31 outubro 2020

Prova

_ Venho provar o nome.

_ Já tirou as medidas?

_ Sim. Na semana passada.

_ Só para nos situarmos: escolheu um nome próprio ou comum?

_ Próprio. Mas discreto.

_ Muito bem. E é para usar em que ocasiões?

_ Dia-a- dia e nalguns eventos. Simples e discretos, também.

_ Preparado para a chuva, vento, etc...?

_ Claro. Impermeável q.b. E não esquecer o frio!

_ Para o calor, pensou nalguma coisa...?

_ Sim... sim. Para acompanhar com um casual. Pode ser...?

_ Com certeza!


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Plic, ploc, pluc

Há duas noites consecutivas que o som 'ploc' se fazia ouvir. Para evitar o acumular de tensões, nunca se sabendo como iria acabar, começava a ser evidente que teria que se fazer alguma coisa. Por exemplo, consultar um entendido em 'ploc' de torneiras. Perguntando por um, sugeriram-lhe uma classe em ascensão: a dos contadores de pingas nas torneiras, uma tendência a afirmar-se no panorama profissional. Combinado o serviço pelo telefone, a visita só poderia ocorrer daí a três dias, devido à procura. Até lá, e para obviar o incómodo, foi sugerido a mudança para um hotel.

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A receita

_ Queria uma raspadinha, por favor.

_ E de quais...?

_ Das de textos.

_ Aqui está. 

_ Dê-me outra!

_ Não saiu nada da primeira...?

_ Saiu, mas não era o que estava à espera... 

_ E que era...?

_ A receita para o reconhecimento...

_ Sugeria-lhe que tentasse outra...

_ Raspadinha...?

_ Sim, mas de natureza diferente...

_ Qual...? Qual...?

_ A do trabalho... Mas é mais cara!...


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Barreira(s)

Tentara forçar a passagem, mas não conseguira: a barreira da página em branco caíra-lhe em cima, não sem um pedido de desculpa. Para além do galo, não havia danos de maior. Ao contrário da barreira, cujo ego ficara afectado.

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30 outubro 2020

Arru(fio)

_ Viste a inspiração?

_ Hoje, não. Ontem, sim.

_ E como é que estava?

_ Bem, pareceu-me... Mas um bocadinho afónica. 

_ Estará doente...?

_  Só se for da tola...

_ Então...?

_ A forma como se exprimiu...

_ Não se ouvia, era isso...?

_ Nada disso. Fez uns gestos...

_ De reconhecimento?... Paz?... Concordância?... Incentivo?...

_ Mais provocação... É uma tonta!...


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Constrangimento

Viu-se ao espelho e não gostou do cabelo, da cabeça e dos braços. Ao contrário dos pés, de que gostou bastante. A solução parecia-lhe óbvia... Correu tudo bem até apanhar o autocarro, onde teve dificuldade em apresentar o passe.

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Duelo

Longe iam os tempos em que os duelos se faziam com espadas ou pistolas. Agora, faziam-se com outras armas. Como chuteiras, por exemplo. E ali estavam os duelistas, cada um com um par de chuteiras, reluzentes de novas. Tudo começara por causa da marcação de um penalty. Olharam-se nos olhos e deram os passos regulamentares. Sem vacilarem. Caíram redondos, cada um para seu lado. Apertaram mal as chuteiras, concluiu-se. Eram treinadores de bancada.


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Escrita (in)criativa

Sempre que lhe sugeriam a formação como solução para todas ou a maioria das maleitas, torcia o nariz. Podia considerar-se um tique, esse, mas também uma forma de expressão sui generis. Poderia ser um sorriso, uma imprecação, um esgar de impaciência, um juntar de mãos, um elevar de olhos para o céu, mas ficava-se pela torcidela do nariz, mais ou menos acentuada. Mas era como pregar no deserto: ninguém o ouvia, à excepção dos grãos de areia, das palmeiras ou dos camelos, se os havia... Mas também poderia dar-se o caso de não existirem as palmeiras, muito menos os oásis, mais típicos dos filmes. Agora quanto aos grãos, não havia dúvidas: estavam lá e recomendavam-se. Mais não seja, como ouvintes. Para um orador (ou pregador, também), este pormenor não era despiciendo. Mesmo que não gostassem ou em desacordo com o que se lhes diz (ou prega), têm, mesmo assim, que ouvir... E não bufar (e não, não é por causa do calor). Quando muito, podem fazer um pé-de-vento e atirar-lhe a areia para os olhos...


