27 junho 2023

Experiment(ia)

Satisfeita, a lagarta roía mais uma folha... Quando a pinça se aproximou, exclamou: «Está na hora da proveta!»...

Etiquetas:

24 junho 2023

Buraca(da)

Meteu a mão no bolso e um dos dedos saía-lhe por um buraco... Era o dedo do meio, o que causava alguma perplexidade, aventando-se a hipótese de procura do protagonismo ou arejamento, na melhor das hipóteses, e de descaramento, na pior. Reunido o comité dos dedos, por imposição do dono da mão, facilmente se constatou que se estava num impasse: o polegar, o indicador, o anelar e o mindinho não se entendiam e o médio assobiava para o lado, a ver quando é que a coisa se resolvia... Quanto ao bolso das calças, ligou para o 112 das costureiras e foi atendido por um avatar do GPT, que lhe deu os bons dias e perguntou em que podia ajudar...

Etiquetas:

18 junho 2023

Mentiralha

_ Como vamos de mentiras...?

_ Mal!... Muito mal!...

_ Já não se mente...?!

_ Pouco... As fakenews, meias-verdades, realidades alternativas espatifaram isto tudo!... Se não tivesse tantos anos de negócio, já tinha fechado a loja...

_ Pois, compreendo... Outros tempos, por certo...?

_ A quem o diz!... Já não há respeito e, muito menos, moralidade!... O mundo está perdido!

_ Continuamos a falar de mentiras, certo...?

_ Claro! Pensa que eu sou o quê...!?

_ Um mentiroso. E dos bons!...


Etiquetas:

17 junho 2023

Ines(ada)

Começou a ouvir um burburinho e decidiu investigar o que se passava... Chegado ao local, uma esquina de um prédio, mais concretamente da parede de um dos lados do edifício, ficou surpreendido com a presença de um grupo de mulheres, com idades que oscilavam entre os poucos e os muitos anos, contando também com os intermédios, que apontavam para uma inscrição na parede, onde alguém escrevera isto: «Inesinha gosto muito de ti»... Curiosamente ou não, todas as mulheres que se tinham juntado ali, a apontar para a inscrição e algumas com lágrimas nos olhos, se chamavam «Inês», fosse como primeiro ou segundo nome, logo, potenciais destinatários da mensagem amorosa... Nada de mal, percebia-se, até porque o autor não se identificava e sobre a destinatária, para além do nome em modo diminutivo também pouco se esclarecia... O mais estranho era a presença da polícia, que tinha sido chamada entretanto, mas que se tornara necessária devido à ameaça de tumulto que se começara a formar, tal a ânsia e a convicção com que, cada Inês, invocava ser a legítima e única destinatária de tal inscrição...


Etiquetas:

Escrevo umas coisas que depois ficam no congelador. Faço bem...?

Depende da temperatura e do conteúdo: se forem boas, descongele e consuma logo. Se forem más, pique-as e faça um empadão.

Etiquetas:

Trepidadela

Já não era a primeira vez que se cruzava na rua com a senhora e o cenário repetia-se: ela a passear com duas cadelas, raça Pequinês ou aparentada, parecia, uma a andar no chão, pela trela, e a outra ao colo, debaixo do braço... Constituindo uma cena repetida e sempre com as mesmas protagonistas, não havia maneira de se passar sem dar conta do episódio, a maioria das vezes sinalizado com sorrisos de parte a parte, sob a capa de uns bons-dias, pois a cena ocorria, invariavelmente, no período da manhã. Até esse dia, em que do sorriso se passou para um comentário sobre a situação, perguntando pela eventual fadiga da cadela debaixo do braço, para não dizer mimo ou susceptibilidade do bicho, parecia-lhe a ele. Mas estava enganado, reconheceu logo a seguir, pois a senhora respondeu em Inglês à pergunta, dizendo e apontando como causa para o comportamento da cadela como situação recorrente desde cachorra, suspeitando a senhora que se devia a medo/fobia das vibrações da calçada, tendo-se presente que se tratava de uma rua movimentada e com muito tráfego rodoviário...

Etiquetas:

Rotineira

Há rotinas que se afinam. Uma delas, é a da escrita. Quando se perde a mão, seja qual for a razão, é mais difícil entrar no ritmo ou em velocidade de cruzeiro, talvez o que se deseja, não se sabe, mas seguramente algo com o qual se ambiciona (ou não?...). Talvez a expressão da «velocidade de cruzeiro» aponte para isso, para um andamento em automático, ou quase, ambição de muitos que escrevem ou fazem vida da escrita, mas se calhar não tão desejada por outros, se calhar por aqueles que olham e praticam a escrita como um compromisso de rompimento do que se entende por «rotina», numa interpretação mais banal, de algo que se vai repetindo com poucas ou nenhumas alterações, assumindo antes um rasgamento de práticas e ou temáticas, tudo ou praticamente nada rotineiras, pensarão. Mas será assim...? Não se sabe ou talvez seja difícil. Para o que conta, o presente exercício alcançou o seu objectivo. Se foi ou não rotineiro se verá depois, pressupondo continuidade. Ou será «rotina»?...

Etiquetas:

03 junho 2023

Pionés vs. prego

Quando entrou na sala, deparou-se com um cenário invulgar: uma pessoa conhecida encostada à parede a falar com uma outra, de frente para ela.

De imediato, o comentário: 

_ Pela primeira vez, vejo-te encostada à parede!...

Resposta pronta:

_ Faltam os pioneses! Vou usar os teus...

Contra-resposta:

_ Para ti, casca-grossa que és, só com pregos!...

Etiquetas: