31 agosto 2014

Devolvida

A bola foi-se embora e não deixou endereço.

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Fermento

Comeu o pão que o diabo amassou sem o deixar levedar.

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Quebrado

Escrevia com uma esferográfica que se partiu. Viu-se perante um dilema: continuar a escrever ou substituir a esferográfica. Optou pelo óbvio, escolhendo a cultura. Foi cavar.

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Passajar

A relação rompeu-se e não tem remendo.

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30 agosto 2014

Indisposto

Sentia-se nauseado e com a cabeça a andar à roda. Ficou preocupado e decidiu ir ao médico. Informaram-no de que tinham que fazer uma ficha. Concordou, mas pediu que se apressassem. Perguntaram-lhe o nome: «Shaker», disse, e vomitou-lhes em cima.

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O Homem Mais Procurado

No imaginário cinematográfico ligado aos filmes de espionagem conseguem identificar-se dois pólos distintos: os que se aproximam do modelo James Bond e os que se encaixam no modelo John Le Carré. Escolher cada um deles é uma questão de gosto, de empatia, do estado de espírito e da estação do ano, ainda que de voltas trocadas.
Apesar de estarmos no universo da espionagem, mundo da duplicidade por definição, O Homem Mais Procurado não ilude (será que não?...) qual é o pólo a que pertence, com um portentoso Philip Seymour Hoffman no papel principal, criando (talvez definitivamente?...) a melhor encarnação do «espião» de Le Carré.


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Escaldante

Viveram um romance tórrido. Haveriam de repetir, concordavam, mas agora teriam que refazer energias e a pele, pois tinha ficado um bocado esturricada.

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29 agosto 2014

Castelo

A elevação do terreno fascinava-o. Estava decidido: a construção do castelo de cartas seria ali! Preparou tudo, escolhendo o melhor baralho: aos cépticos, mostrava os naipes; aos incrédulos, desafiava as renúncias. Não queria saber de minudências, como as bases e os ventos. Não quis saber e abalançou-se, convicto na firmeza da crença. Nem chegou a planar.

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28 agosto 2014

Oportunidade

Agarrou-a com unhas e dentes. Ainda teve receio de que lhe movesse um processo, mas ela sossegou-o. Isso teria um preço, ainda que em saldo: umas roupitas, uns brilhantes e uma estadia num resort, com massagens e bebida de boas-vindas.

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27 agosto 2014

Sombra

Seguiu o plano. Não era fácil segui-lo, comprovou-o amiúde: umas vezes escondia-se, noutras dissimulava-se.

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Molho

Chegou-lhe a mostarda ao nariz e não gostou. Teria preferido molho de tomate, se pudessse escolher. Mas, como não havia, teve que se contentar e deu-lhe duas murraças.


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Errante

A memória de elefante perdeu-se.

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Idiomático 34

Era uma rica pessoa, mas não tinha onde cair morto: tinha uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma.

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O drone e a procissão

Nas festas e romarias, as procissões continuam a ser um dos pontos altos das festividades, mais esbatidas do fervor de outros tempos, é certo, mas ainda com significado para as pessoas que estão presentes, independentemente das motivações que lá as levaram.
Nesse ano, o cenário da procissão era o habitual: andores, crentes, acompanhantes, espectadores, bandas de música e foguetes. O que não era habitual era o drone que filmava a procissão, sinal dos tempos e da tecnologia. A quem foi facultada a possibilidade de acompanhar e ver a forma como a maquineta era orientada e manipulada, a fascinação era semelhante à da garotada a quem deram um brinquedo telecomandado. Não era uma epifania, pois os sinais eram muito terrenos, ainda que do domínio da ficção científica (cada vez mais quotidiana), mas sim um maravilhamento!


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Moleza

Não era propriamente um mãos largas. Bem pelo contrário, até as tinha bastante estreitas. O que o traía era o coração, que era mole. E foi isso que o perdeu, porque não se aguentou.



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Spam

_ Sou a última versão. Já me conhece?
_ Desculpe, mas não. Não tenho tido tempo.
_ Não consultou as mensagens?
_ Estou sem telemóvel. Estão lá?
_ Não, vieram por carta.
_ Por carta?!
_ Sim, correio normal. Por causa dos custos, t'á a ver?
_ Sim, estou. Sei bem o que isso é... Não podem mandar por mail?
_ A rede caiu.
_ Era fraquinha, não?
_ Pelo contrário: era do piorio.
_ Do piorio?! Então, era mesmo fraca. Não arranjavam melhor?
_ Não. Eram os melhores. Mas foram apanhados. Um deslize básico e... já está.

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Histórias - princípio e fim

_ Disseram-me que escreve histórias?
_ Escrevo.
_ Muitas ou poucas?
_ Algumas.
_ De que tipo?
_ Umas boas.
_ E?...
_ Outras más.
_ Não quer desenvolver?
_ Não.
_ Por alguma razão?
_ Está tudo dito.
_ Como assim?
_ Ora veja: Escrevo algumas histórias. Umas boas, outras más.