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29 outubro 2020

A(ladina)

Desconhecia o que iria aparecer ou manifestar-se. Era sempre assim, quando estalava os dedos para se surpreender... Muitas vezes arrependia-se, mas tinha que se aguentar à bronca! Fosse como fosse, agora já não havia nada a fazer. Estalara os dedos e a palavra (era uma palavra) plantara-se-lhe à frente. Apresentou-se: Encarrapitada! Mas ficou pouco tempo, muito pouco, mesmo, à sua frente... Num ápice, era a sua natureza, quando se apercebeu já ela estava num ponto elevado, o que lhe provocou esforço quando ergueu o pescoço, dando um pequeno estalo, inclusive... Pouco dado às alturas, convidou-a a descer para a superfície, mais para o nível comum, mas sem grande resultado. Estalara os dedos, nada a fazer... Resignou-se. Da próxima vez, usaria a lâmpada...


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28 outubro 2020

Relogiosidades

Todos os anos, mais ou menos por esta altura, a situação repetia-se. Era uma rotina entre outras, esta com a singular característica de ocorrer anualmente, mais ou menos em hora e data apalavradas. E era vê-los, um garboso na indumentária, e outra com algum pudor, num recorte de bom gosto, a trocarem olhares e promessas de amor, no mínimo por mais um ano, brincando sobre quem mudava a hora primeiro...


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25 outubro 2020

Verb(i)o

Dois cães cruzam-se na via e alçam a pata, cada um para o seu lado. «Não se gramam!», rosnam os cépticos. «Estudam-se», elucubram os teóricos. «Fazem as necessidades», afagam os donos.

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Palavrário (letra m)

Maresia mar

Maravilhoso marcante

Magnificência!


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24 outubro 2020

Para puxar pela cabeça...

_ Hoje é o seu dia de sorte... Por uma módica quantia, podemos ter uma conversa séria. Que me diz...?

_ Não sei se me interessa... Tem algum mostruário?

_ Aqui, não. Mas podemos começar na mesma. Talvez por um clássico...?

_ E qual seria?

_ O sentido da vida. Sempre actual, não acha...?

_ Já não o vejo há alguns anos... Mas, quando o vi, gostei muito...

_ Óptimo, óptimo!... Está, portanto, familiarizado com o tema...? Talvez tenha investigado, produzido trabalho intelectual nesse domínio...? Não me surpreenderia, não me surpreenderia... Basta olhar-lhe para a testa... Três dedos travessos de largura não enganam... É um facto! Podemos acertar a quantia, então...?

_ Em que cinema é que está a passar...? É um ciclo, é isso...? No original ou com legendas?

_ Vai-me desculpar, mas parece-me que está a fugir um pouco ao tom... Não me está a dar música, pois não...?

_ Nunca se sabe... Veja lá se conhece esta: «Always look on the bright side of the life»...


 



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20 outubro 2020

Plon!

Era um mágico dos acordes. Nas suas mãos, a guitarra desaparecia e só se viam os dedos num dedilhar encantatório. Como era possível, isso...? Não se sabia, nem tão pouco interessava... Excepto quando uma das cordas se quebrou... e o gravador deixou de tocar...

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18 outubro 2020

À procura da paisagem interior - amostra 4

Não se conseguia lembrar do nome da artista francesa... Apesar disso, não estava com vontade de recorrer ao tira-dúvidas corrente, o tio Google, optando antes por fazer uma visita à Paisagem Interior, que agora pedia que a tratássemos por PI, desde sempre uma memória infalível para nomes, acontecimentos, enquadramentos, e tudo o mais que tivesse a ver com o french way of life e sucedâneos, quaisquer que fossem...

Meu dito meu feito! e ali ia ele todo chispado pelas ruas e vielas que iam dar à casa da PI, depois de feito o tradicional e obrigatório contacto prévio pelo telemóvel, que tocou poucas vezes (uma novidade), e uma resposta calorosa (outra novidade) transcrita como «Aparece, filho!». E o «filho» pôs-se a andar.

Embora não programada, a visita pelo Outono estava mais ou menos prevista, só não tendo ocorrido mais cedo pois se tinha querido dar margem de manobra e possibilidade de respiração para a fase pintora da Paisagem, projecto que tinha anunciado com pompa e circunstância na última visita,  ficando a aguardar-se se ocorreriam outras pela estação dentro. Ir-se-ia ver...

