizar no Inverno, excepto talvez no 1.º de janeiro, mas que não contava, verdadeiramente, pois já era tradição. Restava-lhe, pois, ficar-se pelo grupo dos imaginários pândegos.
Era um grupo curioso, este dos imaginários pândegos. Sempre tesos, não deixava de ser surpreendente encontrá-los num lugar como aquele em que se encontravam. A falta de guito não parecia preocupá-los, antes os entusiasmava mais, por paradoxal que pudesse parecer. Habituados a nada ter e a nada seguir, para além do seu imaginário, compraziam-se em idealizar os cenários em que isso não constituía qualquer problema. Unia-os uma anarquia quase infantil, pródiga de eventos e factos mirabolantes e estonteantes, numa desbragada euforia e risível encanto. Com as consequências que, muitas vezes, se adivinhavam à partida: entretidos na paródia (ele incluído), como sempre, deixara fugir a oportunidade que chegou a aparecer nessa hasta pública, o lote 395, aquele mesmo com as caracteristicazinhas que se desejavam e que desejava… arrematado por um pato-bravo das residências literárias…
Olhou para o relógio e viu as horas. Virou-se para o seu grupo, que entretanto adoptara, e perguntou se alguém queria ir ao happy hour da tasca ali perto. Todos se riram e disseram que sim, que era fixe. Todos?!... Não, têm razão: faltava um. Mas esse era gaulês…

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Lição

_ E se lhe desse uma lição?
_ Assim, sem mais?
_ Claro!
_ Não seria melhor pagá-la?
_ Não. Dê-lha!
_ E se não for bem aceite?
_ Dê-lha na mesma!
_ Gostava de levar as coisas a bem... acha que é possível?
_ Possível é, mas não aconselhava...
_ O que é que sugere?
_ Dê-lhe uma lição! já disse.
_ Não vai haver melindre?
_ É pouco provável. Até lhe agradece!
_ Continuo com dúvidas... E se for um aluguer?
_ Francamente!... Dê-lhe a lição, porra!
_ Está bem, já que me obriga... Mas só vai ser de 45 minutos!

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Novela

_ Gostava de escrever um livro.
_ Tem caneta?
_ Esferográfica. Serve?
_ Talvez... É um romance?
_ Ainda não sei... Só tem um personagem. É suficiente?
_ Não arranja mais um, pelo menos?
_ Já pus um anúncio e apareceram-me sete. O que é que faço?
_ Se fosse a si fazia uma saga. Gosta do frio?
_ Nem por isso. Que me diz de uma novela?
_ Já gostei mais... Demoraria muito?
_ Não sei... talvez três, quatro meses. Depois, é montar e exibir. Conhece alguém nas televisões?
_ Nas televisões não. Já pensou no cinema?
_ Em tempos... Fiz um casting, sabia?
_ Ouvi dizer... Obteve o papel?
_ Claro. Por isso é que quero escrever um livro.

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Meta

Viu a meta e suspirou. Dar-lhe o badagaio foi o seu prémio.

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02 agosto 2015

O artista

Era um artista conhecido e as suas obras muito conceituadas. Sendo uma figura pública, as suas aparições (apesar de raras) transformavam-se num acontecimento. Como nesse dia, em que se deslocara àquele restaurante (uma churrasqueira) do bairro e pediu meia dose de entrecosto, sentando-se numa mesa de canto, ao fundo da sala, pois era tímido. Depois de terminado o café, que bebeu com um cheirinho (oferta da casa), o dono da churrasqueira, que era admirador e coleccionador da sua obra, foi ter com ele para o cumprimentar e apresentar a conta, dizendo-se encantado por o ter ali e que voltasse sempre que quisesse, excepto às segundas-feiras, que era o dia de descanso do pessoal.
Agradecendo a amabilidade e o cheirinho (da garrafa do patrão, note-se, que produzia a aguardente num pequeno alambique, montado no quintal), o artista, que era generoso, resolveu também presentear o dono com uma peça de autor, não sem antes lhe pedir autorização e um guardanapo de pano (papel, não), para limpar as mãos, pois o que iria fazer pressupunha que tivesse que ser assim e não de outra forma.
Conhecedor dos artistas, que eram pessoas especiais, embora um tudo ou nada caprichosos, o dono não levantou problemas e pediu um guardanapo de pano para a mesa 6, que lhe entregou pessoalmente.
Como todos os artistas, o nosso artista transportava com ele o génio e a originalidade bem aconchegados e protegidos contra os resfriados e ou excessos de exposição ao sol, nunca se esquecendo dos utensílios, que faziam a parte chata e trabalhosa do trabalho criativo, fossem eles pincéis, esferográficas ou outros. No seu caso, também um estilete, em cabo de madeira, que costumava utilizar para decorar pequenas peças ou fazer inscrições em troncos de árvores ou canas de bambu (na sua fase zen, sobretudo), que era o instrumento que estava a pensar utilizar na obra que idealizara quando começou a rilhar a terceira costela (eram seis, doze se fosse uma dose).
Possuidor de uma técnica já muito apurada, a execução do trabalho demorou-lhe cerca de uma hora, o que causou algum embaraço aos empregados que queriam arrumar as mesas e dar vazão à fila que se começava a avolumar à entrada, tendo sido terminado com um inconfundível sinal de júbilo por parte do artista, que resolveu brindar com mais um calicezinho da aguardente do patrão.
Mas valera a pena: depois de limpas e de puxado o lustro, as costelas exibiam uma exuberante e trabalhada inscrição, em relevo e com cambiantes de exposição à luz, ilustrando para a posteridade esta peça de autor, hoje em dia exposta no museu nacional, temporariamente cedida pelo seu proprietário, que reservara uma localização privilegiada na churrasqueira, junto do pipo que encimava o balcão.
Para os críticos, que ainda hoje debatem o significado e a importância da inscrição na transformação dos motivos pictóricos e simbólicos na obra do artista, continua o mistério acerca do excerto: «... um tudo ou nada mal passadas...», pois era do conhecimento de todos que o artista, um feroz e entusiasmado consumidor de algas e de sushi, influência do seu período zen, sem dúvida, seria, aparentemente, desconhecedor das subtilezas e dos segredos do preparo da carne em grelha de lenha, o que a referida inscrição punha em causa, como se tornara evidente.

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Telefonema

_Tô?
_Tá-se.

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