Na sua maioria, gosto das crónicas de Eduardo Prado Coelho (EPC) no Público. A crónica sempre me interessou enquanto rubrica de jornal, pois possibilita um olhar multifacetado sobre o quotidiano, seja ele o desassombrado, o culto, o bem-humorado, o pitoresco, o elegante, o provocante ou o perspicaz. As crónicas funcionam como barómetros do país, das gentes e das vivências. Talvez por isto, gosto das crónicas de EPC e de muitos outros cronistas.
Na crónica de hoje, intitulada "Depressões", EPC enumera, com precisão clínica, o cardápio de razões para esta peculiar enfermidade, que não resisti a transcrever:
" (...) a do Dom Juan compulsivo, que não consegue fixar-se afectivamente e se sente numa espécie de exílio permanente; a do que chega a uma certa idade, a idade dos balanços, e acha que falhou tudo na vida; a do que considera que ninguém o reconhece na sua qualidade profissional ou na sua vontade de amar louca e perdidamente; a do que de repente se sente terrivelmente só porque os pais morreram, e a casa dos pais, onde se refugiava, deixou de existir; a do que sente o terrível aproximar da morte e ele não queria morrer; a do hipocondríaco que acumula doenças sobre doenças, lê livros de medicina e tem um medo terrível da dor; a dos inúmeros professores que perderam o gosto de ensinar e já não suportam a violência das escolas; a dos militantes políticos que deixaram de acreditar em qualquer militância e ficaram à deriva; a dos que acham que a vida política se tornou num espaço de interesses concorrenciais e perdeu qualquer sentido de utopia e ideal; a dos que odeiam o país, a nossa mediocridade, a nossa desordem, a nossa oscilação temperamental, o nosso estilo de patos-bravos endinheirados e gostariam de ir viver para outros lugares, ou em Nova Iorque, ou no Maputo. (...)"... Ufh, acabei!!!
Animador, não é?... O país segue dentro de momentos. Será que segue!?...
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