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26 agosto 2014

Vida boa

Meteu a mão no bolso e sentiu o dinheiro: estava morno. Resolveu ir à feira. Foi. Quando lá chegou, viu que se tinha enganado: queria ir para a feira de cima, acabou na de baixo. Resignou-se. Voltou a meter a mão no bolso: o dinheiro continuava morno, mas começava a arrefecer. Deu uma olhada pelas barracas. Ouviu os altifalantes e aproximou-se de um deles. Queria comprar nabos. Disseram-lhe que ali não e venderam-lhe uma vida airada. Quiseram vender-lhe outra mas recusou, pois estava sem carro.

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Idiomático 33

Brincou com o fogo e chamuscou-se.

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24 agosto 2014

Acolhimento

Durante muito tempo, não ligou ao mundo. Um dia, porém, ele bateu-lhe à porta e perguntou se podia entrar. Começou por recusar. Mas, como fora educado a receber bem e sem olhar a quem, acolheu-o e deu-lhe de comer e de  beber. Ainda por lá está.

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ADN

As almas eram gémeas, mas de pais diferentes.

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23 agosto 2014

Pausa para pensar

Não andavam a correr bem. Quando se quis apurar responsabilidades ninguém apareceu, pois estava na hora do café. Não desistiram, mesmo assim, e fizeram bem. Lá chegaram a conclusões, ainda que contraditórias: umas diziam que não corriam bem por estarem gordas e outras por estarem magras; umas por estarem cansadas e outras por estarem folgadas; umas por ganharem de mais e outras por ganharem de menos; umas por excesso de motivação e outras por estarem desmotivadas. Nomeou-se uma comissão para chegar a consenso, que era algo que só acontecia no dia de são nunca, pela tardinha. E esse era o dia, mas ainda era cedo.


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Duelo na avenida

Um homem passeava pelas ruas da cidade. Ia com os seus pensamentos e passou junto de uma casa, com porta de entrada vidrada, fechada, e por onde espreitavam quatro rapazolas. Um deles, mais afoito ou pícaro do que os outros, vê passar o homem na rua, chama a sua atenção com um batimento no vidro e mostra-lhe o dedo do meio espetado a si dirigido, confortável  pela protecção da porta e do vidro. O homem, que tinha cabelos brancos, não se intimidou e parou em frente da porta e do vidro. Calmamente, levantou o polegar e esticou o indicador, ambos da mão direita, pois era destro, e «disparou» em direcção aos rapazes: a um no pé, a outro numa orelha e a mais um numa perna, poupando o quarto para ir chamar o 115. De seguida, soprou o fumo do indicador, meteu a mão no bolso e continuou a caminhada. Quem viu, chamou-lhe o duelo na avenida, sem o curral do filme. Foi abertura no telejornal.

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22 agosto 2014

Regimes

_ Sou uma rainha.
_ Muito gosto, mas sou republicano.
_ Não seja insolente, peço-lhe. Nunca me degustou?
_ Por favor, minha senhora. Sou um cavalheiro!
_ Não quis ofendê-lo, acredite. Só quero que se recorde se alguma vez me comeu.
_ Majestade, peço-lhe que evite linguagem vulgar e imprópria, pois embaraça-me.
_ Irra, que chato! Já olhou bem para mim, para as minhas formas, aroma e cor de pele?... Não tem vontade de me dar uma dentadinha?
_ É doce?
_ Muito. E faço bem aos intestinos!
_ Já que insiste, majestade, por que não, então?
_ Finalmente! Como é que o meu amigo se chama?
_ Plebeu, só. E vossa majestade?
_ Cláudia, rainha das ameixas.


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21 agosto 2014

Acrobacia

A exclamação voou pela praia e foi uma surpresa. Fez um loop e pousou no ponto final.

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Quentinha

A escrita tinha frio e pediu um agasalho. Deram-lhe um adjectivo.

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Retirado

Fazia fretes e deixou de os fazer. Era um frete.

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Rodada

_Vai mais uma?
_ Por mim...
_ Das grandes?
_ Mini.

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11 agosto 2014

Triunfal

Pegou a vida pelos cornos. Como a pega foi um êxito, teve direito a volta de honra.

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10 agosto 2014

Roleta

Agarrou a oportunidade que estava à mão. Podia ter escolhido uma mais madura, mas não teve tempo. No mercado das oportunidades não era uma questão de sorte, mas de contactos e de intuição. Saber se estavam maduras era mais preocupação dos nutricionistas, que se tinham de haver com as calorias. No seu caso, que não tinha problemas desses, era procurar adivinhar qual a cautela vencedora.

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Nunca digas nunca

O misantropo, assim transformado, leva o seu papel a sério. A sensível, assim nascida, também. Pelo meio, o sal e a pimenta da vida, com filhos e netos à mistura, amigos, músicas e afectos. Os finais felizes ainda marcam.

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À pala do You Tube XV

... E também do filme Nunca digas nunca, a memória de uma voz, Juddy Collins, e de uma canção, Both sides now, belíssimas http://youtu.be/A7Xm30heHms


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Aforismo

Vive o presente e olha para o futuro. Para os dois, conta sempre com as taxas de juro.

