28 fevereiro 2021

Uma grande despedida

O título em português deste filme é um bom princípio para começar. Conceber ou organizar algo com o título de 'Grande Despedida' é sempre um sinal de alerta para algo que tem relevância e/ou dignidade, pelo menos para quem é convidado ou está envolvido. Na maioria das vezes, por razões mais terrenas e correntes, por exemplo o fim de uma carreira profissional ou artística, uma transição de idade ou de estatuto, por exemplo. O que já não é muito vulgar ou corrente, é que alguém a quem foi diagnosticada uma doença terminal decida comunicar aos seus mais próximos esse facto e qual a decisão que tomou face a isso, tentando e simbolizando um último gesto de liberdade e autonomia da vida perante a inevitabilidade da morte. E, para isso, convida quem acha que tem e deve partilhar, por direito próprio, este seu último acto. Contrariando a fatalidade e a (inevitável) tristeza, quem convida deseja que o encontro seja feito num cenário típico de festa e de convívio, numa casa em local mais ou menos paradisíaco, com um repasto servido com todos os requisitos adequados. E é aqui que o encontro ganha contornos inesperados e contundentes, quer pelo tema que aborda, as questões e implicações associadas ao suicídio assistido, mas também pela cadeia de relações e imbricações emocionais que são partilhados por um grupo de pessoas que se relacionam e interagem há muitos anos, com descobertas e surpresas imensas, a maioria delas. Um filme muito interessante e com desempenhos conseguidos dos diversos intérpretes, numa história de uma actualidade e de uma fineza psicológica e afectiva de enaltecer.


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Chalupa story

Um chalupa conheceu uma chalupa e convidou-a para beber um copo, com um conteúdo chalupa, também. Com o decorrer do tempo e do contacto, os chalupas encetaram uma relação, sendo escusado fazer muito esforço para concluir que a sua principal característica enquanto relação era (lá está!), a chalupice. Os não-chalupas, às vezes apelidados de «normais», desconfiavam da duração e do entendimento entre o casal (a relação tinha evoluído, entretanto), não querendo acreditar que a razão para isso acontecer (lá está!, de novo), devia ser mantida pela chalupice e isso não estava de acordo com a norma, mesmo que ela também fosse chalupa. Lá está!...


Comentário: o que se receava há muito sobre este autor, finalmente teve o seu desfecho! Mais provas fossem necessárias, a decisiva, até pelo título, passa a estar agora disponível para os leitores. Que dizer a isto...? Alguma noite mal dormida? Uma empanturradela de alguma comida mais difícil de digerir...? Uma luz que se apagou...? Responda quem souber e/ou quiser. «Chalupa story»...? Alguém me diz onde é que estão as referências à distinta e notável embarcação...?

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27 fevereiro 2021

O problema é esse

_ Não estou a ver onde é que está o problema...
_ Está ali, mas escondido.
_ Onde?...
_ Ali, na frincha. Não o vê?
_ Confesso que não, mas pode ser dos óculos.
_ Olhe ali, curve a cabeça. Não vê as unhas?
_ Que unhas?!... A mim parecem-me mais garfos...
_ É porque ainda não comeu... Dando a fraqueza, vêem-se coisas...
_ Mas qual fraqueza?!... Não estávamos a falar do problema?
_ Sim, mas... De certeza que não tem fome...?
_ Irra!... Mas qual fome?...
_ Fome... De problemas, está a ver...?

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Cochino

Somos estimulados pelo ambiente. Muito ou pouco, de forma explícita ou sub-reptícia, o facto é que isso se verifica. Para o bem e para o mal. Mas abrandemos o tom, para retirar alguma carga mais pesada à escrita, e concentremo-nos naquele momento, surpreendente, sem dúvida, em que o que está registado na memória, aparentemente a levedar ou a dormitar, aparece à boca de cena e se mostra ao público, que não contava com ele, mas a quem se reconhece e louva a familiaridade, também a exemplaridade e a expressividade, como são as características das palavras com um significado forte e contundente, como é caso de «cochino», se possível acentuando-lhe a sonoridade com um 'tch' para reproduzir o 'ch', como uma vergasta. Tudo isto a propósito de um episódio do quotidiano, com protagonista humano e sua montada, o carrinho, numa rua ou estrada algures, baixando o vidrinho e fazendo o rouco prenunciador de que vem escarro a caminho, atenção, perigo!, siga a Marinha, que talvez a chuva faça o que lhe pedem para fazer, e não é só fecundar a terra...

