26 maio 2019

A única, a verdadeira!

_ E está a fazer aqui, o quê?
_ A representar uma linhagem ilustre, conhecida e confiável. Gerações e gerações estão-lhe gratas...
_ Muito bem. Não quer aprofundar um pouco mais...?
_ Com certeza. Tenho o maior gosto.
_ Então, se fizer favor...
_ Obviamente, obviamente... Então, é assim: estou a vender um produto que se traduz pela qualidade, versatilidade e eficácia. Testada vezes sem fim!
_ Sem contra-indicações, portanto...?
_ É como diz e que vou ter oportunidade de lhe confirmar... Sem truques, sem subterfúgios, sem quês nem meios quês, nada!
_ Estou curioso... E é caro?
_ Meu amigo, compreendo a sua surpresa!.. Deixe-me dizer-lhe que pensaria o mesmo, não fosse o caso de eu conhecer o meu artigo... Não estivesse ele escudado pelos pareceres e estudos mais exaustivos e a sua dúvida seria legítima... diria mais: perfeitamente pertinente!! Mas tranquilize-se, não há razão para alarme: é tudo claro e transparente!
_ Estou a ver... E o seu produto, como é que se chama?
_ Banha da cobra!

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25 maio 2019

Não há por aí um incentivo para a escrita?

Haver há, mas é melhor não.

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Alindamento

A história era feiinha… Disseram-lhe para a alindar. E que o fizesse em casa. Era melhor.
Não o conseguiu à primeira.
Tentou de novo... 
E de novo… e… não conseguiu!

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Fulminante

Fulminá-la com o olhar era o objectivo. Não correu bem. Por causa do estrabismo, acertou-lhe numa orelha e queimou um bocadinho o cabelo. Acabou por se safar. O brinco é que não, pois era pechisbeque.

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19 maio 2019

Aforismo

O bom disparate é um bem raro e precioso. Não o desperdice.

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Encaixe (capacidade de )

Decidira-se a fazer o teste. O resultado foi um nim e a indicação de um endereço para conhecer um programa aplicável. Vacilou com o resultado e acabou por se decidir pelo acompanhamento. Não ter muita capacidade de encaixe não era um drama, asseguravam-lhe, e a coisa podia resolver-se com um programa de treino adequado. Tinha era que estar motivado e levantar-se às seis da manhã, que era a hora a que havia vagas. Pelos vistos, a ausência de capacidade de encaixe era algo que estava a atacar a rapaziada ali para aquelas bandas... Estávamos a falar de défices na ordem de três/quatro, numa escala de 1 a 5. Um drama, confirmava-se, e com tendência a piorar... Havia que tomar medidas urgentes. E logo pela manhã, que é quando se começa o dia. Era um facto.
O curso era constituído por uma parte teórica e uma prática. Da teórica não vamos falar. Apenas da prática. E esta era dura.
Começava-se por uma cantoria. Primeiro a solo e depois em coro. Sendo eliminatória, impunha respeito. Coisa para a qual se era avisado, não fosse dar-se o caso de não se ter em conta. E tinha-se, reconheça-se, pois o fato do respeito era imponente e pesado, pior nos dias de calor do que nos de frio. Havia quem não aguentasse o peso e chumbava logo ali. Quem não sucumbisse, avançava para a cantoria. Fora o seu caso. Começou com receio. Mas depois esticou a voz e partiu logo uma das vidraças, ficando isento da cantadela em coro. Foi caso único, ainda hoje falado nos cursos que se seguiram. Como a mobília e os vidros não abundavam, decidiram que era melhor passar-lhe o certificado e desejaram-lhe boa-sorte. Esteve tentado a recusar, mas achou melhor não. Nos termos do certificado, ganhara a capacidade de encaixe. De nível básico, note-se, mas dispensado de tese. Mediu o peito e ficou contente. Segundo a fita métrica, não estava mal. Em linguagem técnica, um dois e meio.