Como já conhecia bem o caminho, incluindo alguns atalhos, a chegada a casa da PI foi mais ou menos rápida. À medida que se aproximava da porta, os latidos de um canídeo começavam a tornar-se mais audíveis, deixando-o intrigado e com alguma ansiedade, pois desconhecia se o animal seria assanhado ou não (sempre uma incógnita), mais a mais porque a sua dona, a PI, tinha dias... e alguns não eram bons... Talvez a coisa resultasse bem.

Quando a abriu a porta, deparou-se com o animal, de raça Pug, «fofinho» como os entusiastas da espécie costumam apelidá-los, machos ou fêmeas, de nome Marmela, uma homenagem à estação e ao fruto, explicou-lhe a dona, depois de lhe ter dado três beijos, à moda francesa, nunca esquecer, que isto de ser um convicto defensor dos méritos e resultados do «Oh, la France!... Toujours la France!...» exigem dedicação e comportamento condizente, «Oh, la-la...»...

Mas quando teve a oportunidade de olhar, com mais detalhe, para a PI, o que sobressaía era a espécie de quimono que envergava, em tons floridos, bem como a música que se ouvia em fundo, uma espécie de som a apontar mais para os lados do Oriente, dizia-lhe o seu ouvido musical, destreinado que estivesse...

E também a afirmação de que a PI, agora, se dedicava à poesia haiku, estava fascinada, e já pensava em editar um livro, que se preparasse pois quem o iria apresentar era ele... Quanto ao nome da artista francesa, acabara por se lembrar. Mas já não interessava...





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17 outubro 2020

Deferência(s)

_ Por obséquio, poderia ajudar-me...?

_ Quanto ao obséquio não sei, mas quanto a si acho-a merecedora de toda a consideração... Por isso, faça favor.

_ Não é favor nenhum... Estou mesmo necessitada!

_ Deixa-me consternado... O que posso fazer?

_ Agora... é tarde!...

_ Oh!... Lamento imenso, queira desculpar... Nunca imaginei que fosse uma coisa tão urgente, as minhas desculpas, mais uma vez... Podia dizer-me do que se trataria...?

_ Ir à casa de banho...

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Ler a bula

Acabara-se o latim... Sempre tão previdente, desta vez não o fora. Um optimista dirá que não é problema, pois não há regra sem excepção; um pessimista dirá que já se adivinhava, pois a sua utilização era desproporcionada e sem critério... Acrescia o facto de já ter ido ao supermercado e não se ter reabastecido, ainda por cima estando em promoção. Agora, só soluções de recurso para colmatar.

Por sorte, tinha comprado umas tabletes de português, com sabor a fruta, e acerca dos quais os vizinhos lhe davam as melhores referências, incluindo os efeitos no colesterol e na diminuição de massa gorda. Quando as experimentou notou logo melhoras no tracto intestinal e na diminuição da flatulência. Também experimentou alguns momentos, breves, de euforia, mas atribuí-os à falta de experiência e, reconhecia também, por não ter lido a bula...


 


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11 outubro 2020

Há solução

_ Tenho aqui umas ralações e não sei que fazer com elas...

_ Já pensaste em vendê-las ou alugá-las...?

_ E há mercado, para isso...?

_ Claro! E de nicho, ficas  saber!

_ De nicho!?... Mas isso não é um bocado apertado...?

_ Nada disso!... Quanto é que medem, as ralações?

_ Assim por alto... não sei!... Mas olha que são avantajadas!...

_ Avantajadas, como...? Assim mais para o alto ou para largura...?

_ Diria que... mais para o volume, talvez... E pesadotas...

_ Achas que é necessário um guindaste...?

_ Talvez... não sei. Conseguimos fazer alguma coisa...?

_ Claro! 

_ E é o que quê, então...?

_ Vão para exportação!

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Pela manhã, uma t-shirt

Apesar do frio, decidira levar uma t-shirt. Abriu o armário e chamou-lhe a atenção a que estava oculta por uma outra, de melhor tecido, é certo, mas não tão cativante, a mostrar-se só a meio corpo, talvez por isso mais interessante... Ainda teve um rebate, dos tais matinais, mas já não voltou atrás com a decisão: seria a do Super-Homem! A fazer de capa, para compor o ramalhete, uma fina toalha de felpa, com a inscrição I'm so bad...

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10 outubro 2020

Estude! (é um conselho)

_ Tenho intenção de me dedicar a um novo negócio...

_ E qual vai ser, pode-se saber...?

_ Cultivo de opiniões.

_ Em sequeiro ou de regadio?

_ Talvez em estufa, mas ainda não tenho a certeza...

_ Por semente ou por estaca?

