31 dezembro 2020

Fazer de conta

Fazia-se de conta de que éramos mais do que aquilo que éramos. De três passávamos a seis. Com sorte, a sete ou oito. Mesmo que algum morresse, levantava-se logo a seguir. No fazer de conta não havia baixas. Só brincadeira.

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Re(a)lação

Deixara-o dependurado. Ele queixou-se, quando regressou. Ela defendeu-se, invocando a qualidade da corda, sentindo-se injustiçada. Da próxima vez, dar-lhe-ia uma mocada.


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Com as taxas todas

_ A conta, por favor.

_ Em nome de quem...?

_ Ano de 2020.

_ Oh diabo!...

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29 dezembro 2020

A Cor Púrpura

É tal a produção de filmes que muitos (a maioria deles) nos escapam a uma referência ou a uma nota, ainda que de rodapé. E isto aplica-se, na perfeição, a um filme de 1985, muito badalado na altura, independentemente das razões, realizado por Steven Spielberg, A Cor Púrpura, visto recentemente na tv. Por que carga de água não conseguimos ou não queremos falar de determinados filmes...? As razões podem ser várias. A principal, vendo isto pelo lado simpático, terá a ver com as opções do espectador, que por qualquer razão o não escolheu como algo a registar ou a recordar. Visto agora, a esta distância, há que reconhecer alguma injustiça nesta omissão, mais não seja pelo desafio que isso possa ter representado para o realizador, que estava na crista da onda na sequência dos filmes que realizara até aí, se bem que em géneros diferentes do drama, como é o caso deste, bem como para os principais papéis, sobretudo os femininos, sem esquecer os temas que lá são abordados, alguns com marcas muito actuais.

 


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Com ou sem sentido...?

Escrever para quê?... Talvez não interesse a resposta, mas a pergunta. Sendo assim, todas as razões podem contribuir como espoletadores de um texto escrito. Como esta, na simplicidade de juntar letras e construir palavras e frases. Com sentido ou, porque não?..., sem sentido nenhum.

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27 dezembro 2020

T'às 'plicado!

_ Calhou-te alguma coisa...?

_ Raspas...

_ Fizeste alguma, certo...?

_ Errado! Nada... Nicles... Népia!...

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Metamorfose

Comecei a minha carreira como ponto de exclamação. Compreende-se que fosse assim, pois a fase era propícia a isso: à exclamação e ao deslumbramento!

À medida que os anos passaram, foi arredondando a forma e espevitando o questionar. Tornei-me um ponto de interrogação. Percebe-se, não?

Quando a história acabar, serei um ponto. Final.

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25 dezembro 2020

Um passo a seguir ao outro

Passear cedo pela cidade sem a presença de muitos dos sinais da sua habitual e fervilhante actividade, como acontece aos fins-de-semana ou nos dias a seguir a grandes festividades, como o Natal ou o Ano Novo, por exemplo, tem os seus encantos ou as suas vantagens, mesmo que singelos ou pueris. Entre eles, o da atenção às pequenas coisas ou aos pequenos episódios, como estes:

Do velhote que atentamente cata a calçada com as mãos junto de um quiosque e de lá recolhe pequenos bombons perdidos, talvez por causa de um imperceptível rombo num saquinho que os albergava, embrulhados no seu papel brilhante, e que fará as delícias  de quem os descobriu e recolheu...

Da descoberta de um trocadilho em volta da letra 'F', daqueles que ruborizam ou fazem sorrir, apenas, manuscrito artesanalmente num papel na porta de uma loja a viver dias difíceis, quiçá irrecuperáveis...

Do sinal de esperança que se detecta na exclamação que se ouve, assinalando a possibilidade de descoberta de um café aberto, pequenino na única mesa à mostra, preciosidade entre as preciosidades mais preciosas do dia...

Da criança pequena, muito pequena, ensaiando pequeninos e titubeantes passos agarrada à mão do pai e sonhando com o dia, distante ainda, em que ela própria, quem sabe...?, dará a mão a uma outra, pequenina como agora ela...

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23 dezembro 2020

Também aplicável a saladas

_ Quem é...?

_ Sou o homem do saco.

_ Vá-se embora!... Hoje não é preciso.

_ Abra, por favor. Estou com dúvidas.

(Abre-se a porta)

_ O que é que quer...?