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26 fevereiro 2021

Génio(s)

Esfregou a lâmpada e o génio apareceu, fazendo uma vénia. Olhou em volta e estranhou a ausência de público, uma raridade, nos dias que correm, mas o possível. Com ar enfastiado, bocejou e fez aquelas caretas que se costuma fazer quando se está enfastiado. Mas lá se dispôs a fazer aquilo para que lhe pagavam: conceder desejos. Desta vez era fácil: submergir uma piscina com dinheiro. Não lhe interessava nem se interrogava se o dinheiro substituía a água ou se o banho era para ser assim. Pediam-lhe a submersão da piscina com dinheiro e era isso que iam ter. Só obedecia ao código dos génios. Não estavam satisfeitos, arranjassem outro. Clareou a voz, disse as palavras mágicas e o dinheiro apareceu. Com uns insufláveis e umas bóias, por via das dúvidas.



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24 fevereiro 2021

Ascendimento

Ensacou uma data de títulos e preparou-se para os transportar para a lixeira. Pesavam pouco e isso era uma boa notícia. Mesmo assim, não estava convencido da sensatez da decisão de os ensacar e atirar para o lixo. Não tinha sido reflectida, talvez. Ou não esperara o suficiente, tentando que ficassem maduros e providenciassem os dividendos necessários. Fosse como fosse, agora havia pouco a fazer. Por um buraco da saca, porém, um deles começou a mostrar-se e a acabou por cair no chão. Apanhou-o e leu-o: Livra-me e segue andando, já com o itálico. Como quem se lembra de algo e se compraz, deu-lhe umas dobras e transformou-o num avião, pequeno, mas aerodinâmico, lançando-o de seguida. Perdeu-se nas nuvens e deixou de ser visto...

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21 fevereiro 2021

Para o ano há mais...

Nem sempre as histórias estão disponíveis. Ou estão, só que não se lhes presta a atenção que deviam ter. Não sei explicar a razão pela qual isso acontece, mas é verdade que isso se verifica. Mesmo que seja omitido pelos pares ou entendidos, as razões estão lá, ainda que escondidas. Seja como for, encontrava-me ou estava a passar por um período desses, de pousio ou de pouca atenção para notícias ou acontecimentos um pouco estrambólicos, que era o core business onde me tinha especializado e ao qual gostava de me dedicar com mais interesse. Na falta disso, ia passando pelas brasas e dedicava-me a meditar, com um ou outro rouco pelo meio, é certo, mas tudo dentro de limites aceitáveis, era uma preocupação minha, que cedo tinha incorporado uma atenção aos efeitos e as implicações provocados pelo ruído, ainda que provindos do nosso corpo. Adelante

Ainda que em pousio, mantinha-me em contacto permanente com as fontes. Para facilitar o contacto, à falta de pombos, que estavam em pousio, também, tinha desenvolvido um original processo recorrendo a problemas de palavras cruzadas, uma curiosidade de que me tinha lembrado ao constatar que muitas delas eram praticamente viciadas neste passatempo, o que era uma boa notícia e contribuía para cimentar alguns conhecimentos de ortografia e gramática, sem esquecer também os de cultura geral, sempre úteis, nos dias que correm, é a minha convicção.

E foi precisamente na resposta ao enigma do exercício do dia, «alma do outro mundo», 8 letras, vertical, que se fez luz na minha cabeça e percebi que a explicação para a ausência de notícias das que gostava afinal era fácil, só tinha que seguir a pista que a fonte, nome de código, 'Ave trepadora cuculídea, frequente na Primavera', horizontal, quatro letras, me apontava, assim como quem vai mais para cima, mas nem tanto, um bocadinho ao lado, sabia perfeitamente onde era.

Ia prevenido, claro. Sabia o que me esperava. O lençol tinha as dimensões adequadas e as aberturas para os olhos estavam alinhadas, não havia problemas. Como suspeitava, cheguei à hora em que a confraria dos fantasmas se encontrava reunida em Assembleia-Geral, era o dia aprazado, e existia quórum. Não suspeitavam quem eu era, lógico, até porque me sentei nos lugares destinados aos jovens associados, pagadores de quotas, está bem de ver. Aprovado o Relatório de Actividades e o de Contas, com a minha abstenção, pois achei estranho que a verba para aquisição de lençóis tivesse aumentado na ordem dos 200000%, apesar dos subsídios, mas disseram-me que estava tudo bem, se não gostasse das conclusões que apresentasse uma lista e me sujeitasse ao veredicto dos sócios... Não estava disponível, infelizmente, daí ter que me reservar para a discussão dos 'Outros assuntos de interesse para a Confraria'. Que chegou, já ia adiantada a hora. Tomando a palavra, e esvoaçando um pouco o lençol, para dar um tom dramático e apelativo à intervenção, perguntei se a confraria era a responsável pela ausência de notícias estrambólicas e se isso estava previsto nos Estatutos. Fez-se um silêncio sepulcral!... Tinha acertado na mouche, estava certo!... Queria ver como se iriam desenrascar desta... Esperei, pacientemente. Talvez meia-hora. Ao não ouvir resposta nem movimento, estranhei. À minha volta, pousados nas respectivas cadeiras, mas bem dobrados, um número de lençóis correspondente ao número de associados presentes, mas sem os seus utilizadores. Na mesa da presidência da Assembleia-Geral, um cartaz manuscrito, a marcador, com o aviso: 'Por favor, entregar na lavandaria Abentesma'. 