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18 maio 2019

Piada (assim para o melodramático)

A piada era de gosto duvidoso, no limite do kitsch. Poderia acontecer com um dito, um dichote, uma chufa ou uma chalaça, mas não deveria acontecer consigo, que era fina e de boas famílias. O que acontecera, então? Perdera-se, era a conclusão. E não tinha feito os trabalhos de casa, como todo o bom aluno (prendado, ainda por cima!). «Foram as companhias», comentava-se. Quando se procurava saber quem eram, desconheciam, pois eram anónimas e assinavam SA. Inconsolável, passou a dedicar-se ao melodrama.

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12 maio 2019

Sentido tratado

A frase começou a correr e a fazer o seu caminho. «Havia coisa no ar», dizia-se. Como sempre acontece, desconhecia-se quem a tinha proferido e em que circunstâncias. Podia ser uma coisa séria ou uma brincadeira, um efeito oco ou um impacto tremendo. Uma coisa, contudo, era certa: despertara a sua atenção!
Não era fácil despertá-la, reconheça-se. Muitas vezes se interrogava se ela não teria sucumbido ao efeito da mosca do sono, o efeito tsé-tsé, ou se a explicação era mais simples do que isso. Por exemplo, que a sua atenção gostasse verdadeiramente de dormir, mesmo sem o tsé-tsé. Que fosse algo que fizesse parte da sua natureza, como pôr-se em sentido sempre que ouvia determinado tipo de música. Ou saltar-lhe a tampa quando se apercebia de que os ingredientes na cozinha não se encontravam alinhados de acordo com o calendário, ou seja, mais apontados a Setembro do que a Março. Tinha que descobrir o que é que aquela frase tinha.
A experiência aconselhava-o a consultar as fontes. Pegou no tambor e executou os toques combinados, trocando a cadência de forma a encriptá-los e a evitar que fossem descodificados por fontes não autorizadas. E ficou a aguardar a resposta. Que chegou passado pouco tempo, mas que não era a que estava a contar.
Segundo as fontes, a mensagem era incompreensível. Os toques da mensagem que enviara apontavam numa direcção e saíam para outra. Que esclarecesse o que queria, se a resposta para o sentido da frase, se a receita para o esparregado de nabiças. Que desculpasse, mas era o que a mensagem enviada dizia.
A resposta das fontes deixara-o preocupado, para não dizer perplexo. Para tirar as dúvidas, voltou a pegar no tambor e tamborilou a mensagem, de novo, apenas para os seus ouvidos. As fontes não tinham razão: a mensagem que enviara era efectivamente sobre como interpretar o sentido da frase «aqui há coisa» e não sobre a receita do esparregado de nabiças.
Por um fenómeno inexplicável (ou talvez não), os sentidos tinham-se misturado. E a explicação só podia ser uma: o sentido da frase estava contaminado! A dúvida seria se por um vírus ou por um pulgão.










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11 maio 2019

Trocazinha

_ Troquemos umas palavrinhas, pode ser?
_ Têm cotação?
_ Claro! Pensava o quê...?
_ Nada... mas o diminutivo, como sabe, pode levar a alguma desconsideração, não concorda?
_ Tem razão, mas só parcialmente. Não se esqueça de que o diminutivo também pode ter um significado positivo, sobretudo quando é utilizado com intenções carinhosas, certo?
_ Certo. Então, que palavrinhas tem para troca?
_ As que a amiguinha quiser.


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Barrela

Resolveu testar o anúncio e passou-lhe o algodão, que não enganava. O resultado foi o que se esperava: desfavorável para o anúncio e favorável para o algodão. Tendo que decidir, primeiro pensou em escudar-se. Depois, pensando melhor, foi buscar o detergente. Se não funcionasse, recorreria à lixívia.


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Aforismo

Mantém uma atitude cool. Se a temperatura subir, regulariza o termóstato.



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Cortesia

A senhora entrou e o vento, que era um cavalheiro, levantou-se.

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