30 junho 2019

Linhas Tortas

Muita tinta fazem correr as redes sociais. Também neste filme. Para quem não esteja habituado ou a contar, trata-se de um filme português e com um tema muito em voga, uma oportunidade para se reflectir sobre como, porquê e para quê. Talvez a solidão, o desencanto e o desejo humanos se manifestem em formas outras, com mais ou menos caracteres, mas a essência continua a ser a mesma... É bom? É mau? É o que há.

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29 junho 2019

Estilo (em jeito de jam)

«A família herda-se e as amizades escolhem-se» é uma frase feita. Sendo feita, utilizaram-se as aspas para evitar susceptibilidades, não vá o Diabo tecê-las, outra frase feita, mas esta sem aspas, pois já há muito que caiu no domínio público, dispensando-as. Assim pensou o diletante, batendo com os dedos no tampo da mesa. Estava a teclar uma música de um grupo ou intérprete conhecidos, pois abrangia as versões de cada um: clássico e moderno. Rematou com uma ária de assobio. Entretanto, tocou o telemóvel. Era a família que convocava para o almoço. Sendo assim, despediu-se das amizades e marcou uma jam session para mais tarde. Em itálico.

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23 junho 2019

Fraternamente

A reunião dos dedos da mão fora marcada com urgência. Como sempre, a convocatória dava azo a variadas reacções: vontade de deslocação para outro local (caso do polegar), inquisição (mania do indicador), irreverência (característica do médio), responsabilidade social (estatuto do anelar), contentamento pela chamada (alegria do mínimo). Apesar da diferença de estados de espírito, não tinham outro remédio do que estar juntos. A agenda tinha apenas um ponto: a nova funcionalidade do polegar, que este recusava, à partida, mas a que teria que se sujeitar face aos compromissos familiares e ao ar dos tempos, cada vez mais dependentes do telemóvel. Por isso, a reunião teve um desfecho rápido. Concluída esta, cada um devia seguir a sua vida como habitualmente. Contudo, não se contou com a influência do dedo do meio sobre o polegar, a quem aconselhou a adoptar as novas funções só depois dos festivais de Verão. Até lá, tudo como dantes. Apesar dos resmungos, tiveram que aceitar o pacto. E, para que não restassem dúvidas de que continuavam unidos, logo se cotizaram para que o polegar fizesse o circuito dos festivais com algum desafogo. Quando lhe quiseram dar a boa notícia, já ele se tinha pirado para parte incerta. Quem lucrou foi o mindinho, que ganhou uma dose reforçada de pipocas.





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22 junho 2019

O melro e o pavão


Tirando a zoologia, pouco os aproximava. Um ria-se, o outro inchava-se. Não eram amigos. Inimigos também não. Se tinham afinidades, desconheciam-se. Na dúvida, exibiam-se para públicos diferentes.

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Marcas


_Temos estas, muito boas, e aquelas além, melhores ainda!
_ Hum… E quanto aos preços?
_ Eu não preocuparia com isso… Temos uma linha de crédito muito favorável, prestações suaves, taxa competitiva… Já viu os acabamentos? Que me diz?
_ Não sei… Marcas brancas, tem alguma coisa…?
_ Brancas brancas não… Cinzentas, serve?
_ Têm garantia?
_ Só para o cinzento.

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20 junho 2019

Cruzei-me com uma pessoa famosa e não a reconheci. É grave?

Se ela não o reconheceu, não.

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Inflexível

_ Dê-me aí umas graçolas!
_ Não há. Esgotaram-se. E não sei se vão voltar a haver...
_ Bô!... É a sério?
_ Claro. Do mais sério que há. C'mo aço!
_ Do inoxidável ou do outro?

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AA

Partira para o texto sem saber como ia acabar. Sentia-se enredada. Sem ideias, um bilhete, nada. Apenas com uns trocos no bolso, mas pequenos. Olhando para eles, chegou a pensar num café e numas vírgulas, talvez uma interjeição para desenjoar. Mas, tudo contado, não dava para pedir a conta e descontar o IVA... Talvez fosse melhor começar a esgravatar na teia... Tentar descobrir um um fiozito mais promissor, capaz de se aguentar e não vir abaixo com o peso... Assim pensando, olhou os presentes e apresentou-se: chamo-me Aranha e dou umas picaditas.

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16 junho 2019

Se beber água da torneira, perco estatuto?

Não, pois ele costuma andar bem preso. Continue a beber da torneira e, nos dias de festa, diga que é whisky del cano. Dá sainete, vai ver.