_ Tirar as dúvidas. Hoje não tenho que levar ninguém, é isso?

_ Sim.

_ Nem meter medo...?

_ Sim, correcto.

_ Portou-se bem, este ano...?

_ Como sempre. Porque é que pergunta?

_ É para avisar o colega.

_ Colega!? Qual colega?...

_ O Pai Natal. 

_ Porquê?

_ Para evitar a deslocação.

_ O Pai Natal não vem!?...

_ Não.

_ E porquê...?

_ Porque você vai comigo.

_ Mas... mas... você é o homem do saco!... 

_ E daí...?

_ Daí, que não pode levar-me!... Não sou uma criança. E agora!?...

_ Vai, vai, desculpe.

_ E porquê, não me diz?

_ Porque não comeu a sopa.



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20 dezembro 2020

Com ou sem ponto?

Olhou para a frase e pareceu-lhe bem. Expediu-a. Só depois se apercebeu de que o fizera com um erro, a falta de um ponto de interrogação, transformando uma interrogativa, como deveria ser, numa afirmativa, que assim foi recebida pela destinatária. Como resultado, não haveria ovos para o jantar.

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19 dezembro 2020

Avançamos para bingo...?

É melhor não.

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À procura da paisagem interior - amostra 6

A mensagem da PI dizia: «Tenho o Pai Natal em casa. Bjs». Estranhei a ausência de pontos de exclamação. Se fosse comigo, seriam pelo menos dois ou três, dependeria da qualidade do Pai Natal: nível um, o próprio, nível 2, os sucedâneos credíveis, e nível 3, os rascas. Sim, os rascas, pois também os há no universo de pais natais. À falta de melhor, lá têm que avançar... Desconhecia, por isso, qual o nível do pai natal em casa da PI.

Assobiei ao Senupe, mas não ligou puto. Ainda lhe disse: «Queres ir, Senupe, ver a Marmela...?». Ainda arrebitou as orelhas ao ouvir o nome da cadela, mas passou-me um bilhete onde escrevera: «Estou num workshop on-line. Agora não é oportuno». Teria que ir sozinho, por isso.

Cheguei à casa da PI e surpreendi-me com o «veículo» estacionado à entrada: um trenó, modelo híbrido, polido e cheio de luzes, matrícula 01-Santa Claus - Lapónia. Se o meu problema era saber que tipo de pai natal estava alojado na casa da PI, ele estava resolvido: era o próprio, nível 1, logo!!!. Tinha que aproveitar a ocasião. Entrei.

Como sempre, a PI fazia as honras da casa. Vestida de elfo, as músicas de Natal ouviam-se por toda a casa e as luzes iluminavam-na. Parecia uma festa e era! No sofá, a beber uma bebida quente, o Pai Natal, o próprio!!!, estiraçado e sem as botas, que urbanamente tinha deixado à entrada, ensinava à PI o seu célebre Ho!Ho!Ho! (pronunciar em inglês, por favor), que ela aproveitava como exercício vocal para uma ambicionada carreira (ainda não concretizada, felizmente...) enquanto cantora de ópera, rindo-se de cada vez que o som parecia mais um hu! hu! hu! do que o tradicional ho! ho! ho! (não esquecer o alerta anterior, please), que ela atribuía à emoção e, diria eu, à sua formação cultural francófona (ver episódios anteriores, s'il vous plait (ahahahahah!, desculpem, mas não resisto))...

Depois dos três chochos habituais, à minha pergunta sobre como é que se tinham conhecido, a PI respondeu candidamente que por «telepatia», não valia a pena explicar mais nada, que eu teria dificuldade em entender, era melhor assim, mas que aproveitasse para conversar com o «Santa», diminutivo carinhoso com que o apelidava, que ele ia gostar. E que não me preocupasse com a tradução, pois ele dominava perfeitamente o Português, incluindo os palavrões, que estivesse à vontade e não me acanhasse. Foi o que fiz.

Sobre a conversa, fascinante e profunda, como se compreenderá, vão desculpar mas não irei revelá-la. Talvez noutra ocasião. Só lhes digo que aprendi muito!...

Cá fora, qual quadro ídilico!..., a Marmela e as renas corriam e galopavam jardim fora, aproveitando, aqui e ali, para dar uma mija pelos canteiros... Na Primavera haveria novidades...