(in Estava Lá, Mas por Acaso, pp.197)

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Trigo barbela

Pode ser uma consequência de um gosto grande por pão, avivada por experiência recente de degustação de um pão de trigo barbela. E a história do trigo barbela no nosso país é, de acordo com a pesquisa e a leitura fugidia que fiz, uma história de se lhe tirar o chapéu, qualquer que seja o ponto de vista por onde se olhar. E para fazer pensar também, sobretudo pelo que ela revela ou deixa implícito, sobre como é que as coisas se processam e se constrói a relação entre o ambiente e o desenvolvimento, na complexidade das suas inter-relações e implicações. Conhecer essa história é a homenagem e o tributo possíveis a um protagonista que convém valorizar: o trigo barbela.



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20 fevereiro 2021

Conversa de estendal

_  Nem sei como vai ser, com este vento!...

_ Ora!... Vai ser como é habitual...

_ Achas...? Não viste o aviso da protecção civil, por certo...

_ Foi quando?

_ Há pouco. Vi no telemóvel.

_ Dizemos-lhe...?

_ Quem, à camisola?

_ Sim. Não queres?

_ Deixa... Que arregace as mangas, para variar...

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Jantar

«Ai, filha, que horror!». A frase apanhou-a desprevenida e assustou-a um pouco. Recompôs-se e continuou a pôr os pratos. Naquele jantar iria ocupar o lugar de destaque, fora decidido pelas outras cadeiras.

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Tom a mais, matiz a menos

Hoje, era dia de pintar a manta. A manta tinha alguns anos, mas ainda mantinha as cores originais. Era uma manta boa, por isso. Mas, como a todas as coisa boas, também o tempo passava por ela e não era de raspão. Daí a necessidade de a pintar, de quando em vez. Começaria a pintar a manta de manhã cedo, logo pela fresca. Nem estava a pensar fazer uma pausa pelo almoço, tal a vontade que tinha de a pintar. Mas ter-se-á entusiasmado um pouco, pois o vizinho resolveu lançar-lhes os cães e ainda lhe rosnou que lhe dava um tiro, se persistisse em pintar a manta. Definitivamente, o vizinho não era apreciador de pintura.

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Aumento um bocadinho nas coisas que digo. O que posso fazer?

Se for congénito, pouco ou nada. Se for adquirido, diminuir o sal e a pimenta.

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16 fevereiro 2021

Bem me eu finto

«Bem me eu finto», para espaçar as palavras, ou «bem m'eu finto», para estar de acordo com a pronúncia, é uma daquelas expressões que julgava arrumada no sótão da memória, cheia de pó, é certo, mas pelos vistos ainda com a alma desperta para aparecer quando menos se espera, provocando satisfação pelo reencontro. Significa que não se acredita em algo, mesmo que juramentado ou prometido. E não, não se trata de desconfiança, mas de precaução, que nunca é demais, pelo menos em contextos ou protagonistas determinados. Pelos vistos, continua intacta e vigilante. Ainda que com pó. Salve.

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14 fevereiro 2021

Sorteio do Valentine's Day

_ Que número é que te calhou?

_ O cinco. 

_ Boa!... Uma quadra. Nada mau.

_ E a ti...?

_ O 18... Um pensamento... Estou quilhado!...

_ A patroa não gosta...? 

_ Não sei... Pior era se tivesse sido o 73...

_ Que era o quê...?

_ Um ensaio... 

 

 


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Por turnos

Estava a trabalhar por turnos na produção de textos: antes da máquina e depois da máquina de lavar. Talvez por causa do abrilhantador, os textos depois da máquina saíam um tudo ou nada mais reluzentes. Já os do turno anterior, e por razões opostas, saíam mais rudes, se calhar pelo efeito do sal.


