Algo deve ter mudado (e muito!) na forma de estar e de competir dos nossos jogadores e selecção. Apesar da fase de apuramento para o Euro 2008, parecem afastadas (parece) as épocas em que só havia vitórias morais ou apuramentos sofridos e dependentes de cálculos mais ou menos elaborados. Pelo menos até agora, para nós o Euro 2008 tem sido encarado como ele deve ser encarado: ganhar primeiro e fazer contas depois. Como não é frequente, aqui fica o reparo para memória futura.
Com a República Checa (comecei por escrever Checoslováquia...), como se previa, as coisas fiaram mais fino do que com a Turquia. A própria evolução do resultado também contribuiu para isso, juntando-se-lhe alguma inconsistência da equipa no passe, sobretudo na 1.ª parte. Na 2.ª, as coisas melhoraram, sobretudo pela melhoria nesse pormenor, o passe, e uma pressão mais efectiva sobre os checos que culminaram nos golos. Por uma vez mais, é grato ver confirmado um dos princípios básicos do futebol: quem quer ganhar deve mostrá-lo e arcar com as despesas. Foi o que aconteceu.
Sobre os jogadores, mais uma vez Deco. Para mim já não é surpresa, esta ligação, quase umbilical, entre um Deco em bom estilo e os êxitos da selecção, tal como já o tinha sido no Porto. Quanto a Ronaldo, homem do jogo para a UEFA, bom golo e boa assistência, mas acho que ainda aquém do que poderá dar e, sobretudo, mostrar. Bem sei que a sua época e performance foram fantásticas, sendo natural e aceitável que isso se esteja a pagar. No entanto, sendo isso real, também é certo que o patamar em que o colocaram e ele se colocou lhe cobram esse estatuto, que exige mais e mais.
Um reparo também para alguma tremideira de Ricardo e da defesa nas situações de aperto, sobretudo nas bolas por alto, o que também deve acautelar-se com uma melhor cobertura das linhas mais adiantadas, para evitar o despejar de bolas para a grande área.
Estava na rua, quando Portugal marcou o primeiro golo. Não foi preciso fazer um grande esforço para o saber, pois as reacções dos automobilistas e o barulho dos espectadores nos auditórios ao ar livre foram suficientemente eloquentes. É uma emoção que quis registar, pela espontaneidade e impacto que me produziram. Por que carga de água é que não conseguiremos mobilizar-nos assim, ou de forma parecida, para as coisas importantes e decisivas?... Suspeito quais sejam algumas das explicações, mas continuo a não me conformar.
Inexplicável também, pelo menos para mim, a divulgação, no mesmo dia, da notícia da ida do Scolari para o Chelsea. Sem querer recusar o direito legítimo do homem escolher o que melhor lhe convirá, cairiam os «parênteses na lama» a alguém se a divulgação ocorresse lá para o fim do Euro? Não me parece. Mas, se calhar, devo estar enganado.
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