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Pontapeado

Tinha um dom, que era este: sempre que dava um pontapé numa pedra, aparecia-lhe alguém. Nunca sabia quem seria, bom ou mau, novo ou velho, homem ou mulher, alguém seria, disso tinha a certeza. Como nesse dia. Teve foi um azar dos diabos, pois quem lhe apareceu cravou-lhe logo um cigarro e recordou-lhe uma dívida antiga de 50 paus.

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Paus de cabeleira

O piropo galanteou a rosa vermelha. Reconhecida, convidou-o a juntar-se-lhe. Foi o que fez, mas os espinhos rejeitaram-no.

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Mercado

Diziam-lhe que o povo unido jamais seria vencido. Céptico, questionava-se sobre se o regulador não consideraria isso como posição dominante.

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Anotações

_ De que se queixa?
_ Falta de memória.
_ Vai ali à papelaria e compra uns cadernos.
_ Sabe se têm moleskines?
_ Não me recordo. Traga-me também um.
_ E o dinheiro?
_ Digas-lhe para pôr na conta.
_ É de confiança?
_ Não me lembro.

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Brinde

Abriu o bolo e saiu-lhe a fava. Não o ouviram a dizer «Heureka!».

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09 agosto 2014

Era uma vez...

Era uma vez... um patinho feio...
Era uma vez... a bela adormecida...
Era uma vez... a bruxa má...
Era uma vez... três porquinhos...
Era uma vez... uma minhoca...
Era uma vez... uma tartaruga...
Era uma vez... o robin dos bosques...
Era uma vez... a carochinha...
Era uma vez... o era uma vez...
Moral: o início das histórias tem pouco de original.

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Aforismo

Cuida-te o melhor que puderes. Se não puderes, fá-lo na mesma.

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A sedução

Uma garrafa. Um copo. Ele acena-lhe e convida-a. Ela faz-se desinteressada. Ele desiste. Volta-se para o garrafão. Ela aceita.

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Os da Martini.

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Dom Juan

Derramou charme sobre a mesa e não fez nódoa.

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Alumiação

_ Não me está a conhecer, pois não?
_ Assim, de repente...
_ Já olhou bem para mim?
_ Já, já. Mas, confesso... Desculpe.
_ Faça um esforço. Vá lá!
_ Bem... É da terra?
_ Mais ou menos. Mais um bocadinho e chega lá.
_ Fomos colegas?
_ Penso que não. Vou ajudar: quando as coisas não correm bem, a quem costuma recorrer?
_ ?... Não sei... depende do momento... Sei lá!
_ Não recorre a mim?...
_ Se me dissesse quem é...
_ Sou a Ideia. Peregrina.
_ Ah!

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Vira o disco

Foi decretado o fim da crise. Em vez de se conformar ela riu-se e carregou no replay. O decreto foi revogado.

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Aforismo

Faz o que está certo. Na dúvida, usa a prova dos nove.

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03 agosto 2014

Colheita

Era uma pipa de massa. No mundo dos produtores e dos enófilos reinava a confusão, atarantados que estavam com a ausência de referências à madeira utilizada e ao período e técnicas de fermentação. Resolveram avançar, apesar de tudo. E fizeram bem! O primeiro engarrafamento já estará a ser  feito, prevendo-se que entre no mercado muito em breve.

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02 agosto 2014

Parado

O carro não pegava e puseram-se a empurrá-lo. Protestou e invocou os seus direitos, ameaçando-os com o tribunal. Não lhe ligaram e foram condenados. Para além de uma bateria nova, tiveram que lhe dar banho e estacioná-lo no parque.

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Sem remendo

Sempre confiara nas garantias. Mas agora a coisa era diferente, pois nunca se vira tão apertado. Olhou para o céu com ar suplicante, como se auscultasse a altura do sol e o sentido do voo das aves. Procurava não se preocupar demasiado, mas começava a notar-se. Meteu a mão no bolso mágico, o das alternativas, e surpreendeu-se por lhe escorregar para a perna, tal o tamanho do buraco. Então, e só então, é que se apercebeu do calote à costureira.


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Estrondo

Põs a boca no trombone. Em vez de música, saiu lume.

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Que mal fiz eu a Deus?

Um filme bem-disposto, bom para se ver em férias e com disponibilidade para encarar, meditar e sorrir sobre as questões à volta da multiculturalidade.

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Preso

Meteu o nariz onde não era chamado. Quando o quis tirar, estava entalado.

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Nada a fazer

Fugiu-lhe a boca para a verdade. Quando se apercebeu, era tarde.

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Manobra perigosa

Ultrapassou os limites. Como o fez pela direita, foi autuado.

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Rifão

Se te vires aflito, procura a casa de banho mais próxima.

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01 agosto 2014

Hermenêutica

A interpretação era ambígua e decidiram-se pelo pousio.

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Reserva

Diziam muito com pouco e escolheram-nos pela poupança. O porquinho mealheiro também foi abrangido.

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