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Nova praga

Aproximou-se da passadeira. Olhou para um lado e para o outro: nada de carros e nada de motos. Avançou e foi atropelado. Por uma trotineta, a nova praga urbana.

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15 junho 2019

Uma traição necessária

O título da versão portuguesa integra uma palavra com um dos significados mais susceptíveis na nossa língua: traição. Juntá-la a 'necessária' baralha e confunde mais as coisas. Afinal, há traições necessárias...!? Saber como responder a esta questão é algo que se coloca a cada um dos espectadores do filme, atirando-os para um dos dilemas clássicos da ética: fazer o correcto ou o necessário...?

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13 junho 2019

Retractar (quando der jeito)

_ No post anterior piscou o olho aos leitores. Não está certo e é abusivo. Tem que se retractar!
_ Tem razão. Quer que me retracte agora ou pode ficar para mais tarde?
_ Era conveniente que fosse agora... Tinha mais impacto. Não lhe dá jeito?
_ Para falar verdade... não. Podemos deixar para mais logo?
_ Não pode, mesmo...?
_ Se pudesse ser mais para a frente, agradecia...
_ Vou ver... Quando é que tem vaga?
_ Deixe-me ver... Aqui não..., aqui também não..., não..., está difícil... Podemos esquecer isto?
_ Se dá muito trabalho...
_ Por acaso...
_ Desculpe, então.
_ Não tem de quê.

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Que a sardinha esteja contigo

O Lado Negro da Força acordou com uma ligeira indisposição. Procurada a causa, atribuiu-a à ingestão de sardinhas da noite anterior. Já há muito que sabia que não devia abusar, mas isso estava-lhe na massa do sangue. Sempre que tentou contrariá-la, deu-se mal. Resignou-se e aceitou esse destino como uma fatalidade. Apesar de tudo, poderia ter sido pior. Bastava ter comido pimentos.

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Berlim, I love you

Por definição, a cidade é um espaço de (re)encontro. Talvez por isso, é um espaço que se re(constitui) como um  mosaico: de sítios e de pessoas. É esta a sua essência e o seu fascínio, muitas vezes amargo. Filmar algumas dessas sequências de encontros (ou desencontros, também) é, pelos vistos, uma marca que está a fazer o seu caminho, marcando-o com cidades emblemáticas. Desta vez, Berlim.

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10 junho 2019

Campeões!

A 1.ª edição da Liga das Nações em futebol acabou e o vencedor foi... Portugal! Vencedor justo, diga-se, e totalmente merecido da final a quatro. Se era preciso um incentivo para que o Dia de Portugal assumisse um cunho de festa popular, talvez seja este. Pelo menos este ano.

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09 junho 2019

Desclassificado


O homem da maratona apareceu lançado, com a passada larga, ultrapassando a meta e alguns carros. Julgando que o outro se enganara, o fiscal perguntou-lhe isso mesmo. Como o homem da maratona não respondeu, desclassificou-o. Por excessos de velocidade e de mutismo.

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História por trás

Ouvira o escritor dizer que só escrevia se tivesse uma história por trás. Que não era daqueles que se comprazia com a escrita sem história. Não discordava em absoluto, mas também não concordava. Muitas vezes, as histórias eram grandes de mais para se esconderem. Noutras, pequenas de mais para se mostrarem. Tinham que ter uma dimensão média, talvez. Mas, sendo uma média, corriam o risco de não serem críveis. E, sendo assim, a história por trás consistiria nisso: dar-lhes credibilidade. Real ou imaginária.

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08 junho 2019

Encegueirar (parte 1)

As questões, grandes ou pequenas, exigem respostas. Mesmo que não se dêem ou não existam, deve fazer-se um esforço. Grande ou pequeno, mas um esforço. E isso aplica-se tanto à decisão sobre o que fazer para o jantar, sobre ir votar ou não, qual o tipo ou a dimensão de um investimento, escolher alguém para partilhar o que quer que seja. Muitas e variadas coisas, como se vê. Nem todas habituais ou esperadas. Mas é o que há. Não ocorrendo nada, sempre se pode dizer como as pessoas sábias costumam resolver o assunto: o visado (ou a visada) estavam encegueirados.


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01 junho 2019

Só título

«No dia das eleições olharam para o céu e decidiram que era melhor ir dar uma volta por onde calhasse, longe ou perto de uma mesa de voto, mas passando de roda, que as coisas estavam mais assim para o coiso e tal e agora não dava muito jeito e não tinham tempo para se preocupar com as matérias que toda a gente e mais alguma diz que lhes deveriam interessar, nem que fosse só um bocadinho ou durante um poucochinho de tempo, mas lamentavam muito, agora e na hora para todo o sempre».



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