_ Dependerá do tipo de opinião... Sabe, no cultivo de opiniões tem que que se conhecer bem o produto, a capacidade de medranço e os potenciais clientes... É uma actividade exigente. Tem que se estudar e experimentar muito... Vamos ver.

_ E mão de obra, arranja-se...?

_ Estou a ver... Conhece alguém...?

_ Por acaso... sim. Da família dos Assertivos, conhece...?

_ Vagamente... Cobram muito...?

_ Quer-se dizer... Têm curso, percebe...?

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05 outubro 2020

O que é que queriam...?

_ O que é que lhe deu...?
_ Nada.
_ Como assim...?
_ Não podia.
_ Não podia...!?
_ Não, não podia. Estava morto.

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Em linha recta

Olhou em frente e traçou uma linha imaginária a rasar a nespereira e a apanhar um limoeiro, parecia-lhe, mas não tinha a certeza, devido à distância, só parando de encontro à parede da casa defronte. Por mais que tentasse, esbarrava sempre nela! Parecia-lhe injusto, logo agora que tinha delineado uma recta tão direitinha, na sequência das podas, mesmo a pedir alongamento até onde a vista alcançava, e que não era necessariamente um rectângulo de cor amarelada encimado por umas telhas, com roupa estendida a secar... Ainda pensou em solicitar uma providência cautelar para que ela se afastasse, mas lembrou-se de que era feriado e os serviços estariam fechados...

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Feriado

Num dia como o de hoje, talvez mais propenso para republicanos do que para monárquicos, não se sabe, a tentação seria a de privilegiar os festejos exclusivamente para os primeiros, esquecendo os segundos e talvez aceitando-se que para estes os festejos não o fossem propriamente... Conclusão ou especulação fácil, aceita-se o risco, mas tendenciosa, que isto de ter um título também se aplica ao gozo de um feriado, mas visto pela perspectiva adequada, ou seja, com linhagem e etiqueta.

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04 outubro 2020

Sondar

O dia avizinhava-se fresco e, provavelmente, chuvoso. A medo, quase sorrateiramente, o raio de sol punha o pezito à mostra, a palpar a temperatura. Que logo retirou, não evitando um calafrio. Na dúvida, iria fazer o teste.

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À la longue

 _ Admitindo que sim, que apoiávamos a coisa, quais seriam as nossas vantagens...?

_ A minha gratidão. Eterna!

_ Acredito que sim, tomamos nota, mas não há nada mais palpável...?

_ Por definição, a eternidade não é palpável... Por aqui, estamos conversados... Mas já reparou no valor de mercado...? Trata-se de algo que é para a eternidade, não se esqueçam... Não sujeito a modas, tendências, birras, alteração de estação, nada!... Não acham que é um valor mais do que suficiente...?

_ Não pomos isso em causa, mas não vamos estar cá para o constatar, infelizmente..., E os accionistas querem que lhes prestemos contas. Aqui e agora, compreende...?

_ Sendo assim, nada feito!

_ Nada feito!?...

_ Sim, nada feito. Perderam a vossa oportunidade... Falta de visão, percebe...?

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A propósito de um título (parido sem dor e a horas mortas)

Deve ser fácil para um neurologista ou similar, mas para ele continuava a ser um mistério a razão ou o fundamento para que lhe viessem bater à porta da consciência determinadas coisas, palavras, imagens, frases, sons, simples flashes de qualquer coisa que só parecia estar à espera de se mostrar e dar os bons dias, tardes ou noites, eventualmente seguindo pela dita adentro, no sentido à directa, comum para muitos, luxo para alguns. E isto a propósito de um título que lhe aparecera dessa forma, Telefona-me quando puderes, mas agora não, com som e vista para arregalar o olho, não lhe parecendo mal. Sentira-se um espírito livre ao pari-lo, e ainda por cima sem dor, pensando logo numa forma de lhe dar um destino condigno, como este, em que se dispunha a escrevê-lo num guardanapo, mas de pano, note-se, e isso já constituía um indicador de excelência, nos dias que correm, não só para limpar a boca, na versão soft, ou os beiços, na versão hard, mas também para funcionar como uma espécie de alcatifa para acolher a paridela do título e servir-lhe de agasalho para os primeiros balidos. Porquê, Telefona-me quando puderes, mas agora não, perguntar-se-ão os curiosos destas coisas, seja por razões profissionais, de estudo ou de qualquer coisa de que não se lembrava agora…? Pergunta pertinente, como todas aquelas para as quais não existe uma resposta óbvia ou, existindo, se faz os possíveis por ocultar, destinada a marcar o tempo de conversas infindáveis pela tarde, noite ou às vezes juntando as duas, como naqueles momentos em que as almas jovens, crédulas e inocentes, julgam que têm o mundo ao alcance de um estalar de dedos ou de um pigarrear a garganta, talvez até um arregalar de olhos fascinados pela descoberta e o maravilhoso, ainda que transitórios... É um mistério que irá acompanhar-nos, queiramos ou não, e ainda bem que assim é. Quanto ao título, ficamo-nos por aqui. Se lhe voltar a pegar, é porque a coisa deu frutos. Logo se verá… Telefonem.