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16 dezembro 2020

Inconclusivo

_ Se lhe prometer uma história, o que é que faz...?

_ Fico a ouvir ou a ler, depende do suporte.

_ Sim, mas depois disso?

_ Digo mal!

_ Mas, porquê!?...

_ Não gosto de finais felizes...

_ Mas, como sabe...?

_ Suspeito.

_ E e se o final não for feliz...?

_ Escrevo mal!

_ Mal, como...? Com erros?... Sem concordâncias?...

_  Mal, como maledicência. 

_ E não tem vergonha...!?

_ Não. E você...?

 

 


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15 dezembro 2020

No problem

Aberta a porta da rua, fugiu-lhe uma história. Não se preocupou, pois era vadia.

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13 dezembro 2020

5 minutos

Fez uma aposta consigo próprio. Dispunha de cinco minutos para descobrir uma coisa importante ou significativa. No primeiro minuto, nada. O mesmo para o segundo, o terceiro e o quarto. Desesperado, vendo o limite a chegar, pensou em desistir e aceitar a derrota. Porém, aguentou-se. Foi salvo pelo gongo, in extremis... e também por não ter toalha.

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Custa mais

_ Por ser para si, 4,5 euro!

_ Tanto!?

_ São dióspiros da minha vizinha... Do quintal dela, atenção!

_ Não são de estufa?

_ Não, do quintal. Mas tratados com muito carinho!...

_ Ah, sim!?... E como, pode saber-se?

_ Ora, com carinho... É necessário mais alguma coisa...?

_ Não... não. E as laranjas, a como são...?

_ 1 euro.

_ Também com carinho...?

_ Não, da loja.


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12 dezembro 2020

Moleskine Neurasténico

Abriu a porta do armário e olhou para os títulos de histórias pendurados nas cruzetas. Não eram muitos, o que levou a interrogar-se se não haveria necessidade de dar uma volta pelas feiras para comprar meia dúzia ou mais, dependeria das promoções. Iria pensar e depois decidiria. Até lá, havia que escolher um e pô-lo ao sol. Estava indeciso entre o «Full Mind, Free spirit» e o «Moleskine Neurasténico». O primeiro era mais moderno e adequado às novas tendências, mas o outro tinha precedência, apesar de ser mais old school, aparentemente. O «Full» não estava contente, notava-se pela cara, e ia ruminando qualquer coisa como: «É sempre a mesma coisa... Rai's partam esta m****!». A custo, lá foi convencido a voltar para o armário, que a sua vez chegaria, não se preocupasse, e para arrasar!, garantia-lhe o autor, mas que agora era capaz de ainda não ser boa altura para o seu aparecimento e o «Molesk» estava a precisar mais, até porque começava a ficar com manchas do excesso de resguardo e da falta de sol. E era um bocadinho neurasténico, também, aliás uma das suas marcas distintivas. O «Full» que compreendesse, era a vez do «Molesk».

Estando decidido que seria o «Molesk», o sacana recusava-se a sair, todavia, dizendo que não se sentia bem, que estava fraco e deprimido, com dores de cabeça, etc., e apontando o dedo ao autor, acusando-o de ser o responsável pela sua neurastenia, que começara, segundo ele, quando lhe mudara o nome de «Bloco de Folhas de Papel Recicladas Dobradas» para «Moleskine Artesanal», aparentemente para agradar a uma balzaquiana que achava que assim era mais giro e blasé, que nem pensasse em que fosse de outra forma, se estava a pensar num compromisso sério... E o nome mudou, também porque o autor achava que era um bom sinal dos tempos, onde é que estava o mal...?

Estava-se num impasse. O autor compreendia que o nome antigo mandava peso e correspondia a uma determinada forma de ser e de estar, cultivada e mantida, desde sempre, pelo «Bloco», mas, que diabo!..., não se tinha queixado muito quando a proposta de mudança de título lhe tinha sido sugerida, com o incentivo adicional de que isso lhe daria um sainete supra junto dos caderninhos às bolinhas e de corações cor-de-rosa... 

Ainda resmungou que não, que estava farto e cansado, mas que lá faria o favor ao autor... Mas que não fossem para longe!, advertiu, pois tinha marcado uma reunião numa sala de videoconferência com um grupo de admiradoras dos caderninhos...