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Aceitam publicidade?

Não. Mas iguarias e garrafas de vinho são bem-vindas.

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13 fevereiro 2021

Grilo falante

Tenho vindo a verificar a continuada degradação dos textos, não da qualidade, note-se, pois a má mantém-se como sua marca distintiva, mas da estrutura, que se mostra cada vez mais periclitante, ficando-se a aguardar quando é que tombam de vez, e não por estarem maduros!...

Era bom saber-se no que é que o autor pensa quando congemina estas xaropadas, se forem na parte da manhã, ou épicos coxos, mais para o cair da tarde, daí a pergunta que se coloca, e que é pertinente: a que é que aspira...? A chegar longe, ou a ficar ao pé da porta...? E se for longe, tem um aparelho para medir a distância e cobrar os quilómetros...? 

Afinal, o que é que pretende: surpreender, maravilhar, enfadonhar ou entrar em órbita?... Criar um estilo ou imprimir frases em t-shirts, se em algodão ou noutro tecido?...

Quanto é que custa a entrada nesse seu mundo e como é que se pode reservar os bilhetes: ao balcão, por assinatura, através de rifas?... Por conhecimento ou cunha de poderosos ou poderosas?...

Onde é que tirou a certificação, credencial, diploma, carta de marear, reconhecimento aquém e além mar, sem esquecer os rios, riachos e ribeiras, passado em papel de embrulho, e, caso tenha, quem terá sido a alma peregrina, o iluminado ou iluminada que lhos passou ou assinou de cruz, provavelmente num dia de que não quererão recordar-se, tal a vergonha ou o embaraço?

Porque é que não se digna a tentar descobrir a chave dos concursos ou das lotarias e passá-los a cidadãos que se achem merecedores de receberem esse conhecimento, como é o meu caso, que ficaremos eternamente gratos, depois a gente avisa, ok.?

Um grilo indignado, mas pouco.

Assinatura ilegível.



 

 


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Aspirar custa...

Não eram horas de aparecer por ali... Foi com surpresa, portanto, que descobriu quem era quando abriu a porta. Mas não havia dúvidas, era a Aspiração, ela própria. Mais magra, mas altiva, como sempre.

_ Oh, filha, que fazes aqui!?... Entra, entra.

_ Olá, estás bem?... Passei por aqui... Não tinha nada que fazer e resolvi vir ver-te. Como é que estás?

_ Com um bocadinho de pieira, mas pouco. Tirando isso, estou bem. E tu?

_ Uma ou outra artrose, mas aguenta-se... Ofereces-me um café...?

_ Claro, claro!... Conta-me, tens aspirado muito...?

_ Nem por isso... Vou deixar de aspirar, talvez... É ainda um projecto...

_ Sentes-te desmotivada, sem incentivos, é isso...?

_ Não, pá!... Doem-me é os ossos.

 


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Muafa, moafa, e mais qualquer coisa

Cansara-me de esperar pela vinda da inspiração. Mesmo quando vem, não é à hora a que se está à espera... Sendo assim, que fazer...? Desconheço se há muitas ou poucas respostas para esta pergunta. Provavelmente, há. Algumas, que sejam. Mas, na na falta da inspiração, costuma ajudar o hábito. Como este, já assinalada noutras ocasiões, de ficar à espera ou de ser surpreendido pela palavra do dia no dicionário online Priberam. E hoje calhou 'Muafa', de origem obscura, pelos vistos, usada nas berças transmontanas com o significado de «habilidade ou artimanha», se for escrita com 'u', mas querendo significar «dinheiro» se for grafada com 'o'. Como complemento, ou cereja em cima do bolo, se quisermos, dado o significado, a expressão «encher a muafa» como sinónimo de 'comer muito'. Para vergonha da costela geográfica, o desconhecimento de todos elas, 'muafa', 'moafa' e a expressão. A minha penitência.

Tem potencial e graça, não é necessário muito esforço, fazer um casamento hipotético na junção dos três significados: habilidade ou artimanha, dinheiro e comer muito. Mas deixo isso para os interessados, curiosos ou militantes. Retiro-me do palco, por educação. É que a inspiração bateu à porta. E não gosta de esperar...

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07 fevereiro 2021

Ao ar livre

_ Hoje, vamos fazer uma série de textos. Façam o aquecimento e não quero ronha, perceberam...? 

_ Poesia também, mestre...?

_ Sim, claro. Não há desculpas. Vamos!

_ Não tomei as vitaminas para a poesia... Não posso ser dispensado desse...?