 

 

 

 

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O número, esse relativo

_ Queremos saber o que se passa.

_ E quantos são, «o queremos»...?

_ Somos dois, eu e a minha mulher.

_ É muito.

_ Então, e se for «quero saber»...?

_ É pouco.

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03 outubro 2020

Estava preparado para experimentar algo diferente, mas fui acometido por dúvidas. E agora...?

 Sugerimos-lhe uma certeza: deixe-se estar onde estava.

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Ditado velho (dá sempre jeito)

Quando acolheu o caos, não lhe fez grandes recomendações: apenas que não se deitasse tarde. O acto de acolher o caos, que não foi bem entendido pela vizinhança, foi motivo de conversa e desconversa durante semanas, só não tendo resvalado para meses porque entretanto tinha chegado outra novidade, mas dessa só poderá falar-se mais tarde.

Que a coisa não ia ser fácil, tinha perfeita consciência disso. Corriam as mais desencontradas hipóteses sobre o que é que teria determinado tal gesto, mais a mais numa pessoa de boas famílias e respeitadora, pelo menos até então, mas que se colocava a partir de agora em dúvida, dados os factos...

E que hipóteses eram essas, perguntam-se vocês, leitores ávidos de conhecerem o que se passa na vizinhança e arredores, perto ou longe, com mais ou menos picante, azeite ou vinagre, com sangue ou apenas lágrimas...? Duas, basicamente: ou era feitiço ou o protagonista entrava num concurso, talvez numa nova versão de small brother, dada a conjectura e porque dá jeito introduzir alguma variante num modelo de que já se conhecem as regras e o marketing aconselha sempre um restyling...

Talvez..., talvez..., vaticinava-se na vizinhança, havia que esperar para ver...

Mas os dias passavam e a ameaça de que uma espécie de apocalipse prestes a acontecer nunca mais se manifestava, levando os mais desesperados a arrepelar o cabelo e a erguer os olhos ao céu em busca de um sinal, que nunca mais chegava...

E os dias passavam, passavam, e a coisa começava a amenizar-se (ainda bem!), sendo já frequentes os sorrisos e os bons-dias quando se cruzavam com o caos, que entretanto se tinha tornado um filho querido da freguesia, que a todos respondia com uma palavra de agrado e uma preocupação genuína pela saúde daqueles ou daquelas com quem se cruzava e dos seus próximos, fazendo jus ao avelho ditado de «quem vê caras não vê corações...».

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Mercado a explorar

Há muitas formas de manifestar desconforto perante uma surpresa. No seu caso, recorria preferencialmente a duas delas: deitar as mãos à cabeça ou olhar para a carteira. A escolha dependia do tipo de surpresa, é claro, mas havia situações em que podiam conjugar-se, como num mix. E hoje era uma situação dessas, do tipo mix, resultado de ter constatado (com surpresa, pois claro!), de que a prateleira do armário das certezas estava cheia e a das dúvidas vazia. Poderia parecer uma contradição, mas não era. Era mais fácil amealhar certezas do que dúvidas, que tinham um potencial de desgaste e troca maior, mesmo que às vezes houvesse resistência dos parte dos consumidores ou interlocutores. Quem tinha certezas, raramente se desfazia delas. Já com as dúvidas era diferente: muitos não as queriam ou davam pouco por elas, mesmo que a troca ou a venda fosse atractiva, do tipo: compre uma certeza e leve três dúvidas para o almoço. Para uma mente treinada neste tipo de avaliação (vá-se lá a perceber porquê...?), o negócio, de tão bom, parecia contraproducente, daí que a avaliação sobre as dúvidas fosse habitualmente pouco abonatória, indo sempre parar ao estado e à frescura delas, comummente desvalorizados. Mas como tinha que se sobreviver, lá se fechava os olhos e ainda ganhavam uma dúvida ou outra... oferta do produtor.

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