E foi este facto que o convenceu, não tenham dúvidas... Ficou logo com outra cara!

 


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11 dezembro 2020

Fabu(leta)

_ Um pouco de contenção, por favor. Lembre-se de onde está...

_  Estou no ninho. Não posso...?

_ Pode, mas com maneiras.

_ Mesmo sendo um cuco...?

_ Sim. Desde que não se arme...

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Quando se coloca a boca no trombone, não podemos voltar ao violino...?

Só se a música for de serrote.

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Atleta 4

_ Lembro-me de um dia, jovem ainda, em que a correria era tanta que não tínhamos parança.

_ A treinar para as corridas, talvez...?

_ Não. A fugir da crise.


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Sobrenatural...? (um pouquito, sim)

Aquilo não estava a dar nada... Em vez de dar, estava era a pedir: recursos, paciência e disponibilidade. Assim não podia continuar. Por isso, decidiu passar a casa... Que foi ter ao seu rival. Esfregando as mãos, achava-se o maior, confiante de que agora o negócio seguiria de vento em poupa... Mas estava enganado, pois descobriu que a casa... estava amaldiçoada!...

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09 dezembro 2020

Escorregou, talvez...

De forma abrupta, a noite caiu. Tirando o susto, apenas umas esfoladelas.

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08 dezembro 2020

Também gosta de pão, não...?

 _ O que vai ser...?

_ Pão, se faz favor: 4 destas, quatro daquelas e mais duas destas (como é se chamam...?). Bem cozidas.

_ Que dia, hem...? Chuva, pois claro. Estamos no tempo dela...

_ E bem precisamos, acredite...

_ Pois, as pessoas não pensam nisso, mas... É só ver o tempo que passam debaixo do chuveiro, com a água a correr, a lavar os dentes...a regar... Enfim.

_ Mas vão-se arrepender, vai ver...

_ Pois... mas tem que se arranjar uma solução. A água do mar, é tanta!...

_ Mas custa muito caro... Se fosse exequível e em conta, digo eu, se calhar já se teria feito, pelo menos a uma escala adequada...

_ Caro!?... Tem que se arranjar dinheiro!... Gasta-se tanto mal gasto... Tem que haver dinheiro!... Senão, como é que é...?

_ Sim, como é que é e quanto é!?...

_ São 3, 45 euro. Quer o contribuinte...

_ Se faz favor. É o 5...

_ Nome...?

_ S. Pedro.


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06 dezembro 2020

Fim

Começara por perder a história algures... Não que não tivesse feito tudo para a (re)encontrar, mas quando a tentou recuperar era tarde, pela hora e pelo caminho.

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Lote

Abriu a porta do armário e viu que o lote para invenção estava a acabar. Isso constituía um problema, pois não passava sem uma chávena dele, maioritariamente constituído por robusta e com uns ligeiros acrescentos de aromática. Já não era primeira vez que pensara em misturar de forma diferente, mas nunca tinha conseguido dar esse passo. Como criador, tinha medo que lhe fugisse a mão e a história para sítios que não queria e, quiçá, causadores de mais colesterol ou arritmias no coração. Até ver, manter-se-ia na dosagem e no equilíbrio do lote que já conhecia.

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05 dezembro 2020

Compromisso

Então, e agora...? A esta hora, as coisas ficavam difíceis. E não, não era por causa do almoço... Mais com um compromisso assumido, mas não certificado, que tinha como cláusula única a da comparência e o respeito para com eventuais leitores, parece que os havia, mas que estariam retidos no trânsito ou na neve, que entretanto caía... Não aqui, é óbvio, mas nos sítios onde é suposto que caia neve. Para esses, os que ficaram retidos na neve, aqui vai a mensagem: não desesperem e fruam o momento, que é das coisas mais lindas que há!... pelo menos até à chegada do limpa-neves.

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03 dezembro 2020

Estranheza

Sentia-se vazio. Por mais esforço que fizesse, não conseguia encontrar a causa... Mas ficou aliviado quando alguém referiu: «O pneu tem um furo». E só então, descansou.

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02 dezembro 2020

Francês ou sextavado?

_ O que pretende, desta oficina...?

_ Aprender a apertar uns parafusos... Apenas.

_ Sabe que isto é uma oficina de escrita, não sabe...?

_ E daí...!?


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