_ Assim não cumpres os mínimos, pá... Nem uma quadrita...? 

_ Esqueci-me das ligaduras...

_ Para quê, para as rimas?...

_ Sim. Lamento...

_ Não faz mal. Faz verso branco. Depois alongas.


 

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Série de 3

Senupe estava preocupado por ainda não ter conseguido transcrever uma frase ou um texto para o caderno de notas. À sua escala, isso não era recomendável. Não procurava desculpas e também não as aceitaria, pois sabia que esse não era o remédio. Como lhe tinha ensinado o seu mestre, Cão Vadio, o segredo era manter a mão e o exercício diário, custasse muito ou pouco, comentário superficial ou pensamento profundo. E foi isso que o convenceu. Olhando em redor, à procura do como, latiu um sonoro «Ah, como é bom sentir o vento no focinho!...».

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06 fevereiro 2021

Agenda

Esta dúvida, que me assaltava de vez em quando, estivera afastada por um tempo. Devido à ausência, cheguei a pensar que tivesse sido presa ou emigrado para outras paragens ou pacientes. «Nada disso», confessou-me. «Apenas me recolhi», confidenciou. Mais sossegado, então, perguntei-lhe se precisava de alguma coisa. Respondeu que não, mas que nos próximos dias começaria a aparecer de novo, se tinha preferência por algum horário específico ou parte do dia preferível. Pedi-lhe que aguardasse, pois precisava de consultar a agenda. Folheada esta, apercebi-me de que os furos não eram muitos e as vagas eram num horário não muito bom, se estaria interessada, mesmo assim. Pediu para dar uma vista de olhos na agenda. Torcia o nariz, de quando em quando, e fungava, mais ou menos ruidosamente, perguntando-lhe eu se estaria constipada, respondendo que não, que era uma espécie de tique. Passando a agenda para as minhas mãos, disse-me que estava desapontada comigo, se eu não tinha sentimentos e uma réstia de consideração por ela, agora que atravessava um momento difícil... Rejeitei a acusação, como seria de esperar, e tranquilizei-a, disponibilizando-me para chegar a um consenso. Sorriu. Dispôs-se a ouvir a minha proposta: trocar o horário de terça com a dúvida académica, mais dada ao entrar pela noite, e reservá-lo para ela, que era mais de hábitos certos e com horas, podendo inclusive ficar para jantar, nesse dia. Não conteve as lágrimas, emocionada que estava. Também eu soltei uma lágrima, mas de alegria pelo reencontro. E tomei nota na agenda: dúvida existencial, terças (também janta).



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04 fevereiro 2021

In(e)scrita

Inicia-se hoje uma nova etiqueta: Apócrifos. Em consonância com o título, antecipou-se a publicação de um texto antes do baptismo da secção, para dar o tom e descredibilizar o universo de potenciais fontes ou origens, suspeitando tratar-se de trabalho de um «ácaro» informático, em pausa criativa e com aspirações literárias. Não se lhe gaba o gosto, reconheça-se. Lá se esperam inscrever alguns textos de autoria desconhecida ou incerta, como o texto inicial. Suspeitando-se de que o autor era uma personagem conhecida, este fugiu a sete pés e fazendo manguitos, jurando a pés juntos que se tratava de uma cabala e das grandes!... É o que o salva, mas depois escusa de vir a «pedir batatinhas», pois nem com assinatura reconhecida pelo notário se lhe vai conceder direitos de publicação.


Aos tantos de tal,

Assinatura não perceptível.

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Olhar(es)

Olhava em frente e só via a árvore. Mesmo que quisesse olhar para a floresta não deixava de ver a árvore e isso intrigava-o. Era no que dava quando se olhava em frente. Também seria diferente ser de outra forma, reconheça-se, devido aos muros. E às janelas. E às grades.

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Tapetes

 _ Quanto é que dá o teu tapete?

_ 240. E o teu?

_ Até ao hall.

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Não estava para aquilo... Fiz bem?

Isso é o que se irá ver...

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02 fevereiro 2021

Ser e estar – iniciação à filosofia

 _ O que é o jantar...?

_ Partilhar, conviver, fruir com calma. Gosto muito.

_ Carne ou peixe...?

_ Recusar o tempo vivido a correr, com pressa, sem parar para pensar. Gosto.

_ Entradas, sopa...?

_ Desprender de preocupações, mastigar devagar, uma ou outra risada. Apoio absolutamente.

_ Água, sumo, vinho...?

_ Momento único, repetido todos os dias. Adoro!

_ A sobremesa: fruta, doce...?

_ Hoje fazemos dieta. Total.

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