Caíra a tarde e apresentara-se a noite. Tempo ligeiramente frio, mas seco, avenida e passeio a convidar a um desenferrujar das pernas e da cabeça, criando condições a um fluir de passos e de pensamentos, cadenciados, ambos, como personagens que se conhecem e apreciam. A lua estava cheia, constatou o passeante, virando o rosto para a esquerda e usufruindo de um espectáculo que sempre lhe agradou, sorrindo também pela recordação do que essa fase da lua pode representar para algum imaginário popular, não aquele com que tinha de lidar agora, que passeava avenida abaixo, mais urbano e citadino, não melhor ou pior, mas diferente. Acabado de ver a lua cheia à sua esquerda, de súbito se apercebeu de algo estranho à sua direita, a mesmíssima lua cheia em pose, praticamente simétrica àquela que vira fracções de segundos atrás, pouquíssimas, quando a localizara à sua esquerda, tendo como resultado a visualização em simultâneo, parecia-lhe, de duas luas cheias!..
Das duas, uma: ou entrara num mundo de ficção científica, onde se recordava de que esta duplicação de imagens da lua eram, de alguma maneira, frequentes, ou, então, definitivamente perdera o juízo, não era arriscado concordar, pois tudo à volta lhe indicava o cenário mais quotidiano possível, com pessoas, carros, lojas e, claro, só com uma lua... constatação reforçada pela descoberta do acrílico, à sua direita, acima da sua cabeça, que ardilosamente o induzira em erro, funcionado como espelho da lua vista à esquerda, a única e verdadeira... Afinal, a twilight zone passara (mas não parara) por ali...
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