31 agosto 2013

Idiomático 20

Caíram nos braços um do e outro e tombaram.

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Acabou-se

Ao poeta incomodava que a morte espreitasse a cada verso. Um dia, fechou-lhe a janela e ela foi-se.

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22 agosto 2013

A gaiola dourada

Desconheço os números, mas a experiência de migrantes é, provavelmente, um dos nossos traços identitários. Imigrante ou emigrante, essa realidade cola-se-nos como uma segunda pele, por umas razões ou por outras, e serve-nos de bilhete de identificação extra. Das situações de migrantes mais comuns, porém, não me custa admitir que a do emigrante seja a mais custosa, ainda que isso às vezes possa não verificar-se, e nem é preciso buscar muitas explicações, bastando as mais simples, derivadas do confronto com novas realidades e vivências, na sua maioria diferentes, pelo menos enquanto a elas não nos habituamos, com mais ou menos fado ou bacalhau à mistura e condimentado com generosos pedaços de saudade, se a houver ou se justifique.
Filme do momento e adequado à época, a Gaiola Dourada é um filme que, também ele, nos questiona, emigrantes ou não, contribuindo ou desmistificando muitas das ideias e/ou preconceitos sobre a condição e a situação do emigrado, sobretudo se analisado fora de um contexto sócio-histórico, que o marca e é conveniente ter em mente, e aqui reside uma importante diferença com uma realidade mais próxima de nós, apesar de algumas inequívocas semelhanças com a actualidade.


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20 agosto 2013

Arrumado

O cabide pendurou o homem no armário e foi-se deitar.

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18 agosto 2013

Abre-te, porta!

Sempre fora muito assertiva e senhora do seu nariz. Nesse dia, não mais um dia, a Chave recusou-se a abrir a porta e sugeriu que chamassem o serralheiro. Ainda não chegou e ela foi dar uma volta.

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Achado

O misantropo encontrou-se no meio da multidão.

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17 agosto 2013

Reflexo

O espelho olhou-se ao espelho e não gostou.

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11 agosto 2013

Faquirada

Anos de prática tinham-no desabituado de confortos mundanos, como as cadeiras de repouso. Por isso não se estranhou que, depois de olhar em volta, tivesse estendido a sua toalha em cima das pedras, que lajeavam a piscina. Deitou-se e cerrou os olhos, sentindo nas costas as saliências das pedras. Em paz, deixou-se dormir. Acordou com um apito e uma banhista ao colo, que se projectara em direcção à piscina e falhou o alvo. Resignou-se e deu conselhos à banhista, que agradeceu. Suspirou pela sua cama de pregos, levantou-se e foi-se embora. Esqueceu-se do protector mas seguiu para o estacionamento, onde o esperava o tapete voador. Ligou a ignição e só parou, dizem, nas mil e uma noites.

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03 agosto 2013

Assinar, depois de ler

O bloqueio da página em branco bateu-lhe à porta e entregou-lhe o aviso de recepção para assinar. O escritor assinou o aviso e entregou-o ao bloqueio, que agradeceu e lhe desejou boa-tarde. Reflectindo acerca do que acabara de vivenciar, o escritor sentou-se em frente à sua lousa, que nunca abandonara, apesar da máquina de escrever ou do computador, e começou a redigir com o seu pau de giz, que herdara de uma tia-avó, combatente na Grande Guerra (da I, da II ou talvez da Restauração, caso se tivesse enganado na tia-avó...), aquilo que vários críticos consideraram a simbiose perfeita entre a banalidade, a receita afrodisíaca e o ensaio de salão de 3 x 3, anotado e comentado por especialista de trocadilhos e afins, impresso em caracteres góticos e new wave, em esmerada edição de autor, em papel reciclado, para alertar a humanidade e arredores para a crise ambiental nos países do 1.º, 2.º, 3.º e andares seguintes.
Pensado como obra de maturidade, o livro acabou por se tornar um bestseller e contrariou as previsões dos investidores, que o julgavam destinado à fogueira ou, na melhor das hipóteses, a servir de base a um candeeiro ou a uma enxerga de vagabundo. Estavam enganados, como se viu ou ainda não se aperceberam, pois os investidores não costumam ter sensibilidade para estas coisas da cultura, ainda para mais de maturidade. Mas volta a repetir-se: enganaram-se!
Para os fãs, contudo, a história e o livro arrasaram, depois de terem conseguido perceber, no meio dos gatafunhos do giz, que o escritor bloqueado se tinha tornado artista contemporâneo, adoptando a cultura zen como musa inspiradora, revelando e revelando-se como a pura imobilidade e fazendo a apologia do livro em branco como o remédio para todos os males e imparidades, excepto as do reumático, aquelas onde se terá que fazer uma introspecção mais aprofundada, pelo menos até onde se consiga ver sem o recurso a uma lanterna. Mas a polémica instalou-se no seio do clube de leitura, que reúne às quartas e às sextas, das 17h45 às 18h12, pois reina a incredulidade face à maneira como o dito livro em branco acaba, com a frase inglesa «The End», que muitos são tentados a explicar pelos efeitos nefastos da influência do cinema comercial e outros pela massificação do ensino, que desde que abandonou o Latim como língua franca nunca mais foi o mesmo. «Pormenores», dirão os ingénuos, causa suficiente para invalidar o Memorando de Entendimento, dirão os estadistas, sem contar com os nostálgicos da Liga Zon, cuja insatisfação crónica em nada os abona, sobretudo quando o respectivo clube não escapa às garras da descida de divisão...

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Efeito colateral

Fez das tripas coração, mas sucumbiu aos gases.

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Do quintal a outras margens - uma odisseia

Por natureza um optimista, mas vagaroso, encetou a viagem da sua vida. Para os que o olharam com cepticismo, o optimismo - lá está!- serviu para os calar. Dois anos passaram, entretanto, e já chegou ao quintal. Continua animado e não vacila, pois se trata da viagem de uma vida. De volta e meia solta um grito de júbilo: «Já sinto o cheiro da maresia!». E aqui o seu optimismo de novo se revela, animado por só já faltarem 8000 km... Um dia se contará (e cantará, estamos certos) esta epopeia aos vindouros... Até lá, o caracol continua a sua marcha e repetidos alentos: «Já sinto o cheiro da maresia!»...

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De galo em poupa, o caminho é o espaço

É daquelas façanhas que faz encher o peito de orgulho patriótico e corar de vergonha a cara dos invejosos, também pátrios: o galo de Barcelos foi ao espaço e aterrou na Galiza, onde foi encontrado de saúde e já recomposto do susto da saída da «cápsula», feita com a ajuda e a «ameaça» de uma foice galega, a que se seguiu um cheirar de canito. Refeito e feliz com a experiência, o «galonauta» decidiu radicar-se na Galiza. O programa aeroespacial português vai continuar, desta vez com a ida a Marte da Porca de Murça.
 http://youtu.be/vAxSz3ZBpNI

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Idiomático 19

Feriu as Susceptibilidades, que tiveram que ser assistidas no hospital.

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